Experiências do Eixo 4: Governança


Bairro-Universidade

Quando a professora Tatiana Dumêt conheceu o projeto do Bairro-Escola Rio Vermelho, achou a ideia tão interessante que passou a frequentar as reuniões do BERV, mesmo não sendo moradora do bairro e não tendo ligação direta com o lugar. A então diretora da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA) quis participar por ser cidadã de Salvador e por ver a chance de replicar a experiência no bairro vizinho, a Federação, onde fica a sede da Politécnica.

Em 2016, diversos alunos e professores da UFBA já desenvolviam trabalhos de educação com a comunidade do entorno. Para que essas ações não ficassem isoladas, a diretora resolveu organizá-las de forma mais institucional. Ao lado do professor Jardel Gonçalves e de alguns estudantes, Tatiana Dumêt adaptou a proposta de bairro educador a um projeto de extensão: estava criado o Bairro-Universidade, um projeto que contou com apoio do BERV desde o início, pois se tratava de uma oportunidade de expandir a metodologia.

Pouco tempo depois, Tatiana foi convidada a integrar a Comissão Gestora do BERV. “É uma ação extremamente importante trabalhar em conjunto com a sociedade. A ideia do bairro educador é muito boa porque as instituições sozinhas ou a sociedade sozinha tem menos força do que quando a gente une todo mundo e trabalha em prol de um objetivo comum”, pondera.

Esse foi o objetivo do Bairro-Universidade desde o início, conta a fundadora do projeto. Tentar organizar ações para que a Federação se firmasse como território educativo, já que há tantas escolas e tantas universidades naquela região. Segundo a diretora, o maior desafio é estabelecer uma governança sólida, para que o projeto consiga caminhar sozinho.

O Bairro-Universidade tem um cardápio de atividades desenvolvidas por grupos de alunos e professores. No projeto “Onda elétrica”, por exemplo, estudantes de engenharia elétrica vão às escolas realizar experimentos de física para explicar eletricidade. Já no projeto “I3E”, alunos de vários cursos de engenharia apresentam experimentos de física de forma lúdica. O “TISP” é outro projeto, no qual é possível aprender sobre resistência e força, conceitos que também são trabalhados na física escolar. “Essas visitas às escolas sempre acabam despertando mais o interesse pela área da tecnologia”, avalia a coordenadora do projeto.

Ela conta que, em 2017, foi a vez de a Politécnica abrir as portas para a comunidade durante o Festival POP Ciências, que teve apoio da Fapesb. Na ocasião, todos os experimentos (e outros novos) foram realizados no campus da Federação, visitada por estudantes do entorno, seus familiares e moradores do bairro. “Nossa vontade é fortalecer o intercâmbio entre a universidade, a comunidade, as ONGs, todos trabalhando em prol de um bem comum”.


Editais: estratégia de sustentabilidade

O Bairro-Escola Rio Vermelho também pode destacar os editais de apoio às escolas parceiras, ação que teve início em 2015. Com o objetivo de oferecer acompanhamento pedagógico para a realização de projetos de educação integral, a primeira iniciativa, de dois editais, resultou em 14 experiências inscritas e 08 selecionados, sendo 05 elaboradas por professores e 03, por alunos, todas contempladas com um recurso semente para estimular sua implantação.

Com os editais, o BERV estimulou a autonomia das escolas e deu mais oportunidades para que a comunidade participasse do planejamento e do desenvolvimento das ações ligadas ao território educativo. A ideia era que todos se sentissem corresponsáveis pela melhoria da aprendizagem.

O edital “Minha Escola é inovadora” contemplou projetos interdisciplinares docentes. Já o “#Minha Escola Meu Mundo” destinou-se à intervenção escolar e ao protagonismo estudantil. Ambos seguiram os princípios metodológicos do BERV, com o uso educativo do espaço público.

A Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos do Estado da Bahia (APADA) foi selecionada no edital “Minha Escola é Inovadora” com o projeto “Fatos e Fotos do Rio Vermelho”. Crianças surdas recontaram a história local por meio da fotografia. Os alunos visitaram diversos espaços, como a casa dos pescadores, o Museu Casa de Jorge Amado e a biblioteca do bairro, que tem um acervo de imagens antigas, mostrando aquele mesmo endereço cem anos atrás.

Como a maioria das crianças da APADA mora em outros bairros, geralmente no subúrbio, elas vão ao Rio Vermelho apenas para estudar. Antes desse edital, conheciam apenas o caminho entre o ponto de ônibus e a escola. “Mas, para fotografar o bairro, tiveram que andar pelas ruas, entrar nos lugares e isso foi muito bom”, conta a professora Josy Borges, que organizou as turmas durante o projeto.

Os alunos da APADA vêm de uma realidade social em que o acesso a espaços culturais é restrito. E, a principal dificuldade: são crianças surdas. “E o mundo não é feito para os surdos, é feito para o ouvinte, para quem fala, quem é oralizado. Os meninos perceberam que eles podem estar naqueles ambientes, que eles têm coisas interessantes para mostrar e que podem aprender com outras crianças e adultos”.

Para a professora, a experiência da APADA é inspiradora justamente porque diz respeito a desafiar-se a ir além, acreditando que o aluno é capaz.  “Foi ótimo. As crianças ficaram encantadas, as famílias participaram das trilhas educativas* com a gente, conseguimos envolver toda a comunidade escolar. Esse projeto mostrou que a educação vai muito além da sala de aula, muito além de ler e escrever”.

 

* As trilhas educativas destacam-se como percursos pedagógicos nos quais o aprendizado deixa de ser estático para tornar-se dinâmico. A rua ganha caráter educativo porque passa a ser explorada em um projeto temático, construído por estudantes e professores e que pode envolver também a comunidade. Os percursos propiciam ampliação de repertório para os estudantes e professores e fortalecem a relação da escola com os parceiros, que serão acionados para contribuir com o desenvolvimento dela.

Fórum Intersetorial da Educação de São Miguel dos Campos

Sancionado em 2016 (PL n. 1442), o Fórum é uma entidade consultiva e deliberativa, sem personalidade jurídica, responsável por elaborar, monitorar e avaliar o Plano Intersetorial pela Educação de São Miguel dos Campos. Esse Plano define objetivos, metas e ações a serem alcançadas a partir do esforço conjunto de todos os membros do Fórum, coincidindo sua vigência com o final de cada gestão municipal.

O documento deve ser elaborado no primeiro ano de cada gestão municipal, a partir de um diagnóstico participativo da realidade educacional e dos índices ligados ao desenvolvimento humano do município. O texto é revisado anualmente, com base no monitoramento de ações, metas e dados do município. O objetivo é que o Plano Intersetorial fortaleça e complemente o Plano Municipal de Educação, e não que atue como substituto a ele.

O Fórum Intersetorial busca articular ações de diferentes setores do poder público e da sociedade civil para promover uma educação de qualidade. Também é uma meta dessa instância participativa assegurar o desenvolvimento de cidadãos plenos, preparados para viver com dignidade, realizar seus projetos de vida e construir um futuro promissor para si e para o município.

Cabe aos membros do fórum participar de todas as etapas relacionadas ao Plano Intersetorial, da elaboração ao monitoramento. Os membros devem igualmente realizar outras ações pertinentes que contribuam para a melhoria da educação e do pleno desenvolvimento da população miguelense.

O funcionamento do Fórum Intersetorial é orientado por um Regimento Interno, construído com a participação dos seus membros e validado por 70% desses integrantes. Para fins de monitoramento do Plano, as entidades informam, mensalmente, as ações realizadas e o alcance das metas sob suas responsabilidades.

A cada dois meses, o Coordenador do Fórum divulga a atualização geral do Plano Intersetorial para os membros e para a população de São Miguel dos Campos. Fica a critério dos membros convidar, em caráter especial, pesquisadores, representantes de entidades, órgãos, movimentos, organismos internacionais, instituições de direito público ou privado e do Poder Judiciário.

As deliberações do Fórum buscam a definição consensual dos temas apreciados. Quando isso não acontece, as decisões são encaminhadas para debate e votação, e são aprovadas por maioria simples dos votos.


Fórum Municipal de Educação de São Miguel dos Campos

Também sancionado em 2016 (PL n. 1443), o Fórum Municipal de Educação de São Miguel dos Campos é uma entidade consultiva e propositiva, sem personalidade jurídica, formado por representantes de diferentes órgãos e instituições do município. Seus integrantes estão ligados direta e indiretamente à educação, e atuam no monitoramento e avaliação do Plano Intersetorial pela Educação de São Miguel dos Campos e do Plano Municipal de Educação.

São funções do Fórum divulgar e encaminhar as deliberações feitas em audiência pública, seminários e conferências municipais de educação para órgãos e instituições competentes. Além disso, convocar, planejar e coordenar a realização dos seminários e das conferências municipais de educação, mobilizando a comunidade envolvida nas ações relacionadas ao Plano Intersetorial pela Educação de São Miguel dos Campos e ao Plano Municipal de Educação.

Na primeira reunião do Fórum são escolhidos o coordenador geral, o vice-coordenador, o 1º Secretário e o 2º Secretário como integrantes da Comissão Coordenadora, que exercem a função por dois anos. Essa comissão acompanha sistematicamente os grupos de trabalho e o monitoramento dos dois planos citados.

Também é papel da Comissão Coordenadora apoiar os seminários e as conferências municipais de educação de avaliação dos Planos; monitorar e avaliar o Plano Intersetorial a cada seis meses e o Plano Municipal de Educação a cada dois anos e convocar representantes do Fórum e da comunidade local para a realização das Conferências Municipais.

A Comissão Coordenadora do Fórum, quando necessário, poderá criar Comissões e Grupos de Trabalho, com indicação de seus respectivos membros.

Metodologia do Eixo 4