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Inovações em Educação

Engenheiros vão dar aulas na rede pública de SP

Ensina!, braço brasileiro da Teach For All, leva recém-formados de todas as carreiras para ensinar em escola pública de baixo rendimento

por Patrícia Gomes ilustração relógio 29 de maio de 2012

Eles são recém-formados de alto desempenho em cursos como engenharia, publicidade e economia de boas universidades e, adivinhem, não estão lá muito preocupados com as provas de trainee como a maioria de seus colegas de turma. Eles estão espalhados em escolas públicas em regiões vulneráveis de todo o mundo, inclusive no Brasil, ensinando o que mais gostam, mesmo que não tenham estudado para dar aula. Depois de dois anos no Rio de Janeiro, o Ensina!, braço brasileiro da ONG internacional Teach For All, prepara uma parceria com a Secretaria Estadual de Educação para chegar a São Paulo.

“Acreditamos que um profissional excelente faz a diferença na vida de um estudante”, afirma o Ensina! em seu portal. Por isso, a ONG procura universitários, não importa a carreira, com perfil de liderança, lança campanhas nas redes sociais e, depois, promove uma seleção entre os interessados de cerca de quatro meses, que envolve inscrição on-line, dinâmicas de grupo e entrevista individual. “Nosso objetivo é aproximar profissionais de várias áreas de conhecimento para que eles entendam, na prática, a complexidade que é atuar como professor e gestor na rede pública de ensino. Queremos, com isso, que a sociedade se sinta corresponsável pelo processo educacional do país”, afirma Maíra Pimentel, diretora executiva do Ensina!.

Os professores selecionados passam então por uma capacitação continuada que dura os dois anos que eles estiverem no programa – período em que entram em salas de aula da rede pública das escolas que mais precisam de ajuda. O trabalho é remunerado. “Muitos dos profissionais selecionados não têm graduação em cursos relacionados a educação. Precisamos garantir que eles estejam preparados para assumir a liderança das suas turmas nas escolas públicas do país”, diz Maíra.

Em São Paulo, o Ensina! vai começar seu primeiro processo seletivo do estado em junho. Além do processo tradicional, a escolha para escolas paulistas contará ainda com uma prova do governo estadual, o que vai permitir que os ensinas deem aula como qualquer professor da rede. No Rio, devido a limitações legais, a ONG precisou adaptar o modelo da Teach for All e seus professores dão aula de reforço no contraturno de escolas da rede municipal. “Encontramos em São Paulo uma legislação mais favorável [que a do Rio], uma vez que profissionais graduados com nível bacharelado podem atuar como professores regulares, desde que passem pela Prova de Professor Temporário do Estado”, diz Maíra Pimentel, diretora executiva do Ensina!.

O Teach for All mapeou, nos últimos 20 anos, o perfil dos professores mais transformadores em sala de aula e o que eles faziam para que suas aulas fossem brilhantes e fizessem a diferença na vida de seus aluno.

Maíra conta ainda que um dos desafios enfrentados pela ONG foi a resistência dos professores mais antigos. “A percepção dos professores da rede era que estavam vindo jovens graduados, não necessariamente licenciados, para dar aula, ganhando mais do que um professor da rede e fragilizando o papel do professor na escola”. A diretora explica que o valor da hora/aula pago aos ensinas no Rio é pouco menor que os da rede municipal, mas a sensação é que eles ganham mais porque cumprem jornada de 40 horas semanais, enquanto os professores da rede normalmente cumprem 16.

Apesar das dificuldades iniciais, o Ensina! tem a seu favor os resultados que colheu nas 14 escolas municipais cariocas em que atuou, todas em áreas de baixa renda. Dados preliminares de 2011 apontam que os alunos assistidos pelo programa apresentaram melhora no desempenho nas provas bimestrais nas disciplinas de ciências, matemática e português. Só em matemática, por exemplo, os alunos da 7a série viram sua nota saltar, em média, 1,9 ponto do primeiro para o terceiro bimestre, indo de 4,02 para 5,92. Os resultados do quarto bimestre ainda não estão disponíveis.

Para conseguir esse desempenho, diz Maíra, os ensinas têm o apoio do material disponibilizado pelos parceiros internacionais da rede, que inclui experiências em 24 países e reúne métodos, instrumentos e técnicas para incentivar o aluno a ter vontade de estudar. “O Teach for All mapeou, nos últimos 20 anos, o perfil dos professores mais transformadores em sala de aula e o que eles faziam para que suas aulas fossem brilhantes e fizessem a diferença na vida de seus alunos. Essa sistematização gerou um livro (Teaching as Leadership, que traduzimos como Ensinar é Liderar) e um portal com um repertório incrível com reflexões, instrumentos e práticas de sucesso que podem ser incorporadas ao contexto de cada país”, afirma.

Veja vídeo, em inglês, com participantes do Teach for All de todo o mundo.

Essa matéria foi alterada no dia 31 de maio, às 11h54.


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equidade, formação continuada

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