Escola pública brasileira fica em 2º lugar em desafio internacional - PORVIR
Crédito: Divulgação/SME

Como Inovar

Escola pública brasileira fica em 2º lugar em desafio internacional

Edumission reconhece trabalho da EMEF Desembargador Amorim Lima, de São Paulo (SP), que já apareceu em lista de inovação do MEC e de ONG Internacional

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 5 de janeiro de 2018

Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, de São Paulo (SP), ficou em segundo lugar no Edumission, iniciativa da empresa de impacto social israelense Education Cities para criação de uma rede de escolas inovadoras de diferentes cantos do mundo que, por meio da troca de experiências e ideias, consigam encorajar outras instituições a transformarem suas práticas. A vencedora foi a No Bell School, da Polônia e, em terceiro lugar, ficou a Little Forest Folk, da Inglaterra.

O processo de seleção do Edumission envolveu centenas de escolas, sendo que 22 delas acabaram convidadas para o desafio final (10 brasileiras!). Nesta etapa, as escolas tiveram que produzir um minicurso a partir de vídeos descrevendo inovações, visão educacional e metodologia para as outras participantes. As equipes das três instituições que subiram ao pódio ganharam uma viagem de intercâmbio para conhecer as práticas educacionais.

Localizada na zona oeste de São Paulo, a Amorim Lima é uma escola que há muito tempo se destaca na rede municipal. Apesar de ter sido fundada no final da década de 1950, no inícios dos anos 2000 ela passou por uma profunda transformação para ganhar uma identidade própria. Por lá, não há divisões por séries, as provas deixaram de ser aplicadas e o currículo é flexível conforme os interesses dos estudantes. As mudanças ocorreram para reduzir a evasão escolar e diminuir os números de faltas dos professores. Depois de repensar a proposta pedagógica, a metodologia de ensino e a própria concepção, a escola começou a valorizar a autonomia dos estudantes e a desenvolver ações de aproximação com as famílias.

Para a diretora Ana Elisa Siqueira, o reconhecimento no Edumission veio graças à determinação e o esforço das pessoas que trabalham na Amorim Lima. “A Amorim não é uma escola que tem todas as condições ideais e que seleciona seus alunos. Tudo o que a gente faz é em razão da força das pessoas”. Ela acredita ainda que a perspectiva de escola democrática deve ter pesado na avaliação da escola, porque a ideia de autonomia dos alunos e da participação da comunidade foi um ponto bastante explorado nos vídeos enviados para a fase final. “Fora isso, estamos com um projeto que acontece há algum tempo, que não começou ontem, e está consolidado em uma escola com 800 alunos”, avalia.

O novo reconhecimento internacional da escola paulistana, que já está na lista de escolas transformadoras, iniciativa coorealizada no Brasil por Ashoka e Alana e também no mapa de inovação criado pelo MEC (Ministério da Educação), precisa provocar a rede pública a criar um plano institucional, segundo Helena Singer, vice-presidente Ashoka para a Juventude na América Latina. “A Amorim Lima é uma escola que já teve todo o reconhecimento que poderia ter sobre inovação e, no entanto, não é uma instituição de formação de professores. Existe um desperdício com tudo o que o Amorim conquista porque é um empenho voluntário e individual de sua equipe. Institucionalmente, ela não é olhada como uma potência para transformação sistema da educação”, afirma Helena, que foi integrante da comissão julgadora do desafio ao lado do consultor britânico Ken Robinson, do professor indiano Sugata Mitra, do psicólogo americano Peter Gray, além de Yaacov Hecht, educador de Israel e especialista em escolas democráticas.

Assista à palestra da diretora Ana Elisa Siqueira em evento do Porvir

Escola vencedora

Vencedora do Edumission, a escola polonesa privada No Bell School, localizada na cidade de Konstancin-Jeziorna, aposta em dar voz ao estudante para que ele consiga aprender a sua maneira e conquistar seus objetivos. Na escola, que tem 300 matrículas da educação infantil ao ensino médio, as aulas podem acontecer com alunos desenvolvendo projetos e espalhados pela classe, livre das cadeiras e dos livros didáticos – para favorecer a personalização do ensino, eles foram abandonados.

A principal diferença para escolas comuns é a relação que a No Bell estabelece entre o professor e o aluno. “Os alunos precisam se sentir importantes porque daqui 20 anos não haverá ninguém para dizer tudo o que eles devem fazer. É isso é o que guia o meu trabalho e da minha equipe”, diz ao Porvir Izabella Gorczyca, diretora da escola.

Apesar dessa liberdade, a No Bell rejeita o rótulo de escola democrática, em que todos são iguais. Em lugar disso, adota uma filosofia de transferência de poder e responsabilidades para os alunos para alcançar os resultados esperados. “Somos uma escola mais democrática que tradicional, porém com mais regras. Em escolas democráticas, alunos podem fazer o que bem quiserem e na hora que acharem melhor. Aqui temos horários e estruturas que precisam ser respeitadas”,  diz a diretora Izabella.

Entre as principais regras adotadas pela escola estão:

1) Não mande; não tenha medo de conceder poder
2) Escute, converse, construa confiança e parcerias
3) Tenha relações interpessoais equilibradas
4) Lembre-se que cada um é único, todos são seres humanos
5) Ensinar não necessariamente precisa de ordem
6) Apoie o aluno na escolha de um estilo próprio de aprender
7) Lembre-se: alunos nunca são jovens demais para assumir responsabilidade
8) Seja você mesmo e permita que os outros também se expressem

Outro destaque da No Bell é o ambiente extremamente flexível, com mobiliário das salas de aula desenhadas especialmente para a escola. “O ambiente é muito importante para o aprendizado. Quando você tem alunos sentados em filas de carteiras, só conseguem ver a cara do professor. Ao tirar isso, consegue criar conexões e desenvolver a cidadania ao perceber que outros são tão importantes como você”.

Escola no parque

No terceiro lugar, a Little Forest Folk é um negócio social criado em janeiro de 2015 que funciona com cinco unidades de diferentes distritos Londres (Chiswick, Wimbledon, Barnes, Fulham e Wandsworth), onde atende cerca de 240 crianças de dois a cinco anos. Nele, o aprendizado acontece na prática e ao ar livre pelas muitas áreas verdes da cidade. Os pequenos têm total liberdade para interagir com a natureza, seja escalando árvores, rolando na lama ou correndo por onde acharem melhor.

O detalhe é que a “sala de aula” muda todos os dias, faça chuva ou sol. Pela manhã, grupos de cerca de 30 crianças chegam de van a um determinado parque da cidade. Uma tenda é montada para servir como banheiro e o material didático depende do interesse das crianças: pode ser uma minhoca, um galho que serve como ponte ou as folhas que caem das árvores no outono.

“A principal diferença entre nós e uma escola tradicional é que temos um professor para cada quatro crianças. É muito mais seguro do que pode parecer e isso também permite ao professor conhecer mais de perto a criança, para que ela consiga aprender de acordo com seus interesses”, afirma ao Porvir James Barrett, que criou a Little Forest Folk junto com sua mulher Leanna Barrett.

Para formar a equipe da Little Forest Folk, James diz buscar educadores que gostem da vida ao ar livre. “Recebemos muitos professores que estão desmotivados com escolas com salas de aula tradicionais e aceitam o desafio de correr atrás de crianças, sujando os pés de barro. É um trabalho difícil, mas para quem gosta é um sonho”.

Apesar de ter abordagem tão diferente para a educação infantil, a escola segue as diretrizes de aprendizagem estabelecidas pelo governo britânico para a primeira infância. A principal delas é entender que a criança não precisa ficar sentada por horas para aprender.

Menção Honrosa

Outras escolas finalistas também receberam uma menção honrosa por parte da organização do Edumission:

– Amal Network (Tel Aviv/Israel): pela excepcional inovação em pedagogia dentro de uma rede de escolas
– British International School of Houston (Texas/EUA): a melhor implementação de uma pedagogia para o futuro
– Wish School (São Paulo/Brasil): pela abordagem holística da educação (veja matéria do Porvir)
– LIKS (Cidade do México/México): considerada a mais promissora
– Faaborgegnens Efterskole (Faaborg/Dinamarca): pela inovação em um internato
Teia Multicultural (São Paulo/Brasil): pela inovação no modo interdisciplinar de ensino
Escola Vila Verde (Alto Paraíso de Goiás/Brasil): por colocar em prática o mais profundo e inovador uso da aprendizagem ambiental (veja matéria do Porvir)

Todas as demais finalistas deixam também uma série de pequenos vídeos em que explicam suas metodologias. Para acessá-los, visite a página School Courses do Edumission.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa, autonomia, competências para o século 21, educação infantil, educação integral, educação mão na massa, engajamento familiar, ensino fundamental, ensino médio, escolas inovadoras, prêmios, programação, socioemocionais, sustentabilidade, tecnologia, uso do território

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