Empreendedorismo Social na Educação

Orientações, ferramentas e casos reais para inspirar e apoiar gestores educacionais e professores a prepararem jovens para impactar o mundo

Desafios do Mundo

Propõe transformação social e ambiental

Ambiente da Escola

Inclui práticas capazes de levar inovação ao modelo educacional

Competências dos Estudantes

Desenvolve competências essenciais para a vida

Empreendedorismo Social na Educação

Uma proposta que conecta a escola aos desafios contemporâneos e estimula o desenvolvimento de competências essenciais para a vida

Por que conectar?

À primeira vista, o empreendedorismo e a educação podem até parecer dois universos distantes, que envolvem espaços, vocabulários e experiências diferentes. De um lado, startups, planos de negócio e pitches. De outro, escolas, currículos e avaliações.

Com um olhar mais atento, já é possível identificar que a criação de projetos e soluções para problemas complexos, uma prática característica do empreendedorismo, também é importante nos processos de aprendizagem de jovens. Se esses esforços ainda tiverem como objetivo o impacto social, a conexão entre esses dois campos torna-se evidente e necessária.

No Mundo

Em uma sociedade marcada por desigualdades e problemas socioambientais, recentemente agravados pela pandemia de COVID-19, o empreendedorismo social consegue reforçar o papel da educação de promover projetos e práticas que proporcionem aos estudantes a chance de reconhecer seu potencial de transformação e geração de impacto positivo.

Na Escola

A formação integral dos estudantes para o exercício da cidadania é um direito de todos garantido pelo artigo 205 da Constituição Federal. Em linha com essa proposta, marcos recentes das políticas educacionais, como a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o Novo Ensino Médio, também criam uma nova oportunidade de incluir o tema nas escolas. Exemplo disso é a inclusão do empreendedorismo como um dos quatro eixos estruturantes para a construção dos itinerários formativos no currículo do Ensino Médio, junto com a investigação científica, os processos criativos, a mediação e a intervenção sociocultural.

Nos Estudantes

Diante dessas possibilidades concretas de conectar o empreendedorismo à educação, por meio do desenvolvimento de atitudes e competências dos estudantes, o empreendedorismo social reforça a oportunidade de ampliar a conexão entre a escola e a comunidade, enquanto promove habilidades como o altruísmo, a empatia e a capacidade de resolução de problemas.

De que empreendedorismo estamos falando?

Em sua essência, o empreendedorismo social prevê o desenvolvimento de ações capazes de gerar impacto sistêmico e transformação no mundo. Nessa proposta, a inovação e a criatividade estão a serviço da construção de soluções para resolver problemas ambientais e sociais de uma comunidade, cidade, país ou até mesmo em todo o planeta.

A partir de processos colaborativos, dinâmicos e ativos, o empreendedorismo social cria ambientes mais inovadores e conectados com as demandas do mundo contemporâneo. "As pessoas confundem o empreendedorismo como algo focado apenas em ganhar dinheiro, mas ele parte de algumas premissas importantes, como o desenvolvimento de competências múltiplas, a capacidade de se adaptar a situações novas e a possibilidade de promover transformações”, destacada a professora Débora Garofalo, assessora especial de tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

Transforma práticas na escola

  • Ativação em redes
  • Cocriação
  • Colaboração
  • Corresponsabilidade
  • Escuta
  • Experimentação
  • Metodologias ativas
  • Riscos/aceitação de erros.

Para Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka, diferente do empreendedorismo, que busca garantir a sobrevivência do negócio, o empreendedorismo social tem como objetivo final a busca de soluções para o bem-estar coletivo. “Empreendedorismo social é uma estratégia de promover o bem comum, a partir da possibilidade de criar soluções novas que tenham impacto sistêmico”, destaca.

Com empatia, visão sistêmica e propósito, o empreendedorismo social pode gerar impacto em diferentes esferas, como educação, saúde, alimentação e meio ambiente. “No empreendedorismo social, os seus agentes estão sensibilizados em relação a uma causa”, diz Helena.

A definição de empreendedorismo social também passa pela compreensão de aspectos históricos, culturais e sociais. “Boa parte do que chamamos de empreendedorismo social hoje são soluções criadas para atender as dores e as necessidades de uma população vulnerável”, ressalta a empreendedora social Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, plataforma responsável por criar projetos para valorizar a cultura e realizar o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina.

Desenvolve competências nos estudantes

  • Altruísmo
  • Capacidade de resolver problemas
  • Comunicação
  • Coragem
  • Curiosidade
  • Empatia
  • Pensamento crítico e científico
  • Senso de propósito
  • Resiliência
  • Responsabilidade
  • Trabalho em equipe

O termo empreendedorismo social começou a ganhar força no Brasil na década de 1980, quando surgiram as primeiras iniciativas que conciliavam valor econômico com impacto socioambiental. Nesse período, o país vivia uma “crescente problematização social, redução dos investimentos públicos no campo social, crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas no investimento e ações no campo social”, conforme destacou o professor e pesquisador Edson Marques Oliveira, na sua tese de doutorado em serviço social pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Desde a década de 1990, de acordo o artigo apresentado pelos pesquisadores Paula Chies Schommer e Fernando do Amaral Nogueira, no encontro da ANPAD (Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Administração), o país também começou a ampliar discussões de conceitos como terceiro setor, sustentabilidade e investimento social privado, que apontava para um novo tipo de filantropia praticada por empresas e cidadãos, de forma planejada, monitorada e sistemática.

Atualmente, o empreendedorismo social também se relaciona mais fortemente com uma ideia de desenvolvimento sustentável e inclusivo, que atende às necessidades de desenvolvimento das sociedades e ao mesmo tempo respeita os limites do planeta. Nessa concepção, os recursos são distribuídos para que todos possam viver com equilíbrio e com maior acesso a oportunidades, inclusive de empreender transformações locais. O desenvolvimento de soluções planejadas e executadas por agentes do próprio território e impactados por vulnerabilidades tornou-se cada vez mais comum e desejável.

Gera impactos no mundo

  • Equidade
  • Valorização das diversidades
  • Resolução de problemas sociais e ambientais
  • Desenvolvimento sustentável

Lindsey Hall, presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation), uma das entidades pioneiras no apoio à criação de programas de empreendedorismo junto a escolas britânicas, afirma que o conceito de empreendedorismo social também passa pela questão de pensar em como obter um equilíbrio entre atividade econômica e finalidade social. “Sim, eu quero poder trabalhar de maneira criativa e empreendedora e ganhar algum dinheiro, mas estou fazendo isso para o bem social e ambiental”, exemplifica.

Apesar de não estar limitado ao campo do negócio, o empreendedorismo social também pode envolver a geração de recursos. Diante dessa perspectiva, com o suporte de outros agentes do ecossistema, redes de ensino e escolas podem ajudar a criar condições para que ele seja mais um caminho possível para os jovens, mas sem responsabilizá-los pelas soluções de problemas estruturais e nem reproduzir um discurso de fragilização das relações de trabalho.

Empreendedores e especialistas em educação refletem sobre os princípios do empreendedorismo social

Empreendedorismo social não...

  • limita-se ao campo dos negócios
  • reproduz a fragilização das relações de trabalho
  • responsabiliza jovens e pobres por soluções para problemas estruturais
  • desconsidera as referências e o contexto socioeconômico dos jovens
  • silencia as juventudes

Como fazer?

Conectar o empreendedorismo social e a educação é uma proposta que exige novos papéis, tempos, espaços, saberes e vivências. Abaixo, listamos seis dimensões fundamentais para a construção e implementação desse projeto em uma unidade curricular, eletiva ou itinerário formativo do ensino médio.

Navegue para ter acesso às referências, recomendações, casos reais e ferramentas de cada um dos eixos:

Por que é importante?

A mobilização da comunidade escolar é um fator decisivo para a implementação de um projeto educacional. Com o empreendedorismo social não poderia ser diferente. Para promover mudanças no currículo, criar uma disciplina eletiva ou implementar uma nova prática dentro da escola, é muito importante que coordenadores, professores, funcionários, estudantes e famílias estejam envolvidos nesse processo.

A secretaria de educação tem um papel importante para estimular o engajamento de escolas, comunicar intenções de forma clara a diretores e oferecer apoio para que eles mobilizem a comunidade escolar em torno do empreendedorismo social. No entanto, a proposta não pode ser idealizada somente pela gestão. “Projetos de secretários de educação raramente funcionam. É preciso apresentar a ideia aos gestores para que eles se sintam confortáveis. O projeto só vai acontecer na prática quando eles se apaixonarem pela proposta”, diz Cristiana Berthoud, secretária de Educação de Tremembé (SP).

“Tudo começa com a comunidade escolar se reconhecendo como uma equipe que tem um projeto em comum.”

Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka.

Para garantir o envolvimento e a identificação de todos, essa agenda precisa ser construída a muitas mãos, segundo Fábio Muller, diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável). "Quando a comunidade escolar se envolve na construção de um projeto, ela consegue perceber valor naquilo que está sendo proposto. Ela também entende que esse processo vai render frutos positivos para a escola e para a aprendizagem dos estudantes”, destaca Fábio.

Além de perceber os possíveis impactos do projeto, durante um processo colaborativo, a comunidade escolar consegue se identificar mais com uma proposta que considera suas opiniões e necessidades. “Não é trazer uma imposição nova, mas adotar uma abordagem de cooperação. Perguntar o que já está sendo feito na escola, como aquelas ações podem ser potencializadas e quais questões eles gostariam de priorizar”, indica Beatriz Aquino, consultora do Instituto Tellus, que acompanhou a implementação do projeto Faz Sentido em redes estaduais e municipais de educação de diferentes regiões do Brasil.

De acordo com ela, é muito importante pensar que existe um fator humano por trás de toda proposta de construção e implementação de um projeto educacional. “A escola é um ambiente complexo que reúne diversos atores. São gestores, professores, alunos, famílias e as comunidades do entorno. Cada um tem as suas próprias necessidades e interpretações de mundo”, ressalta, ao considerar que sejam mantidas relações de respeito e afeto para mobilizar a comunidade escolar.

"A corresponsabilidade e a parceria entre escolas, secretarias e os atores da comunidade é fundamental", diz a professora Luiza Iolanda Cortez, que hoje atua na Secretaria de Estado da Educação e Ciência e Tecnologia da Paraíba com a implementação de uma disciplina de inovação e empreendedorismo social nas escolas. Sem o engajamento dos estudantes, das famílias e, principalmente, dos educadores, ela diz que é muito difícil que as redes consigam tirar os projetos do papel. "Eles podem existir no currículo, mas não existiriam na prática por falta de adesão. E a gente só consegue adesão quando conquista."

Dicas de Implementação

Mais do que apresentar uma proposta fechada pela secretaria, é preciso fazer um convite para que toda a comunidade escolar participe. Para isso, Lindsey Hall, presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation), uma das entidades pioneiras no apoio à criação de programas de empreendedorismo junto a escolas britânicas, destaca que é fundamental criar pontos de conexão entre a ideia de trabalhar empreendedorismo social na educação e os desafios de cada agente que faz parte desse ecossistema.

Cabe aos gestores e técnicos de secretaria o papel de envolver as escolas em um processo de construção participativa, que considera as necessidades de cada instituição e de cada sujeito que integra a comunidade escolar. Essa sensibilização pode acontecer por meio de rodas de conversa e processos de escuta.

“É preciso escutar e também estimular a participação ativa na escola. É muito importante ter esse espaço para entender as particularidades de cada um.”

Gelson Henrique, um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

A partir do momento em que os gestores escolares são envolvidos e se sentem contemplados com a proposta, eles conseguem mobilizar a escola em um processo democrático, que promove a aproximação entre o empreendedorismo social e os desafios enfrentados pelos diferentes agentes da comunidade escolar.

Em uma conversa com os educadores, por exemplo, Lindsey sugere que sejam apresentados os impactos dessa proposta na aprendizagem: “Podemos dizer que descobrimos uma maneira de aprender em que os jovens se envolvem com a construção de algo real. Isso é muito poderoso para lutar contra uma educação muito teórica”, exemplifica. Já com os estudantes, é preciso criar estratégias para envolvê-los em algo que eles tenham prazer e que vejam propósito.

Em alguns casos, as propostas também podem vir de forma espontânea a partir das demandas dos estudantes ou dos professores. Nesses casos, os gestores escolares e as redes precisam estar prontos para acolher suas necessidades e oferecer apoio para que suas práticas sejam desenvolvidas e aprimoradas.

Confira algumas ações para promover a aproximação da escola com o território:

Promover reflexão sobre os papéis de cada um na escola Indicado para escolas e redes

Para mobilizar a comunidade escolar é importante promover uma reflexão sobre como todos os sujeitos se enxergam dentro da escola. Essa visão contribui para que cada um entenda o seu papel dentro da instituição e perceba qual pode ser a sua contribuição em um projeto de empreendedorismo social.

Apesar de cada membro da comunidade escolar ter suas particularidades, todos fazem parte de um projeto comum. Portanto, devem trabalhar em parceria para garantir que os estudantes se desenvolvam e encontrem caminhos para potencializar seus projetos e sonhos. Nesse exercício, é preciso valorizar desde as pessoas que têm conhecimentos e experiências no campo do empreendedorismo, até aquelas com habilidades manuais, que são úteis para construir projetos mão na massa, por exemplo.

O processo de reflexão pode acontecer por meio de diferentes iniciativas, como autoavaliação, rodas de conversas ou dinâmicas de grupo.

A escuta é um elemento essencial para mobilizar a comunidade escolar em uma nova proposta educacional. A partir do diálogo, redes e escolas conseguem estabelecer um ambiente de confiança e transparência, em que todos se sentem à vontade para fazer questionamentos ou até mesmo apresentar ideias de projetos de empreendedorismo social.

No entanto, ao promover a escuta, também é importante dar um retorno sobre sugestões, demandas e desejos apresentados por educadores, estudantes e famílias. Isso traz credibilidade ao processo, possibilitando que todos se envolvam e participem do projeto de forma democrática e cidadã.

Ao dar início a um projeto, também é interessante mapear as práticas de empreendedorismo e transformação social que já foram ou são desenvolvidas dentro da escolas. Muitas vezes, essa abordagem já está presente na disciplina de um professor ou faz parte de um projeto desenvolvido pelos estudantes.

Conhecer e potencializar as experiências que já foram desenvolvidas dentro da instituição de ensino é um caminho para conquistar a adesão da comunidade escolar. A partir daí é possível redesenhar novas ações para trabalhar o empreendedorismo social de forma transversal no currículo ou em disciplinas eletivas.

O fortalecimento de instâncias de participação que já existem nas escolas deve ser um caminho para começar a mobilizar a comunidade escolar. As assembleias, os grêmios, as comissões, os coletivos e os conselhos escolares possibilitam o envolvimento de educadores, estudantes e famílias nas decisões da escola. Portanto, também podem ser um espaço para discussão e reflexão sobre uma proposta pedagógica para trabalhar empreendedorismo social na educação.

Por meio de uma gestão democrática, é possível convidar membros da comunidade escolar para participar ativamente desses órgãos e desenvolver ações de responsabilidade compartilhada. Isso gera um sentimento de pertencimento e conquista maior engajamento entre diferentes grupos.

Para construir um ambiente de escuta, participação e engajamento na escola, é importante também adotar práticas cotidianas que valorizam o respeito, o acolhimento e a comunicação. Esses elementos impactam diretamente no clima escolar e, consequentemente, no nível de confiança que os diferentes membros da comunidade escolar vão ter para desenvolver projetos e expressar suas ideias, sem medos ou julgamentos.

Essa postura pode começar com práticas simples, como saudar os alunos na porta da escola, promover a comunicação não-violenta, estimular a convivência entre educadores e estudantes ou até mesmo mediar conflitos.

Contribuíram para esse capítulo

Beatriz Aquino

consultora do Instituto Tellus

Daniella Dolme

consultora do Instituto Tellus

Fábio Muller

diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

Gelson Henrique

empreendedor social e um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

Helena Singer

líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka

Lindsey Hall

presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation)

Luiza Iolanda Cortez

professora e integrante da equipe pedagógica da Comissão Executiva de Educação Integral da Paraíba

Rosângela da Cal

pedagoga e apoio pedagógico em tecnologias educacionais da da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP)

Vander Soares

professor de História e apoio pedagógicos em tecnologias educacionais