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A inspiração

O Guia Educação Integral no Território tem como ponto de partida as experiências que aconteceram no Bairro-Escola Rio Vermelho (BERV) e em São Miguel do Campos. As ações conectaram poder público, escolas e comunidade em prol do desenvolvimento integral dos estudantes em cada território.

Ambas as iniciativas foram impulsionadas pelo Instituto Inspirare e por um conjunto extremamente comprometido e diversificado de parceiros técnicos, sempre sob a governança de fóruns, grupos e coletivos locais.

Como aconteceu
no Bairro-Escola Rio Vermelho

O sonho de transformar o Rio Vermelho em um bairro-escola começou a tomar forma em julho de 2012. Reduto boêmio, criativo e cultural de Salvador, o território tinha um enorme potencial para se transformar em uma grande sala de aula a céu aberto. Inicialmente, estudantes, educadores, artistas, ativistas, representantes do poder público e moradores foram convocados a pensar em estratégias para fazer da educação uma bandeira da comunidade local.

Durante o primeiro ano, encontros coletivos mensais foram dando forma à iniciativa, que se inspirou em experiência idealizada pela organização não-governamental Cidade Escola Aprendiz (SP) no bairro da Vila Madalena, na cidade de São Paulo. A instituição foi parceira do BERV desde o primeiro momento, junto com a CIPÓ – Comunicação Interativa e o Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP). A mobilização ganhou força no final de 2012 com a realização da primeira edição do Festival Bairro-Escola Rio Vermelho, evento de culminância organizado coletivamente em espaços públicos da região.


Em 2013, com uma série de experiências na bagagem e após um processo intenso de formação voltado para professores e moradores do bairro, representantes de vários segmentos da comunidade elaboraram a primeira versão do Plano Educativo Local, que serviu de norte para todas as ações realizadas a partir dali.

Ainda naquele ano, o grupo produziu uma Carta de Princípios, assinada por centenas de representantes de escolas, organizações da sociedade civil e poder público, além de moradores, artistas, ativistas, empresários e empreendedores, que também aderiram à iniciativa. O documento apresenta o conceito e os fundamentos do BERV, bem como as aspirações e as responsabilidades da comunidade. Reserva um olhar especial para as unidades escolares, mas também trata de outras questões do bairro que afetam diretamente a vida dos estudantes, como segurança, trânsito, infraestrutura urbana e oferta de equipamentos culturais, entre outros.

Os princípios falam de educação integral, coletividade, respeito, convivência, comunicação e transformação. Os desejos traduzem expectativas em relação ao bairro, às escolas e às pessoas, a partir de uma concepção de território em que todos se sentem educadores e aprendizes.

“Somos guiados pela possibilidade de transformar o Rio Vermelho em um lugar onde seus habitantes se reconheçam. Um espaço em que o concreto esteja impregnado de subjetividade: memórias, afetos e relações pessoais e sociais. Um lugar em que todos possam se reconhecer e do qual se sintam parte”.

A Carta de Princípios resultou de muita mobilização e sensibilização de lideranças e colaboradores locais. Um instrumento que, apesar de não ter valor jurídico, possui a força de um documento simbólico, que circula por onde as ações do bairro acontecem, lembrando a moradores e visitantes o pacto que estabeleceram pela construção de um território educador.

Entre os anos de 2014 e 2016, muitos esforços foram realizados no sentido de fortalecer a governança e a apropriação do BERV pela população local. O Plano Educativo Local foi implementado, acompanhado e aprimorado com apoio de encontros periódicos do Comitê Gestor e do Grupo Ampliado, instâncias de participação criadas pela própria comunidade, que também avaliava e replanejava suas metas e ações em grandes encontros anuais denominados de Seminário Bairro-Escola Rio Vermelho. Simultaneamente, representantes e parceiros do território buscavam aperfeiçoar as estratégias de sustentabilidade da iniciativa.

Ao longo de quase seis anos, o Rio Vermelho tornou-se uma referência em educação integral. O Bairro-Escola conquistou crescentes níveis de legitimidade, efetividade e sustentabilidade. As escolas ganharam visibilidade e se apropriaram mais dos espaços e equipamentos do bairro. Os estudantes sentiram-se mais escutados e passaram a participar mais do dia a dia de suas unidades escolares e da comunidade. Os moradores e comerciantes tornaram-se parceiros cada vez mais engajados.

As unidades escolares também tiveram melhoria significativa no IDEB. A Escola Municipal Ana Nery saiu da nota 4,3 em 2013 para 5,5 em 2015. Já a Escola Municipal Senhora Santana passou de 4,5 para 6,2. O Colégio Estadual Alfredo Magalhães avançou de 2,4 para 3,5. E o Colégio Estadual Euricles de Matos aumentou seu índice de 3,3 para 4,3.

Vale ressaltar que a melhoria do IDEB não é resultado exclusivo do Bairro-Escola. No entanto, a realização de diagnósticos mais precisos sobre os problemas educacionais do território e suas causas, o planejamento conjunto de ações e soluções, a articulação de esforços intersetoriais, o apoio direto da comunidade e, principalmente, a abertura das escolas e dos professores a novas práticas pedagógicas colaboraram de forma significativa para que os avanços acontecessem.

A experiência realizada no Rio Vermelho também inspirou ações semelhantes em outros territórios da cidade de Salvador, como o bairro da Federação, onde está sediada a Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, primeira instituição interessada em reeditar a iniciativa e criar o Bairro-Universidade Federação. Em 2017, a metodologia do Bairro-Escola foi selecionada como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil.

Mesmo diante de tantos avanços, é importante destacar que a consolidação desse modo de ver, sentir e fazer educação prescinde de um processo contínuo de construção, que exige constante mobilização e engajamento de todos os agentes locais.

 

 

Transformando São Miguel
dos Campos pela educação

A iniciativa Transformando São Miguel dos Campos pela Educação nasceu em 2013, com a implantação da BioFlex I, primeira fábrica de etanol celulósico do hemisfério sul. A GranBio e o BNDES, sócios da iniciativa, decidiram contribuir com o desenvolvimento do município alagoano que abrigava o empreendimento. A ideia era propor ações estruturantes e com potencial para transformar a realidade local.

O projeto foi construído em diálogo com mais de 300 representantes do poder público e da sociedade civil, sempre em articulação com a Prefeitura Municipal de São Miguel dos Campos. Inicialmente, a comunidade analisou um conjunto de dados sobre a situação educacional do município e elegeu dez prioridades, entre elas: a melhoria da alfabetização, o fortalecimento da coordenação pedagógica nas escolas e da gestão da secretaria municipal de educação, a ampliação da oferta da educação integral e de uso de tecnologias para a aprendizagem, além do maior engajamento das famílias dos estudantes.

Sistema de acompanhamento do Plano no Fórum Intersetorial e no Fórum Comunitário de São Miguel dos Campos

As prioridades mapeadas em 2013 transformaram-se em eixos e metas do Plano Intersetorial pela Educação de São Miguel 2014-2016, também construído de forma colaborativa. O documento passou a orientar as ações de melhoria da educação no território, sempre monitorado por duas instâncias de participação: o Fórum Intersetorial, voltado a articular as ações das secretarias municipais, do governo estadual e das principais empresas da região, e o Fórum Comunitário, espaço permanente para integrantes das escolas e da sociedade civil dialogarem e se engajarem nas políticas públicas de educação. A primeira versão do Plano Intersetorial gerou um conjunto expressivo de resultados, tanto relacionados à melhoria dos dados educacionais, quanto à própria gestão e atuação do município nessa área.

Em dezembro de 2016, a Câmara de Vereadores aprovou projetos de lei que institucionalizaram o Fórum Intersetorial (Lei no 1442), o Fórum Municipal de Educação (Lei no 1443) e a Política Municipal de Educação Integral (Lei no 1444). Esta última formaliza que a educação integral não é uma modalidade, mas a concepção educacional que deve orientar a agenda pública de ações intersetoriais do município voltadas à promoção do desenvolvimento físico, intelectual, social, emocional e cultural dos estudantes miguelenses.

Ainda em 2016, os participantes da iniciativa realizaram uma ampla campanha de sensibilização dos candidatos a prefeito para que se comprometessem com a continuidade de suas ações. Em 2017, a nova gestão municipal envolveu mais de 200 pessoas na elaboração do Plano Intersetorial 2018-2020.