O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) define a adolescência como a faixa etária de 12 até 18 anos, enquanto o Estatuto da Juventude considera jovens as pessoas com idade de 15 a 29 anos.
Apesar de compreender que esse conceito não se restringe à biologia, considerando também fatores culturais, sociais e históricos, este especial traz um recorte do universo dos adolescentes e jovens que estão no ensino fundamental 2 e no ensino médio, com idade entre 11 e 21 anos (considerando um pequeno desvio idade-série).
Dentro do recorte desse especial, eles representam uma parte da população brasileira que:
Se por um lado os marcos legais estabelecem uma delimitação por idade, outros fatores estão envolvidos na construção da identidade do adolescente e do jovem, como o desenvolvimento do seu cérebro, sua busca por autoconhecimento e a sua relação com o mundo.
Nesta etapa da vida, a construção da identidade passa pelo entendimento de quem se é no momento até a projeção de quem se busca ser no futuro. Os adolescentes e jovens vivem um processo de procura e conexão com os seus próprios interesses, enquanto exploram novas possibilidades e visões de mundo.
Para formar suas próprias definições e posicionamentos, eles também partem de vínculos coletivos que apresentam novos estilos, vivências e expressões culturais. Aos poucos, essas referências passam a fazer parte da sua construção de identidade.
As transformações neurológicas exercem grande influência durante o período de construção da identidade. Os novos comportamentos e decisões não são apenas reflexo de desejos individuais ou de relacionamentos sociais, mas de um período de amadurecimento do cérebro.
Durante a adolescência, pesquisas da neurociência demonstram que o cérebro passa por uma reorganização, em que surgem novas conexões entre os neurônios. Conforme são recebidos estímulos negativos e positivos, determinadas conexões podem ser fortalecidas ou enfraquecidas. Três sistemas, que sofrem grande plasticidade durante esse período, podem explicar alguns comportamentos típicos:
Já no início da juventude, o cérebro passa por uma fase de amadurecimento do córtex, camada relacionada ao sistema responsável pelas emoções e relações sociais. Essa região começa a influenciar comportamentos e pensamentos complexos, que orientam a tomada de decisões, a priorização, a coordenação de pensamentos e emoções, a organização e outros fatores importantes para a modulação do comportamento social.
Durante a construção da identidade, o adolescente e o jovem entram em um processo de autoconhecimento. Eles lidam com as transformações do próprio corpo e começam a descobrir sua sexualidade. Quando as relações afetivas passam a ter um peso maior, também vivenciam suas primeiras relações amorosas, paixões e desilusões.
O período de múltiplas transformações posteriores à infância é também quando começa a ser manifestada a orientação sexual de cada pessoa. Na adolescência, são definidos os interesses sexuais, românticos e afetivos por pessoas do outro sexo ou por pessoas do mesmo sexo.
As discussões e reflexões sobre estereótipos, preconceitos e relações de gênero também ganham espaço entre adolescentes e jovens. Nesta fase, as construções sociais e as desigualdades de gênero afetam muitas mulheres em diversas áreas das suas vidas. Durante movimentos como as ocupações, por exemplo, o debate sobre feminismo foi um tema recorrente nas atividades de muitas escolas, evidenciando a necessidades dos jovens de refletir sobre essas questões.
A fase da adolescência e da juventude é marcada pelo reconhecimento e aceitação do próprio corpo. No entanto, esse processo tende a ser dificultado por uma série de tabus, preconceitos e padrões de beleza socialmente estabelecidos. Na busca por referências inatingíveis, muitos acabam sofrendo transtornos alimentares e psicológicos.
Enquanto adolescentes e jovens passam por um período de descobrimento da sua própria identidade, eles ainda precisam lidar com a pressão social e os estereótipos criados a seu respeito.
Como se não bastasse a associação imediata à aborrecência (na adolescência) e à rebeldia (na juventude), ainda enfrentam a crença de que a adolescência e juventude são apenas uma preparação para a vida adulta. A ideia de fase de transição nega aos jovens o direito de perseguir objetivos e viver plenamente no presente.
Na adolescência, eles enfrentam o estigma do aborrecente que é chato no seu estado natural. Ao invés de serem encaradas como uma oportunidade de desenvolvimento, suas mudanças físicas, psicológicas e sociais são vistas como um problema. Com o passar dos anos, esse discurso muda de forma e assume dois extremos. De um lado, permanece a ideia de uma 'juventude perdida', que é formada por uma geração mimada, menos engajada, rebelde e pouco preparada para a vida. Do outro, uma visão otimista - e não menos nociva - de que a 'juventude redentora' será capaz de resolver todos os problemas estruturais da sociedade.
Além do reconhecimento do papel de familiares, educadores e amigos, os ídolos também exercem grande influência na construção da identidade dos adolescentes e jovens. Entre eles, youtubers, instagrammers, blogueiros e celebridades são populares no universo da nova geração.
A qualidade de vida dos adolescentes e jovens é afetada por muitos aspectos, como o envolvimento com drogas e a exposição a vários tipos de violência, que podem ser moral, patrimonial, psicológica, sexual e física. O desenvolvimento acelerado do cérebro e a busca pelo prazer imediato também são fatores de risco nesta etapa, fazendo com que eles busquem situações desafio, adrenalina e bem-estar momentâneo.
A internet, as redes sociais e os dispositivos eletrônicos ocupam um lugar importante no universo dos adolescentes e jovens e influenciam a maneira como eles se relacionam com o mundo. O uso de novas tecnologias também impacta a forma como eles se organizam, mobilizam e participam de movimentos populares, questionando os modelos atuais de representação cidadã.
A partir do reconhecimento da sua personalidade, adolescentes e jovens começam a romper com os estigmas desta etapa para construir o seu projeto de vida. Ao compreender quem são, eles passam a organizar suas ações em torno de objetivos e causas que os movem.
Enquanto a adolescência é marcada pelo desenvolvimento da autonomia, o início da juventude consolida a busca por um propósito, passando por escolhas que têm impacto na vida pessoal, familiar, profissional, acadêmica e cidadã.
Entre os 15 e 16 anos, o jovem começa a desenvolver algumas habilidades de tomada de decisão, controle dos seus impulsos e planejamento. No entanto, o seu cérebro ainda não está totalmente preparado para fazer escolhas e lidar com emoções da mesma forma que um adulto.
Durante esse período, a escola e a família assumem um papel fundamental de apoio para que o jovem possa construir a sua autonomia, sendo incentivado a se expressar e perseguir o seus interesses.
Na busca por um projeto de vida, adolescentes e jovens precisam ter oportunidade de entrar em contato com múltiplas experiências.
Em junho de 2013 milhões foram às ruas por mais qualidade na educação (entre outras pautas). Em 2015, uma onda de ocupações em escolas começou em São Paulo e se espalhou por outros estados. Esses movimentos trouxeram à tona para governantes, diretores de escola e a sociedade em geral uma importante demanda dos jovens brasileiros, a de participar das decisões sobre a escola e a educação brasileira.
O desejo manifestado nessas mobilizações não é invenção desta geração. Há décadas, educadores e especialistas, como o pedagogo mineiro Antonio Carlos da Costa (1949-2011), que estudou e definiu o conceito de protagonismo juvenil, defendem a participação como um caminho para formar cidadãos autônomos, críticos, criativos e com capacidade de transformar o mundo. Mais que isso, é um direito garantido pela Constituição de 1988 e regulamentado por leis complementares como a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e o PNE (Plano Nacional da Educação).
Mesmo assim, governos e diretores das escolas, que não estão acostumados a escutar o aluno e criar processos e espaços de deliberação, foram surpreendidos e tiveram que lidar com novos formatos de mobilização. Influenciada pelo movimento estudantil que cobrava investimentos em educação no Chile e na Argentina e pelo Occupy Wall Street, iniciado nos Estados Unidos, a nova maneira de protestar extrapola o uso de instâncias tradicionais e dos partidos políticos e leva às ruas e às escolas a horizontalidade de comando combinada com o uso intensivo de redes sociais.
Os movimentos podem ter esfriado, mas a linguagem dos jovens permanece a mesma e é usada para questionar cada vez mais o ambiente em que estudam. Responder às reivindicações é apenas um dos desafios encontrados por gestores, uma vez que estruturas tradicionais dentro da própria escola foram abaladas, com os grêmios não sendo mais os únicos grupos que reúnem estudantes. Agora eles dividem a arena de representatividade com coletivos, que defendem diferentes causas, como negra, LGBT e feminista, e outros grupos espontâneos.
Outra questão que exige atualização é a abrangência da oferta de participação que a escola se acostumou oferecer. Na maioria dos casos, ela é extraordinária (acontece esporadicamente), provocada (quando alguém demanda) e localizada (para um único tipo de atividade ou espaço). Em seu lugar, é necessário que a escola encontre práticas que tornem a participação cotidiana, orgânica (presente em todos os processos) e incorporada por todos e em todos os espaços. Os estudantes podem e devem ser envolvidos nas decisões referentes a práticas pedagógicas, currículo, gestão escolar, ambiente e infraestrutura da escola, relação com família e comunidade e até avaliação.
Uma forma de identificar como acontece a participação é tomando por base a teoria da escada de participação criada pelo estudioso dos direitos da criança e professor Roger Hart (1992). O modelo mostra como as crianças estão ou poderiam estar participando e quais são as barreiras comportamentais e estruturais a serem superadas:
As ideias vêm das crianças, que então definem o projeto e convidam os adultos para se envolveram na tomada de decisões.
Este nível reflete maior independência de todo o processo. As crianças têm ideias e planejam o projeto. Os adultos estão disponíveis, mas não assumem o comando;
A ideia parte do adulto, mas as crianças estão envolvidas no projeto, tanto no planejamento quanto na implementaçaão. As crianças contribuem com ideias e também fazem parte do processo de tomada de decisão;
Os projetos são criados e executados pelos adultos. No entanto, as crianças são consultadas e têm plena consciência do processo e de que suas opiniões são levadas em consideração;
Os adultos decidem qual o projeto no qual as crianças participam voluntariamente e as suas opiniões são respeitadas. As crianças entendem qual é o projeto, têm conhecimento de quem vai participar e quais são os motivos;
As crianças são questionadas sobre um determinado assunto mas não têm poder sobre a forma de expressam as suas opiniões;
As crianças “participam” de um determinado evento mas não entendem os objetivos;
As crianças fazem ou dizem o que os adultos sugerem, mas não entendem os objetivos; apesar de ser perguntado às crianças o que pensam e algumas das ideias serem aceitas, não é explicado sua influência na decisão final;
Veja 8 razões para envolver estudantes nas decisões sobre seu aprendizado e sua escola
Um estudante que tem opinião e direitos respeitados e que assume responsabilidades perante colegas e comunidade escolar passa a se sentir acolhido dentro da escola e valoriza a educação.
Ao se tornar ativo na construção de seu conhecimento e influenciar a maneira como aprende, o aluno tende a se identificar mais com o conteúdo, que ganha novos sentidos e contextos que respondem ao seus interesses e seu projeto de vida.
A participação coloca o aluno em situações que envolvem trabalho em grupo, planejamento, construção de acordos e autoria de projetos. Durante o processo, que deve acontecer de maneira autêntica para resolver problemas da escola ou comunidade, os alunos desenvolvem habilidades como resolução de problemas, colaboração e empatia.
A participação positiva nas instâncias de decisão dentro da escola proporciona o reconhecimento pelos colegas e pela equipe gestora, o que impacta na autoestima e da autoconfiança.
A abertura ao diálogo ajuda professores e gestores a entender como os alunos aprendem, bem como ter um retorno sobre suas práticas. Quando escutam e interagem com os estudantes, educadores conseguem oferecer oportunidades educativas conectadas com seu potencial, suas limitações, seus interesses e suas necessidades.
O contato próximo e fluído entre gestor, professor e aluno facilita a troca de informações constantes e a resolução de problemas da escola. O ambiente democrático também é propício à mobilização de conhecimentos, parceiros e recursos que ajudam a superar desafios da escola.
Quando a equipe gestora compartilha com alunos a mediação de conflitos e a discussão de soluções, criam-se alternativas ao punitivismo e um ambiente propício ao bom relacionamento entre alunos, professores, funcionários e gestores.
Ao se envolverem em processos democráticos dentro das escolas, jovens desenvolvem a cultura da participação e também se engajam em ações de transformação da sociedade.
As escolas no Brasil têm problemas crônicos, que comprometem a qualidade e a equidade da educação pública, além de manterem práticas antigas e desconectadas das demandas dos alunos e do mundo contemporâneo. Ainda não sabemos como solucionar esses grandes dilemas, mas uma coisa é certa, teremos dificuldade de avançar sem envolver os alunos nesse processo.
As principais tendências de inovação em educação estão intrinsecamente relacionadas à intensificação da participação dos estudantes. A personalização da aprendizagem, por exemplo, requer que os alunos sejam cada vez mais considerados em suas especificidades e tenham crescente autonomia e flexibilidade para escolher o que e como aprender. As novas tecnologias também criam condições para que os alunos sejam mais autônomos e possam fazer escolhas.
O aprendizado mão na massa cria espaço para a autoria, estimulando que os estudantes coloquem em prática seus conhecimentos e habilidades por meio da criação de projetos e produtos. Currículos voltados para a vida no século 21 também demandam pedagogias mais ativas, que não só ampliam a participação dos estudantes, mas desenvolvem sua capacidade crítica, criativa e propositiva.
Até mesmo as tendências em relação à gestão e ao ambiente escolar demandam maior engajamento dos alunos nos processos decisórios, relações mais horizontais e colaborativas, além de espaços e infraestrutura mais conectados com o universo das crianças, adolescentes e jovens.
Promover a participação dos estudantes requer a disposição de gestores e professores para compartilhar informações e poder. Abertura, diálogo, entendimento e cooperação são palavras chave para qualificar o processo, que deve buscar equilibrar as responsabilidades que serão sempre dos educadores com as contribuições que podem vir dos alunos.
Se por um lado é fundamental não subestimar a capacidade dos estudantes, mesmo quando são crianças ou parecem pouco engajados, por outro não podemos romantizá-los, nem transformar a participação em um fardo. O engajamento precisa fazer sentido e estar à altura da capacidade dos alunos, bem como contribuir para a sua aprendizagem e desenvolvimento, objetivos primordiais da escola.
A participação também deve considerar a cultura dos estudantes, ao invés de forçá-los a se encaixar em modelos próprios do mundo adulto. Ludicidade, arte, cultura e mídias digitais são alguns dos elementos que potencializam a contribuição, especialmente de crianças, adolescentes e jovens. A intenção é levá-los a sério e respeitar as suas próprias formas de organização, expressão e contribuição.
Para aliar teoria e a prática, reunimos as principais formas de participação dos alunos na escola em quatro elementos:
Nesta seção, você encontrará a definição de cada um deles e como devem ser praticados, experiências de escolas que já conseguem envolver os alunos nas decisões, armadilhas que limitam a participação e dicas práticas para educadores incorporarem a cultura democrática.
Atualmente, os mais diversos setores da sociedade adotam a prática de ouvir seus usuários para entender se estão satisfeitos com o serviço ou produto que lhes é oferecido. As redes de ensino e as escolas, no entanto, raramente perguntam a opinião dos seus alunos sobre o que acontece no seu cotidiano, muito menos sobre novas decisões que afetarão a sua vida escolar.
Em grande parte das escolas, os descontentamentos e as sugestões dos alunos não ultrapassam o limite das conversas de corredor. A falta de diálogo costuma favorecer a apatia e o conflito. O problema se acirra quando o nível de insatisfação aumenta e provoca reações mais radicais, como indisciplina, depredação, protestos e ocupações.
Mesmo os problemas mais difíceis precisam ser discutidos pela comunidade escolar, tanto para que possam ser reconhecidos e resolvidos, quanto para que não se transformem em algo maior e acabem comprometendo as relações de confiança entre gestores, professores e estudantes.
Escutar os estudantes significa criar oportunidade para que possam compartilhar opiniões sobre diferentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como a infraestrutura da escola e as atividades em sala de aula, até os mais complexos, como mudanças no currículo e na organização escolar.
Para engajarem os alunos, essas consultas precisam ser realizadas com o suporte de dinâmicas, instrumentos e linguagens compreensíveis e estimulantes para eles. Também precisam ser inclusivas, para que capturem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e dissonantes. Nesse caso, a opinião dos alunos mais “comportados, extrovertidos e eloquentes” não deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas as perspectivas precisam ser contempladas.
Aqueles que escutam devem ainda ter a sabedoria de não se colocar na defensiva, nem se sentir pressionados a acatar tudo o que é sugerido. No entanto, devem realizar devolutivas consistentes, que deem transparência às percepções e propostas coletadas e indiquem como serão encaminhadas. Um processo de escuta dos estudantes pode ter efeito reverso quando não gera consequências concretas.
Os estudantes são diferentes e aprendem de formas diversas. Às vezes, o que se encaixa bem para uns, não funciona para os demais. Outras vezes, o que os educadores propõem não faz sentido para os alunos. Quando eles têm a oportunidade de escolher entre duas ou mais opções, não apenas encontram alternativas mais interessantes, mas também se sentem mais valorizados e engajados no processo.
Nem tudo pode ser escolhido pelos estudantes. Eles sabem disso e entendem que grande parte do que acontece nas redes de educação e nas escolas deve ser proposto por profissionais experientes. Ainda assim, desejam ter mais flexibilidade e autonomia, inclusive para se sentirem mais identificados e motivados em relação à sua aprendizagem.
Quando gestores e professores são mais prescritivos e já trazem tudo pronto, correm o risco de não se conectar com os interesses, desejos e necessidades de seus alunos, gerando desengajamento e dificuldade de aprender. As escolhas podem ter caráter simples, como a opção entre uma aula no pátio ou no laboratório de informática, entre dois ou mais tipos de exercício ou trabalho em grupo, entre atividades de discussão ou de dramatização, por exemplo. Mas também têm a possibilidade de envolver decisões mais complexas, como as disciplinas a serem cursadas, no caso da flexibilização curricular.
Para escolher, os alunos precisam desenvolver sua capacidade de analisar, tomar decisão e assumir as consequências sobre as suas escolhas. Quando a escola oferece esse tipo de situação para seus estudantes, também os prepara para ser mais assertivos em relação às demais escolhas que farão ao longo da vida.
Os estudantes tendem a se engajar mais na sua aprendizagem quando têm espaço para criar. A autoria começa com pequenas produções em atividades educativas cotidianas, como desenhos, cartazes e dramatizações. Ganha potência com criações mais robustas, como peças de teatro, composições musicais, vídeos, blogs, revistas em quadrinhos e animações. E cresce ainda mais quando os alunos se envolvem na elaboração de projetos, seja para desenvolver um produto, como um livro, jogo, robô ou foguete de garrafa pet, seja para resolver um problema concreto, como a melhoria de uma praça, a preservação do meio ambiente ou a redução de conflitos.
Os estudantes também começam a ser convidados a criar práticas educativas junto com seus professores. Mais familiarizados com as tecnologias e outros recursos pedagógicos contemporâneos, apoiam seus educadores a planejar atividades mais interessantes e variadas. Em encontros de cocriação, professores e alunos refletem sobre o que não está funcionando em sala de aula e, juntos, desenham novas possibilidades.
Além de desenvolver diversas capacidades importantes, como criatividade e colaboração, o engajamento dos estudantes como coautores do seu processo educativo os aproxima da escola, ao mesmo tempo que apoia a transformação do ambiente escolar para conectá-lo com a realidade dos alunos do século 21.
Redes de ensino e gestores escolares são responsáveis por assegurar que as escolas cumpram o seu papel e garantam o direito de cada criança, adolescente e jovem a uma educação básica de qualidade. Os estudantes, porém, não precisam ser beneficiários passivos desse processo. Além de ouvir suas opiniões e permitir que façam escolhas e tenham experiências autorais, as instituições de ensino também devem engajá-los em discussões e iniciativas voltadas a melhorar o seu cotidiano educacional.
Escolas que adotam modelos de gestão mais democráticos já costumam abrir espaços interessantes para a participação efetiva dos alunos via grêmios, assembleias, conselhos e instâncias afins. No entanto, boa parte das discussões em que eles se envolvem ainda trata de temas laterais, como festas e eventos esportivos.
Experiências mais aprofundadas têm conseguido engajar os alunos na solução de questões realmente desafiadoras, como a indisciplina, a depredação física, as dificuldades de aprendizagem e o orçamento da escola. Além de trazerem novas perspectivas sobre esses problemas e suas causas, os estudantes conseguem apoiar os educadores a formular soluções mais efetivas e a implementá-las.
Uma nova regra ou iniciativa decidida apenas pelo diretor tem menos chance de ser abraçada pela comunidade escolar do que algo que é construído coletivamente, inclusive com a participação dos alunos, os quais têm ainda a importante missão de mobilizar os seus pares. Nesse caso, o efeito reverso pode se manifestar quando gestores tomam suas decisões e convidam os estudantes apenas para endossá-las e difundi-las, sem que o diálogo tenha de fato acontecido.
Mais uma vez, é preciso respeitar as opiniões e propostas dos alunos e engajá-los em atividades de discussão e busca de solução que os façam se sentir seguros, confortáveis e motivados. Não podemos esquecer que eles são crianças, adolescentes e jovens e, portanto, contribuem melhor quando envolvidos em ambientes que consideram as suas peculiaridades. Reuniões prolongadas e com muito falatório técnico costumam inibir a participação da maioria dos estudantes. Por outro lado, eles podem ser extremamente colaborativos quando envolvidos em atividades dinâmicas e criativas, nas quais se expressam por meio das suas próprias linguagens, narrativas e estratégias.
BAIXE RESUMO DO GUIACONHEÇA ATITUDES E PRÁTICASQUE LIMITAM A PARTICIPAÇÃO
Ferramenta aberta e gratuita de escuta oferece questionário e relatórios personalizados para escolas e redes de todo o Brasil conhecerem os sonhos dos estudantes em relação à educação.
(Re)Construa a sua escolaNão caia na armadilha de acreditar que a participação dos jovens pode acontecer apenas em um evento extraordinário, provocado e localizado. Para ser um instrumento democrático de envolvimento dos estudantes, ela deve estar incorporada no ambiente escolar ou em uma rede de uma forma orgânica e cotidiana.
Sem o apoio dos professores e da gestão escolar, dificilmente os estudantes vão conseguir participar de forma efetiva. Como eles estão muito acostumados com um modelo educacional que oferece pouco espaço para o protagonismo, ao se depararem com a possibilidade de participação, eles precisam contar com a colaboração e a mediação de educadores para ampliar o seu repertório e organizar processos.
Ao abrir espaço para participação, professores, coordenadores pedagógicos e gestores devem estar preparados para compreender e acolher as diversidades dos estudantes. Apesar de eles terem características comuns que os fazem ser classificados como jovens, é preciso reconhecer os vários tipos de juventude, incluindo fatores transversais como gênero, orientação sexual, etnia, classe social e contexto pessoal.
Independente do espaço ou circunstância, a participação requer a construção de uma relação de confiança entre todos. Antes de estimular o envolvimento dos estudantes em uma ação, a equipe escolar deve garantir que seus objetivos, expectativas, prazos e até mesmo limitações sejam apresentados com clareza. Caso contrário, uma sugestão de escuta ou intervenção pode ser recebida com apatia pelos jovens, que não encontram sentido no que está sendo proposto ou não acreditam que a sua participação pode gerar resultados concretos.
Para a participação dos estudantes gerar resultados, é necessário que ela seja compreendida como um processo que requer acordos e objetivos claros. Iniciar uma ação de escuta sem essas definições pode demandar um esforço ineficaz, além de colocar em xeque a credibilidade das ações perante os estudantes. No momento de estabelecer os combinados, educadores e gestores devem buscar o máximo de transparência, informando aos jovens o que pode ser colocado em prática no curto, médio ou longo prazo, assim como as delimitações do que poderá ser resolvido no âmbito da escola, do município, do estado ou até mesmo da federação. Também é necessário mobilizar professores, funcionários, outros gestores e estudantes para se engajarem nas ações e acompanharem se mudanças serão implementadas.
Apesar de o modelo educacional tradicional não prever a participação dos estudantes, ela pode acontecer em diferentes contextos, inclusive nos mais adversos. Se a equipe gestora estiver aberta a envolver alunos nas decisões e não se apegar a regras antigas, surgem mais possibilidades de buscar soluções para os desafios das suas salas de aula, escolas ou redes conectados com os anseios das crianças, adolescentes e jovens.
A falha na comunicação pode comprometer todo o processo de envolvimento democrático dos estudantes. Ao lidar com jovens, é preciso ser objetivo, usar um vocabulário simples e direto, chamar a atenção e mostrar como a mensagem impacta a realidade do aluno. Praticar um discurso pomposo e formal demais, punitivista (responsabiliza os jovens por eventuais erros ou acertos) e pouco transparente gera falta de engajamento.
A falta de informação dificulta a participação dos estudantes. Sem referências e orientações suficientes, eles não encontram motivação para se envolver em ações de transformação da educação. Para os jovens se tornarem protagonistas, eles precisam ver sentido nas ações de escuta e propostas de intervenção que estão sendo sugeridas.
Abrir espaço para a participação dos estudantes também é reconhecer que os jovens têm diferentes formas de organização e interação, que não são necessariamente iguais aos modelos conhecidos e praticados pelos adultos. Adolescentes e jovens têm linguagens, ferramentas e jeitos de se engajar próprios, que devem ser respeitados. Educadores devem cuidar para não manipular os processos democráticos.