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Inovações em Educação

Pesquisa mostra diferença de oportunidades no ensino médio

Estudo do Cenpec analisa trabalho em escolas de tempo integral e parcial nos estados do Ceará, Goiás, Pernambuco e São Paulo

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 3 de março de 2016

No momento que o país discute a criação da Base Nacional Comum Curricular para direcionar o que cada aluno deve aprender em cada etapa do ensino e a diversificação do ensino médio, o Cenpec (Centro de Pesquisas e Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitária) divulgou nesta quarta-feira os resultados preliminares do estudo “Ensino Médio, Qualidade e Equidade: Avanços e Desafios em Quatro Estados: Ceará, Goiás, Pernambuco e São Paulo” (clique para baixar).

– Veja a apresentação com os principais destaques

Ainda em fase de conclusão, o levantamento realizado em 2014 traz notícias positivas, especialmente porque teve como foco escolas em áreas mais pobres. “Encontramos escolas muito boas, onde existem equipes de professores e diretores comprometidos com a educação, e jovens que gostam de estar na escola, que respeitam professores, e professores que respeitam os alunos”, diz Maria Alice Setubal, educadora e presidente do conselho administrativo do Cenpec.

Em um segundo ponto, ela pondera que essas essas iniciativas ainda precisam ganhar escala. “Temos bons exemplos que não dependem apenas de um professor herói isolado e que são fruto de políticas públicas que estão sendo implementadas nas redes. Por outro lado, elas atingem apenas uma minoria. Ainda estamos com desigualdades sociais e educacionais. O grande desafio é se e como podemos ampliar essa politica de educação em tempo integral”. De acordo com números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), 82,6% da população de 15 a 17 anos está na escola, porém somente 58% destes estão cursando o Ensino Médio. Além disso, 1,7 milhão de adolescentes dentro dessa faixa etária estão fora da escola e 11 milhões entre 18 e 29 anos sequer concluíram essa etapa de ensino.

Resultados

O Cenpec diz ter escolhido os quatro estados como alvo do estudo por serem aqueles que implementam de forma mais contundente políticas como ampliação de matrícula em tempo integral, monitoramento de processos pedagógicos, investimento em reformas curriculares, em formação continuada de docentes, grau de autonomia das escolas, politicas de responsabilização e evolução das taxas de aprovação e do Ideb, o índice que mede o desenvolvimento da educação básica.

“O objetivo [da pesquisa] foi descrever e analisar tais políticas e aprender o modo pelo qual as escolas reagem a elas. Para isso, consideramos as regiões mais vulneráveis das grandes metrópoles, municípios de médio porte e também escolas em municípios com alto índice de ruralidade”, explica Antônio Augusto Gomes Batista, coordenador de pesquisa da entidade.

A parte qualitativa se preocupou em descrever as políticas e aprender como as escolas respondem a elas. Para isso, foram visitadas 24 unidades de ensino (seis por estado) para observação das aulas e realizadas entrevistas com secretários de educação (exceto no estado de São Paulo) e suas respectivas equipes técnicas, além de professores e alunos.

Em comum, segundo o Cenpec, Ceará, Goiás, Pernambuco e São Paulo se destacam pela busca da melhoria dos resultados por meio do aprimoramento da gestão da secretaria e dos processos, que se traduz em mudanças no currículo, monitoramento, avaliação e formação de professores.

“Os currículos de Pernambuco, São Paulo e Goiás têm um mesmo modelo. São muito detalhados e organizam as metas de aprendizagem por bimestre e dizem que aula o professor deve dar”, diz Batista. O Ceará aparece como ponto fora da curva neste quesito por não ter um currículo e ajustar o conteúdo (e a participação de quase 100% de seus alunos) ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e às avaliações externas.

O segundo ponto é o monitoramento do que acontece em sala de aula com apoio de sistemas informatizados. “Os professores saem das escolas em Pernambuco e em Goiás e têm de ir para uma lan house preencher planilhas com o que foi feito na aula [que tem internet lenta]. Isso por causa do peso na bonificação”.

Diversificação

Com o modelo de matrículas dividido em período integral e de meio período, o Cenpec aponta a existência de uma “seleção social” que não seria feita pelos agentes escolares.

Aqueles com nível socioeconômico mais altos tendem a se matricular nas escolas de ensino integral. Os de mais baixo no regular diurno e no noturno. E é nesse ponto que devemos analisar a diversificação com bastante cuidado”, diz Batista. Segundo ele, as escolhas dos alunos tendem a ser “forçadas”, atendendo a certas expectativas formadas a partir de suas condições de vida e ao que acontece com os que estão perto de si. “Aqueles com nível socioeconômico mais baixo que colocam a possibilidade de trabalhar em algum momento da escolarização evidentemente não vão escolher o ensino integral. Por isso, é preciso prestar atenção na questão da equidade”, diz. Com maior evidência no Ceará, quanto mais matrículas em tempo integral, maior o nível socioeconômico. “A diversificação e a relação com o nível socioeconômico dão acesso a oportunidades educacionais diferentes”.

O perfil do professor também muda em todos os estados quando se compara escolas de tempo integral com aquelas do parcial. Em todos os estados, o número de professores temporários é menor no tempo integral e, com exceção de Pernambuco, esse período também conta com um maior número de professores com mestrado e doutorado.

Escolas de tempo integral também possuem menor distorção idade série, principalmente em Pernambuco e no Ceará. Em São Paulo e em Goiás, a proporção de matrículas (perto de 2%) ainda é baixa e por isso não foi detectada correlação.

Relação do jovem com a escola

Para entender o relacionamento do jovem com a escola, o Cenpec entrevistou 669 estudantes do 2º ano do ensino médio. Em comum, todos consideram a escola um espaço de sociabilidade e têm aspirações de continuar os estudos.  “A juventude não é uma só. São várias. Essa juventude de territórios vulneráveis é muito diferente daquela que a gente vê na mídia e em algumas pesquisas. Eles são jovens que têm um alto protagonismo e que constroem sua identidade por meio da cultura e de seus coletivos. São jovens que mantêm uma excelente relação bastante positiva com a escola”, diz o coordenador do Cenpec.


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competências para o século 21, ensino médio, equidade, formação continuada

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