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Inovações em Educação

Jogo coloca alunos para administrar cidade e discutir política

Plataforma "Cidade em Jogo", desenvolvida pela Fundação Brava, traz ainda material destinado a professores que querem trabalhar a educação com foco na cidadania

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 12 de janeiro de 2018

A cada eleição, o Brasil conhece uma nova safra de políticos que prometem melhorar a vida do cidadão e quando são  eleitos, mudam suas prioridades. De uma hora para outra, a maior preocupação passa a ser o marketing pessoal e o lançamento de  obras faraônicas, nem que para isso as contas sejam sacrificadas. Mas… e se você fosse o prefeito, o que faria? Para levar a discussão política para sala de aula, a Fundação Brava desenvolveu em parceria com o Brazil Institute do Wilson Center, centro de estudos acadêmicos ligado ao governo dos Estados Unidos, o “Cidade em Jogo”, um aplicativo gratuito que lembra problemas enfrentados no jogo de computador Sim City, mas com questões típicas de cidades brasileiras.

Com a classe separada em pequenos grupos para estimular a criação de consensos, tudo começa com a escolha do cenário (cidade rural, litorânea ou metrópole) e de três áreas prioritárias. O estudante é desafiado a decidir o que é melhor para sua cidade diante dos indicadores financeiros, de satisfação popular e de infraestrutura do município. Cada decisão impacta diretamente nos indicadores e abre a possibilidade de debater impostos, transportes, educação e saúde, dentre outros temas, tendo em vista os conteúdos trabalhados nas aulas de biologia, filosofia, matemática, geografia e história. Quer argumentar melhor e convencer os colegas? Melhore o português.

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O “Cidade em Jogo” é direcionado para o ensino médio, etapa em que os alunos já tiveram contato com conteúdos mais complexos e, por conta do vestibular, estão mais atentos às discussões políticas do momento, segundo conta Henrique Krigner, analista da Fundação Brava e coordenador do projeto. “A gente recomenda que seja trabalhado durante o ensino médio porque, por mais que a linguagem seja simplificada, ela ainda pode parecer sofisticada demais para fundamental 1, com termos como tributos, alíquota”, afirma.

Desafio ao senso comum

Com a cidade em suas mãos, os estudantes precisam tomar decisões equilibradas que contrapõem opiniões pessoais e o que “todo mundo fala por aí”. De acordo com o analista da Fundação Brava, as preocupações mais comuns incluem “investir no futuro” (conjunto de medidas voltadas à educação e à saúde) e cortar impostos. “Muitos fazem isso, mas poucos são bem-sucedidos porque adotam o discurso automático ‘no Brasil a gente paga muito imposto’ e, na terceira ou quarta rodada, precisam fazer investimentos e não possuem mais recursos”, diz Krigner.

Ao longo de 2017, a equipe do Cidade em Jogo acompanhou rodadas em escolas privadas (Sidarta, Pueri Domus, Fecap) e na rede pública, em unidades como as escolas estaduais  Monsenhor João Batista de Carvalho e Manoel Bandeira,na zona sul da capital paulista, e  a Residencial Parque Bambi, em Guarulhos. A realidade socioeconômica das escolas, segundo Krigner, também influenciou a maneira de cada aluno jogar.

“Visitamos escolas privadas onde alunos têm 100% de acesso a tecnologias digitais e também pudemos ir a públicas em que que não há nem asfalto na rua. As prioridades e a forma de gerir a cidade no jogo são diferentes. Na pública, os alunos são mais atentos às questões sociais, enquanto na privada existe a discussão sobre terceirização. Isso raramente surgiu na rede pública, não porque os alunos não sabem o que significa, mas porque as necessidades são outras”.

Em um recurso que mostra como a tecnologia pode imitar a realidade, à medida que avança dentro do jogo sem olhar para a educação, o prefeito pode ter que encarar uma ocupação nas escolas ou uma greve de professores e a resposta a essas questões, mais uma vez, vai impactar os indicadores e avaliação pessoal do prefeito-estudante.

Próximos passos

Para o ano letivo de 2018, a Fundação Brava projeta expandir o alcance do “Cidade em Jogo” para além das escolas de São Paulo. A partir deste mês de janeiro, professores que se cadastrarem na plataforma terão acesso a uma cartilha com instruções e planos de aula para trabalhar questões de cidadania. Na perspectiva de flexibilizar a grade, a instituição também negocia com escolas que queiram adaptar o jogo para disciplinas de seus currículos.


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ensino médio, jogos, sustentabilidade

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