Empreendedorismo Social na Educação

Orientações, ferramentas e casos reais para inspirar e apoiar gestores educacionais e professores a prepararem jovens para impactar o mundo

Desafios do Mundo

Propõe transformação social e ambiental

Ambiente da Escola

Inclui práticas capazes de levar inovação ao modelo educacional

Competências dos Estudantes

Desenvolve competências essenciais para a vida

Empreendedorismo Social na Educação

Uma proposta que conecta a escola aos desafios contemporâneos e estimula o desenvolvimento de competências essenciais para a vida

Por que conectar?

À primeira vista, o empreendedorismo e a educação podem até parecer dois universos distantes, que envolvem espaços, vocabulários e experiências diferentes. De um lado, startups, planos de negócio e pitches. De outro, escolas, currículos e avaliações.

Com um olhar mais atento, já é possível identificar que a criação de projetos e soluções para problemas complexos, uma prática característica do empreendedorismo, também é importante nos processos de aprendizagem de jovens. Se esses esforços ainda tiverem como objetivo o impacto social, a conexão entre esses dois campos torna-se evidente e necessária.

No Mundo

Em uma sociedade marcada por desigualdades e problemas socioambientais, recentemente agravados pela pandemia de COVID-19, o empreendedorismo social consegue reforçar o papel da educação de promover projetos e práticas que proporcionem aos estudantes a chance de reconhecer seu potencial de transformação e geração de impacto positivo.

Na Escola

A formação integral dos estudantes para o exercício da cidadania é um direito de todos garantido pelo artigo 205 da Constituição Federal. Em linha com essa proposta, marcos recentes das políticas educacionais, como a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o Novo Ensino Médio, também criam uma nova oportunidade de incluir o tema nas escolas. Exemplo disso é a inclusão do empreendedorismo como um dos quatro eixos estruturantes para a construção dos itinerários formativos no currículo do Ensino Médio, junto com a investigação científica, os processos criativos, a mediação e a intervenção sociocultural.

Nos Estudantes

Diante dessas possibilidades concretas de conectar o empreendedorismo à educação, por meio do desenvolvimento de atitudes e competências dos estudantes, o empreendedorismo social reforça a oportunidade de ampliar a conexão entre a escola e a comunidade, enquanto promove habilidades como o altruísmo, a empatia e a capacidade de resolução de problemas.

De que empreendedorismo estamos falando?

Em sua essência, o empreendedorismo social prevê o desenvolvimento de ações capazes de gerar impacto sistêmico e transformação no mundo. Nessa proposta, a inovação e a criatividade estão a serviço da construção de soluções para resolver problemas ambientais e sociais de uma comunidade, cidade, país ou até mesmo em todo o planeta.

A partir de processos colaborativos, dinâmicos e ativos, o empreendedorismo social cria ambientes mais inovadores e conectados com as demandas do mundo contemporâneo. "As pessoas confundem o empreendedorismo como algo focado apenas em ganhar dinheiro, mas ele parte de algumas premissas importantes, como o desenvolvimento de competências múltiplas, a capacidade de se adaptar a situações novas e a possibilidade de promover transformações”, destacada a professora Débora Garofalo, assessora especial de tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

Transforma práticas na escola

  • Ativação em redes
  • Cocriação
  • Colaboração
  • Corresponsabilidade
  • Escuta
  • Experimentação
  • Metodologias ativas
  • Riscos/aceitação de erros.

Para Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka, diferente do empreendedorismo, que busca garantir a sobrevivência do negócio, o empreendedorismo social tem como objetivo final a busca de soluções para o bem-estar coletivo. “Empreendedorismo social é uma estratégia de promover o bem comum, a partir da possibilidade de criar soluções novas que tenham impacto sistêmico”, destaca.

Com empatia, visão sistêmica e propósito, o empreendedorismo social pode gerar impacto em diferentes esferas, como educação, saúde, alimentação e meio ambiente. “No empreendedorismo social, os seus agentes estão sensibilizados em relação a uma causa”, diz Helena.

A definição de empreendedorismo social também passa pela compreensão de aspectos históricos, culturais e sociais. “Boa parte do que chamamos de empreendedorismo social hoje são soluções criadas para atender as dores e as necessidades de uma população vulnerável”, ressalta a empreendedora social Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, plataforma responsável por criar projetos para valorizar a cultura e realizar o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina.

Desenvolve competências nos estudantes

  • Altruísmo
  • Capacidade de resolver problemas
  • Comunicação
  • Coragem
  • Curiosidade
  • Empatia
  • Pensamento crítico e científico
  • Senso de propósito
  • Resiliência
  • Responsabilidade
  • Trabalho em equipe

O termo empreendedorismo social começou a ganhar força no Brasil na década de 1980, quando surgiram as primeiras iniciativas que conciliavam valor econômico com impacto socioambiental. Nesse período, o país vivia uma “crescente problematização social, redução dos investimentos públicos no campo social, crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas no investimento e ações no campo social”, conforme destacou o professor e pesquisador Edson Marques Oliveira, na sua tese de doutorado em serviço social pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Desde a década de 1990, de acordo o artigo apresentado pelos pesquisadores Paula Chies Schommer e Fernando do Amaral Nogueira, no encontro da ANPAD (Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Administração), o país também começou a ampliar discussões de conceitos como terceiro setor, sustentabilidade e investimento social privado, que apontava para um novo tipo de filantropia praticada por empresas e cidadãos, de forma planejada, monitorada e sistemática.

Atualmente, o empreendedorismo social também se relaciona mais fortemente com uma ideia de desenvolvimento sustentável e inclusivo, que atende às necessidades de desenvolvimento das sociedades e ao mesmo tempo respeita os limites do planeta. Nessa concepção, os recursos são distribuídos para que todos possam viver com equilíbrio e com maior acesso a oportunidades, inclusive de empreender transformações locais. O desenvolvimento de soluções planejadas e executadas por agentes do próprio território e impactados por vulnerabilidades tornou-se cada vez mais comum e desejável.

Gera impactos no mundo

  • Equidade
  • Valorização das diversidades
  • Resolução de problemas sociais e ambientais
  • Desenvolvimento sustentável

Lindsey Hall, presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation), uma das entidades pioneiras no apoio à criação de programas de empreendedorismo junto a escolas britânicas, afirma que o conceito de empreendedorismo social também passa pela questão de pensar em como obter um equilíbrio entre atividade econômica e finalidade social. “Sim, eu quero poder trabalhar de maneira criativa e empreendedora e ganhar algum dinheiro, mas estou fazendo isso para o bem social e ambiental”, exemplifica.

Apesar de não estar limitado ao campo do negócio, o empreendedorismo social também pode envolver a geração de recursos. Diante dessa perspectiva, com o suporte de outros agentes do ecossistema, redes de ensino e escolas podem ajudar a criar condições para que ele seja mais um caminho possível para os jovens, mas sem responsabilizá-los pelas soluções de problemas estruturais e nem reproduzir um discurso de fragilização das relações de trabalho.

Empreendedores e especialistas em educação refletem sobre os princípios do empreendedorismo social

Empreendedorismo social não...

  • limita-se ao campo dos negócios
  • reproduz a fragilização das relações de trabalho
  • responsabiliza jovens e pobres por soluções para problemas estruturais
  • desconsidera as referências e o contexto socioeconômico dos jovens
  • silencia as juventudes

Como fazer?

Conectar o empreendedorismo social e a educação é uma proposta que exige novos papéis, tempos, espaços, saberes e vivências. Abaixo, listamos seis dimensões fundamentais para a construção e implementação desse projeto em uma unidade curricular, eletiva ou itinerário formativo do ensino médio.

Navegue para ter acesso às referências, recomendações, casos reais e ferramentas de cada um dos eixos:

Por que é importante?

A mobilização da comunidade escolar é um fator decisivo para a implementação de um projeto educacional. Com o empreendedorismo social não poderia ser diferente. Para promover mudanças no currículo, criar uma disciplina eletiva ou implementar uma nova prática dentro da escola, é muito importante que coordenadores, professores, funcionários, estudantes e famílias estejam envolvidos nesse processo.

A secretaria de educação tem um papel importante para estimular o engajamento de escolas, comunicar intenções de forma clara a diretores e oferecer apoio para que eles mobilizem a comunidade escolar em torno do empreendedorismo social. No entanto, a proposta não pode ser idealizada somente pela gestão. “Projetos de secretários de educação raramente funcionam. É preciso apresentar a ideia aos gestores para que eles se sintam confortáveis. O projeto só vai acontecer na prática quando eles se apaixonarem pela proposta”, diz Cristiana Berthoud, secretária de Educação de Tremembé (SP).

“Tudo começa com a comunidade escolar se reconhecendo como uma equipe que tem um projeto em comum.”

Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka.

Para garantir o envolvimento e a identificação de todos, essa agenda precisa ser construída a muitas mãos, segundo Fábio Muller, diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável). "Quando a comunidade escolar se envolve na construção de um projeto, ela consegue perceber valor naquilo que está sendo proposto. Ela também entende que esse processo vai render frutos positivos para a escola e para a aprendizagem dos estudantes”, destaca Fábio.

Além de perceber os possíveis impactos do projeto, durante um processo colaborativo, a comunidade escolar consegue se identificar mais com uma proposta que considera suas opiniões e necessidades. “Não é trazer uma imposição nova, mas adotar uma abordagem de cooperação. Perguntar o que já está sendo feito na escola, como aquelas ações podem ser potencializadas e quais questões eles gostariam de priorizar”, indica Beatriz Aquino, consultora do Instituto Tellus, que acompanhou a implementação do projeto Faz Sentido em redes estaduais e municipais de educação de diferentes regiões do Brasil.

De acordo com ela, é muito importante pensar que existe um fator humano por trás de toda proposta de construção e implementação de um projeto educacional. “A escola é um ambiente complexo que reúne diversos atores. São gestores, professores, alunos, famílias e as comunidades do entorno. Cada um tem as suas próprias necessidades e interpretações de mundo”, ressalta, ao considerar que sejam mantidas relações de respeito e afeto para mobilizar a comunidade escolar.

"A corresponsabilidade e a parceria entre escolas, secretarias e os atores da comunidade é fundamental", diz a professora Luiza Iolanda Cortez, que hoje atua na Secretaria de Estado da Educação e Ciência e Tecnologia da Paraíba com a implementação de uma disciplina de inovação e empreendedorismo social nas escolas. Sem o engajamento dos estudantes, das famílias e, principalmente, dos educadores, ela diz que é muito difícil que as redes consigam tirar os projetos do papel. "Eles podem existir no currículo, mas não existiriam na prática por falta de adesão. E a gente só consegue adesão quando conquista."

Dicas de Implementação

Mais do que apresentar uma proposta fechada pela secretaria, é preciso fazer um convite para que toda a comunidade escolar participe. Para isso, Lindsey Hall, presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation), uma das entidades pioneiras no apoio à criação de programas de empreendedorismo junto a escolas britânicas, destaca que é fundamental criar pontos de conexão entre a ideia de trabalhar empreendedorismo social na educação e os desafios de cada agente que faz parte desse ecossistema.

Cabe aos gestores e técnicos de secretaria o papel de envolver as escolas em um processo de construção participativa, que considera as necessidades de cada instituição e de cada sujeito que integra a comunidade escolar. Essa sensibilização pode acontecer por meio de rodas de conversa e processos de escuta.

“É preciso escutar e também estimular a participação ativa na escola. É muito importante ter esse espaço para entender as particularidades de cada um.”

Gelson Henrique, um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

A partir do momento em que os gestores escolares são envolvidos e se sentem contemplados com a proposta, eles conseguem mobilizar a escola em um processo democrático, que promove a aproximação entre o empreendedorismo social e os desafios enfrentados pelos diferentes agentes da comunidade escolar.

Em uma conversa com os educadores, por exemplo, Lindsey sugere que sejam apresentados os impactos dessa proposta na aprendizagem: “Podemos dizer que descobrimos uma maneira de aprender em que os jovens se envolvem com a construção de algo real. Isso é muito poderoso para lutar contra uma educação muito teórica”, exemplifica. Já com os estudantes, é preciso criar estratégias para envolvê-los em algo que eles tenham prazer e que vejam propósito.

Em alguns casos, as propostas também podem vir de forma espontânea a partir das demandas dos estudantes ou dos professores. Nesses casos, os gestores escolares e as redes precisam estar prontos para acolher suas necessidades e oferecer apoio para que suas práticas sejam desenvolvidas e aprimoradas.

Confira algumas ações para promover a aproximação da escola com o território:

Promover reflexão sobre os papéis de cada um na escola Indicado para escolas e redes

Para mobilizar a comunidade escolar é importante promover uma reflexão sobre como todos os sujeitos se enxergam dentro da escola. Essa visão contribui para que cada um entenda o seu papel dentro da instituição e perceba qual pode ser a sua contribuição em um projeto de empreendedorismo social.

Apesar de cada membro da comunidade escolar ter suas particularidades, todos fazem parte de um projeto comum. Portanto, devem trabalhar em parceria para garantir que os estudantes se desenvolvam e encontrem caminhos para potencializar seus projetos e sonhos. Nesse exercício, é preciso valorizar desde as pessoas que têm conhecimentos e experiências no campo do empreendedorismo, até aquelas com habilidades manuais, que são úteis para construir projetos mão na massa, por exemplo.

O processo de reflexão pode acontecer por meio de diferentes iniciativas, como autoavaliação, rodas de conversas ou dinâmicas de grupo.

A escuta é um elemento essencial para mobilizar a comunidade escolar em uma nova proposta educacional. A partir do diálogo, redes e escolas conseguem estabelecer um ambiente de confiança e transparência, em que todos se sentem à vontade para fazer questionamentos ou até mesmo apresentar ideias de projetos de empreendedorismo social.

No entanto, ao promover a escuta, também é importante dar um retorno sobre sugestões, demandas e desejos apresentados por educadores, estudantes e famílias. Isso traz credibilidade ao processo, possibilitando que todos se envolvam e participem do projeto de forma democrática e cidadã.

Ao dar início a um projeto, também é interessante mapear as práticas de empreendedorismo e transformação social que já foram ou são desenvolvidas dentro da escolas. Muitas vezes, essa abordagem já está presente na disciplina de um professor ou faz parte de um projeto desenvolvido pelos estudantes.

Conhecer e potencializar as experiências que já foram desenvolvidas dentro da instituição de ensino é um caminho para conquistar a adesão da comunidade escolar. A partir daí é possível redesenhar novas ações para trabalhar o empreendedorismo social de forma transversal no currículo ou em disciplinas eletivas.

O fortalecimento de instâncias de participação que já existem nas escolas deve ser um caminho para começar a mobilizar a comunidade escolar. As assembleias, os grêmios, as comissões, os coletivos e os conselhos escolares possibilitam o envolvimento de educadores, estudantes e famílias nas decisões da escola. Portanto, também podem ser um espaço para discussão e reflexão sobre uma proposta pedagógica para trabalhar empreendedorismo social na educação.

Por meio de uma gestão democrática, é possível convidar membros da comunidade escolar para participar ativamente desses órgãos e desenvolver ações de responsabilidade compartilhada. Isso gera um sentimento de pertencimento e conquista maior engajamento entre diferentes grupos.

Para construir um ambiente de escuta, participação e engajamento na escola, é importante também adotar práticas cotidianas que valorizam o respeito, o acolhimento e a comunicação. Esses elementos impactam diretamente no clima escolar e, consequentemente, no nível de confiança que os diferentes membros da comunidade escolar vão ter para desenvolver projetos e expressar suas ideias, sem medos ou julgamentos.

Essa postura pode começar com práticas simples, como saudar os alunos na porta da escola, promover a comunicação não-violenta, estimular a convivência entre educadores e estudantes ou até mesmo mediar conflitos.

Contribuíram para esse capítulo

Beatriz Aquino

consultora do Instituto Tellus

Daniella Dolme

consultora do Instituto Tellus

Fábio Muller

diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

Gelson Henrique

empreendedor social e um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

Helena Singer

líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka

Lindsey Hall

presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation)

Luiza Iolanda Cortez

professora e integrante da equipe pedagógica da Comissão Executiva de Educação Integral da Paraíba

Rosângela da Cal

pedagoga e apoio pedagógico em tecnologias educacionais da da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP)

Vander Soares

professor de História e apoio pedagógicos em tecnologias educacionais

Por que é importante?

Não é possível pensar na escola como um agente de transformação no mundo sem percebê-la como uma organização que está inserida dentro de uma comunidade, de uma cidade, de um país e de uma sociedade global. Por isso, sua articulação com o território é fundamental para promover o empreendedorismo social.

Ao desenvolver uma proposta educacional conectada com os princípios e valores da inovação social, é importante que as secretarias de educação criem condições para que as escolas fortaleçam e ampliem a sua conexão com a comunidade. Por meio de fóruns participativos, políticas de articulação intersetorial e estratégias de gestão democrática, as instituições de ensino são encorajadas a reconhecer potências, valores e práticas de impacto social no território.

“O território também é formado geograficamente por pessoas. A escuta no território faz toda a diferença para um projeto.”

Ana Cláudia Sierra Marques, responsável pela SENUTEC (Seção Núcleo Tecnológico Educacional), da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP).

Se o empreendedorismo social parte de uma premissa de transformação, ele deve gerar impacto em alguma esfera da sociedade, seja ela local ou global. Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka, destaca que o mundo que está mais ao alcance do jovem transformar é o território onde ele vive e transita. “Eu acho pouco verdadeiro que uma instituição consiga transformar o mundo amplo se ela não consegue nem transformar o próprio território em que está inserida”, afirma.

Para desenvolver projetos de intervenção na sua comunidade, além de identificar aspectos que já estão presentes no seu cotidiano, também é interessante que o estudante tenha acesso a novas referências sobre o território. Nesse processo, Helena sugere que a escola trabalhe com processos de contextualização e investigação para que crianças, adolescentes e jovens possam compreender os desafios e reconhecer as potencialidades do lugar em que vivem.

Esse olhar pode e deve ser construído com o apoio dos próprios sujeitos do território, como vizinhos, comerciantes e familiares de estudantes, que lidam com as suas complexidades e múltiplas formas de organização. “Com essa vivência, surgem ações e projetos de intervenção. As pessoas que são do território ou se identificam com ele conseguem propor diferentes soluções”, reflete João Souza, empreendedor da aceleradora Fa.vela, de Belo Horizonte (MG).

Quando a escola consegue estabelecer essa conexão, o território se torna uma extensão da sala de aula, onde moradores, coletivos e organizações do bairro passam a ser parceiros na construção de ambientes de desenvolvimento e de aprendizagem mais significativos, dinâmicos, criativos e sensíveis à realidade local. Essa interação também pode criar pontes, por meio de projetos ou parcerias, para os estudantes acessarem agentes do ecossistema de inovação e empreendedorismo social.

“Precisamos vincular as temáticas curriculares com o que acontece no território. Essa prática fortalece o empreendedorismo social porque os estudantes encontram o aprofundamento e a aplicabilidade das áreas de conhecimentos.”

Gustavo Cezario, gerente da Unidade de Cultura Empreendedora do Sebrae Nacional

“Quando você está lidando com aceleradoras mais focadas em impacto social e desenvolvimento territorial, como é o nosso caso, existe uma vontade muito grande de estar presente nesse ambiente [da escola]. Nós não temos o mesmo papel de um centro de saúde ou de uma escola na comunidade”, afirma João, ao reconhecer a importância ocupada por esses espaços no território. Por manter um contato constante com muitos estudantes e famílias da comunidade, ele cita que a escola pode atuar como uma grande parceira do ecossistema de empreendedorismo social.

Dicas de Implementação

Existem diversas formas de fortalecer e ampliar a aproximação da escola com a comunidade e com as práticas de empreendedorismo social que acontecem no território. Os caminhos podem variar conforme a realidade de cada rede ou instituição, mas é importante que alguns elementos sejam considerados durante esse processo.

O primeiro deles é que, com o apoio da secretaria de educação, a escola consiga reconhecer qual é o seu sentido no território. “Não é só um estudante ser um empreendedor, mas a escola também se perceber enquanto empreendedora social”, ressalta Helena Singer.

Confira algumas ações para promover a aproximação da escola com o território:

Criar pontos de conexão do currículo com o território Indicado para escolas e redes

Para integrar os saberes e vivências do território no cotidiano escolar, também é importante criar pontos de conexão no currículo. Como os conhecimentos, habilidades e competências a serem desenvolvidas podem dialogar com a realidade local e com os empreendimentos sociais do território? Dentro de quais disciplinas é possível explorar as potencialidades e os desafios do território?

Essas conexões ajudam os estudantes relacionarem a realidade do território com os conteúdos aprendidos na escola. Durante a aula de física, por exemplo, ao invés de apenas falar sobre energia, os professores podem explorar qual é o papel da energia no território. A disciplina de artes pode dialogar com os coletivos culturais do bairro, enquanto as aulas de ciências podem tratar de biodiversidade local, por exemplo. Os empreendedores sociais do território também podem participar de aulas, rodas de conversa ou seminários para compartilhar os seus saberes.

Conhecer a comunidade, seus equipamentos, desafios e potencialidades é fundamental para trabalhar o empreendedorismo social na educação. Para isso, o mapeamento do território é um passo importante a ser desenvolvido pelas secretarias e localmente pelas instituições de ensino.

Por meio desse levantamento, que pode ser feito a partir de entrevistas, visitas de campo e pesquisas, são explorados de forma estruturada os potenciais educativos do território e também os possíveis parceiros da escola, como centros culturais, associações de moradores, igrejas, praças, comércios, equipamentos esportivos, entre outros.

O diagnóstico pode ser feito por profissionais da educação, com o apoio e a liderança da secretaria. Com um olhar apurado para os potenciais educativos conectados com o empreendedorismo social no território, os estudantes também podem se envolver nesse processo para identificar os desafios que estão presentes no entorno da escola, incluindo questões sociais, ambientais e econômicas.

Mais do que um local repleto de equipamentos, também é importante treinar o olhar para reconhecer quem são os agentes que atuam em cada comunidade. Ao compreender que o território também é composto por pessoas, redes e escolas podem criar conexões com comerciantes locais, líderes comunitários, coletivos, grupos culturais e moradores do entorno.

Os agentes do território e integrantes do ecossistema de inovação e empreendedorismo podem ser parceiros da escola para colaborar com projetos dos jovens. Além disso, eles podem compartilhar conhecimentos, desenvolver atividades ou até mesmo receber visitas dos estudantes nas suas organizações.

Esses parceiros educativos podem ser identificados por meio do mapeamento do território, de estudos, de conversas e até mesmo de conexões com órgãos de articulação intersetorial e desenvolvimento local.

Outra forma de conhecer o território é a partir da vivência dos próprios estudantes. Qual é a percepção que eles têm do espaço? Como eles se relacionam com a associação de moradores, os centros culturais, os equipamentos esportivos ou até mesmo os espaços religiosos?

Com base em experiências significativas para as crianças, adolescentes e jovens, as instituições podem construir mapas afetivos do território. Esse diagnóstico reúne diferentes pontos, como a residência dos estudantes ou dos seus familiares e amigos, espaços de lazer frequentados por eles, caminhos percorridos diariamente até a escola, entre outros.

A relação dos estudantes com o território também pode ser explorada a partir de caminhadas fotográficas ou visitas de campo, que têm o objetivo de captar o olhar deles para potenciais e desafios do entorno da escola.

Ferramentas Práticas

Existem diversas formas de se aproximar da comunidade. Os caminhos podem variar conforme a realidade de cada rede ou instituição, mas é importante que alguns elementos sejam considerados durante esse processo. O primeiro deles é que a escola consiga reconhecer qual é o seu sentido no território.

Contribuíram para esse capítulo

Ana Cláudia Sierra Marques

responsável pela SENUTEC (Seção Núcleo Tecnológico Educacional), da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP)

Cristiana Berthoud

secretária de Educação de Tremembé (SP)

Fábio Muller

diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

Gustavo Cezario

gerente da Unidade de Cultura Empreendedora do Sebrae Nacional

João Souza

empreendedor da aceleradora Fa.vela, de Belo Horizonte (MG)

Helena Singer

líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka

Por que é importante?

No centro das discussões sobre reforma curricular no Brasil e no mundo, está a busca por um modelo de educação menos conteudista e mais voltado para o desenvolvimento integral dos estudantes. A inserção de princípios e práticas do empreendedorismo social no currículo tem potencial para apoiar o desenvolvimento de múltiplas competências e contribuir para que jovens lidem com os desafios do mundo contemporâneo e sejam agentes de mudanças positivas na sociedade.

“Onde está o jovem dentro do currículo? Nós também precisamos olhar para as vivências dele. Quando criamos um currículo, ele deve ser um currículo vivo que está disposto a mudar para se adaptar às necessidades da escola.”

Gelson Henrique, empreendedor social e um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

Para formar jovens que reconheçam o seu potencial de transformação social, os sistemas educacionais devem ser intencionais na hora de redigir os seus documentos curriculares. “Precisamos entender o que deve ser oferecido em termos de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para que os estudantes se sensibilizem com os problemas que estão à sua volta e tenham o compromisso genuíno de ser agentes ativos de mudança em questões coletivas”, diz Anna Penido, especialista em educação.

Apesar de muitos projetos de transformação social já acontecerem de forma orgânica ou até mesmo estruturada dentro das escolas, é importante que essas práticas sejam destacadas nos documentos educacionais como um dos passos de seus planejamentos estratégicos. “Existe um currículo vivo que já acontece dentro das escolas, mas quando explicitamos isso, tiramos da invisibilidade. Saímos do campo do que é permitido para assumir um compromisso”, ressalta Anna Penido.

“O currículo é um conjunto de vozes. Ele tem um papel político e técnico, mas também tem o papel de consolidar o trabalho que é feito na base para servir de referência para os professores.”

Luiza Iolanda Cortez, professora e integrante da equipe pedagógica da Comissão Executiva de Educação Integral da Paraíba

Além de reforçar o papel da educação em preparar o estudante para o seu pleno desenvolvimento e exercício da cidadania, como previsto na artigo 205 da Constituição Federal, a inclusão dessa proposta no currículo também atende a demandas de regulamentações recentes, como o caso do Novo Ensino Médio, que oferece maior possibilidade de escolha e autonomia para os estudantes construírem e desenvolverem o seu projeto de vida. “O empreendedorismo é parte de toda a concepção do Novo Ensino Médio”, destaca Katia Smole, diretora do Instituto Reúna.

Dentro da proposta do Novo Ensino Médio, 60% da grade curricular é organizada em torno de disciplinas comuns e 40% em itinerários itinerários formativos de aprofundamento, que são escolhidos pelos estudantes conforme os seus interesses e a conexão com o seu projeto de vida. Para essa parte flexível, os currículos devem ser elaborados a partir de quatro eixos estruturantes: investigação científica, processos criativos e mediação, intervenção sociocultural e empreendedorismo.

Esses quatro eixos podem ser combinados ou distribuídos ao longo dos itinerários formativos. De acordo com Katia, o eixo do empreendedorismo se conecta diretamente com os outros três, já que ato de empreender está relacionado a um conjunto de habilidades e atitudes que são fundamentais para fazer uma pesquisa, criar um produto ou um serviço ou até mesmo desenvolver um projeto de intervenção sociocultural.

De acordo com os Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativos, publicados pelo MEC (Ministério da Educação), o empreendedorismo deve “expandir a capacidade dos estudantes de mobilizar conhecimentos de diferentes áreas para empreender projetos pessoais ou produtivos articulados ao seu projeto de vida.” Nesse sentido, ele também está relacionado diretamente aos projetos de vida dos estudantes.

“Isso pode acontecer tanto dentro de um itinerário formativo ou de uma disciplina eletiva, quanto na formação geral básica. Um professor de ciências da natureza, por exemplo, também pode desenvolver projetos de empreendedorismo com os seus alunos.”

Anna Penido, especialista em educação

“Na medida em que você precisa ajudar o jovem a constituir o seu projeto de vida e a ter ferramentas para colocar esse projeto em marcha durante e após a escola, você precisa entender que empreender não está relacionado apenas uma questão de ter ou não o próprio negócio”, analisa Katia, que foi Secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação) quando a BNCC foi homologada. “Estamos falando de atitudes empreendedoras, como planejar e mapear os recursos necessários para colocar o seu projeto de vida em prática.”

Apesar das diretrizes para o Novo Ensino Médio fazerem menção ao empreendedorismo de forma ampla, os documentos educacionais oferecem inúmeras oportunidades para que essa prática seja comprometida com questões sociais e ambientais. Além disso, a proposta também se conecta com as demandas da BNCC, que cita nas Competências Gerais o exercício da empatia, da cooperação o do agir pessoal e coletivamente com autonomia e responsabilidade, características que são inerentes ao empreendedorismo social.

Especialista e gestores educacionais refletem sobre as oportunidades de implementar o empreendedorismo social no Novo Ensino Médio

Dicas de Implementação

Existem diferentes formas de trazer o empreendedorismo social para o currículo do Novo Ensino Médio. “Isso pode acontecer tanto dentro de um itinerário formativo ou de uma disciplina eletiva, quanto na formação geral básica. Um professor de ciências da natureza, por exemplo, também pode desenvolver projetos de empreendedorismo com os seus alunos”, explica Anna Penido.

No entanto, independente do caminho escolhido, é fundamental que redes e escolas sejam intencionais em relação a razão e a forma como o empreendedorismo social será materializado nos seus documentos curriculares. “Eles devem ter clareza do que precisa ser desenvolvido e de quais estratégias serão utilizadas para isso”, reforça.

Para Gustavo Cezario, gerente da Unidade de Cultura Empreendedora do Sebrae Nacional, também é importante que as redes e escolas planejem como vincular as temáticas curriculares ao empreendedorismo social. “Precisamos entender como esses temas estão presentes no currículo. Do contrário, vamos nos limitar a algumas horas ou a um projeto de extensão no final do ensino médio”, cita ele, ao defender a importância de trabalhar esse eixo de forma transversal ao longo de toda a etapa.

Confira algumas ações para orientar a construção do currículo:

Mapear atitudes, competências, conhecimentos e habilidades Indicado para redes

Antes de começar o processo de construção do currículo, é importante que as redes e escolas façam um levantamento de conhecimentos, valores e habilidades que podem ser mobilizados e desenvolvidos por meio do empreendedorismo social. Esse processo deve ser feito a partir de um processo de escuta, que considera as expectativas que gestores, educadores, estudantes, famílias e membros da comunidade têm em relação à educação e ao empreendedorismo social.

Quais são as competências que uma pessoa precisa ter para empreender? Quais dessas habilidades são inerentes ao empreendedorismo social? Quais são os valores fundamentais para que os estudantes tenham compromisso com as causas coletivas? Quais termos, metodologias e processos específicos do campo do empreendedorismo e do impacto social devem serem apresentados aos estudantes? Esses são alguns dos questionamentos que podem ser feitos para apoiar a elaboração do documento.

Também é importante olhar para as competências gerais e específicas previstas na BNCC para entender como elas se relacionam com o empreendedorismo social. Na competência geral número nove, por exemplo, ao falar sobre empatia e cooperação, o documento menciona o desenvolvimento da capacidade de exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, que são habilidades e atitudes fundamentais para empreender transformações sociais.

A inclusão do empreendedorismo social no currículo requer um olhar sensível para as juventudes e suas demandas. Dimensões da identidade dos jovens, como raça e gênero, seus contextos socioeconômicos e desafios locais e globais precisam estar refletidos nos documentos curriculares.

A desigualdade de gênero, o racismo e a lgbtfobia, por exemplo, são questões que impactam diretamente a vida dos jovens e, por isso, se tornam causas cada vez mais importantes e mobilizadoras das juventudes. Outro ponto de partida possível para um projeto de empreendedorismo social é a conexão com agendas globais, como os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da ONU (Organização das Nações Unidas).

A construção de disciplinas eletivas é uma possibilidade para que os estudantes possam vivenciar práticas do empreendedorismo social, além de realizar reflexões conceituais sobre o processo, os sentidos envolvidos e os objetivos alcançados.

Durante essas eletivas, os jovens devem ser sensibilizados a olhar para potencialidades e desafios do território onde vivem, exercitando inclusive práticas de pesquisa documental e de análises de dados. A partir dessa reflexão, fazendo o uso de ferramentas do empreendedorismo social, eles têm a possibilidade de criar projetos de intervenção, inovação e transformação.

Por meio das disciplinas eletivas, redes e escolas também podem experimentar novas práticas que futuramente podem servir de base para a construção de um itinerário formativo.

O empreendedorismo social pode estar presente ao longo dos itinerários formativos, tanto nas áreas de linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas, quanto na formação técnica e profissional ou nos itinerários integrados (que misturam diferentes áreas). Para desenvolver as competências e habilidades que estão previstas nos Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativo, o eixo empreendedorismo pode ser combinado com os eixos de investigação científica, processos criativos e mediação e intervenção sociocultural.

Em um itinerário de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, por exemplo, os estudantes poderiam ser estimulados a investigar desafios do território, envolvendo temas e processos de natureza histórica, social, econômica, filosófica, política e/ou cultural, em âmbito local, regional, nacional e/ou global. A partir dessa análise, eles podem mobilizar recursos criativos e testar estratégias de intervenção para desenvolver um projeto de empreendedorismo social.

Além de dar suporte ao desenvolvimento das habilidades previstas para esta etapa escolar, o eixo do empreendedorismo também deve apoiar a construção do projeto de vida dos jovens. Ao longo do ensino médio, os estudantes devem ter a possibilidade de fazer escolhas e desenvolver competências que serão relevantes para empreender seus projetos pessoais, profissionais, acadêmicos e sociais.

Após ter feito um mapeamento e uma escuta qualificada para o desenvolvimento de uma proposta de empreendedorismo social, é importante compartilhar as diretrizes que foram construídas. Para o jovem ter a possibilidade de fazer escolhas consistentes, ele precisa ter clareza de como vai funcionar uma determinada unidade curricular, eletiva ou itinerário. O que se espera de quem vai participar? Quanto tempo vai durar? Quais são as atribuições envolvidas? Qual é a perspectiva metodológica? Será necessário apresentar um projeto final?

Para que a decisão dos jovens seja mais efetiva, isso tudo precisa estar escrito nas ementas dos itinerários e das disciplinas eletivas. Além de redigir os documentos, redes e escolas precisam criar formas de comunicar suas propostas aos estudantes e familiares com uma linguagem acessível e convidativa.

Contribuíram para esse capítulo

Anna Penido

especialista em educação

Gelson Henrique

jovem empreendedor social e um dos idealizadores da Caravana Itinerante da Juventude (CI-JOGA)

Gustavo Cezario

gerente da Unidade de Cultura Empreendedora do Sebrae Nacional

Luiza Iolanda Cortez

professora e integrante da equipe pedagógica da Comissão Executiva de Educação Integral da Paraíba

Katia Smole

diretora do Instituto Reúna

Por que é importante?

Ao conectar o empreendedorismo social com a educação, redes, escolas e educadores têm a oportunidade de adotar práticas pedagógicas dinâmicas, ativas e criativas. O trabalho com essa abordagem reforça o papel de transformação atribuído à educação e prevê o desenvolvimento de competências e habilidades, como criatividade, resolução de problemas e trabalho em equipe, que dificilmente são desenvolvidos durante uma aula expositiva tradicional.

Nesse contexto, a professora Debora Garofalo, assessora especial de tecnologias da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, sugere que os educadores sejam estimulados a trabalhar com práticas que valorizem a autonomia e despertem o interesse dos estudantes. “Independente do caminho que o professor escolher, sem dúvida as metodologias ativas precisam estar presentes. Elas ajudam os estudantes a buscar soluções para problemas cotidianos”, aponta.

“Quando conversamos sobre metodologias ativas, sempre falamos sobre o papel do professor. Ele deve ser um mediador da aprendizagem, que consegue trazer o protagonismo do aluno e incentivar uma educação mais autoral.”

Vander Soares, professor de História e apoio pedagógicos em tecnologias educacionais

Entre as diferentes abordagens e práticas do campo das metodologias ativas que podem ser ser usadas para dar vida a um currículo que prevê o empreendedorismo social, ela destaca a educação baseada em projetos. “Você não consegue dissociar muito o empreendedorismo do trabalho com projetos”, reflete Debora. De acordo com ela, fases como a identificação de uma questão desafiadora, o desenvolvimento de uma estratégia de execução e o aprendizado por meio da experimentação, que estão muito presentes nesse tipo de abordagem pedagógica, também fazem parte do universo do empreendedorismo. “Precisamos dar oportunidade para os estudantes tentarem, errarem e replanejarem.”

Para desenvolver novas práticas pedagógicas, Pedro Verda, sócio-fundador da Verda Impacto Positivo e gestor de educação do Porto Social, no Recife (PE), diz que os educadores ainda podem trabalhar com um acervo de metodologias e ferramentas criativas, algumas inclusive criadas no mercado de gestão e inovação, como o canvas, o design thinking e as ferramentas ágeis de trabalho. “Eu sempre achei que as mesmas ferramentas criativas utilizadas em processos de inovação também poderiam ser trabalhadas na educação básica. Por que muitas vezes só começamos a falar sobre isso na universidade?”, questiona.

A partir da união de metodologias ativas e práticas criativas, ele afirma que as escolas podem ter ferramentas poderosas para trabalhar o empreendedorismo social e ao mesmo tempo desenvolver as competências gerais previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). “Muitas vezes as escolas não sabem como trabalhar essas competências no seu dia a dia. Então nós percebemos a necessidade de trazer o universo da inovação para dentro da educação básica.”

Dicas de Implementação

As práticas pedagógicas podem ser desenvolvidas e adaptadas conforme o contexto de cada instituição. A empreendedora social Guilhermina Abreu, co-fundadora e CEO do Embaixadores da Educação, projeto que estimula jovens de escolas públicas a serem agentes de transformação, destaca que é importante promover experiências de aprendizagem que despertam o interesse e o engajamento dos estudantes. Para isso, ela sugere que eles sejam envolvidos em uma missão ou desafio estimulante. “Quando falamos sobre gamificação, não é apenas colocar adereços em uma atividade. A diversão precisa fazer parte do processo”, diz.

“Além de promover uma educação empreendedora, é importante conectar as práticas com o projeto de vida dos estudantes. Precisamos fazer esses meninos sonharem dentro da escola.”

Debora Garofalo, assessora especial de tecnologias da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

A partir da sua experiência com o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo social em escolas, Guilhermina também sugere que sejam desenvolvidas atividades inspiradoras. “O estudante precisa acreditar que ele pode fazer e que o projeto vai ser incrível para a vida, a escola e a comunidade dele. Todo mundo quer participar de alguma coisa relevante e especial.”

Confira algumas ações para repensar, adaptar ou construir novas práticas pedagógicas:

Sistematizar e compartilhar boas práticas pedagógicasIndicado para redes

Após mapear e valorizar boas práticas de empreendedorismo social desenvolvidas na rede, é fundamental que a secretaria de educação faça a sistematização dessas experiências para que elas possam ser replicadas e adaptadas em outros contextos.

Essas experiências, quando organizadas para consulta, podem inspirar e apoiar professores e escolas, ao mostrar que é possível desenvolver projetos e atividades em diferentes realidades educacionais. Além de servir como um conteúdo inspiracional e formador, a construção desse banco de boas práticas de empreendedorismo social também é uma forma de valorizar e estimular o trabalho do professor.

As práticas pedagógicas devem estar conectadas com os objetivos de aprendizagem e de desenvolvimento apresentados no currículo. Pensando nisso, as redes precisam oferecer apoio aos gestores escolares, coordenadores e educadores para que eles desenvolvam experiências educacionais inovadoras de empreendedorismo social.

Esse suporte pode vir por meio de formações, experiências, conexão com redes de apoio ou até mesmo a partir da elaboração de sequências didáticas que podem servir de inspiração para os educadores.

O empreendedorismo social requer uma abertura à experimentação e ao erro. Para possibilitar que jovens se sintam seguros na hora de criar e desenvolver os seus projetos, é importante demonstrar altas expectativas em relação a todos os estudantes.

Pesquisas da educação e da neurociência já demonstraram que as expectativas de aprendizagem influenciam no resultado e nas atitudes dos alunos. Portanto, quando secretarias de educação e escolas confiam e acreditam no potencial dos jovens, eles desenvolvem seus projetos com maior confiança.

Os desafios têm bom potencial de engajar os estudantes em projetos de empreendedorismo social e transformação da sua comunidade. Com temáticas diversas, que podem estar relacionadas a questões locais ou agendas globais, como os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da ONU (Organização das Nações Unidas), concursos e competições sensibilizam e motivam jovens a pensar em soluções criativas para problemas cotidianos.

A organização dos desafios pode ser feita tanto pela escola, pela secretaria de educação ou até mesmo por parceiros e organizações externas, como é o caso do Criativos da Escola, Respostas para o Amanhã, Technovation, entre outros.

Independente da metodologia ou do processo adotado, é importante que as práticas pedagógicas levem em conta os desafios, os interesses e os projetos de vida dos estudantes. Com esse olhar, os professores começam a identificar quais são as estratégias que podem ser desenvolvidas com a sua turma.

Também é relevante que os educadores criem pontos de conexão entre as atividades desenvolvidas e a vida dos estudantes. Por que é importante aprender a trabalhar em equipe? Como essa competência vai ser importante ao longo da vida? Esse tipo de relação ajuda o jovem a encontrar sentido na escola e nos projetos que são apresentados.

Por envolverem os estudantes no processo de construção do conhecimento, as metodologias ativas são grandes aliadas dos educadores para trabalhar empreendedorismo social. Além de estimular a autonomia e o protagonismo dos jovens, possibilitam aprofundar conhecimentos, trabalhar temas de forma transversal e promover o trabalho em equipe.

Dentro das metodologias ativas, existem inúmeras práticas e abordagens que dialogam com a proposta de trabalhar o empreendedorismo social e estimular que os estudantes sejam agentes de transformação nas suas comunidades. Entre elas, estão design thinking, ensino híbrido, sala de aula invertida, STEAM, maker e aprendizagem baseada em projetos.

Contribuíram para esse capítulo

Debora Garofalo

assessora especial de tecnologias da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Guilhermina Abreu

empreendedora social, co-fundadora e CEO do Embaixadores da Educação

José Moran

professor, pesquisador, cofundador do Projeto Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo) e mentor de projetos de transformação da educação básica e superior

Luiza Iolanda Cortez

professora e integrante da equipe pedagógica da Comissão Executiva de Educação Integral da Paraíba

Pedro Verda

sócio-fundador da Verda Impacto Positivo e gestor de educação do Porto Social, no Recife (PE)

Rosângela da Cal

pedagoga e apoio pedagógico em tecnologias educacionais da da Secretaria Municipal de Educação de Santos (SP)

Vander Soares

professor de História e apoio pedagógicos em tecnologias educacionais

Por que é importante?

Implementar uma proposta de empreendedorismo social na educação é uma oportunidade para redimensionar diversos papéis na comunidade escolar, como o do professor, que deve ser preparado para implementar mudanças curriculares e novas práticas educacionais. Programas de desenvolvimento profissional com este foco precisam se relacionar com o ecossistema de inovação, criatividade e transformação social.

Com práticas mão na massa, vivências, tutoriais e jornadas de desenvolvimento integral, a formação deve criar meios para que o professor possa experimentar diferentes processos e práticas do universo do empreendedorismo social. “O professor tem que ser um agente que experimenta, se engaja e cria possibilidades para os estudantes”, defende José Moran, professor, pesquisador, mentor de projetos de transformação da educação básica e superior e cofundador do Projeto Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo).

“Os educadores devem ter uma formação capaz de mudar hábitos mentais. Se não fizermos isso, vamos ter muita dificuldade, porque o empreendedorismo vai estar sempre restrito a uma disciplina ou um projeto a parte. É bom que tenha pelo menos isso, mas a ideia é que a escola seja uma comunidade que aprende empreendendo.”

José Moran, pesquisador, professor e mentor de projetos de transformação da educação básica e superior

Além de trabalhar o entendimento sobre o que é empreendedorismo social e como ele pode estar aplicado no currículo do ensino médio, Moran destaca que redes e escolas devem propor reflexões e práticas para que toda a comunidade escolar passe por uma mudança de mentalidade, que aceita o erro como parte do processo de aprendizagem, promove a autoria e se abre para o uso de metodologias ativas.

A construção desse ambiente dinâmico e colaborativo também impulsiona que os professores desenvolvam novas práticas pedagógicas. “Os educadores devem ter uma formação capaz de mudar hábitos mentais. Se não fizermos isso, vamos ter muita dificuldade, porque o empreendedorismo vai estar sempre restrito a uma disciplina ou um projeto a parte. É bom que tenha pelo menos isso, mas a ideia é que a escola seja uma comunidade que aprende empreendendo”, aponta o professor e pesquisador.

Essa formação pode acontecer por meio de programas desenvolvidos pela secretaria de educação, mas o ideal é que as escolas também se reconheçam como instituições formadoras. “O processo de formação continuada precisa ser orgânico e intrínseco a uma escola. Todos os espaços de reunião, planejamento coletivo e reflexão individual promovem o aprendizado”, afirma Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka.

“Precisamos formar o professor dentro da lógica dele também se enxergar e se sentir empoderado para transformar o ambiente escolar”

João Souza, empreendedor da aceleradora Fa.vela, de Belo Horizonte (MG)

A partir da reflexão coletiva da equipe, os professores vivenciam experiências contínuas de aprendizado e compartilham seus projetos com os colegas. “A escola se torna um centro de produção de conhecimento, e a formação acontece nesse espaço de refletir sobre a prática”, destaca Helena.

Dicas de Implementação

Para que os professores apoiem os estudantes no desenvolvimento de projetos de transformação social e ambiental, é necessário que eles também tenham a oportunidade de vivenciar os princípios e as práticas do empreendedorismo social no seu ambiente de trabalho e nos seus espaços de formação. “Precisamos formar o professor dentro da lógica dele também se enxergar e se sentir empoderado para transformar o ambiente escolar”, diz João Souza, empreendedor da aceleradora Fa.vela, de Belo Horizonte (MG).

Entre os aspectos que são fundamentais para orientar a formação de professores, João destaca o exercício do protagonismo e da autonomia dos educadores para explorarem novas possibilidades de ensinar e aprender.

Confira algumas ações para formar professores:

Incentivar uma mudança de mentalidade na comunidade escolar Indicado para escolas e redes

Para desenvolver as competências próprias do empreendedorismo social, como abertura ao erro, criatividade, colaboração, empatia e inovação, redes e escolas precisam estar dispostas a rever suas políticas e práticas e adotar métodos mais conectados com os desafios atuais.

Essas novas experiências devem provocar reflexões e atitudes que consigam impulsionar uma mudança na mentalidade dos educadores. Para isso, é necessário apoiá-los e encorajá-los a experimentar métodos e processos do empreendedorismo social, que podem ser aplicados em várias dimensões da vida.

Como as etapas de elaboração de um projeto podem ajudar o educador a se organizar melhor para atingir um objetivo pessoal? Como a criatividade possibilita que ele tenha melhores resultados na sua trajetória profissional? De que forma a empatia é importante para suas relações cotidianas? A partir dessa mudança de mentalidade, os educadores conseguem empreender transformações nas suas próprias aulas.

A formação continuada em serviço é um espaço fundamental para que os educadores estejam em constante aperfeiçoamento. Portanto, a escola também precisa se reconhecer como uma instituição formadora de professores que promove momentos de estudo e reflexão sobre a prática docente.

Por meio de reuniões pedagógicas, rodas de conversa, encontros de formação, vivências e estudos de caso, os educadores têm a oportunidade de refletir sobre desafios da própria escola e sobre como o empreendedorismo social pode apoiar o desenvolvimento dos estudantes. Além disso, nesses espaços eles podem trocar experiências com colegas de outras áreas de conhecimento e dar início a um projeto interdisciplinar.

Para que os educadores reconheçam o empreendedorismo social como uma prática que desenvolve competências e que apoia os estudantes na construção do seus projetos de vida, eles precisam identificar como essa proposta se conecta com os objetivos expressos em documentos educacionais como a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e as diretrizes para o Novo Ensino Médio.

É importante que as secretarias de educação apresentem essas relações de forma clara, promovendo encontros de formação presenciais, cursos online, seminários, tutorias, vivências, trocas de experiências, entre outras iniciativas. Afinal, os professores são parte fundamental do processo de implementação de um novo currículo ou proposta educacional.

A integração entre teoria e prática é fundamental para qualquer programa de formação de professores. Além de refletir sobre referenciais teóricos, os educadores também precisam ter a oportunidade de estar em contato com experiências concretas de como promover o empreendedorismo social na escola e vivenciar diferentes práticas pedagógicas inovadoras.

Outra possibilidade é oferecer a professores a chance de aprender e compartilhar saberes com empreendedores sociais, bem como se envolver na construção e implementação de uma iniciativa de transformação social.

Tal variedade de experiências é necessária tanto para mostrar ao professor que é possível desenvolver projetos de impacto em diferentes contextos como para prepará-lo a trabalhar esse tema com seus estudantes.

Para criar um programa de formação docente com foco em empreendedorismo social, também é importante considerar o desenvolvimento do professor em todas as suas dimensões, não apenas do ponto de vista intelectual, mas também no afetivo, no social e no físico.

Quando os educadores têm a oportunidade de refletir sobre suas emoções e propósitos de maneira integrada com o corpo e a mente, são estimulados a vivenciar transformações no seus pensamentos, sentimentos e ações. Por meio desse processo, podem reconhecer e desenvolver suas competências empreendedoras e senso de propósito.

Uma das formas mais efetivas de promover o desenvolvimento integral é proporcionando acesso a redes de apoio, que podem ser desde momentos de conversa entre pares dentro da escola, plataformas que conectem educadores por meio virtual e até sessões de tutorias com especialistas e empreendedores.

Contribuíram para esse capítulo

Fábio Muller

diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

Gustavo Cezario

gerente da Unidade de Cultura Empreendedora do Sebrae Nacional

João Souza

empreendedor da aceleradora Fa.vela, de Belo Horizonte (MG)

José Moran

professor, pesquisador, mentor de projetos de transformação da educação básica e superior e cofundador do Projeto Escola do Futuro da USP (Universidade de São Paulo)

Helena Singer

líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka

Lindsey Hall

presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation)

Por que é importante?

Avaliar, tanto no campo da educação como no do empreendedorismo social, é dar valor. Numa proposta que conecta esses dois universos, os processos avaliativos são fundamentais para alcançar objetivos da política educacional, de aprendizagem e dos próprios projetos a serem desenvolvidos.

Entre os fatores que devem ser acompanhados por gestores que organizam um plano de implementação desse tema em suas redes estão as próprias estratégias apresentadas neste guia: comunidade escolar, território, currículo, práticas pedagógicas e formação de professores. Para esse desafio, a publicação Avaliação na Educação Integral - Elaboração de novos referenciais para políticas e programas, elaborada pelo Centro de Referências em Educação Integral e Move Social, traz boas orientações.

“A avaliação também precisa ser empreendedora. Ela deve ser pensada de uma forma sistêmica, como uma dimensão fundamental para a aprendizagem.”

José Moran, pesquisador, professor e mentor de projetos de transformação da educação básica e superior

Outra dimensão a ser considerada e para a qual vamos olhar com mais atenção a seguir é a avaliação da aprendizagem dos jovens envolvidos. O desenvolvimento de competências complexas, como criatividade, trabalho em equipe e empatia, exige um processo avaliativo capaz de oferecer um retrato de todo o percurso trilhado pelo estudante durante a realização do seu projeto de empreendedorismo social.

Dentro dessa proposta, as secretarias de educação devem criar condições para que os educadores adotem avaliações conectadas com os objetivos de aprendizagem e de desenvolvimento apresentados no currículo. A ideia é que eles tenham suporte e diretrizes legais para optar por métodos e critérios de diagnóstico adequados para uma proposta pedagógica de empreendedorismo social. “Não podemos deixar que cada professor resolva essa dimensão sozinho. O apoio institucional é fundamental”, ressalta o professor e pesquisador José Moran.

“A avaliação é uma das etapas mais difíceis do processo de ensino e aprendizagem. Nós precisamos avaliar as habilidades que são desenvolvidas a cada aula.”

Renato Nunes, professor da rede estadual da Paraíba

Esse suporte pode ser oferecido de diferentes maneiras, que envolvem desde o desenvolvimento de políticas educacionais até a construção de instrumentos de apoio para a avaliação formativa. “De muitas maneiras, o empreendedorismo social nas escolas oferece um ambiente excelente para focar na avaliação de habilidades, em vez de conhecimento”, destaca Lindsey Hall, presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation). Em um processo que requer o esforço colaborativo de jovens, com um conjunto diversificado de talentos e habilidades, ela sugere que sejam adotados processos de avaliação reflexivos.

Entre as precauções que devem ser tomadas na hora de avaliar a aprendizagem que acontece por meio de um projeto de empreendedorismo social, Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka, destaca a superação de alguns paradigmas antigos no campo da educação. “O primeiro deles é o de que avaliação não se faz só no final, ela se faz no início. É importante fazer um diagnóstico de quais habilidades os estudantes já têm ou não, em que nível eles estão e o que desejam melhorar”, indica.

Além de fazer um diagnóstico inicial de habilidades, ela afirma que é fundamental que os estudantes também sejam envolvidos em um processo de reflexão contínuo. “Ao longo do processo é preciso marcar, acompanhar, avaliar e valorizar momentos em que se mostra o maior domínio de competências, até que no final há uma avaliação compartilhada entre os estudantes e os professores.”

“No caso do empreendedor de impacto, a avaliação é um grande guia. Ela sinaliza se estamos conseguindo atingir nossos objetivos.”

Maíra Pimentel, cofundadora da Tamboro

Por se tratar de uma aprendizagem conectada ao universo do empreendedorismo social, a avaliação também deve considerar um terceira dimensão que é o potencial de impacto das iniciativas planejadas e desenvolvidas pelos estudantes. “No caso do empreendedor de impacto, a avaliação é uma grande guia. Ela sinaliza se estamos conseguindo atingir nossos objetivos”, indica Maíra Pimentel, cofundadora da Tamboro. Ela defende que esse modelo também é muito potente para a educação, mas ressalta que os projetos não podem ser avaliados a partir de uma lógica punitiva.

"O professor é esse líder empreendedor que pode dar um feedback precioso para os estudantes”, afirma Luciano Meira, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e cofundador da Joy Street. Ele destaca que a avaliação também deve ajudar o estudante a refinar seu projeto, enquanto oferece pistas se ele está inovando e atendendo a uma demanda real.

Enquanto mensura o potencial de impacto do seu projeto, o estudante também tem a possibilidade de entender o erro como uma parte importante do processo de aprendizagem. “Ele precisa ter a flexibilidade de dizer que a ideia que ele teve não está funcionando”, diz Luciano.

“O empreendedor da sala de aula é o professor que é capaz de liderar a sua turma com propósitos inspiradores, contribuindo com a definição de metas claras de como organizar, produzir e realizar entregas.”

Luciano Meira, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e cofundador da Joy Street

Apesar do impacto ser uma dimensão complexa de acompanhamento, o professor da UFPE sugere que educadores e estudantes comecem com indicadores simples, como a adesão e o engajamento do público envolvido. “Tudo vai depender da energia e do tempo disponível para levantar indicadores, mas essas questões precisam ser desenhadas antes. Depois elas podem ser adaptadas, conforme o que é possível e factível fazer.”

Dicas de Implementação

Com apoio institucional da rede, os professores têm mais possibilidades de promover uma avaliação conectada com os objetivos de desenvolvimento e de aprendizagem de um projeto de empreendedorismo social. “A avaliação tem que fazer uma projeção de todo o processo de aprendizagem de trás para frente. Por que eu faço tudo isso? Aonde eu quero chegar? Avaliação deve ser feita para aprender”, diz Moran.

Confira algumas ações para promover a avaliação de processos e projetos:

Construir instrumentos de apoio para o processo avaliativo Indicado para redes

Além de incentivar que as escolas adotem modelos de avaliação mais adequados ao acompanhamento de projetos de empreendedorismo social, é importante que a secretaria de educação construa diretrizes de apoio para os educadores. Esses recursos servem como parâmetros para que escolas e professores construam seus instrumentos de avaliação.

Com base nas atitudes, habilidades, competências e conhecimentos previstos no currículo, podem ser elaborados modelos de rubricas, que trazem parâmetros definidos para avaliar o desenvolvimento do estudante em diferentes níveis, ou até mesmo publicações com orientação para a avaliação processual.

As formações e os eventos, que podem ser presenciais ou online, também são bons caminhos para debater novos paradigmas de como avaliar os estudantes. Nesses espaços, a secretaria de educação pode mapear e apresentar práticas que ajudam a promover a avaliação formativa.

Outra possibilidade é que esses momentos sejam utilizados para conectar os educadores com agentes do ecossistema de inovação e empreendedorismo social. Eles podem apresentar metodologias da área usadas para o acompanhamento de projetos e para fazer gestão de equipes, como o método kanban ou a avaliação 360 graus.

Apesar do empreendedorismo social incentivar o desenvolvimento de projetos que geram impacto na comunidade e no mundo, o resultado final não deve ser o único fator levado em conta durante o processo de avaliação da aprendizagem. Em alguns casos, por diferentes circunstâncias, como tempo ou falta de recursos, as ações ou produtos desenvolvidos pelos jovens podem não sair como o planejado, mas o processo de aprendizagem mesmo assim pode ser extremamente rico.

Para ter dimensão de todo o percurso trilhado pelos estudantes no desenvolvimento do projeto, os educadores devem fazer uma avaliação contínua de competências, habilidades e conhecimentos adquiridos. Esse olhar permite que avaliação ofereça retornos mais precisos sobre os pontos que os jovens precisam melhorar ou que já alcançaram resultados satisfatórios.

Já o produto final, mesmo não sendo considerado o elemento central, também ajuda a verificar se os estudantes atingiram os objetivos que foram propostos no início do percurso.

Como mencionado no item anterior, o produto final não pode ser o único elemento a ser avaliado durante o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo social. Mas faz parte do processo de aprendizagem para promover transformações no mundo, se preocupar com o potencial de impacto dos serviços e soluções propostos. Portanto, logo no início do projeto devem ser definidos critérios para mensurar se os estudantes estão atingindo o seu objetivo. Entre outros elementos, é possível olhar para o grau de inovação do produto e a capacidade dele atender a uma demanda real.

A partir de critérios sugeridos inicialmente pelos professores, os jovens podem tentar estudar o potencial de impacto do seu projeto. Se eles desenvolveram uma iniciativa para fomentar a leitura na comunidade, por exemplo, podem tentar verificar quantas pessoas tiveram acesso aos livros, quantas leram, quais livros foram mais procurados ou se alguém se inspirou a ponto de criar um clube do livro.

Para avaliar a aprendizagem enquanto os estudantes constroem um projeto ou produto de empreendedorismo social, os educadores podem dividir esse processo em etapas. Cada uma delas pode ser composta por um desafio que demonstra se determinadas competências foram ou não desenvolvidas, oferecendo aos jovens a possibilidade de refazer ou aprimorar a sua proposta continuamente.

Se os estudantes tiveram que construir um projeto de intervenção na comunidade, por exemplo, como primeira etapa de entrega eles podem levantar os desafios e as oportunidades de empreender socialmente no território. Nas outras etapas, os jovens são estimulados a apresentar uma proposta de valor do seu projeto e organizar tarefas até chegar ao desenvolvimento de um produto final.

Quando se trata de um projeto ou atividade de empreendedorismo social, em que a autonomia e o protagonismo são elementos fundamentais do processo de ensino e aprendizagem, também é importante que a avaliação ofereça espaço para as reflexões dos estudantes.

Os educadores podem pedir para os jovens fazerem uma autoavaliação de como foi o seu empenho durante o projeto ou até mesmo avaliarem os colegas do grupo. Essa análise pode trazer novos insumos para o processo de avaliação, possibilitando uma visão mais precisa de conhecimentos mobilizados e competências desenvolvidas pelos estudantes.

Para celebrar o desenvolvimento de projetos criados pelos estudantes, também é interessante que a escola promova eventos, feiras de empreendedorismo, mostras e atividades abertas aos familiares, membros da comunidade e integrantes do ecossistema de inovação e empreendedorismo.

O compartilhamento é uma etapa importante para valorizar os aprendizados e as conquistas dos estudantes, além de ser uma boa oportunidade de se aproximar da comunidade e dar um retorno sobre tudo o que foi produzido. Esse momento também pode ser uma oportunidade para que os jovens ampliem a sua rede de contatos e recebam feedbacks. A partir de sugestões dos visitantes, eles podem aprimorar seus projetos e ampliar o seu potencial de impacto.

Contribuíram para esse capítulo

José Moran

pesquisador, professor e mentor de projetos de transformação da educação básica e superior

Helena Singer

líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka

Lindsey Hall

presidente-executiva da RIO (Real Ideas Organisation)

Luciano Meira

professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e cofundador da Joy Street

Maíra Pimentel

cofundadora da Tamboro

Renato Nunes

professor da rede estadual da Paraíba

Expediente

  • Coordenação do projeto
  • Ana Paula Bessa (British Council), Carla Uller (Oi Futuro), Fabio Meirelles (Oi Futuro), Fernanda Sarmento (Oi Futuro), Flávia Vianna (Oi Futuro), Isabela Milanezzi (British Council), Luis Felipe Serrao (British Council), Marina Lopes (Porvir), Regiany Silva (Porvir), Tatiana Klix (Porvir).
  • Produção executiva
  • Regiany Silva
  • Edição
  • Tatiana Klix
  • Textos
  • Marina Lopes, com apoio de Fernanda Nogueira (casos Escola Estadual Américo Martins e Social Enterprise Academy) e Luciana Alvarez (Escola Jardim Buscardi)
  • Vídeos
  • Marina Lopes e Vinicius de Oliveira (roteiro e entrevistas); Rastro (captação, edição e finalização)
  • Podcasts
  • Marina Lopes (roteiro), Rodrigo Paciência (edição), Tatiana Klix (apresentação)
  • Design e Desenvolvimento
  • Sintropika
  • Consultoria para infográfico sobre ensino médio
  • Anna Penido
  • O conteúdo foi produzido a partir da contribuição de representantes dos campos educação e empreendedorismo social, que se reuniram no encontro Empreendedorismo Social na Educação: Como Aproximar os Dois Universos, em 13/02/2020:
  • Adriana Barbosa (Feira Preta), Alan Nascimento (Oi Futuro), Alison Fagner de Souza e Silva (Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco), Andrea Gomides (Instituto Ekloos), Anna Penido (Instituto Inspirare), Bárbara Gazal (Oi Futuro), Bárbara Soares (Nave Rio), Bernardo Mendonça dos Santos (egresso Nave-Rio), Carla Teixeira Panisset (Sebrae), Carlos Humberto da Silva Filho (Diáspora Black), Carol Marceli (egresso Nave-Rio), Cristina Becker (British Council), Daielly Melina Nassif Mantovani Ribeiro (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - FEA/USP), Erick Simões de Matos (Nave Recife), Fabiano Farias de Souza (Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro), Fábio Deboni da Silva (Instituto Sabin), Fabio Miller (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável - CIEDS),
  • Gelson Henrique (CI-JOGA), Gustavo de Lima Cezário (Sebrae), Helena Singer (Ashoka), Iasmim Alves (Mais Torcedoras), João Souza (FA.VELA), Júlia Pinheiro Andrade (Ativa Educação), Juliana Guimarães (British Council), Karina Trotta (Oi Futuro), Katia Smole (Instituto Reúna), Lindsey Hall (RIO), Maíra Pimentel (Tamboro), Marina Lopes (Porvir), Raimundo das Graças Lima Xavier (Projeto Social Ação Parceiros e Espaço de Aprendizagem Criativa Comunitário), Rafael Parente (ex-secretário de educação do Distrito Federal), Raquel Souza (Instituto Unibanco), Rita Afonso (UFRJ), Roan Saraiva (Oi Futuro), Robson Melo (Estante Mágica), Silvana Bahia (Olabi), Ruth Espinola (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ), Vinícius de Oliveira (Porvir).
  • *Instituições que estão associadas aos nomes são as que eles e elas representavam na data do evento.