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Inovações em Educação

Arte urbana para aproximar professores e alunos

Eduqativo quer capacitar educadores para trabalhar grafite, skate e hip-hop para ensinar disciplinas tradicionais em sala

por Vagner de Alencar ilustração relógio 30 de abril de 2013

Falar sobre as pinturas de Picasso, mas sem deixar de mencionar Speto, famoso grafiteiro brasileiro que cria sua arte inspirado tanto no pintor espanhol quanto nos cordéis. Ensinar química a partir das composições das tintas ou das influências que elas sofrem por conta da ação do tempo. São inúmeras as formas de levar a arte urbana para dentro da sala de aula, por meio de diferentes disciplinas. E para que as linguagens artísticas sejam levadas ao currículo escolar, um projeto realizado pela ONG Eduqativo – Instituto Choque Cultural, que desenvolve iniciativas baseadas no conceito da educomunicação aplicado à arte, está capacitando professores para trabalhar a arte urbana com os jovens em sala de aula. O curso gratuito Linguagens Artísticas para Professores que acontece em maio, em SãoPaulo, vai abordar conceitos teóricos sobre a história da educação e da arte contemporânea, além de levantar discussões sobre como aplicar e desenvolver projetos sobre o tema com os estudantes.

Segundo Raquel Ribeiro, educadora há mais de 20 anos e atual coordenadora da ONG Eduaqtivo, o objetivo é, principalmente, discutir e apontar para os professores como trabalhar essas linguagens artísticas já familiares aos jovens.  A ideia é orientar os educadores sobre como usar as diferentes culturas juvenis (grafite, skate, hip-hop, rock etc.) como ponte para realizar mudanças em sala de aula, ajudando a aproximar os educadores dos estudantes, além de criar novas metodologias educativas. “Muitos materiais didáticos com foco na arte urbana estão entrando no currículo escolar. Mas o professor, que ainda tem uma visão muito paradigmática dos jovens, não consegue muitas vezes se comunicar e trabalhar com eles, que estão num momento de transição em suas vidas”, afirma.

crédito Raquel Ribeiro

De acordo com ela, a própria escola ao longo da sua história e de sua formalidade foi se distanciando do universo do jovem pela forma clássica de ensinar e de se organizar. Um exemplo disso são os próprios espaços físicos. “Até hoje, muitas escolas públicas, principalmente, carregam o mesmo visual de organização institucionalizada, com paredes metade de uma cor, metade de outra. Esse é o mesmo tipo de pintura de outras instituições, como hospitais e presídios”, diz.

Para fornecer diferentes instrumentos aos professores, a capacitação será realizada em momentos teóricos, voltados à discussão, e a um último com atividades práticas. Nos dois primeiros, os educadores terão acesso a conteúdos teóricos, passando pela história da educação e da arte contemporânea, como porta de entrada para entender como reformular novas linguagens na educação.

“Os jovens já estão habituados com essa arte, mas normalmente fora da escola, quando poderiam tê-la em um contexto escolar.”

Raquel diz que esses bate-papos servirão especialmente para ajudar os professores a quebrar os paradigmas que carregam do jovem, que, diferente de antes, está mais conectado com o mundo. “Muitos educadores acreditam que esses adolescentes não se aprofundam nas coisas, por exemplo. Ao contrário, o jovem de hoje fala com três pessoas ao mesmo tempo, está no Facebook, assistindo TV e ouvindo música, o que demanda dele uma conexão mental muito grande para processar tudo isso”, diz.

Além das discussões, que visam tirar o rótulo negativo que os educadores têm de muitos jovens, durante o último encontro da formação, os professores terão contato com artistas que desenvolvem arte urbana, além de experimentar técnicas que vão desde o manuseio de lambe-lambe (espécies de cartazes que podem ser presos na parede), fanzines (tipo feito por “fãs” e produzida sem fins comerciais), stickers (adesivos), estêncils (técnica que usada moldes de superfícies furadas para aplicar figuras) e outros materiais. “Eles vão experimentar e procurar diferentes formas de usar esses produtos para a criação de projetos, que podem ser aplicados não isoladamente em suas disciplinas, mas especialmente em atividades interdisciplinares”, diz Raquel. “Essas técnicas ajudam a tornar a aula interativa, abrindo um canal direto e efetivo de comunicação. Os jovens já estão habituados com essa arte, mas normalmente fora da escola, quando poderiam tê-la em um contexto escolar”, afirma Raquel.

crédito Raquel Ribeiro

Para sair do discurso à prática, como último quesito da capacitação, os professores precisam criar um projeto mais curto, na disciplina que leciona – em uma ou duas aulas – ou mais longos, normalmente interdisciplinares, de um semestre, por exemplo. Os melhores projetos são selecionados pela ONG, que, inclusive, ajuda os educadores a dar vida à iniciativa. A educadora explica que em um curso puramente teórico o professor normalmente concorda com o que é dito, mas quando chega em sala de aula não consegue transportar as ideias apreendidas à prática, como em um projeto. “Na sala a realidade é diferente. O professor encontra realidades diversas. Tentamos mostrar um caminho possível”, diz.

“Quando o artista visita a escola e produz algo bacana numa parede, por exemplo, ou o professor, que consegue criar um trabalho interdisciplinar dentro da instituição, mostram o quão possível é possível desenvolver iniciativas como essas.”

Ainda como parte da formação, as escolas dos professores que participam do curso recebem um artista, escolhido pela instituição e que seja pertinente à proposta – para realizar um bate-papo com os estudantes, além de alguma intervenção – pintar um muro, criar peças de artes, pintar quadros etc. “A intenção não é fazer uma oficina. Afinal, não queremos tirar a autoridade do professores, mas levar o artista para mostrar como acontece o processo produtivo e de criação dos artistas.  Acabar com a ideia da arte como algo elitizado”, assegura a educadora.

Além disso, a visita tem o intuito também de mostrar aos professores e à direção da escola a possibilidade de trabalhar a estética jovem de uma forma organizada. “A escola geralmente lida com experiências do tipo de maneira desastrosa ou tenho receio em adotá-las. Quando o artista visita a escola e produz algo bacana numa parede, por exemplo, ou o professor, que consegue criar um trabalho interdisciplinar dentro da instituição, mostram o quão possível é possível desenvolver iniciativas como essas”, afirma. 

SERVIÇO:

As capacitações acontecerão em São Paulo, nos dias 04, 11 e 25 de maio. As inscrições são limitadas e os interessados devem se inscrever por e-mail do e-mail: info@institutochoquecultural.org.br


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aprendizagem baseada em projetos

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