Em uma sociedade marcada por desigualdades e problemas socioambientais, recentemente agravados pela pandemia de COVID-19, o empreendedorismo social consegue reforçar o papel da educação de promover projetos e práticas que proporcionem aos estudantes a chance de reconhecer seu potencial de transformação e geração de impacto positivo.
Por que é importante?
A mobilização da comunidade escolar é um fator decisivo para a implementação de um projeto educacional. Com o empreendedorismo social não poderia ser diferente. Para promover mudanças no currículo, criar uma disciplina eletiva ou implementar uma nova prática dentro da escola, é muito importante que coordenadores, professores, funcionários, estudantes e famílias estejam envolvidos nesse processo.
A secretaria de educação tem um papel importante para estimular o engajamento de escolas, comunicar intenções de forma clara a diretores e oferecer apoio para que eles mobilizem a comunidade escolar em torno do empreendedorismo social. No entanto, a proposta não pode ser idealizada somente pela gestão. “Projetos de secretários de educação raramente funcionam. É preciso apresentar a ideia aos gestores para que eles se sintam confortáveis. O projeto só vai acontecer na prática quando eles se apaixonarem pela proposta”, diz Cristiana Berthoud, secretária de Educação de Tremembé (SP).
“Tudo começa com a comunidade escolar se reconhecendo como uma equipe que tem um projeto em comum.”
Helena Singer, líder da estratégia de juventude para América Latina na Ashoka.
Para garantir o envolvimento e a identificação de todos, essa agenda precisa ser construída a muitas mãos, segundo Fábio Muller, diretor executivo do CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável). "Quando a comunidade escolar se envolve na construção de um projeto, ela consegue perceber valor naquilo que está sendo proposto. Ela também entende que esse processo vai render frutos positivos para a escola e para a aprendizagem dos estudantes”, destaca Fábio.
Além de perceber os possíveis impactos do projeto, durante um processo colaborativo, a comunidade escolar consegue se identificar mais com uma proposta que considera suas opiniões e necessidades. “Não é trazer uma imposição nova, mas adotar uma abordagem de cooperação. Perguntar o que já está sendo feito na escola, como aquelas ações podem ser potencializadas e quais questões eles gostariam de priorizar”, indica Beatriz Aquino, consultora do Instituto Tellus, que acompanhou a implementação do projeto Faz Sentido em redes estaduais e municipais de educação de diferentes regiões do Brasil.
De acordo com ela, é muito importante pensar que existe um fator humano por trás de toda proposta de construção e implementação de um projeto educacional. “A escola é um ambiente complexo que reúne diversos atores. São gestores, professores, alunos, famílias e as comunidades do entorno. Cada um tem as suas próprias necessidades e interpretações de mundo”, ressalta, ao considerar que sejam mantidas relações de respeito e afeto para mobilizar a comunidade escolar.
"A corresponsabilidade e a parceria entre escolas, secretarias e os atores da comunidade é fundamental", diz a professora Luiza Iolanda Cortez, que hoje atua na Secretaria de Estado da Educação e Ciência e Tecnologia da Paraíba com a implementação de uma disciplina de inovação e empreendedorismo social nas escolas. Sem o engajamento dos estudantes, das famílias e, principalmente, dos educadores, ela diz que é muito difícil que as redes consigam tirar os projetos do papel. "Eles podem existir no currículo, mas não existiriam na prática por falta de adesão. E a gente só consegue adesão quando conquista."