No terceiro ano do ensino médio, o estudante Vinnicius Rodrigo, 17, já é o diretor executivo da Cordel, uma startup pernambucana que cria novas possibilidades de ensino e aprendizagem por meio de jogos e experiências lúdicas. “Queremos disponibilizar ferramentas para que as escolas possam criar aulas mais engajadoras e criativas”, conta o jovem empreendedor, que trabalha ao lado de outros colegas para tornar esse sonho possível.
A startup teve origem a partir de projetos desenvolvidos pelo estudante na Escola Técnica Estadual Cícero Dias, no Recife (PE), que faz parte do Núcleo Avançado em Educação – NAVE – uma parceria do Oi Futuro com a Secretaria de Estado de Educação de Pernambuco e do Rio de Janeiro. “O NAVE nos ofereceu uma base técnica. Agora estamos tendo oportunidade de colocar em prática tudo o que aprendemos na escola”, reflete Vinnicius, que foi um dos selecionados para o programa Mind The Bizz Ressignifica, desenvolvido pelo Porto Digital, em parceria com o British Council, para fomentar e apoiar o empreendedorismo em comunidades com maior vulnerabilidade econômica.
A base técnica, mencionada pelo jovem, veio sobretudo de atividades e disciplinas cursadas ao longo de todo o ensino médio. Com a proposta de garantir a formação integral dos estudantes, o empreendedorismo se torna uma estratégia relevante para estimular a autonomia, o protagonismo e a cidadania dos jovens, aproximando estudantes de diferentes cursos técnicos para construir projetos de tecnologia com impacto social.
Dentro da disciplina Projeto Integrador, que é cursada do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, as turmas de programação de jogos e multimídia são sensibilizadas a pensar em como utilizar seus conhecimentos para contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas). “Nós mostramos para os estudantes as metas da humanidade, que envolvem o uso consciente de água, energia e assim por diante, e perguntamos o que eles gostariam de trabalhar”, explica o professor Anderson Paulo da Silva, coordenador do curso técnico de programação de jogos no NAVE.
A partir da escolha do tema, os estudantes se dividem em grupos e participam de processos de brainstorm para pensar na construção de possíveis produtos, que podem ser aplicativos, jogos, plataformas ou até mesmo protótipos de redes sociais. Com a mentoria de professores, enquanto desenvolvem seus projetos, eles aprendem técnicas de gestão, design thinking, metodologias ágeis e outras estratégias que são amplamente utilizadas no ecossistema de inovação e empreendedorismo. “Nós trabalhamos as habilidades do empreendedorismo nas mais diversas áreas, entendendo que o estudante pode usar isso para também organizar os seus estudos ou o seu tempo. Ele pode pegar as técnicas do empreendedorismo para gerenciar seus projetos, sua carreira e sua vida”, analisa o coordenador.
No caso do estudante Vinnicius, foi justamente durante a disciplina Projeto Integrador que surgiram as primeiras experiências que contribuíram para a criação da startup Cordel. Na época, quando estava no segundo ano do ensino médio, ele foi cocriador de “O Pequeno Cabra da Peste”, um jogo digital baseado em uma adaptação nordestina do livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Com base na Meta 11.4 das ODSs, que visa “fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo”, o game teve o objetivo de preservar a cultura local e chamar atenção para o consumo consciente de água.
“O jogo ficou lindo e, na minha opinião, não deve nada para grandes produtoras do mercado”, elogia o Anderson. De acordo com o professor, além de terem a experiência de colocar a mão na massa, durante o ensino médio os estudantes também têm a possibilidade de apresentar seus projetos a profissionais do ecossistema de criatividade, inovação e empreendedorismo, que visitam o NAVE para participar de eventos ou também recebem os jovens nas suas organizações.
Experiências que ultrapassam o ambiente da escola
No Colégio Estadual José Leite Lopes, escola no Rio de Janeiro (RJ) do Núcleo Avançado em Educação – NAVE, os estudantes também são estimulados a conectar seus conhecimentos com o desenvolvimento de artefatos tecnológicos voltados para temáticas sociais. “Durante as disciplinas, os estudantes têm contato com pequenas pílulas de empreendedorismo”, conta a professora Barbara Soares.
Estudantes e professores do NAVE contam sobre o trabalho com empreendedorismo na escola
Assim como acontece no Recife, a escola promove a aproximação entre estudantes dos técnicos de programação e de multimídia por meio das Oficinas Integradas, que são componentes curriculares do primeiro ao terceiro do ensino médio. “Nós trabalhamos muito com eles a questão do PBL [Project Based Learning ou Aprendizagem Baseada em Projetos, em português] e trazemos essa reflexão para o local em que eles vivem”, destaca a educadora.
Além de trabalhar com metodologias ativas de aprendizagem, que fortalecem o protagonismo e a autonomia dos estudantes no desenvolvimento de soluções com impacto socioambiental, a escola também oferece incentivo para que os jovens participem de desafios e hackathons promovidos por terceiros, como é o caso do Technovation, um programa internacional que convida garotas ao redor do mundo a resolverem problemas por meio da tecnologia.
Foi em contato com um desses programas, promovidos pela Junior Achievement, que Carol Marceli, 18, aprimorou o aplicativo SUPIMPA, que oferece diversão e segurança para a terceira idade a partir de experiências de turismo adaptadas para as necessidades desse público. Dentro do JA Startup, além de contar com o apoio dos seus professores para desenvolver seu projeto, Carol teve a possibilidade de participar mentorias com profissionais da empresa de tecnologia Dell e da escola de negócios StartSe. “Foi ali que eu percebi o quanto valeu a pena eu ter passado tanto tempo estudando e treinando pitch”, conta ela, que conquistou o primeiro lugar no programa.
Egressa do NAVE, atualmente Carol cursa design gráfico na Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso) e faz estágio no Apple Developer Academy, um programa realizado pela Apple em parceria com a PUC-RIO para desenvolver habilidades dos estudantes das áreas da computação e de design. “Os projetos que eu faço hoje na faculdade são muito parecidos com os que eu fiz em Oficinas Integradas. Em todas as aulas eu consegui me destacar por já ter uma base do NAVE, tanto de trabalho em grupo como do uso de ferramentas técnicas”, avalia.
De acordo com a jovem, as práticas pedagógicas que foram desenvolvidas ao longo do ensino médio foram fundamentais para que ela desenvolvesse competências e habilidades empreendedoras, como o trabalho em equipe, a visão estratégica e o relacionamento. “Hoje eu consigo dar um passo de cada vez e olhar para onde eu quero chegar lá no final. Aquilo de criar um mapa, preencher um cavas e fazer um brainstorm é como se fosse o momento que eu estou vivendo na minha vida agora.
A trilha do empreendedorismo já está muito dentro de mim, tanto em um projeto quanto na minha vida.”