Kit de eletrônica Piper usa Minecraft para ensinar cultura maker - PORVIR
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Inovações em Educação

Kit de eletrônica Piper usa Minecraft para ensinar cultura maker

Projeto desenvolvido nos EUA que recebeu grande apoio em financiamento coletivo tem integrantes fascinados pelo faça-você-mesmo

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 12 de fevereiro de 2016

Um asteroide está a caminho da Terra e só uma criança com fome de aprender eletrônica e programação pode salvar o planeta. Para dar conta dessa tarefa, ela terá que dar seus primeiros passos no universo maker, conectando cabos, luzes e sensores para reativar robô que adormeceu em Marte e controlá-lo em uma aventura de 10 missões no jogo Minecraft.

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O Piper seria apenas mais um kit de eletrônica entre muitos disponíveis no mercado se não contasse com uma história convincente para atrair a atenção das crianças. Desde a montagem da caixa que abriga uma placa (que também é um pequeno computador) Raspberry Pi e uma tela LCD até o roteiro do jogo em si, tudo é feito para aguçar a curiosidade. Ao invés de largar a criança em frente ao computador por horas a fio encaixando blocos virtuais (o que já é legal e atrai 100 milhões de usuários no mundo), o Piper permite conectar circuitos de verdade que interagem diretamente com o Minecraft.

“Se o LEGO fosse criado hoje, não seria feito só de peças de plástico. Provavelmente teria peças programáveis, com sensores, conectadas a algum jogo, com interface para redes sociais. Tudo o que as crianças sabem mexer muito bem”, diz o fundador Mark Pavlyukovskyy. Unindo o poder de criação das peças coloridas e o apelo do jogo cuja fabricante foi comprada pela Microsoft por US$ 2,5 bilhões em 2014, o projeto ganhou vida com ajuda do site de financiamento coletivo Kickstarter. Dos US$ 50 mil colocados como meta, a campanha arrecadou US$ 280 mil e fez com que 2.100 kits fossem negociados, 1.300 deles direto para doadores. Entre os mais entusiasmados com a iniciativa estava Steve Wozniak, um dos fundadores da Apple, que disse que o Piper “representa o que o inspirou a criar grandes coisas na tecnologia durante a vida”.

Leia mais: Versão educativa do Minecraft chega à sala de aula

Para Pavlyukovskyy, o Piper se aproveita de um momento único na história da tecnologia, em que componentes são facilmente comprados em qualquer lugar. No caso dos EUA, a Amazon entrega todo o tipo de ferramentas sem que a pessoa precise sair de casa. “Eu não sei como está o movimento no Brasil, mas a cultura maker de garagem e a comunidade maker explodiram nos Estados Unidos por conta da disponibilidade dos eletrônicos e de plataformas como a Raspberry Pi”, diz.

Nascido na Ucrânia, Pavlyukovskyy viajou com a mãe para os EUA aos nove anos. Apesar da insistência dela para que seguisse carreira na medicina, as lembranças da infância no país que acabava de se separar da União Soviética é que mexiam com suas ideias. Junto com o avô, consertava de tudo e aprendeu a fazer gambiarras para arrumar a luz da sala durante apagões. No ensino superior, cursou biologia no Missouri, passou por programas de ciências  e matemática no Texas, mas o trabalho de engenheiros é que o fascinava.

Em 2013, com uma bolsa para um programa de saúde, foi para Gana, na África, para tocar um projeto sobre o impacto de jogos no ensino de práticas saudáveis em comunidades rurais. Um episódio grave de malária o fez prometer a fazer de tudo para aprender engenharia e construir algo de fato. Nascia ali o embrião do Piper.

“Ver a desigualdade [na África] foi um fator decisivo e me fez trabalhar em algo que tentasse equilibrar oportunidades ao redor do mundo e que empoderasse pessoas a conseguirem criar usando todo seu potencial”, diz o representante da startup.

No time que lançou o produto no site de financiamento coletivo estão dois outros integrantes que guardam histórias que obedecem o lema “vai lá e faz”. Shree Bose cuida do marketing. Filha de imigrantes indianos, ela perdeu um avô vítima de câncer, e isso fez com que corresse atrás de estudo sobre um bloqueador de uma proteína que tornava células doentes resistentes a medicamentos (veja a apresentação da pesquisa no TEDxGateway). Sua pesquisa recebeu prêmio do Google em 2011. Além dela, Joel Sadler, responsável pela parte técnica, trabalhou com Steve Jobs em alguns projetos e inventou uma prótese de joelho que hoje é muito usada na Índia (assista sua participação no TEDxJamaica “Solving Big Problems With Tiny Prototypes” – “Resolvendo Grandes Problemas com Protótipos Minúsculos”).

Até chegar às primeiras salas de aula, a equipe realizou testes com mais de 1.000 crianças, tanto em escolas quanto em museus. “Fizemos isso desde o primeiro dia. Pais e professores ficaram entusiasmados”, diz Pavlyukovskyy. Atividades como essa permitiram à equipe superar a falta de um educador nato na equipe. “Descobrimos em que os professores estão interessados e o que precisam ao fazer nossas demonstrações”.

Para Pavlyukovskyy, a mais importante característica do Piper é que, após cumprir as missões, crianças ganham autonomia para construir seus projetos fora da caixa. “Pode-se imaginar uma criança construindo um pequeno alarme em que sensores de movimento são conectados a uma campainha instalada dentro do quarto. Se alguém passar pela porta, o alarme é ativado. Você tem esse tipo de coisa dentro do Piper e isso mostra a elas que a eletrônica e a programação são fáceis e podem ser muito úteis”.

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Como é o Piper

Vendido no site oficial a US$ 269, o kit do Piper vem em uma maleta de madeira cortada a laser com uma placa Raspberry Pi (que tem o tamanho de um cartão de crédito com todas as funcionalidades de um computador) e uma tela LCD de 7 polegadas, além de uma bateria recarregável e componentes eletrônicos.

É possível personalizar a cor da caixa com a ajuda de giz de cera. Uma vez montados todos os componentes básicos, um mapa aparece na tela e a aventura no Minecraft tem início.

Para controlar o robô que vai salvar o planeta, é necessário construir um controle usando cabos, interruptores, botões, LED e sensores. Quando combinados, eles dão novos poderes ao personagem.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, educação mão na massa, financiamento coletivo, programação, robótica

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