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Inovações em Educação

Programas de coaching chegam a universidades

Estudantes da BandTec e da Belas Artes, em SP, são convidados a participar de discussões sobre valores durante a graduação

por Fernanda Nogueira ilustração relógio 7 de outubro de 2014

Bastante conhecido entre profissionais focados no desenvolvimento da carreira, o coaching agora também começa a fazer parte da rotina universitária. Instituições de ensino superior, como a faculdade BandTec e o Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, criaram programas que buscam fortalecer as competências pessoais de seus alunos, para que, com isso, eles se saiam bem no mercado de trabalho desde o primeiro contato.

Na BandTec, que oferece cursos de graduação da área de TI, o programa de coaching nasceu de um projeto criado há quatro anos, que tinha como objetivo melhorar a formação humanística dos alunos. “Em conversas com as empresas, sempre surgia a questão da postura. Eles nos diziam que os alunos iam bem na parte técnica, mas faltava capacidade de viver conflitos e que tinham dificuldade de autogestão”, explica o diretor acadêmico da faculdade, Mauricio Pimentel. Foi criado então o Projeto H, de humano, que dois anos depois passou a se chamar Programa H.

A ideia é trabalhar as competências pessoais dos estudantes sempre relacionadas à parte técnica. Complementar e transdisciplinar, o programa é coordenado por um psicólogo com experiência em psicopedagogia e se baseia na Teoria dos Valores Humanos, desenvolvida pelo professor da Universidade de Nova York e da Universidade de Jerusalém, S. H. Schwartz.

O coaching acontece em encontros temáticos entre professores, funcionários e alunos de cada semestre. A adesão é de 86% dos cerca de 400 alunos. No primeiro semestre, os participantes trabalham o autoconhecimento. Os estudantes fazem testes de personalidade, falam sobre como atuar nos grupos de trabalho dentro da faculdade e também nas empresas. Discutem ainda como a história de vida pessoal pode auxiliar na tomada de decisões. No segundo semestre, o tema principal é a alteridade, que é a capacidade de enxergar o outro. No terceiro, é a hora de falar sobre liderança e motivação. Responsabilidade social é o tema do quarto semestre. No quinto e último semestre, os assuntos são carreira e formação continuada.

“Primeiro, levamos ele a se perguntar quem é, a fazer uma leitura do que é seu plano de vida e por que acha que vai seguir aquela carreira. Dado isso, vamos tentar planejar seu período escolar, ver o que despertou seu interesse, que área cursa, que competências exige, quais delas ele tem e quais não tem”, diz Pimentel. Nesse processo, ocorrem momentos de euforia, quando o aluno se descobre, e de tristeza, quando faz uma avaliação crítica de si mesmo, segundo o diretor acadêmico. Depois disso, começa o direcionamento para a carreira, em que se discute como se preparou, como se tornou interessante, sempre como foco nas competências.

Durante o programa, são trabalhadas questões como a capacidade de lidar com conflitos, confiança, empatia, que são competências pessoais e de convívio social. Tudo isso ligado às capacidades técnicas específicas da área de TI, como programação, desenvolvimento e montagem de redes e manutenção de dados.

“Existe a ideia de evolução na discussão dos valores humanos. Seguimos uma proposta teórica, mas às vezes, mudamos um pouco se for preciso. Se o grupo tem um interesse latente, diferente do proposto, mudamos”, afirma Pimentel.

Há ainda discussões levantadas por professores. Um desentendimento entre uma turma e um professor foi resolvido em um encontro promovido pelo programa, de acordo com o diretor acadêmico. “Esperamos que o conflito se resolva e a disciplina siga adiante. Queremos que, numa próxima situação igual, tenham experiência para lidar com isso”, diz Pimentel.

 “O jovem de hoje é muito inseguro. Procuramos desenvolver a segurança, mostrar que tem capacidade, sim, para trabalhar em uma multinacional, se é o que quer”

Os resultados do trabalho já apareceram. Um dos mais importantes é que a taxa média de evasão dos alunos do primeiro semestre caiu de 26% a 27% para cerca de 16% em 2014. Além disso, os alunos, empresas e professores deram um retorno positivo. Os estudantes contam que chegam aos processos de seleção melhor preparados e ex-alunos voltam para dar depoimentos sobre como conseguiram acelerar a carreira.

Segundo a faculdade, algumas empresas já procuraram a instituição para entender melhor o programa, já que tinham percebido uma nova postura nos profissionais, e quiseram ainda participar de encontros com os jovens.

Preparação
Desde que implantou o programa de coaching no início de 2013, o Centro Universitário Belas Artes também viu seus alunos e ex-alunos voltarem para contar como se saíram em situações reais no trabalho. A participação dos estudantes vem crescendo. Está em cerca de 2.000 pessoas, o que representa 32% do total de alunos, e a meta é chegar a 50% até o final do ano, segundo o gestor de planejamento de carreiras da instituição, Júlio César Barbosa.

O objetivo é desenvolver o aluno emocional e psicologicamente para chegar melhor preparado ao mercado de trabalho. Nos workshops, a equipe de coaching, que inclui um psicólogo e um psicopedagogo, discute as habilidades de cada um e busca valorizar suas características. “O jovem de hoje é muito inseguro. Procuramos desenvolver a segurança, mostrar que tem capacidade, sim, para trabalhar em uma multinacional, se é o que quer”, afirma Barbosa. Temas como autoimagem, autoestima, motivação, integração e respeito ao outro fazem parte das discussões.

É no departamento de coaching que os alunos da Belas Artes encontram ainda orientação para vagas de estágio e atendimento psicopedagógico, principalmente para aqueles que têm alguma deficiência de aprendizado, como dislexia, dislalia e discalculia.

A orientação aos alunos também busca levá-los a perceber que o que aprendem na faculdade fará sentido na carreira. “Às vezes o aluno não tem noção de que o que já faz tem algum valor. Ele pergunta: o que vou colocar no meu portfólio? Não vê que o que faz na faculdade tem muita importância. Pode colocar um desenho, um trabalho, uma pesquisa”, explica Barbosa.

Desde que se inscreve no coaching, que é extracurricular, o aluno passa a receber informações sobre as atividades do departamento. Em cada semestre, há um tipo de atividade específica em grupo, como apresentação do programa, metodologia de estudos, elaboração de currículo, simulação de entrevistas e dinâmicas. Se tiver algum problema pessoal relacionado aos estudos ou à carreira, o aluno também pode agendar um atendimento individual.

Outros assuntos de palestras e eventos do coaching são a importância da imagem pessoal, como manter a atenção e como fazer um portfólio virtual. “Orientamos no sentido de como pode melhorar o currículo e desenvolver habilidades para chegar ao emprego tão sonhado. Quer ser trainee? Fala inglês? Fala espanhol? Se faz artes visuais, como pode se tornar um artista efetivamente? Tem que ir a exposições. Vamos encaminhando o aluno para o que precisa fazer além da faculdade”, diz Barbosa.


TAGS

ensino superior, mentoria, projeto de vida, socioemocionais, transdisciplinaridade

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