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Menos é mais também no espaço maker

Educadora Leslie Preddy, presidente da Associação Americana de Bibliotecários Escolares, defende uso de equipamentos de baixo custo para disseminar a cultura do "faça você mesmo"

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 17 de novembro de 2015

Apesar de impressoras 3D serem o centro da atenção nos ambientes de criação conhecidos como espaços maker, é possível adotar atividades de baixo custo para entreter e motivar alunos a buscar soluções para problemas e curiosidades do dia a dia. Quem defende essa alternativa acessível à criação de laboratórios, que podem facilmente chegar a centenas de milhares de reais, é a educadora Leslie Preddy, presidente da Associação Americana de Bibliotecários Escolares. Ela esteve no Brasil durante o mês de outubro para uma série de reuniões promovidas pela diplomacia dos Estados Unidos em Boa Vista (RR), Brasília (DF), Londrina (PR), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Guia Tecnologia na Educação: Laboratórios criam ambiente para aprendizagem maker (vídeo)

Durante esses encontros de formação com entusiastas da cultura DIY (sigla em inglês para Do it yourself, ou Faça Você Mesmo), Leslie fez demonstrações sobre técnicas de fotografia, vídeo 3D e uso de LEDs. Em conversa com o Porvir, a educadora comentou sobre como é preciso garantir liberdade aos alunos para que eles “se tornem especialistas e consigam ir além do conhecimento do mediador” e lançar mão de novas maneiras de avaliar. Já que provas não dão conta de acompanhar o processo que envolve tentativa e erro, Leslie sugere a criação de jornais tal como acontece na comunidade científica, para que todo o progresso do aluno esteja registrado, bem como o que fez e com quem.

Por fim, a especialista americana dá conselhos a gestores. Embora os EUA vivam uma realidade em que bibliotecas estão em uma fase de transição em que livros vão passar a conviver lado a lado com espaços de criação, Leslie diz que líderes educacionais brasileiros precisam ter foco e começar aos poucos, resistindo à tentação de gastar com equipamentos que serão pouco usados. Leia a entrevista abaixo:

Porvir – Que relação pode ser feita entre o movimento maker no Brasil e nos Estados Unidos?
Leslie Preddy – Acho que o movimento maker é uma coisa muito nova em qualquer lugar. As pessoas estão percebendo que mesmo se criarmos coisas virtualmente, muitas vezes precisamos de um objeto tátil que pode ser conseguido pela criação 3D. Aqui acontece a mesma coisa que nos EUA e existe uma comunidade que está se expandindo, mas elas precisam saber como se sustentar e isso tem um custo.

Porvir – Quais são os equipamentos básicos para começar um espaço maker?
Leslie Preddy – Existem fabricantes que vendem kits, mas eu defendo que isso não é necessário. O que você precisa saber primeiro é o perfil de sua comunidade, quais são os interesses dela e o que ajudará no surgimento de seus talentos. Também é importante saber quais recursos humanos e tipos de negócios existem por perto. Haverá empresas que vão tentar te vender um pacote e abrir espaço para que você se associe. Mas ao estabelecer o que as pessoas precisam ter em mãos, elas estão indo contra toda a teoria do que é ser um maker (criador) e à abertura a novas ideias. É sempre diferente para cada pessoa.

Porvir – Você considera que recursos humanos são mais difícieis de conseguir do que kits?
Leslie Preddy – Acho que o trabalho de formação de professores é um dos elementos principais. Quem comanda um espaço maker não precisa ser especialista em eletrônica, programação ou qualquer tema que será ensinado aos estudantes. Tudo o que se deve preparar é uma apresentação rudimentar de como fazer e, depois, fornecer às crianças livros e recursos digitais para que elas se tornem especialistas e consigam ir além do conhecimento do mediador.

Leia também: Como construir um espaço maker inclusivo

Porvir – Como você faz para avaliar o conhecimento dos alunos quando você não sabe como o projeto termina?
Leslie Preddy – Uma parte vem da observação do progresso do estudante para encontrar a solução de um problema. Os alunos também poderiam criar um jornal, como um cientista faz para registrar tudo o que tentou. Esse material funcionaria como uma prova de tudo. Mas o que atesta mesmo o que o aluno aprendeu é ver que ele se torna capaz de ensinar outros alunos no lugar do professor.

Porvir – Quais são os erros mais comuns cometidos por gestores escolares ou de políticas públicas?
Leslie Preddy – Eles tentam fazer muita coisa de uma vez só. É melhor começar com um único tema: eletrônica ou programação ou reciclagem. Ter foco é o principal para que se entenda como fazer bem para só depois pensar em expandir a prática. As pessoas costumam simplesmente jogar um monte de equipamentos e dizer aos alunos: “Se virem”. Eles começam a brincar um pouco com cada coisa, mas sem conseguir fazer algo bem feito. Começar aos poucos e sem impôr o uso de equipamentos é crucial. Às vezes, políticos ou gestores dizem que ter uma impressora 3D é primordial para montar um espaço maker. Bem, é um equipamento muito divertido, mas custa dinheiro para comprar, manter e adquirir seus suprimentos.

Porvir – Considerando o que a senhora viu no Brasil, que conselhos poderia dar a quem quer começar?
Leslie Preddy – Ao invés de começar se preocupando com as ferramentas e equipamentos que você vai oferecer, é preciso organizar mentoria e oferecer aulas para a comunidade. É pensar em usar coisas que as pessoas já tenham acesso, como a fotografia. É mostrar às crianças que, ao invés de só tirar “selfies”, é possível criar um projeto e saber truques para tirar uma boa foto. Isso não custaria nada. Só o tempo de mentores e da comunidade para participar.


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avaliação, educação mão na massa

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