Alunos postam fotos no Facebook e aprendem sobre comida e escrita - PORVIR
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Diário de Inovações

Alunos postam fotos no Facebook e aprendem sobre comida e escrita

Projeto “Somos o que comemos”, que envolveu professora de ciências e português, melhora percepção sobre alimentação

por Mariana Araguaia ilustração relógio 7 de outubro de 2015

No meu mestrado, eu trabalho com o ensino de ciências para pessoas com deficiência auditiva. Em uma ocasião, eu assisti a uma aula para crianças do oitavo ano na Associação dos Surdos. Eu percebi que os alunos tiveram muita dificuldade em entender o que é vitamina. Eles associaram o nutriente à bebida feita com frutas e leite.

E fiquei com isso na cabeça: como ensinar às crianças o que é uma vitamina? Quando fui investigar a questão com os meus alunos do oitavo ano, percebi que eles também tinham dificuldade em entender o conceito.

Foi aí que decidi discutir a questão da alimentação. Vários tópicos foram levantados, como a presença de corantes nos alimentos, a industrialização de boa parte do que eles comem e, assim, o questionamento foi surgindo a partir dos próprios estudantes. Eu levantava um tema em sala e, em casa, eles pesquisavam mais sobre o assunto e traziam as dúvidas.

A partir disso, eu elaborei o projeto “Somos o que comemos”. Na escola, nós temos o hábito de trocar informações pelo Facebook. Como os alunos moram na região rural de Goiás, eles encontram muitos bichos e plantas e, às vezes, me mandam fotos com essas curiosidades. Então, propus que eles fotografassem seus pratos de comida e postassem as imagens no nosso grupo na rede social.

De forma geral, eles têm muita dificuldade na leitura, escrita e interpretação de textos. Mesmo sendo professora de ciências, eu sempre tenho a preocupação de trabalhar essas questões. Então, eu convidei a professora de língua portuguesa, Eufrásia da Silva, para participar do projeto. Assim, além de postar as fotos, os estudantes deveriam comentar nas fotos dos colegas e responder a questionamentos feitos por mim ou pela professora de Eufrásia.

A cada semana nós tínhamos uma atividade diferente. Em uma delas, os alunos tinham que desenvolver uma redação sobre o documentário “Muito além do peso”. Como finalização do trabalho, os alunos fizeram algumas fichas no computador para treinar a escrita e o uso de diversas ferramentas, aplicando os conhecimentos adquiridos.

De forma geral, meus alunos são bastante participativos, mas eles se empenharam muito mais nesse projeto desenvolvido no Facebook. Eu acredito que, se fosse uma atividade escrita ou em cartaz, a participação não teria sido tão grande e nem a repercussão. O uso da rede social possibilitou a participação de outras pessoas, como alunos das outras turmas, que também ficaram muito envolvidos com o projeto, e familiares, que visitavam o grupo, curtiam fotos e, as vezes, até postavam fotos de seus pratos de comida.

Eu percebi que houve uma mudança na forma como os alunos encaram a alimentação. Em festinhas, eles têm o cuidado de levar frutas. Muitas vezes, questionam até a merenda da escola. “Professora, aqui só tem carboidrato. Será que essa merenda tá boa?”. Essa participação superou muito as minhas expectativas. Eles passaram a ter uma percepção mais ampla de questões que giram em torno do senso comum.


Mariana Araguaia

Mariana Araguaia de Castro Sá Lima é professora de Ciências em turmas de sexto ao nono ano do Ensino Fundamental em Senador Canedo, Goiás. É graduada em Biologia, especialista em Educação Ambiental e em Tecnologias Aplicadas ao Ensino de Biologia, e mestranda em Ensino de Ciências.

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ensino fundamental, interdisciplinaridade, redes sociais

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