Relatório alerta para cenário de desilusão do jovem em razão da pandemia - PORVIR
Crédito: Freepik

Coronavírus

Relatório alerta para cenário de desilusão do jovem em razão da pandemia

Documento do Fórum Econômico Mundial traça um panorama dos diferentes impactos da pandemia na educação e também no mercado de trabalho

por Redação ilustração relógio 15 de fevereiro de 2021

O mundo da educação costuma olhar para os relatórios do Fórum Econômico Mundial para destacar as habilidades importantes para o futuro. Em 2021, os dados de uma pesquisa sobre o cenário pós-pandemia divulgados pela organização sediada na Suíça trazem um alerta importante relacionado à ampliação da desigualdade que teria como principal consequência a desesperança dos jovens.

No mais recente “Global Risks Report 2021” (“Relatório de riscos globais de 2021”), a situação dos jovens é colocada na categoria de “perigos claros e atuais”, a mesma de doenças infecciosas, eventos climáticos extremos e estagnação econômica prolongada. Por mais que mencione que a pandemia de COVID-19 tenha acelerado a Quarta Revolução Industrial e trazido benefícios como o desenvolvimento rápido de vacinas e o trabalho remoto, o documento também lembra que a desigualdade digital é um risco já para o curto prazo.

Leia mais:
Infográfico: O impacto da pandemia e do racismo na trajetória dos jovens negros no ensino médio
Ensino remoto: o que aprendemos e o que pode mudar nas práticas e políticas públicas
Pandemia deve piorar desigualdade racial no ensino médio

Para uma juventude que na última década já havia sido atingida pela crise financeira de 2008, o obstáculo agora parece ainda maior. A pandemia traz desafios não apenas educacionais (que estudantes têm de enfrentar com um modelo educacional há muito tempo ultrapassado), mas também em relação às perspectivas econômicas e à saúde mental. Antes mesmo da pandemia, crianças e jovens eram dois terços da população pobre do mundo, segundo dados do Banco Mundial. O Unicef (Nações Unidas para Infância) já identificou uma piora, com mais 150 milhões de crianças nesta situação.

Durante a primeira onda da pandemia, ainda no primeiro semestre de 2020, 80% dos alunos estavam fora da escola. Apesar da corrida mundial para promover ensino remoto via televisão, rádio e internet, também houve notáveis diferenças regionais, com pelo menos 30% da população estudantil global sem tecnologia necessária para continuar aprendendo.

Fechamento das escolas
O fechamento de escolas agravou a desigualdade entre jovens. Aqueles provenientes de famílias de alta renda foram beneficiados por um aprendizado mais direcionado e individualizado, enquanto os mais pobres ficaram limitados pela falta de conectividade, de apoio de um adulto ou mesmo de um lugar adequado para estudar em casa.

O relatório também ressalta que para muitos a escola representa um lugar seguro e com acesso à comida. Quando suas portas estão fechadas, estudantes têm maiores chances de serem recrutados por criminosos, ou de se tornarem vítimas de trabalho infantil, de tráfico humano e da violência.

O fechamento das escolas foi especialmente prejudicial para meninas e mulheres jovens. A violência de gênero cresceu em todo o mundo durante a pandemia, com casos estupros aumentando tanto em países pobres quanto nos mais desenvolvidos. Com maior índice de gravidez na adolescência, a marca de 25 anos de alta no acesso de meninas à escola também está ameaçada.

O fechamento total e prolongado de cidades para conter a disseminação do vírus também pode trazer consequências negativas para o desempenho acadêmico dos jovens, como de aumento do abandono escolar e de comportamentos que coloquem sua saúde em risco. Como resultado, explica o texto, ficará mais difícil para jovens que estão no ensino médio ou no ensino superior adquirirem as habilidades necessárias para continuar seus estudos ou alcançar uma formação profissional, o que os deixaria ainda mais distantes das “profissões do futuro”.

Turbulência no mercado de trabalho
Jovens têm enfrentado dificuldades para se posicionar no mercado de trabalho desde a crise financeira de 2008. Boa parte dos postos de trabalho da nova economia são sem carteira assinada, de curto prazo. Há ainda os estágios não remunerados ou muito mal remunerados. Para piorar, a pandemia explicitou ainda um déficit de oportunidades de emprego para jovens altamente qualificados em alguns setores, e uma crise de habilidades em outros.

Com a economia global afundando no segundo trimestre de 2020, jovens tiveram sua renda ainda mais afetada porque muitos trabalham em setores mais atingidos pela pandemia, como a indústria de serviços e manufatura, muitas vezes em tempo parcial e sob contrato temporário com pouca ou nenhuma proteção social. No setor informal, que abriga 80% dos jovens trabalhadores, o impacto também foi sentido. Ao todo, o número de jovens que não têm emprego, educação ou treinamento, já somava 21% no início do ano passado e é provável que aumente em 2021.

Requalificação
Em países desenvolvidos e emergentes, a rápida mudança para o trabalho remoto deve render ganhos de produtividade no longo prazo, mas corre o risco de criar novas lacunas entre os trabalhadores da chamada economia do conhecimento e aqueles que não têm como fazer o trabalho remoto por não terem habilidades digitais e ferramentas para encontrar outro emprego nas áreas como manufatura, varejo e alguns campos da saúde.

A rápida digitalização das interações humanas e do local de trabalho também ampliaram o conjunto de habilidades digitais essenciais, incluindo comunicação, segurança cibernética e processamento de informações, para um patamar mais elevado do que foi previsto anteriormente. A questão é que reagir ao processo de digitalização vai exigir investimento em requalificação. No entanto, com as contas públicas abaladas, os governos terão maior dificuldades em impedir que a lacuna se amplie. Da mesma forma, empresas têm registrado receitas menores e também terão menos força para oferecer suporte a suas equipes.

Escuta é fundamental para acolher alunos no retorno às aulas presenciais nas escolas

Conclusões
Tornou-se comum ao longo dos últimos anos dizer que jovens tomaram a dianteira em diversos movimentos sociais pelo mundo, tanto online quanto nas ruas, em temas como justiça social, econômica e, mais recentemente, o clima. Se não ouvidos ou tiverem seus problemas ignorados por governos, o relatório do Fórum Econômico alerta que jovens correm o risco de exploração por atores reacionários.

Crime organizado, grupos extremistas, e recrutadores em conflitos armados podem prejudicar ainda mais a parcela de jovens vulneráveis que se veem sem oportunidades de emprego em países em desenvolvimento. A solidão e transtornos mentais decorrentes da falta de trabalho poderiam tornar jovens mais suscetíveis a ideias radicais, o que por sua vez tem o potencial para intensificar tensões intergeracionais e divisões sociais.

Recomendações
Para saber como tornar a escola um espaço de participação para o estudante, visite o Guia Participação dos Estudantes na Escola do Porvir. A série de relatos sobre Projetos de Vida no Ensino Médio também apresenta práticas de professores de escolas públicas que apresentam práticas que buscam conectar a escola ao mundo em que o jovem está inserido.


TAGS

competências para o século 21, coronavírus, educação online, tecnologia

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

0 Comentários
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Canal do Porvir no WhatsApp: notícias sobre educação e inovação sempre ao seu alcanceInscreva-se
0
É a sua vez de comentar!x