Escola na árvore para ensinar ciências - PORVIR

Inovações em Educação

Escola na árvore para ensinar ciências

Instituições apostam em aulas ao ar livre para integrar ciência, artes e tecnologia e despertar a curiosidade dos alunos

por Carolina Lenoir ilustração relógio 27 de dezembro de 2013

Como já dizia a poetisa russa Marina Tsvetaeva, ainda na primeira metade do século 20, em vez de explicar algo a uma criança, experimente maravilhá-la. No universo infantil, o lúdico ajuda a traçar o caminho do encantamento ao aprendizado e seu papel no ensino tem sido lapidado entre o combo tradicional sala-quadro-carteira e as inovações digitais. Escolas que apostam em experiências integrais ou parciais ao ar livre revelam, porém, que as ferramentas podem estar mesmo é da porta para fora.

Na IslandWood, localizada na ilha de Bainbridge, perto de Seattle, nos Estados Unidos, 255 hectares de natureza fazem as vezes de salas de aula, a fim de oferecer a estudantes da região, por meio de projetos extraclasse, a integração entre ciência, tecnologia e artes. Aqui no Brasil, a 4 Elementos Sítio Escola, de Contagem, Minas Gerais, não fica em um cenário de cartão postal como a instituição norte-americana, mas tem um desafio ainda maior por funcionar integralmente como um colégio nos moldes, como o próprio nome sugere, de uma mini-fazenda.

crédito divulgação

Construída na região de Puget Sound, pertencente ao estado norte-americano de Washington, a IslandWood é um centro de educação que recebe alunos – principalmente do 3º ao 6º ano do ensino fundamental – de escolas do entorno por meio de diversos programas com temas e durações específicos. O Freshwater Ecosystems Field Study, por exemplo, é uma das possibilidades de atividades realizadas em um dia e permite que os alunos estudem os diferentes macroinvertebrados que vivem em dois lagos localizados um ao lado do outro. Depois de uma análise de campo e da coleta de materiais, eles vão ao laboratório para usar os microscópios e encontrar respostas para um questionário dado pelos professores.

Já no School Overnight Program, alunos e professores passam quatro dias em uma espécie de imersão científica, histórica e artística com foco especialmente nas descobertas possibilidadas pela ilha. Há também atividades realizadas em escolas de Seattle e redondezas e, além disso, a IslandWood é parceira da Universidade de Washington em um programa de pós-graduação em educação, oferecido nas instalações da ilha e que alia o conteúdo acadêmico às experiências práticas de ensino.

crédito divulgação

Fundadora da IslandWood ao lado do marido Paul, Debbi Brainerd explica, no site da instituição, que a ideia é educar os jovens cientificamente a respeito do meio ambiente e fomentar a valorização do mundo natural e a noção de responsabilidade sobre a sua preservação. “Isso é exigido atualmente em nossos sistemas de ensino, mas você não pode simplesmente entender isso a partir de um livro da mesma forma que consegue ao sentar-se no meio do mato.” De acordo com Debbi, para chegar ao modelo atual, foram realizados estudos de viabilidade com professores e gestores educacionais não só de Puget Sound, mas de outras partes do estado de Washington. “Descobrimos que cerca de metade das crianças de classes mais baixas de Seattle nunca tinha participado de um programa de educação ao ar livre ou sequer saído da cidade. Fomos movidos pelo desejo de criar um lugar em que os estudantes dos ambientes urbanos pudessem explorar o mundo natural, experimentar a alegria de aprender ao ar livre e descobrir a sua própria capacidade de mudar o mundo ao seu redor.” Atualmente, cerca de 12 mil alunos de 160 escolas participam por ano dos programas da IslandWood.

Depois da realização de estudos e grupos focais com profissionais de áreas como educação, ciência e artes, de reuniões com a comunidade e de visitas dos fundadores a outras instalações de educação ao ar livre nos Estados Unidos, o passo foi envolver os alunos no projeto da IslandWood. Estudantes de arquitetura da Universidade de Washington trabalharam com mais de 250 crianças do 4º ao 6º ano para descobrir quais eram suas sugestões sobre o design ideal de um lugar em que o aprendizado se dá por meio de aventuras. De pontes suspensas a salas de aula flutuantes, as ideias ajudaram a dar vida ao projeto. Conheça um pouco mais sobre o centro no vídeo (em inglês):

 

Sítio
Colocar a mão na terra, tomar banho de mangueira e alimentar animais podem ser cenas de um fim de semana na fazenda ou, se você estudar na 4 Elementos Sítio Escola, de um dia normal de aula. Com a educação ambiental como um dos pilares da instituição, o espaço é parecido com uma fazendinha, com pônei, galinhas, patos, porquinhos-da-índia e pássaros. Há também minhocário, lago, horta e aquários marinho e de água doce. Na escola – que é particular e atende a cerca de 220 estudantes do maternal ao 8º ano –, os alunos estudam quase inteiramente ao ar livre e aprendem a partir de experiências práticas em uma carga horária que vai das 7h às 17h20 para aulas regulares dos ensinos infantil e fundamental I e II e às 18h30 para o horário integral.

“No dia-a-dia, percebemos que o desenvolvimento motor e intelectual dos alunos se dá melhor por meio de atividades lúdicas que envolvem experimentação corpórea, noção de espaço e atividades sinestésicas, ou seja, o ouvir, o cheirar, o olhar, o sentir o gosto, sentir na pele. Por isso, adotamos uma forma de ensinar em que as crianças aprendem não pela transferência de conhecimento, mas pela experiência”, explica Rafael Mansur, coordenador de projetos da escola. Um dos sucessos da 4 Elementos é o Manual do brincar, um guia para professores e alunos que contém glossário e orientações detalhadas de brincadeiras, mapa de espaços para brincar dentro da escola e até métodos de escolha para divisão de times. O projeto recebeu, no ano passado, o certificado Boas práticas do brincar do programa Pelo direito de ser criança, promovido pela multinacional Unilever, que premia escolas públicas e privadas do ensino básico por suas atividades em prol do brincar e do aprender pela experiência em suas práticas escolares.

crédito Rafael Mansur

Segundo Rafael, os professores são capacitados de forma a mediar e avaliar o desenvolvimento dos alunos durante as brincadeiras por meio de relatórios diários. Isso não exclui, porém, as disciplinas tradicionais, como matemática, português e ciências, e as avaliações por notas por meio de provas e trabalhos. A diferença é que, com um espaço tão convidativo, o sítio escola conta com um currículo dinâmico, em que disciplinas e projetos são inseridos a partir de novas possibilidades descobertas. “Vamos incluir no ano que vem as disciplinas de agricultura e zootecnia para alunos do 6º ao novo 9º ano, que também será implementado em 2014, e, de uma forma adaptada, como um projeto para os alunos do maternal ao 5º ano. Também vamos incluir o projeto Astronomia e Astronáutica para os alunos do 2º ao 9º ano, com aulas uma vez por semana durante quatro meses sobre esse assunto.”


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aprendizagem baseada em projetos, socioemocionais, sustentabilidade

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