Experiências do Eixo 2: Comunicação e mobilização


Merenda com o Chef

O projeto Merenda com o Chef se tornou referência de mobilização no Bairro-Escola Rio Vermelho com uma proposta simples, mas de grande efeito: juntar chefs de restaurantes do bairro e merendeiras das escolas para, juntos, melhorarem o sabor e a qualidade nutricional da alimentação dos alunos. O Merenda com o Chef aproveitou que o Rio Vermelho tem essa característica gastronômica para repensar o lanche servido na rede pública de ensino.

A ideia não era transformar totalmente os cardápios das escolas, mas promover alterações pontuais que fizessem a diferença. Reduzir a quantidade de sal e de açúcar, por exemplo. Ou substituir a fritura pelo forno, valorizar ingredientes locais, priorizar frutas e verduras. Em outras palavras, promover a chamada cozinha sustentável, que tem reflexos não apenas na saúde dos estudantes, mas em toda a cadeia produtiva da região.

Os restaurantes Armazém do Reino, Casa de Tereza e La Taperia realizaram capacitações com as merendeiras sobre o reaproveitamento de alimentos, a produção de receitas e a montagem de pratos. Os encontros aconteceram nas cozinhas das próprias escolas, onde os chefs trançaram seus conhecimentos técnicos com a experiência das merendeiras.

O Colégio Estadual Alfredo Magalhães foi o primeiro a integrar o projeto. Desde 2013, as merendeiras dessa escola – que tem cerca de 400 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em período integral e outros 400 no período noturno – passaram a receber visitas semanais do chef Ramon Simões, do Armazém do Reino.

O chef optou por realizar um trabalho de melhoria alimentar, compartilhando técnicas da culinária Viva Gourmet, metodologia de sua autoria. Ele levou em conta aspectos relevantes da saúde, da ecologia e da cultura local no intercâmbio com as merendeiras, a quem prefere chamar de “orientadoras alimentares”.

“A alimentação adequada é a base para a estrutura comportamental, o equilíbrio psicológico, emocional e o desenvolvimento do aluno”, pontua Ramon Simões. O diretor da escola à época, Orlando Souza, comemorou os resultados da experiência. “Muitas famílias estão mudando os cardápios em casa por causa do que os filhos estão comendo aqui”.

Ainda na Alfredo Magalhães, Ramon Simões promoveu a implantação de uma horta, com sistema de compostagem. A ação teve a parceria de estudantes de pós-graduação em gastronomia da Universidade Estácio. A intenção, explica Ramon, é que, ao cuidar do plantio, os alunos percebam a importância dos alimentos orgânicos.

Os estudantes também visitaram alguns dos restaurantes. Na Casa de Tereza, a chef Tereza Paim ajudou os alunos a entender como a comida é feita e a cultura que representa, trabalhando conteúdos de física, química, biologia, história e geografia.


Festival Bairro-Escola Rio Vermelho

O Festival Bairro-Escola Rio Vermelho surgiu com o objetivo de levar para as ruas do território atividades artísticas, culturais, esportivas e pedagógicas, bem como projetos desenvolvidos pelas escolas e por outros agentes locais.

Na primeira edição, realizada no final de 2013, o diálogo entre comunidade e instituições de ensino ainda era incipiente. Por isso, o Festival foi idealizado por uma produtora cultural. As escolas foram apenas participantes. A partir da segunda edição, em 2014, o amadurecimento dessa relação permitiu que os estudantes contribuíssem com a elaboração da programação como atividade pedagógica da própria escola.

Em 2014 e 2015, o evento também fez parte da programação oficial do Festival da Primavera, realizado pela Prefeitura Municipal de Salvador, o que deu grande visibilidade à iniciativa. As praças Pôr do Sol e Pau Brasil foram ocupadas com jogos, contação de histórias, desfiles, oficinas e brincadeiras tradicionais, compartilhados entre moradores, escolas, empresários e representantes do poder público.

Em 2016 e 2017, o Festival passou a ser realizado em dia de semana e a voltar-se prioritariamente para os estudantes, à medida que suas ações começaram a ser custeadas de forma compartilhada. Apesar das mudanças em termos de recursos e infraestrutura, a essência do Festival Bairro-Escola foi preservada pela comunidade, que o reconheceu como oportunidade de aprendizado para além da sala de aula.


Campanha A Educação me Move

O diagnóstico participativo realizado em São Miguel dos Campos mostrou uma cidade onde os estudantes até podiam estar nas escolas (embora a taxa de evasão fosse alta), mas o ativismo pela educação não tinha jovens representantes. Para reverter esse quadro, o Inspirare e a Viração envolveram 30 adolescentes em uma campanha de mobilização em que eles participaram de todas as etapas, da concepção e produção à execução.

A Educação me Move” buscou conscientizar a comunidade sobre o ensino de qualidade e envolver mais pessoas no assunto.  A professora Valdirene Vieira lembra que a mobilização começou na sala de aula, em um chamamento feito com o apoio dos alunos: “Os estudantes dos grêmios se reuniam com as turmas para falar dessa educação na integralidade do ser, do estudante como um todo”.

Valdirene acredita que o fato de os alunos falarem uns com os outros, na mesma linguagem e partindo do mesmo contexto, fortaleceu a campanha. A mobilização ficou mais consistente do que se tivesse partido apenas de professores ou coordenadores. “Daquele encontro, a gente sabia que teria uma força maior e que isso seria importante quando fossemos para a rua”.

Em 2016, quando era coordenadora da Escola Municipal Mário Soares Palmeira, Valdirene propôs que a campanha fosse para o centro da cidade, em uma espécie de blitz pela educação. Os estudantes tinham confeccionado caixas de remédios que, em lugar de comprimidos, traziam balas e textos dos próprios estudantes ou de poetas conhecidos. Vestidos com jalecos, como se fossem agentes de saúde, os alunos então paravam os carros e “receitavam” as leituras, seguindo a máxima de que “ler ainda é o melhor remédio”.

A professora resume a campanha como uma estratégia de total ligação com a ideia de cidade educadora, já que o aprendizado aconteceu para além dos muros da escola. “Foi uma ação belíssima, e ver o entusiasmo dos meninos e das pessoas que paravam ali para ouvi-los foi bem estimulante. Nós ficamos encantados com o resultado, tanto que levamos a mesma ideia para outros projetos e todos deram muito certo”.

Metodologia do Eixo 2