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Como Inovar

Qual o melhor modelo de sociedade para sua startup?

Com base em relatório da FGV e em experiências de empresários brasileiros, veja as principais diferenças entre os modelos societários

por Fernanda Kalena ilustração relógio 16 de dezembro de 2014

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Este conteúdo faz parte da
Série Negócios de Impacto Social

Entre os vários desafios que empreendedores enfrentam para abrir uma empresa de tecnologia está a decisão sobre qual vai ser a estrutura de capital do futuro negócio. O que é melhor: abrir uma Sociedade Anônima fechada (S/A fechada) ou uma Sociedade Limitada (Ltda.)? Essa escolha pode atrapalhar ou alavancar o desenvolvimento e andamento de uma nova startup e, por isso, é preciso ter clareza de objetivos e dos tipos de investimentos almejados para fazer a escolha correta.

Entendendo a complexidade em torno da questão, alunos do Lent (Laboratório de Empresas Nascentes de Tecnologia) da FGV criaram um relatório chamado Negócios de Impacto Social: Da estrutura da Empresa Nascente a sua aproximação com o Poder Público, para orientar e qualificar a tomada de decisão dos empreendedores brasileiros (Leia mais aqui).

Entre outros temas, o documento esclarece as principais diferenças entre estes dois modelos societários de negócio, tendo em vista variáveis relacionadas, por exemplo, aos perfis dos sócios, a participação societária e a divisão de lucros e reinvestimento do capital na empresa. “Um ponto importante de ser ressaltado é que o sistema brasileiro não oferece um tipo societário que se adeque a uma empresa que tem potencial de crescimento rápido, mas ainda é pequena”, pondera Alexandre Pacheco da Silva, coordenador executivo do Lent.

A Sociedade Limitada é caracterizada pela responsabilidade limitada dos sócios, cada um investe um valor determinado no capital social da empresa, representado por cotas e sua responsabilidade é proporcional a elas. Já a Sociedade Anônima fechada, a empresa pertence a um pequeno grupo de sócios e a divisão de ações fica somente entre os acionistas internos e cada um é responsável por levantar capital.

Não tente prever  o que vai acontecer daqui um ano, pois quando vierem os investidores, a estrutura vai ter que ser repensada de qualquer forma

Entre as empresas que desenvolvem soluções na área de educação, o Veduca é um exemplo de empresa que inicialmente foi estruturada em um modelo societário que acabou não sendo o mais adequado para os investimentos que recebeu.

O empreendedor conta que quando abriu a empresa com outros sócios tinha a plena convicção de que os investidores seriam brasileiros, pois o propósito da empresa era democratizar no Brasil cursos de instituições de ensino internacionais. Carlos e os outros fundadores da startup acreditavam que começariam levantando bastante capital, mas nenhuma das duas coisas aconteceu.

Por estes motivos, eles optaram pela Sociedade Anônima, pois, segundo Souza, esse modelo lhes daria maior flexibilidade para desenhar o estatuto da empresa, em definir sua mecânica, como funcionaria. Porém, no início não foi rápida a atração de capital para a startup e também os investimentos não vieram de fundos nacionais, o que trouxe complicações e acarretou na mudança da S/A para a Ltda..

“Hoje temos a estrutura correta, temos uma empresa fora do Brasil, holding da qual todos os sócios investidores são acionistas. Essa holding é dona de uma empresa Ltda. no Brasil, que é operacional, contrata os funcionários, emite nota fiscal e etc.”, explica o empreendedor que diz que este é o melhor desenho para empresas de tecnologia, pois elas atraem investimentos estrangeiros. “Mesmo com os custos de advogados, fica mais em conta abrir uma Ltda. do que fazer a transição”.

“Por ter cometido esse erro, perdemos dinheiro e tempo. Tempo é o mais importante para uma empresa de tecnologia, é mais crítico, é um recurso mais escasso do que capital”, completa Souza. Assim, a dica que ele deixa aos interessados em abrir uma empresa de tecnologia no Brasil e que almejam investimentos internacionais é optar pela Ltda.. “A Ltda. é o mais simples, resolva a parte burocrática da forma mais prática e rápida possível e foque no seu produto e serviço. Não tente prever e ficar elucubrando sobre o que vai acontecer daqui um ano, pois quando vierem os investidores, a estrutura vai ter que ser repensada de qualquer forma”.

Já a Fábrica de Aplicativos fez o percurso contrário ao Veduca. Começou como Ltda. e está em processo de migração para Sociedade Anônima. Segundo Guilherme Santa Rosa, um dos fundadores da empresa, a decisão foi embasada pela necessidade de uma governança corporativa mais clara e profissional, que permitisse escalar exponencialmente a empresa.

“Com S/A poderemos ter uma política meritocrática de atração e retenção de talentos. Da mesma forma estamos preparando a empresa para captar recursos de investidores profissionais. Esse modelo vai trazer mais transparência aos processos relacionados à governança corporativa”, explica.

“Não se pode prever tudo o que irá acontecer, mas se pode ter expectativas e é importante que o modelo que for escolhido possa abarca-las”

Para Santa Rosa, a opção por um modelo societário deve ser compatível com o tamanho do sonho de seus criadores. “Se você almeja criar um negócio escalável, de crescimento exponencial e que dure por muito tempo, procure criar bases sólidas que te permita avançar de forma rápida e sustentável por esse caminho. Se você é um desses empreendedores começar no modelo S/A é a escolha certa”.

As convicções diferentes dos dois empreendedores mostram que não há uma receita única para todos os que desejam abrir negócios de impacto social em educação. Com base no trabalho desenvolvido pelo Lent, Pacheco da Silva defende que existem dois pontos que o empreendedor deve ter bem claro ao abrir sua startup: o primeiro é sobre onde quer chegar com a empresa e quais são suas projeções de crescimento. Para isso, ele precisa conhecer bem o mercado do qual irá fazer parte, além de cuidar para não se engessar com a escolha do modelo societário e não fechar portas ao desconsiderar possibilidades (de investimento, de governança).

“É preciso fazer uma avaliação precisa em relação ao cenário de mercado em que o negócio está inserido. Não se pode prever tudo o que irá acontecer, mas se pode ter expectativas e é importante que o modelo que for escolhido possa abarca-las. Fora isso, é importante não fechar nenhuma porta”, aconselha.


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empreendedorismo, fgv, negócios de impacto social, série negócios de impacto social

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