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Aulas mudam depois de resultado de pesquisa com estudantes

Escola Estadual Altina Moraes Sampaio - Araçatuba (SP)

RESUMO DAS EXPERIÊNCIAS

  • Escuta dos estudantes, por meio da pesquisa "Nossa Escola em (Re)Construção", ajudou a repensar estratégias pedagógicas;
  • Estudantes, pais, funcionários, professores e gestores escolares se reuniram para pensar em soluções conjuntas para desafios da escola;
  • Escola conseguiu reduzir problemas de indisciplina e combateu o uso de drogas com o envolvimento dos estudantes em diferentes instâncias de participação.

A sala multimídia da Escola Estadual Altina Moraes Sampaio, em Araçatuba (SP), era bastante frequentada por professores e alunos. Sempre que possível, os educadores recorriam a filmes para apresentar conceitos das suas disciplinas. Apesar da boa intenção, depois de ouvir os estudantes veio a surpresa: apenas 3% deles achavam que o vídeo era o melhor recurso para aprender mais. O que eles queriam mesmo era se envolver em projetos e realizar pesquisas na internet.

A descoberta de que os vídeos eram populares apenas entre os professores veio à tona em 2016, quando 141 estudantes responderam à pesquisa "Nossa Escola em (Re)Construção", promovida pelo Porvir/Instituto Inspirare, em parceria com a Rede Conhecimento Social. Na escola, a iniciativa que ouviu 132 mil adolescentes e jovens de todo o país teve a participação de quase 80% dos matriculados, do sétimo ano do ensino fundamental ao segundo ano do ensino médio.

Por sugestão da professora da sala de leitura Ana Lúcia Lopes Viana, que ficou sabendo da pesquisa pelas redes sociais, a equipe gestora acolheu a ideia de mobilizar os estudantes da escola para responderem ao questionário online. Como contrapartida, além de contribuírem com a mostra nacional sobre como os jovens avaliam a sua escola e como gostariam que ela fosse, a instituição poderia receber o seu relatório segmentado. “Explicamos sobre a pesquisa e abrimos a sala de informática para eles responderem. Os alunos foram bem conscientes do que desejavam. Enquanto alguns pediram coisas dentro da nossa realidade, outros demonstraram sonhos maiores”, sugere a professora.

Mesmo diante de diferentes espaços de escuta e participação, como o grêmio, as assembleias e os conselhos participativos, fortalecidos na escola desde 2014, a pesquisa foi utilizada como um instrumento adicional para apontar as insatisfações e desejos dos jovens. Como lembra a diretora Maria de Fátima Costa Barbosa, a ideia era identificar demandas dos estudantes para fazer uma avaliação institucional e repensar estratégias para o ano seguinte. "Aqui os nossos alunos são protagonistas. Nós sempre usamos avaliações, principalmente as externas, para dar um retorno a eles", conta.

A devolutiva, mencionada pela diretora, não inclui apenas combinados para implementar melhorias, mas também uma conversa sincera sobre o que é possível fazer dentro das condições atuais da escola. "Eles são incentivados a pensar se o que pediram pode ser feito ou não. Dentro do possível, tentamos trabalhar para atendê-los", acrescenta. Como exemplo, ela cita uma demanda bastante recorrente entre os estudantes ouvidos pela pesquisa: 30% deles acham que seriam mais inovador estudar em uma sala de aula com ambientes e móveis variados, incluindo puffs, bancadas, almofadas, sofás. "Eles pediram que tivessem almofadas na sala de aula, mas depois pensaram e chegaram a uma conclusão de que isso não seria possível." NÃO CAIA NA ARMADILHA

Se por um lado os pedidos de reorganização do espaço e compras de mobiliários esbarraram na falta de recursos, outras questões foram resolvidas simplesmente com a adoção de novas práticas pedagógicas. "Algumas coisas parecem pequenas para nós, mas são fundamentais para os alunos. Quando eles colocaram no questionário que não gostavam muito dos vídeos, os professores começaram a se atentar para essa prática", diz a coordenadora pedagógica Larissa Oliveira Bragança. NÃO CAIA NA ARMADILHA

Para a escuta gerar pequenas mudanças, além de apresentar os dados durante encontros de formação de professores, ela conta que foi preciso refletir coletivamente sobre os resultados da pesquisa. No início do ano, estudantes, pais, funcionários, professores e gestores foram convidados a participar de um planejamento. "Fizemos oito grupos com um representante de cada segmento. Diante dos dados de diferentes avaliações, eles tiveram que pensar em possíveis soluções", explica a coordenadora.

Vice-presidente do grêmio, Raiane Yumi Yassuda, 16, do segundo ano do ensino médio, foi uma das estudantes que participou da pesquisa e esteve presente no encontro para debater os resultados. "Eu lembro que nós, estudantes, apresentamos alguns problemas como prioridade, mas também mudamos de ideia sobre algumas propostas depois de escutar os pontos de vista apresentado pelos funcionários e professores", conta.

Diante de algumas divergências, a estudante recorda que em um ponto todos os participantes concordaram: o andamento das aulas precisava mudar. E algumas realmente foram modificadas, segundo a avaliação dela. "Senti que tivemos espaço para dar opiniões. Outros colegas também já perceberam mudanças nas aulas. Teve professor que começou a fazer comparações com a matéria do livro ou passou a usar outros espaços para dar aulas, como a sala de leitura", exemplifica.

Matriculada na Altina Moraes Sampaio desde 2011, ela conta que a pesquisa não foi a primeira ação que deu espaço para que os estudantes opinassem em assuntos da escola. Nos últimos quatro anos, uma série de atividades e grupos foram criados para ajudar a fortalecer uma proposta de gestão democrática, como a instituição dos representantes de sala e líderes de clubes juvenis, que semanalmente se reúnem com a diretora para apresentar demandas dos colegas de turma. Bimestralmente, também acontecem assembleias e reuniões mistas, com a participação de funcionários e professores.

Para melhorar o clima escolar, os jovens assumiram a responsabilidade de acolher novos estudantes, monitorar o bullying e conversar com colegas que apresentam problemas disciplinares. "Como mediadora mirim, eu ajudo a fazer a mediação de conflitos simples que acontecem na escola. Se eu vejo alguma coisa na sala de aula ou no pátio, eu chamo o aluno para tentar ajudar. A gente respira, faz um exercício de centramento (meditação) e depois conversa", diz Raiane, que também faz parte do grupo de acolhimento.

Incentivada pela colega de classe e amiga, Ana Júlia Monteagudo, 16, também resolveu participar do grêmio e dos grupos de mediação mirim e de acolhimento. "Quando a conversa é de aluno para aluno, eu acho que a gente se sente mais à vontade. Já teve um caso de uma aluna do nono ano que eu mediei e fiquei muito amiga dela. Minha amiga mediou a amiga dela, e hoje nós quatro somos muito próximas", conta.

Durante os conselhos participativos, quando a coordenadora pedagógica passa de sala em sala para ouvir a turma, Ana Júlia também diz que os estudantes têm espaço para dar sua opinião e até mesmo reclamar de algumas aulas. "Uma vez a gente falou que a aula de português estava chata. Depois disso, ela começou a mudar e colocar a gente em círculos ou pedir para fazer pesquisa. Quando dá, eles fazem diferente ", cita, garantindo que os apontamentos não geram ressentimentos entre alunos e professores. NÃO CAIA NA ARMADILHA

Na avaliação dela, o envolvimento dos estudantes já ajudou a trazer uma cara nova para a escola. "Antigamente a escola tinha muita droga e muita indisciplina. Hoje é difícil ter ocorrência de alunos. Se tem alguma briga ou discussão, os mediadores mirins conversam e fazem o acolhimento", aponta. Ela também sugere que os clubes juvenis, que funcionam como atividades extracurriculares organizadas pelos alunos, ajudaram a diminuir os problemas de indisciplina. "Eu tenho um amigo que era bem bagunceiro, mas depois que começou a participar do clube de xadrez ele melhorou."

Apesar dos resultados, a coordenadora pedagógica Larissa Oliveira Bragança diz que ainda é preciso ampliar o envolvimento dos estudantes. “Hoje eu não consigo ver a escola sem a participação dos alunos. O nosso sonho é que os alunos assumam mais responsabilidades. Gostaríamos de aumentar essa participação para que não fosse preciso apenas ir até eles, mas que eles pudessem nos procurar para participar, mesmo fora do horário de aula”, idealiza.


A pesquisa Nossa Escola em Reconstrução, usada na Escola Estadual Altina Moraes Sampaio, foi relançada em 2017 e agora é uma ferramenta aberta e gratuita de escuta para escolas e redes de todo o Brasil aplicarem o questionário e conhecerem os sonhos dos estudantes em relação à educação. Para utilizar plataforma, basta mobilizar alunos a responderem ao questionário online. Os resultados por rede e escola serão disponiblizados para quem solicitar o relatório, mediante cadastro de identificação na ferramenta.

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