Experiências do Eixo 3: Diagnóstico participativo


Diagnóstico participativo com adolescentes do bairro

Para que os jovens do Rio Vermelho também fossem agentes do levantamento sobre o próprio bairro, eles passaram por uma capacitação. A ideia era motivá-los metodologicamente a problematizar as suas realidades, estabelecer as prioridades e avaliar as ações que eles mesmos podiam realizar para melhorar e desenvolver o ambiente em que estavam inseridos.

A série de oficinas intituladas “Como tornar seu bairro educador” foi realizada pelo Instituto Paulo Montenegro (braço social do IBOPE), na sede da Cipó. Durante cinco dias, um grupo de jovens conheceu os conceitos de pesquisa, amostra e levantamento de dados.

Na sequência, os próprios alunos elaboraram um questionário para levantar dados estatísticos e promover a interação com a comunidade.  O questionário baseou-se na pergunta guia “Como unir a escola e a comunidade?”.

Em seguida, eles aplicaram esses questionários nas escolas e com os moradores do bairro, aprendendo que isso correspondia aos dados primários da pesquisa. Os dados secundários – sobre educação, saúde, segurança e cultura – também foram mapeados.

A tabulação de dados ocorreu em uma planilha online, que contabilizava as respostas. Para realizar o trabalho, eles puderam usar os laboratórios de informática das suas próprias escolas e de organizações parceiras.

O diagnóstico foi concluído com uma reflexão sobre a experiência, debatida entre estudantes e equipe do IPM e da CIPÓ. Os estudantes buscaram validar os resultados com base em suas experiências e conhecimento do território. Por fim, os aprendizados foram compartilhados entre realizadores e participantes, divulgados e um mapa georreferenciado do bairro com indicação de espaços educativos e culturais foi criado.


Pesquisa Avante

 

A estratégia de chegada que a Avante usou na sensibilização de lideranças em São Miguel dos Campos estendeu-se para o eixo do diagnóstico participativo. Nesse ponto da metodologia, a ONG mapeou quem eram os atores do município, quais eram as disposições deles, como era a situação da educação local e que compreensão a comunidade tinha de si mesma e do projeto.

A pedagoga Mônica Sâmia, consultora associada da Avante, destaca que não há uma receita a seguir, porque se trata de um campo subjetivo. São as especificidades de cada território que vão determinar as práticas a serem adotadas. No caso de São Miguel, a Avante elencou uma pesquisadora de Maceió para ir até lá, conversar com a comunidade e identificar as demandas.

Mônica explica: “Tinha que ser uma pessoa que conhecesse a cultura local, mas que não estivesse dominada por ela. Que pudesse assumir uma distância ótima, para ser capaz de compreender as necessidades do lugar, mas também os vícios daquela cultura. Com isso, saberíamos que questões tensionar e que questões acolher, por exemplo”.

Duas outras pesquisadoras de Salvador, também ligadas à Avante, juntaram-se para realizar o trabalho. “Uma boa metáfora para esse momento da metodologia é fazer a pergunta: você vai arrombar a porta ou vai bater e pedir licença? Nós tínhamos essa autorização oficial para entrar, mas isso apenas não era suficiente. Tínhamos que mostrar o respeito por aquela cultura, por aquela história, pelas dificuldades e a própria resistência”, observa. 

Os resultados da pesquisa realizada pela Avante foram apresentados em dezembro de 2013 durante o I Fórum de Educação de São Miguel dos Campos. O evento, inédito no município, reuniu representantes da gestão pública, da sociedade civil organizada e membros da comunidade.

O Fórum é intrínseco à metodologia. Foi o momento da partilha, de devolver à comunidade o que tinha partido dela. Com esse passo, iniciou-se um processo no qual as pessoas passaram a conhecer desafios e oportunidades e começaram a se corresponsabilizar pela educação do município.

A ótica da escola e a ótica da comunidade uniram-se no mesmo auditório.  “Durante essa devolutiva, os dados apresentados ganhavam sentido, porque as pessoas estavam ali presentes: mãe de aluno, professor, diretor de escola etc. Foi um evento muito importante e que teve momentos inesquecíveis, como o depoimento de uma mãe que contou que tinha voltado a estudar para motivar o filho, que estava na EJA, e que eles tinham estudado juntos, e ela ia começar a trabalhar, porque até então era dona de casa”, lembra Anna Penido, diretora executiva do Inspirare.


Escutas inspiracionais

O diagnóstico participativo acontece em um momento inicial da metodologia mas não se esgota nele, ao contrário. É uma característica desse projeto escutar permanentemente as pessoas, seja qual for a prática ou o eixo em questão. O exercício de uma escuta sensível deve permear todo o trabalho, para que todos possam conhecer melhor a realidade da qual fazem parte e a que pretendem transformar.

Em São Miguel dos Campos houve um diagnóstico mais geral, panorâmico, que tentou dar conta de uma macrossituação. Depois disso, o projeto seguiu, passando por diversos eixos até estabelecer o Plano Intersetorial. Foi quando se observou uma defasagem grande no Ensino Fundamental II. O Inspirare então acionou o MEL – Media Education Lab, instituição que coordenou um processo de cocriação para reformular essa etapa da educação por meio da plataforma Faz Sentido.

A primeira providência do MEL foi desenvolver uma escuta sensível, aprofundando o diagnóstico geral realizado antes no mesmo território. A diferença é que o público era específico, estudantes do 6º ao 9º ano, seus pais e também os gestores e professores dessas escolas.  O MEL promoveu um mergulho no diagnóstico e, com essa ação, foi possível avaliar e repactuar decisões nessa área específica. Ao aprofundar a escuta, a prática foi ainda mais internalizada.

A meta era que, após ouvir todos esses atores, se chegasse a um documento que apoiasse a escola a responder às necessidades dos adolescentes contemporâneos, assegurar seu aprendizado, promover o desenvolvimento integral desses jovens e prepará-los para enfrentar os desafios do século 21.

Ao sistematizar as conversas – resultado de encontros presenciais e de questionários – foi possível mapear a situação educacional a partir de diferentes perspectivas. A Secretaria Municipal da Educação elencou como entraves para o ensino a dificuldade que os professores têm para lidar com a tecnologia em sala de aula; a baixa atratividade que as escolas oferecem para os alunos; o planejamento pouco participativo e a falta de comprometimento dos atores da educação. Os alunos, por sua vez, demandaram um diálogo mais próximo com gestores e professores, especialmente os envolvidos com os grêmios.

Quando o município identifica as fragilidades de sua escola, a resolução dos problemas fica mais fácil, aponta Anna Penido, coordenadora do Inspirare. “Depois disso é preciso buscar especialistas que podem ajudar a desenvolver essas soluções, articular diversos profissionais atuando em conjunto para que a gente tenha qualidade na política pública, nos serviços e nos equipamentos públicos”.

Para ela, o desafio é manter o compromisso das pessoas que se dispuseram a olhar para suas realidades e trabalhar para transformá-las. “Temos que fazer dessa sensibilização algo permanente, para que os planos, projetos e documentos que derivam dela não sejam só uma carta de boas intenções”.

Metodologia do Eixo 3