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A metodologia

A metodologia apresentada no Guia Educação Integral no Território sistematiza as estratégias e ações realizadas no Rio Vermelho e em São Miguel dos Campos, incorporando aprendizados e ajustes de rota que só a experiência prática é capaz de proporcionar.

É uma proposta flexível e pode ser adaptada ao contexto de cada comunidade. Portanto, não compreende um fluxo linear, nem tampouco obrigatório. Assim sendo, os eixos listados neste capítulo, bem como a ordem em que são apresentados constituem-se apenas em referências e podem ser alterados, observando-se apenas quando uma determinada etapa é requisito para o desenvolvimento de outras. Inspire-se e crie a sua própria trajetória.

Eixo 1
Sensibilização de lideranças

Identificação das pessoas que exercem forte influência no território e convite para que participem de articulação voltada à promoção da educação integral.

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Eixo 2
Comunicação e Mobilização

Definição de estratégias e ferramentas por meio das quais a comunidade local será permanentemente informada, mobilizada e convocada a contribuir com a iniciativa.

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Eixo 3
Diagnóstico participativo

Levantamento de dados e escuta ativa e sensível da população para reconhecimento dos desafios e do potencial educativo do território.

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Eixo 4
Governança

Definição das instâncias de participação e organização dos fluxos de tomada de decisão, com fortalecimento constante da legitimidade, capacidade e autonomia do território para conduzir suas próprias articulações em prol da educação integral.

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Eixo 5
Planejamento

Elaboração conjunta do Plano de Educação Integral do Território, documento integrador e sistêmico que estrutura e articula as ações individuais, institucionais e intersetoriais voltadas a promover o desenvolvimento integral dos estudantes.

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Eixo 6
Formação

Oferta de conjunto diversificado de atividades formativas para desenvolver a capacidade da comunidade local de implementar o Plano de Educação Integral do Território, superando os desafios diagnosticados e garantindo o desenvolvimento integral dos estudantes.

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Eixo 7
Acompanhamento e avaliação

Implantação de um sistema permanente de acompanhamento do Plano de Educação Integral do Território, com avaliação periódica de metas e aprimoramento das estratégias e ações planejadas sempre que necessário.

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Eixo 8
Institucionalização

Construção coletiva das condições técnicas, jurídicas, políticas e financeiras para assegurar a sustentabilidade da iniciativa.

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Eixo 6: Formação

O que é


O eixo da formação busca desenvolver a capacidade dos agentes locais, para que consigam implementar as ações previstas no Plano de Educação Integral do Território e solucionar os desafios mapeados no diagnóstico participativo. As atividades se propõem a ampliar o repertório e qualificar as práticas de atores chave, com o intuito de suprir deficiências previamente indicadas pelo próprio território. O objetivo é permitir que dirigentes e técnicos de secretarias e conselheiros de direitos aprimorem a gestão de políticas, serviços e equipamentos públicos. Que professores e educadores comunitários promovam melhores práticas pedagógicas dentro e fora das unidades escolares. Que diretores e coordenadores pedagógicos consigam melhorar a gestão e o ambiente de suas escolas, bem como a formação continuada de sua equipe docente. Que os estudantes participem mais ativamente do cotidiano escolar e influenciem as políticas públicas de educação. Que as famílias, lideranças, entre outros atores da comunidade, também saibam como contribuir de forma qualificada para o desenvolvimento integral de suas crianças, adolescentes e jovens.

Porque é importante


Muitas vezes, os agentes locais têm compromisso e boa intenção, mas não dispõem das competências e dos instrumentos necessários para modificar a realidade educacional do seu território. Processos de formação que desenvolvem as capacidades locais asseguram que a própria comunidade seja capaz de solucionar seus problemas com autonomia e efetividade. Além disso, quando um integrante do território adquire novos conhecimentos e experiências, também pode tornar-se um multiplicador, compartilhando esses aprendizados com seus pares.

Estudantes realizam atividade educativa no Bairro-Escola Rio Vermelho

Quem participa


Participam deste eixo atores chave com claras e importantes demandas de formação. O processo também envolve multiplicadores da própria comunidade, bem como agentes externos que possuem conhecimentos e habilidades ainda não incorporados pelo território. Em ambos os casos, não se deve perder de vista que o objetivo da formação é promover aprendizados ainda não disponíveis e fazê-los circular para que possam chegar ao maior número possível de pessoas.


Como acontece


A organização das ofertas de formação começa pelo levantamento e dimensionamento de demandas estratégicas. Também é importante compreender o contexto de cada público que se deseja formar, a fim de que as atividades promovidas possam se adequar ao seu perfil, linguagem e condições de participação.

As iniciativas nessa área tornam-se mais efetivas quando contribuem para que os próprios agentes locais planejem, organizem, acompanhem e avaliem as atividades realizadas. Por exemplo, é fundamental contribuir para que as equipes pedagógicas das escolas e da Secretaria de Educação liderem o processo de formação continuada dos seus professores, como parte da sua rotina, ainda que contem com o apoio de colaboradores externos, como universidades, organizações não-governamentais e empresas. Também é preciso estar atento aos saberes, às potencialidades, às expertises e às oportunidades formativas já existentes que podem ser canalizadas para fortalecer as ações no território.

A formação pode acontecer presencialmente, por meio de seminários, palestras, cursos, oficinas ou da simples troca de experiência entre pares. Assim como pode se valer da tecnologia, com oferta de cursos à distância ou disponibilização de plataformas que promovem formas mais flexíveis de capacitação. O importante é que ofereçam conteúdos relevantes, metodologias interessantes e resultados consistentes em termos de ampliação de conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e mudanças de práticas e de cultura. Afinal, novas técnicas só são de fato incorporadas quando os indivíduos realmente se disponibilizam a modificar sua forma de atuação.

Além de priorizar a formação de gestores educacionais e professores, a promoção da educação integral no território deve investir no desenvolvimento da capacidade dos próprios estudantes de contribuir para transformar a sua realidade educacional. Oficinas continuadas os ajudam a refletir sobre a escola que têm e aquilo que desejam transformar, oferecendo-lhes subsídios para intervir no cotidiano das suas unidades escolares, bem como formular análises e propostas para melhorar políticas educacionais. As oportunidades formativas também precisam ampliar a sua consciência cidadã, o seu potencial de liderança e a sua capacidade de compor as mais diversas instâncias de representações estudantis.

Outro agente local estratégico são as famílias, que muitas vezes desconhecem e/ou negligenciam o seu papel de valorizar, colaborar e acompanhar a escola, a aprendizagem e o desenvolvimento integral de suas crianças, adolescentes e jovens. A formação desse segmento tem resultados mais efetivos quando promovida por meio de articulação entre secretarias ou organizações de educação, assistência social, saúde e garantia de direitos. Nesse caso, o principal desafio é motivar os familiares a participar, tarefa que ganha consistência quando representantes das próprias famílias contribuem para convencer os seus pares.

A etapa de formação deve acontecer de forma permanente, iniciando-se assim que a comunidade identificar as capacidades que precisam ser aprimoradas como requisito fundamental para a implementação do Plano de Educação Integral do Território.

Festival no Bairro-Escola Rio Vermelho

Como aconteceu no Bairro-Escola Rio Vermelho


As atividades de formação que realizamos no Rio Vermelho contribuíram decisivamente para que os professores das escolas públicas do bairro se apropriassem da proposta do Bairro-Escola. A primeira experiência formativa foi desenvolvida ao longo de todo o ano letivo de 2014, sob a liderança da organização Cidade Escola Aprendiz, que apoiou os professores a promover a educação integral de seus alunos em articulação com espaços e agentes da comunidade. O curso desenrolou-se por meio de encontros quinzenais e contou com a parceria do ICEP – Instituto Chapada de Educação e Pesquisa, que agregou conhecimentos na área de gestão e coordenação pedagógica, e da CIPÓ, que compartilhou conceitos e metodologias na área da educomunicação.

Nos anos seguintes, as formações foram desenhadas de forma customizada para cada escola e passaram a acontecer durante o horário de estudos e planejamento dos professores. Profissionais com experiências específicas foram convidados a colaborar com o processo, fomentando a incorporação de práticas pedagógicas inovadoras nas escolas públicas do bairro.

A equipe técnica do Bairro-Escola também organizou encontros de mentoria para subsidiar os professores a planejar, implementar e avaliar novas abordagem e atividades educativas.

Como aconteceu em São Miguel dos Campos


O diagnóstico participativo realizado em São Miguel dos Campos conseguiu apontar muitas das fragilidades formativas existentes. As demandas eram tantas que convocamos uma série de organizações parcerias para nos apoiar nesse processo. A Cidade Escola Aprendiz formou gestores, professores e oficineiros para que pudessem qualificar as atividades oferecidas no contraturno pelas escolas que haviam aderido ao Programa Mais Educação-MEC.

O ICEP foi mais uma vez acionado para orientar os professores do Ensino Fundamental I a implementar ações em três frentes: cultura do brincar, leitura e avaliação institucional da aprendizagem. A organização também apoiou a Secretaria de Educação elaborar um plano de formação continuada. O parceiro MEL – Media Education Lab promoveu escutas nas escolas de Ensino Fundamental II e realizou uma série de oficinas de cocriação em que professores e alunos planejaram conjuntamente práticas pedagógicas mais interativas e interessantes, com a colaboração de familiares, representantes da comunidade e técnicos da Secretaria de Educação.

O fortalecimento do Ensino Fundamental II também se deu por meio de formações mais pontuais, que buscaram transformar aulas essencialmente expositivas em atividades educativas mais dinâmicas, com e sem uso de tecnologias. Os professores aprenderam a utilizar as plataformas Khan Academy, Meu Tutor e Kidu para facilitar a aprendizagem de matemática e língua portuguesa e promover o desenvolvimento de projetos pelos estudantes. O projeto Primeiro Livro também formou os professores de língua portuguesa para estimular e aprimorar a produção textual entre os alunos do 6º ao 9º ano.

A Viração também promoveu uma formação de cerca de 30 adolescentes e jovens para implementar grêmios estudantis e realizar campanhas de engajamento pela melhoria da educação no município.

Já a Comunidade Educativa CEDAC apoiou o planejamento de um programa de formação continuada destinada a diretores das escolas municipais e coordenou um amplo processo de capacitação de técnicos das secretarias de Educação, Assistência Social, Saúde, Infância, Juventude e Promoção da paz para que criassem e implementassem uma ação articulada de fortalecimento das famílias dos estudantes.

Por fim, Cleuza Repulho, ex-secretária de Educação de Santo André e São Bernardo do Campo, orientou diretamente a Secretária Municipal e a Secretária Adjunta de Educação em temas como gestão de recursos, supervisão escolar, desenvolvimento de plano de carreira dos profissionais da educação e Plano Municipal de Educação.

O que aprendemos?


  • Antes de desenhar um programa de formação é preciso compreender as demandas prioritárias do território e as condições que viabilizam a participação dos agentes que se deseja capacitar. 
  • Quando as formações docentes acontecem no ambiente escolar e em horário já destinado a essa finalidade, mais professores conseguem participar. 
  • As atividades formativas promovidas no território devem fomentar uma cultura e um programa de qualificação permanente da comunidade escolar.