O fortalecimento do extremismo no Brasil é responsável pelo crescimento da onda de ataques às escolas, deixando um rastro de medo, insegurança e traumas. Confira orientações, experiências e recursos para combater o ódio e frear a disseminação de desinformação
Fenômeno que espalha o ódio contra as diversidades impulsiona ataques às escolas
No dia 27 de março de 2023, Ilma Aparecida Alvez viveu o que define como um dos piores dias da sua vida. Por volta das 8h da manhã soube que a Escola Estadual Thomazia Montoro, onde o filho estuda, estava na televisão por causa de um ataque armado. Começou uma busca desesperada por informações. Apenas no início da tarde pôde reencontrar Miguel e ouvir: “Mãe, não chora! Eu tô bem.”
As lembranças desse dia deixaram marcas em Ilma. “Não é fácil digerir. Meu corpo fica todo enrijecido só de falar sobre isso”, relata a mãe. O filho, que na época tinha 12 anos, também carrega traumas que se manifestam ao dormir. “É cada pulo que ele dá na cama enquanto sonha!”, revela.
Ouça o depoimento de
Ilma Aparecida Alvez do Espírito Santo
Localizada na cidade de São Paulo, a Thomázia Montoro entrou para uma estatística trágica na história do país: 36 ataques foram realizados em 37 escolas brasileiras (em um dos casos, o mesmo atirador atacou duas escolas), sendo que quase 60% deles aconteceram entre fevereiro de 2022 e outubro de 2023. Até agora foram 35 vítimas fatais. Dentre elas, a da professora de ciências Elisabeth Tenreiro, que era uma das preferidas de Miguel e, aos 71 anos, conduzia a disciplina Projeto de Vida.
Nove dias depois, quatro crianças foram mortas em outro episódio de violência extrema na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC). Em junho, um novo ataque deixou duas vítimas fatais, desta vez no Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé (PR). Em outubro, um ataque no colégio particular Dom Bosco, em Poços de Caldas (MG), deixou um morto e três feridos. Com um intervalo de pouco mais de uma semana, um adolescente de 16 anos entrou armado na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo (SP). Uma estudante morreu e outras três pessoas ficaram feridas.
Onda de ódio
Entenda a diferença entre extremismo, terrorismo e radicalização
Extremismo: Ideologia, comportamento ou atitude de um indivíduo ou de um grupo que tem uma determinada visão de mundo, intolerante às demais, e que está disposto a impor esta visão sobre outros com ou sem o uso de violência.
Terrorismo: Ato de violência levado a cabo por indivíduos, grupos ou até mesmo Estados contra determinados alvos civis. Neste caso, a pretensão é atingir uma audiência maior, visando determinado objetivo político.
Radicalização: Processo de transformação que leva o indivíduo de uma posição de normalidade até adoção de atitudes extremistas e, em fases mais avançadas, concretização de atos de terror. A internet, sobretudo através das redes sociais, permite maior autorradicalização de indivíduos pela disponibilidade de informação e facilidade de acesso a grupos extremistas.
Fonte: SITOE, Rufino. Extremismo, Radicalismo e Radicalização: uma distinção necessária no debate sobre o Terrorismo. Artigo. Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI). Moçambique, 2022.
Esses ataques a escolas não são casos isolados. De acordo com o relatório “Ultraconservadorismo e extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às instituições de ensino e alternativas para a ação governamental”, os recentes episódios de violência estão inseridos em um contexto de avanço do extremismo no país e da falta de controle dessas práticas e discursos, incluindo a sua livre disseminação nos meios digitais. O documento, publicado em dezembro de 2022, foi elaborado por 11 pesquisadoras e ativistas dedicadas à educação pública e à prevenção do extremismo no país. Ele foi organizado e entregue ao Governo de Transição por Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
“Há uma hipótese bem documentada por pesquisadores de que quatro anos de radicalização produziram uma normalização dos discursos de ódio. Estudos mostram que governos de direita radical empoderam e normalizam discursos extremistas, como também foi o caso dos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump”, explica David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Ataques violentos contra escolas costumavam ser raros no Brasil, mas a recorrência aumentou a partir de 2019, conforme o “Raio-x de 20 anos de ataques em escolas no Brasil”, produzido pelo Instituto Sou da Paz.
Nesta época, em meio ao debate sobre afrouxar as regras de acesso civil a armamentos, um ex-aluno de 25 anos e um aluno de 17 anos invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), e assassinaram um comerciante local, tio de um dos agressores, a coordenadora pedagógica, a inspetora e cinco estudantes com idades entre 15 e 17 anos.
O ataque foi planejado por cerca de um ano e meio, por meio de trocas de mensagens. Minutos antes, um dos agressores postou foto nas suas redes sociais. Desde então, o caso se tornou inspiração para muitos atentados que aconteceram nos anos seguintes, com ampla disseminação nas chamadas comunidades mórbidas da internet.
Confira a linha histórica dos casos de violência extrema nas escolas
Fonte: VINHA, T., GARCIA, C., et al. Ataques de violência extrema em escolas: causas e caminhos. São Paulo, D3e, nov. 2023.
Quais escolas sofreram ataques
2001
Escola estadual em Macaúbas (BA)
- Feridos: 6 estudantes
- Vidas perdidas: 1 (atirador – suicídio)
2002
Colégio particular em Salvador (BA)
- Vidas perdidas: 2 estudantes
2003
Escola estadual em Taiúva (SP)
- Feridos: 6 estudantes e 1 professora
- Vidas perdidas: 1 (atirador – suicídio)
2008
Escola estadual em Cariacica (ES)
- Feridos: 1 diretora
2011
Escola municipal em Realengo, Rio de Janeiro (RJ)
- Feridos: 12 estudantes
- Vidas perdidas: 12 estudantes e o atirador (suicídio)
Escola municipal em São Caetano do Sul (SP)
- Vidas perdidas: 1 estudante
2012
Escola estadual em Santa Rita (PB)
- Feridos: 3 estudantes
2017
Colégio particular em Goiânia (GO)
- Feridos: 4 estudantes
- Vidas perdidas: 1 estudante
Escola estadual em Alexânia (GO)
- Vidas perdidas: 1 estudante
2018
Escola estadual em Medianeira (PR)
- Feridos: 2 estudantes
2019
Escola estadual em Suzano (SP)
- Feridos: 11 pessoas, entre estudantes e funcionários da escola
- Vidas perdidas: 5 estudantes, 2 funcionárias da escola (coordenadora pedagógica e inspetora) e 2 atiradores (suicídio)
Escola estadual em Teresina (PI)
- Não houve feridos
Escola estadual em Charqueadas (PR)
- Feridos: 6 estudantes e 1 professora
Escola estadual em Caraí (MG)
- Feridos: 2 estudantes
2021
Colégio particular em Americana (SP)
- Feridos: 1 orientadora educacional
2022
(56,25% dos ataques aconteceram entre fevereiro de 2022 e junho de 2023)
-
Colégio particular em São Paulo (SP)
- Feridos: 2 estudantes
-
Escola Municipal de Educação Infantil em Saquarema (RJ)
- Não houve feridos
-
Escola municipal no Rio de Janeiro (RJ)
- Feridos: 4 estudantes
-
Escola municipal em Vitória (ES)
- Não houve feridos
-
Escola municipal em Barreiras (BA)
- Vidas perdidas: 1 estudante
-
Escola municipal no Morro Chapéu (BA)
- Feridos: 1 coordenadora pedagógica
-
Escola Estadual de Ensino Médio de Tempo Integral em Sobral (CE)
- Feridos: 3 estudantes
- Vidas perdidas: 1 estudante
2023
Escola estadual em Monte Mor (SP)
- Não houve feridos
Escola estadual em São Paulo (SP)
- Feridos: 2 estudantes e 3 professoras
- Vítima fatal: 1 professora
Escola municipal no Rio de Janeiro (RJ)
- Não houve feridos
Escola particular em Manaus (AM)
- Feridos: 2 estudantes e 1 professora
Escola estadual em Santa Tereza de Goiás (GO)
- Feridos: 3 estudantes
Escola municipal em Farias Brito (CE)
- Feridos: 2 estudantes
Escola municipal em Campo Grande (MT)
- Feridos: 1 mãe de um aluno
Escola estadual em Cambé (PR)
- Vidas perdidas: 2 estudantes
Colégio particular em Poços de Caldas (MG)
- Feridos: 3 pessoas
- Vidas perdidas: 1
Escola estadual em Leme (SP)
- Feridos: 1 estudante
Escola estadual em São Paulo (SP)
- Feridos: 3 pessoas
- Vidas perdidas: 1
OBS: Os pesquisadores do GEPEM identificaram três ataques em escolas realizados por agentes externos (que não foram praticados por estudantes ou ex-estudantes) e que deixaram vítimas fatais. Aconteceram em uma escola municipal de Janaúba (MG), em 2017, na escola municipal de educação infantil em Saudades (SC), em 2021, e em uma creche particular em Blumenau (SC), em 2023.
“Esses grupos online se reúnem em torno de temas ou interesses relacionados a assuntos perturbadores, trágicos ou violentos, como assassinatos, massacres e tragédias”, explica Telma Vinha, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Unicamp, responsável pelo mapeamento dos ataques contra escolas.
Se antes as comunidades extremistas costumavam estar restritas à deep web, agora estão cada vez mais acessíveis na superfície da internet, em redes sociais como X (antigo Twitter), Instagram, Tik Tok, Telegram, Discord e Reddit. Funcionam disseminando o ódio contra determinados grupos sociais e incentivam a violência como forma de impor valores compartilhados, ligados à misoginia, racismo, homofobia e supremacia branca.
“Mesmo adolescentes não extremistas estão expostos a conteúdos de violência”, pontua Telma, enfatizando a necessidade de regulação e responsabilização das plataformas digitais.
Os alvos da intolerância
“O que fomenta o extremismo é o ódio às diferenças e, por isso, ele chega em qualquer lugar, em qualquer escola”, define Catarina de Almeida Santos, professora da faculdade de educação da Universidade de Brasília (UNB). De acordo com ela, é preciso combater toda natureza de ataque, inclusive aqueles que vigiam e punem professores por trabalharem temas que promovem a valorização das diversidades.
“O extremismo alimenta e fortalece um discurso de controle sobre a escola”, observa o professor José Augusto Souza dos Santos, da Escola Maria Dias Trindade, em Paripiranga (BA). “Um professor considerado doutrinador, de acordo com extremistas, é aquele que instiga, provoca e ajuda os estudantes desenvolverem suas opiniões. Então, os discursos deles também incitam o ódio contra professores”, pontua o educador, que pesquisa o tema em seu mestrado.
O que fomenta o extremismo é o ódio às diferenças e, por isso, ele chega em qualquer lugar, em qualquer escola
“A ideia de que a educação não deve tocar em certas feridas da nossa sociedade é sedutora para o senso comum”, explica a cientista social Marcele Frossard, que atua como assessora de programas e políticas sociais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. “Quando a gente tenta colocar a escola como um espaço neutro, fortalece a educação tecnicista em vez de uma educação democrática. A gente tira da agenda discussões sobre gênero, raça, classe social e sexualidade, e isso tem um impacto profundo na vida das pessoas e na nossa democracia”, ressalta Marcele.
Por outro lado, a escola não pode – e não deve – assumir toda a responsabilidade para a solução das violências que a atravessam, como destaca Catarina: “se a gente não olhar para a complexidade que envolve o extremismo, continuaremos atuando somente nas consequências e culpando as escolas pelas causas”.
Os rastros do ódio na escola
Para quem vive as consequências do ódio, a ação chega tarde. “Toda vez que um ataque se repete, o país falha com a minha filha e com todos que foram afetadas por essa violência”, afirma Adriana Silveira, mãe de Luiza Paula, assassinada aos 14 anos com um tiro disparado por um ex-aluno que invadiu a Escola Estadual Tasso da Silveira (RJ), em 2011.
O episódio brutal ficou conhecido como Massacre de Realengo e tem seus detalhes retratados na série documental da HBO Massacre na Escola: A Tragédia das Meninas de Realengo. “Meu maior medo é que essa situação se banalize, que as pessoas comecem a achar que é mais um caso. Mas a gente não pode aceitar isso! Perder vidas dentro da escola é um retrocesso muito grande. Não estamos falando de números, mas de possibilidades de futuros que se esvaem”, afirma Adriana.
Ouça o depoimento de
Adriana Silveira
Em um cenário como esse, as marcas que ficam na comunidade escolar vão além do luto e de traumas como os de Ilma, Miguel e Adriana. Conforme ressalta o estudo Ataques de violência extrema em escolas no Brasil, da Unicamp, também aumentam o risco de novas violências e contribuem significativamente para o surgimento de transtornos mentais, aumento do consumo de álcool e drogas, além do abandono escolar ou afastamento do trabalho.
Perder vidas dentro da escola é um retrocesso muito grande. Não estamos falando de números, mas de possibilidades de futuros que se esvaem
“A escola é um corpo social formado por grupos diversos que se interrelacionam e, por isso, está associada à identidade e ao sentimento de pertencimento. É diferente de um ataque a tiros em um terminal de ônibus, por exemplo”, explica Telma Vinha. “Os impactos negativos não recaem apenas sobre vítimas fatais e não fatais e suas famílias, mas também em todos os que continuam na escola, além de familiares e comunidade no entorno.”
Sob a coordenação de Telma, o GEPEM atuou no acolhimento e no retorno de atividades das escolas atacadas em Suzano (SP) e Aracruz (ES). A pesquisadora relata que foi preciso muita delicadeza e cuidado com os envolvidos. “Eles são o foco, não podemos lançar muita visibilidade em cima de algo tão sofrido”, diz. Ela conclui: “estamos lutando por políticas públicas em convivência democrática e cidadã na escola. É uma pena chegarmos a esse ponto para olharmos para o problema”.
Desinformação circula livremente pelas redes e coopta jovens para grupos extremistas
No auge da disputa eleitoral de 2022, o professor de língua portuguesa Ronney Marcos, do Centro de Excelência Atheneu Sergipense, em Aracaju (SE), percebeu que era necessário entender de onde vinham comentários enviesados que alguns estudantes faziam na sala de aula. Desconfiando das informações que circulam nas redes sociais, decidiu fazer um experimento controlado: criou um novo perfil no X (antigo Twitter) e começou a acessar contas que disseminavam desinformação.
À medida que ele visualizava publicações e seguia determinados perfis, a própria plataforma se encarregava de indicar outros conteúdos semelhantes. “De repente, eu me vi dentro de bolhas que não imaginava que existiam”, conta Ronney. Infiltrado em comunidades mórbidas, ele se deparou com grupos que incitam o ódio contra mulheres, publicações baseadas em teorias da conspiração, questionamentos sobre a eficácia das vacinas, perfis que propagam a supremacia branca e discursos de ódio dos mais variados.
“Esses grupos tinham um engajamento gigantesco. Eu fiquei assustado com a forma como eles eram extremamente organizados e conseguiam manipular a linguagem a seu favor”, conta o professor, que usou o experimento e o seu relato pessoal como uma forma de alertar os estudantes sobre as múltiplas camadas de desinformação e de ódio que estão presentes na internet.
Durante o experimento, Ronney desceu a chamada ‘toca do coelho’ para acessar as comunidades extremistas. Em uma alusão ao clássico livro ‘Alice no País das Maravilhas’, de Lewis Carroll, os especialistas usam essa expressão para descrever como as pessoas são atraídas para uma espécie de buraco, no qual são cada vez mais envolvidas por conteúdos de ódio e ataques às diversidades.
Em muitos casos, como aponta o relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental“, produzido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, os jogos online, como Roblox, Fortnite e Minecraft, podem ser a porta de entrada para esse universo. Nesses ambientes, os jovens se comunicam em chats públicos e começam a ser “seduzidos” por discursos extremistas. Quando manifestam simpatia por essas ideias, são convidados a migrar para espaços menos monitorados, como comunidades do Telegram e grupos do WhatsApp.
Toca do coelho
Em redes sociais, como X, Instagram, Tik Tok, Facebook e YouTube, ao buscar conteúdos relacionados aos jogos online, os jovens também começam a ter contato com discursos mascarados. Ao interagir com eles, são levados pelo algoritmo para conteúdos cada vez mais extremos. “Não é que as redes sociais dão prioridade a esse tipo de conteúdo, mas ao compartilhar, encaminhar, visualizar e curtir, você alimenta o algoritmo”, explica o educador e jornalista Alexandre Le Voci Sayad, diretor da ZeitGeist e co-chairman da UNESCO MIL Alliance.
Existem inúmeras pesquisas que provam como a desinformação pega as pessoas pelo emocional, e não pelo racional
Por conta dessa lógica dos algoritmos, existe uma ligação direta entre o extremismo e a desinformação que circula no ambiente digital, segundo Alexandre. “Existem inúmeras pesquisas que provam como a desinformação pega as pessoas pelo emocional, e não pelo racional”, afirma. Então, explica, a estratégia por trás da propagação do ódio está justamente na atração de pessoas vulneráveis, seja por medos, ausências e abandonos ou até mesmo por terem sido vítimas de bullying. Nessas comunidades, elas se sentem acolhidas e, muitas vezes sem se dar conta, são recrutadas por um discurso sedutor, que pode ser enganoso, impostor, fabricado, falso, manipulado, impreciso ou parodiado. “O discurso de ódio vai se colar em quem está precisando ouvir uma resposta simplória e emocional. Ele não tem comprometimento com dados ou referências.”
“Os discursos de ódio são usados como uma estratégia para engajar as pessoas porque atingem o âmago dos seus preconceitos”, complementa a psicóloga Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da Safernet Brasil. De acordo com ela, esses conteúdos têm sempre um alvo específico: negros, mulheres, pessoas LGBTQIAP+, pessoas provenientes de determinada região do país, como nordestinos e nortistas, e pessoas com uma determinada orientação religiosa, principalmente de matriz africana.
No último ano, de acordo com os indicadores da Central Nacional de Denúncias da Safernet, os casos de crimes relacionados a discursos de ódio na internet cresceram quase 70% em comparação com o ano anterior. Em 2022, os crimes de ódio que tiveram maior aumento foram xenofobia (874%), intolerância religiosa (456%) e misoginia (251%). Por sua vez, em 2020, as denúncias de neonazismo tiveram um crescimento de 740,7%, enquanto as de racismo aumentaram 147,80%.
Os discursos de ódio são usados como uma estratégia para engajar as pessoas porque atingem o âmago dos seus preconceitos”
Ao analisar esses dados, é preciso considerar que os discursos de ódio não crescem e se propagam apenas porque a sociedade é preconceituosa, conforme explica o advogado Camilo Caldas, relator do grupo de trabalho criado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para combater discursos de ódio e extremismo. “Existem núcleos organizados trabalhando nessa propagação para ganhar capital político e dinheiro, já que esse conteúdo é monetizado pelas plataformas digitais.”
Em uma lógica de simplificação, sem qualquer evidência científica, muitas vezes os discursos de ódio são construídos a partir de teorias da conspiração. Meninos que sofreram desilusões amorosas são levados a acreditar que o feminismo precisa ser combatido. Negacionistas espalham ódio contra os judeus, afirmando que o holocausto foi inventado ou exagerado. Ultraconservadores disseminam o medo e convocam as pessoas a combaterem uma suposta ameaça comunista que vai colocar em xeque a liberdade, a família, a moral e as estruturas sociais.
Teoria da Conspiração
Hipóteses ou especulações para explicar assuntos complexos de forma simplista. Sem compromisso científico, as teorias da conspiração constroem uma narrativa de antagonismo do bem contra o mal, sugerindo que grupos de pessoas ou organizações têm um plano secreto para se beneficiar.
“As teorias da conspiração constroem um antagonismo fica entre o bem e o mal. Elas impulsionam as pessoas a entrarem em uma cruzada para derrotar o mal”, diz a jornalista Beatriz Buarque, fundadora da organização não-governamental Words Heal the World (Palavras Curam o Mundo, em livre tradução), que capacita jovens para desconstruir discursos de ódio e extremismo. “Se você tem narrativas na internet oferecendo esse senso de pertencimento e essa oportunidade dos jovens bancarem o herói, eles vão continuar pulando de um vídeo para o outro, de uma plataforma para outra. Vão continuar produzindo dados para as redes sociais, é um ciclo.”
Para a especialista em tecnologias na educação Mariana Ochs, coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, é preciso entender os mecanismos algorítmicos que levam à radicalização dos jovens. “Quanto mais o jovem consome esse tipo de conteúdo, mais ele recebe esse conteúdo. Até que ele chega em um ponto que chamamos de câmara de eco”, explica. Esse fenômeno do comportamento algorítmico insere o indivíduo em um universo em que não existem opiniões divergentes, apenas conteúdos que reforçam suas crenças e opiniões pessoais. “Ele fica em um looping de conteúdos violentos, até que a sua visão de mundo passa a ser essa”, completa.
Câmaras de eco
Fenômeno do comportamento algorítmico que insere o indivíduo em um universo em que não existem opiniões divergentes. Ao ocultar conteúdos considerados irrelevantes ou indesejáveis para o usuário, as redes sociais passam a reproduzir apenas informações que reforçam crenças e opiniões.
Nesses grupos, autores de massacres se tornam ícones. É comum encontrar mensagens de ataque às diversidades e simbologias neonazistas, como a máscara de caveira, que também foi utilizada pelo atirador de Suzano. Para eles, alcançar visibilidade por matar o maior número de pessoas possíveis é visto como uma espécie de prêmio. Por isso, muitos dos ataques às escolas são planejados e anunciados antes nas redes sociais.
“Precisamos aprender a reconhecer os sinais de alguém que pode estar sendo cooptado por um ambiente online de radicalização”, reforça Mariana. Na avaliação da professora Lília Melo, cofundadora do projeto Cine Clube TF, em Belém (PA), esses sinais podem estar muito mais próximos e visíveis do que os educadores e pais imaginam. “As sinalizações estão no corpo, na roupa, na linguagem, na postura, na entonação”, afirma a educadora, ao mencionar que é preciso enxergar esses sujeitos, fazer a leitura desse universo e, quando preciso, buscar ajuda. “Eles escrevem muitas coisas na carteira, na parede, na porta do banheiro. Será que o professor já foi ao banheiro do aluno dar uma visitada? Às vezes é importante.”
Apesar de defender que os educadores devem estar atentos a esses sinais, Lília reforça que a complexidade do problema exige um trabalho conjunto, entre famílias, escolas, governo e plataformas. “Não dá pra achar que vamos resolver o problema de violência dentro das escolas somente com escuta.”
Cooptados pelo extremismo têm características e experiências comuns, como o isolamento e muitas relações sociais pela internet
Os motivos pelos quais adolescentes se conectam com essas comunidades extremistas são tão complexos quanto as estratégias utilizadas para a radicalização. “É como um buffet de saladas em que o indivíduo agressor se conecta com diferentes conceitos extremistas e vai montando o prato dele de acordo com seus desejos e necessidades”, explica Michele Prado, que pesquisa processos de radicalização online e integra o Monitor do Debate Público no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP).
Ao acompanhar as pegadas digitais do agressor responsável pelo ataque em Cambé, em junho de 2023, Michele descobriu que ele havia passado por um processo de radicalização ao longo dos últimos quatro anos e que postava com frequência em suas redes sociais, principalmente no X (antigo Twitter) e no Facebook, vídeos com marcadores estéticos de grupos terroristas de extrema-direita, como ideologia incel, casaco do tipo sobretudo preto e gamificação da violência. O agressor também tem um perfil semelhante ao de outros autores de ataques: em geral, são jovens do sexo masculino, quase sempre brancos, com idade média entre 13 e 15 anos.
É uma geração que exige de nós, adultos uma nova postura
Eles estão inseridos em um contexto que o neuropsicólogo Hugo Monteiro Ferreira chamou de a “geração do quarto”. Passam mais de seis horas por dia visivelmente isolados dentro do quarto, constroem relações sociais majoritariamente pela internet, apresentam adoecimento psíquico e emocional, solidão e sensação de vazio existencial, sentimento de rejeição, incompreensão ou abandono e comportamento perigoso e/ou violento contra si mesmo (autolesão, ideação suicida, uso abusivo de álcool e drogas) e contra outros.
“Esse diagnóstico nos ajuda a entender por que alguns jovens se conectam com narrativas de ódio e violência na internet e se voltam contra a escola, que é um espaço público e concentrado de sujeitos. É uma geração que exige de nós, adultos uma nova postura”, afirma a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora do programa de estudos e políticas sobre juventudes, educação e gênero da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso-Br).
Entenda quais fatores potencializam a radicalização de adolescentes e jovens:
Fragilidade emocional e pressões da idade
Vingança por bullying e humilhações sofridas na escola
Busca por propósito e pertencimento
Ausência de valores morais, éticos e democráticos
Falta de letramento midiático
Gestão democrática, educação midiática e educação para valorização das diversidades são caminhos para preparar os estudantes no combate aos discursos de ódio. Confira experiências em escolas públicas brasileiras que estão enfrentando o extremismo com o protagonismo dos jovens:
Para enfrentar situações de violência e narrativas de ódio na escola, é preciso saber nomeá-las e entender como elas se relacionam com questões históricas e estruturais da nossa sociedade.
Nesta seção, listamos casos que acontecem diariamente em escolas brasileiras. Você já presenciou algo parecido?
Explore os cards e clique nas situações para se aprofundar. Você terá acesso a uma curadoria especial de ferramentas, experiências e referências que podem apoiar sua prática na escola.
Racismo
Crença ou convicção de superioridade que distingue, exclui, restringe e dá preferência a uma pessoa ou um grupo com base na sua raça, cor, descendência ou origem nacional e étnica. O racismo gera desigualdades, adoecimento psíquico, problemas de aprendizagem e diversas formas de violência que impactam a qualidade e a expectativa de vida da população não branca.
Referências para se aprofundar
Recriar a escola sob uma perspectiva das relações étnico-raciais
E-book realizado pelo Instituto Alana, com conteúdo desenvolvido pelo Porvir, promove reflexões sobre os impactos do racismo, o papel da branquitude para o antirracismo e construção do currículo intercultural, apresenta experiências de práticas pedagógicas antirracistas em escolas brasileiras e indica livros para serem usados em diferentes etapas de ensino.
Coleção Antirracista
Em 8 episódios, disponíveis no canal do YouTube do Instituto Unibanco, a websérie reúne estudiosos do movimento negro para debater relações étnico-raciais no país. Entre os entrevistados, estão nomes como Cida Bento, Sueli Carneiro, Salloma Salomão, Lia Schucman, Daniel Teixeira, José Fernando Peixoto, entre outros.
10 autores negros que todo professor precisa conhecer
Especialista em relações étnico-raciais na escola, a educadora Maria da Glória Calado indica 10 autoras e autores negros fundamentais para aprofundar o debate sobre educação antirracista. Em artigo produzido para o Porvir, ela reforça a importância dos escritos e das reflexões desses intelectuais, que problematizam as raízes e os impactos da drisciminação racial, além de apontar propostas para promoção da equidade social.
Recursos para apoiar a prática
Jogo da Lei 10.639
Criado pelo Porvir, em parceria com a Piraporiando, o jogo apoia professores e escolas na cosntrução de projetos de educação antirracista. Formado por um tabuleiro e sete cartas para impressão, ele traz questionamentos para estimular o debate entre os jogadores sobre situações que acontecem dentro da escola.
Comunidade de Professores: Educação Antirracista
Grupo no WhatsApp, criado e mediado pelo Porvir, reúne educadores para compartilhar experiências e refletir sobre a construção de uma educação antirracista. Na comunidade, os professores também têm a oportunidade de relatar suas vivências e pedir indicações de recursos ou atividades para colegas de diferentes regiões do país.
Infográfico: Os vinte anos da Lei 10.639
Produzido pelo Porvir, o infográfico contextualiza a Lei 10.639 e apresenta dados sobre à violência sofrida pela população negra. O material também explica como educadores podem desenvolver atividades para contribuir com uma educação antirracista, levando os estudantes a refletir sobre o seu papel no combate ao racismo.
Experiências para se inspirar
Como colocar em prática uma gestão escolar decolonial e antirracista?
Na Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador (BA), grupos da educação infantil ao ensino fundamental 1 recebem nomes de reinos e impérios africanos e indígenas. A equipe é composta majoritariamente por pessoas negras. O objetivo central da escola é promover a emancipação de crianças pretas e a construção de uma sociedade mais crítica e reflexiva. No relato, a diretora Cristiane Coelho conta como os saberes ancestrais negros e indígenas constroem o currículo e apoiam as práticas cotidianas da unidade.
Trançando histórias e cabelos, professora valoriza ancestralidade de estudantes
Para promover a valorização da identidade e da ancestralidade dos estudantes, a professora Cleide da Silva Magesk, do CIEP 097 Carlos Chagas / Intercultural Brasil-China, em Duque de Caxias (RJ), desenvolveu o projeto Trançando Histórias. A iniciativa teve como mote a prática milenar de trançar os cabelos. Em uma sequência de atividades didáticas, depois de participarem de pesquisas, rodas de conversa e oficinas, os jovens também foram incentivados a produzir um documentário.
Uma escola antirracista começa com o apoio da gestão
Com o projeto “Vivências em africanidades na educação infantil”, a coordenadora pedagógica Alessandra Guerra da Silva Oliveira conta como foram desenvolvidas várias ações no Cemei (Centro Municipal de Educação Infantil) Olivia Carvalho, em São Carlos (SP), para valorizar a cultura e a história afro-brasileira. Entre as atividades, estão dinâmicas, rodas de conversa sobre influências dos povos africanos, jogos de capoeira, brincadeiras, rodas de leitura, oficinas com as famílias, visitas de campo etc.
Misoginia
Ódio ou aversão às mulheres que pode ser manifestado de diferentes formas, como a exclusão social, intimidação, silenciamento de opiniões e violência verbal, física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. A misoginia é causada por uma cultura machista e sexista que reforça uma ideia de superioridade masculina.
Referências para se aprofundar
Misoginia
Em artigo, a professora titular da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Maria de Lourdes Borges traz definições sobre o termo misoginia e como são expressas as suas múltiplas formas de violência.
Violência de gênero na sala de aula: raça, classe e diversidade não podem ficar de fora do debate
Matéria publicada no Porvir reflete sobre o papel da escola no debate sobre estereótipos que contribuem para mortes por feminicídio e homofobia. Também são apresentadas iniciativas que contribuem para levar esse tema para a sala de aula, como é o caso do programa Maria da Penha vai à Escola.
Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero
O documentário disponível no YouTube é uma iniciativa da Onu Mulheres em parceria com o portal PapodeHomem no âmbito do movimento mundial pela igualdade de gênero HeforShe (EleporElas, em português), que propõe engajar homens na identificação de atitudes e comportamentos machistas. Traz sensibilidade para desconstruir os estereótipos machistas mais presentes na sociedade brasileira.
Recursos para apoiar a prática
O valente não é violento
O material pedagógico elaborado pela ONU Mulheres propõe atividades conectadas ao currículo para discutir gênero, sexualidade e a prevenção de violências com turmas do ensino médio. A iniciativa conta com planos de aula que tratam dos seguintes temas: Sexo, gênero e poder; Violências e suas interfaces; Estereótipos de gênero e esportes; Estereótipos de gênero, raça/etnia e mídia; Estereótipos de gênero, carreiras e profissões: diferenças e desigualdades e Vulnerabilidades e Prevenção.
10 sugestões para debater a questão de gênero em sala de aula
Com base na sua experiência em sala de aula, a professora Débora Garofalo apresenta sugestões de como discutir gênero na escola. Além de recomendar filmes sobre a temática, ela apresenta propostas de atividades que podem ser realizadas em diálogo com a comunidade escolar.
Mulheres em foco: caminhos para equidade
Desenvolvido pelo Porvir, em parceria com a Fundação FHC, o roteiro pedagógico traz uma proposta de atividade prática e significativa para abordar questões relacionadas aos direitos das mulheres. A partir da metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL), os estudantes são incentivados a se colocarem no lugar de formuladores de políticas públicas.
Experiências para se inspirar
Projeto apresenta mulheres inspiradoras a estudantes
Para questionar a hipersexualização da mulher nas mídias e redes sociais, a professora Gina Vieira Ponte criou o projeto “Mulheres Inspiradoras”, que deu origem a um livro, produzido pela turma, com histórias de mais de cem mulheres, entre mães, avós, bisavós, tias e figuras importantes da comunidade. A iniciativa de educação em direitos humanos, com foco na equidade étinico-racial e de gênero, foi desenvolvida no Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia , no Distrito Federal, e se transformou em política pública no DF.
O poder transformador do diálogo e da cultura de paz
No Centro de Ensino Fundamental (CEF) 16 de Ceilândia, no Distrito Federal, a professora Celiana Moroso criou o projeto Desiderata, que tem como eixos os direitos humanos, a equidade de gênero e as relações étnico-raciais. Com rodas de conversa, incentivo à leitura, produções de texto e diferentes formas de expressão artística, os estudantes são convidados a compartilhar vivências, a reconhecer o papel das mulheres na luta por direitos e a promover um ambiente de respeito e de valorização das diversidades na escola. Clique aqui para acessar planos de aula inspirados no projeto.
Encontro de Milhões
Com uma combinação de história e língua portuguesa, a atividade desenvolvida por Franciele Gomes, coordenadora de projetos do Instituto Catalisador, incentiva estudantes a criarem diálogos entre mulheres que tiveram ou ainda têm papel importante na história. O trabalho busca valorizar as trajetórias de mulheres para combater o machismo.
LGBTfobia
Ato, manifestação de ódio, preoconceito, discriminação ou aversão contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e outros grupos. O termo é usado para abarcar diferentes formas de violência contra a comunidade LGBTQIAP+ em que a motivação principal é a sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Referências para se aprofundar
LGBTQIAP+: um guia educativo
Elaborado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, o guia reúne conceitos, debates, lutas sociais, datas importantes e outras referências para apoiar o trabalho de educadores que estão interessados em contribuir para modificar o padrão de reprodução cultural de violência de gênero.
Manual de educação LGBTI+
Voltado aos profissionais de educação dos anos finais do ensino fundamental ao ensino médio, o manual contribui com a diminuição do estigma, bullying, preconceito, discriminação, violência e evasão escolar que estudantes LGBTQIAP+ enfretam.
Conversas que Inspiram
Produzido pelo Grupo Dignidade, com apoio do Instituto Unibanco, o documentário traz depoimentos sobre as experiências de pessoas LGBTQIAP+ no ambiente escolar. Nos episódios, estudantes e professores debatem sobre como a escola pode – e deve – ser acolhedora com a comunidade LGBTQIAP+.
Recursos para apoiar a prática
LGBTQIAP+: Confira livros, filmes e planos de aula para o debate na escola
Para apoiar conversas sobre identidade de gênero e orientação sexual em sala de aula, o Porvir ouviu professores especialistas e criou uma curadoria com indicações de documentários, livros, filmes, séries, animações, planos de aula, livros, sites e estudos. O conteúdo também vem acompanhado de um infográfico que serve como um guia para facilitar o entendimento de educadores sobre o assunto.
Diversidade em ação
Desenvolvido a partir do projeto Escola +Diversa, o jogo propõe a reflexão sobre violências causadas contra estudantes LGBTQIA+ no espaço escolar. A partir de dinâmicas com cartas e desafios, participantes são estimulados a identificar violações de direitos e compreender a importância da denúncia.
Observatório Trans
Administrada pela pesquisadora Sayonara Naider Bonfim Nogueira, presidenta do Instituto Brasileiro Trans de Educação, a página reúne planos de aula, materiais de apoio, oficinas pedagógicas, dossiês e referências para trabalhar respeito e valorização das diversidades na sala de aula.
Experiências para se inspirar
Love is Love: Toda Forma de Amar
Desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pres. Getúlio D. Vargas, em Novo Hamburgo (RS), o projeto foi desenvolvido para combater a homofobia na comunidade escolar. Depois de entrevistar membros da comunidade LGBTQIA+, os estudantes produziram vídeos e criaram uma página no Instagram com ações de valorização da diversidade.
Colégio Mangabeiras Parque
Idealizado por estudantes do Colégio Mangabeiras Parque, de Belo Horizonte (MG), o projeto mobilizou investigações sobre ações afirmativas e de acolhimento para a população LGBTQIA+, especialmente pessoas trans que sofrem violências.
Neonazismo
Reprodução de símbolos e ideais nazistas aplicados ao contexto atual. Baseado na defesa da supremacia racial e em uma visão de mundo deturpada, o neonazismo promove o ódio contra negros, judeus, homossexuais, comumistas, feministas e outros grupos.
Referências para se aprofundar
Neonazismo: o rosto do nazismo na atualidade
Conteúdo produzido pelo Politize! apresenta definições, características e as bases históricas que deram origem ao neonazismo. A publicação também apresenta alguns episódios de grupos neonazistas em atuação política e social no mundo.
Apologia ao nazismo em escolas reforça a urgência de uma educação antirracista
Denúncias de ofensas e apologia a regimes de extrema direita por adolescentes aumentaram durante as eleições presidenciais de 2022. Em artigo publicado no site do programa EducaMídia, Mariana Mandelli e Elisa Thobias reforçam a urgência de uma educação antirracista para debater essas situações e combater o ódio.
Recursos para apoiar a prática
O Diário de Anne Frank como suporte para o seu projeto escolar
Com apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o Congresso Judaico Mundial (World Jewish Congress, WJC) criou um site para oferecer aos jovens informações sobre a história do Holocausto – – tentativa da Alemanha nazista e de aliados de assassinar judeus na Europa.
Como debater o neonazismo em sala de aula?
A inspiração em elementos nazistas esteve por trás de muitas situações de violência registradas nas escolas. Pensando nisso, a Nova Escola conversou com especialistas sobre como debater o neonazismo na sala de aula. A matéria também indica planos de aula para trabalhar esse tema com os estudantes, além de chamar a atenção para alguns cuidados necessários na hora de iniciar esse trabalho.
Capacitismo
Preconceito ou discriminação de pessoas com deficiência. O capacitismo cria hierarquias a partir do que ele considera como normal e reforça um senso comum de que as pessoas com deficiência são inferiores ou incapazes de realizar determinadas atividades.
Referências para se aprofundar
Material gratuito traz recomendações para criar uma escola anticapacitista
No livreto “Como educar crianças anticapacitistas”, as educadoras Mariana Rosa e Karla Garcia Luiz trazem definições, perguntas e sugestões de caminhos para educar crianças anticapacitistas. Em entrevista ao Porvir, elas reforçam a urgência de fomentar a diversidade e o respeito às pessoas com deficiência no ambiente escolar.
Capacitismo: o mito da capacidade
O livro de Victor Di Marco, que é uma pessoa com deficiência, une conceitos e memórias para explorar até onde o mito do capacitismo adentra na vida de uma pessoa com deficiência. Ele também faz um breve apanhado de palavras e situações que devem ser de conhecimento de todos.
PCDPOD
Considerado o primeiro videocast PCD do Brasil, o PCDPOD é apresentado por Benedita Casé e Pedro Henrique França. Os episódios mostram como pessoas com deficiência podem ser o que quiserem e desconstroem discursos capacitistas. Afinal, não é preciso ser PCD para ser anticapacitista, como ressaltam na descrição do programa.
Recursos para apoiar a prática
Diversa
Iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes, o site apresenta artigos, materiais pedagógicos, relatos de experiência, estudos de caso, notícias e pesquisas para ajudar educadores na construção de uma educação inclusiva na prática.
Sete frases capacitistas para riscar do vocabulário
Produzido pelo site Nós, mulheres da periferia, a lista apresenta expressões utilizadas no cotidiano que são pejorativas e discriminatórias. O texto pode ser utilizado com os estudantes para despertar reflexões e reforçar a urgência do combate ao capacitismo.
Gordofobia
Repúdio, aversão ou preconceito contra pessoas gordas. A gordofobia é um estigma estrutural e cultural que pode se manifestar a partir de falas, atitudes, humilhações e representações negativas de corpos gordos. Esses comportamentos podem reforçar estereótipos e preconceitos que colocam a pessoa gorda em situações de exclusão social e de constrangimento.
Referências para se aprofundar
Como combater a gordofobia nas escolas?
Matéria produzida pelo Centro de Referências em Educação Integral discute sobre o que é a gordofobia e como essa violência sistêmica traz consequências para a vida de uma pessoa gorda. O conteúdo também apresenta referências para o seu enfrentamento no cotidiano escolar.
Corpo, corporeidade e diversidade na Educação
O ebook gratuito da Editora Culturatrix reúne ensaios de docentes do Núcleo de Estudos e Pesquisa Infância e Educação, da Universidade de Goiás que ampliam os conceitos de corporeidade na educação a partir de reflexões de corpos dissidentes. O capítulo 8, de autoria de Maria Luisa Jimenez e Claudia Reis dos Santos, intitulado Gordofobia na escola: lute como uma gordinha, localiza a escola como ponto de partida para uma pedagogia da liberdade para mulheres fora do padrão social de magreza.
Vamos combater o preconceito?
Produzida pela Nova Escola, a reportagem apresenta histórias de alunos e professores discriminados na escola e reflete sobre caminhos para combater a gordofobia, promovendo uma escola diversa e de qualidade para todos.
Recursos para apoiar a prática
30 formas de combater a gordofobia
Criada pela jornalista e doutora em comunicação Agnes Arruda, a lista publicada na Revista AzMina reúne trinta textos que funcionam como dicas para combater a gordofobia. Agnes também é autora do Pequeno dicionário antigordofóbico, que reúne termos e expressões para parar de usar.
O Corpo Gordo é Obra Prima
Documentário produzido pela artista Gabriela Cordeiro de Paula (MUM), em parceria com a Diálogos Culturais, apresenta uma discussão sobre representatividade gorda e gordofobia. A produção é uma extensão do projeto “Um corpo é um corpo”, que teve a proposta de substituir imagens de corpos em quadros famosos, que geralmente são magros, por corpos gordos.
#135 – Gordofobia
Neste episódio do podcast Mamilos, o publicitário e youtuber Bernardo Boechat, a empresária Flávia Durante, criadora da feira Pop Plus, a criadora do canal Alexandrismos Alexandra Gurgel e a criadora da grife plus size Lilavi Virgínia Cruz conversam sobre gordofobia e compartilham sua trajetória de sofrimento, aceitação e transformação.
Experiência para se inspirar
Quebrando padrões: projeto aborda o preconceito contra pessoas gordas na escola
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Stella de Novaes, em Vitória (ES), a professora Anna Erzilia trabalhou o combate à gordofobia com uma sequência de atividades pedagógicas. Tudo começou com a leitura de “Carlota Bolota”, de Cristina Porto. A partir daí, foram feitas rodas de conversa e debates. A ação foi concluída com a criação coletiva do texto “Corpos gordos importam!”, que foi transformado em quadrinhos por um estudante da turma.
Racismo
Misoginia
LGBTfobia
Neonazismo
Capacitismo
Gordofobia
Racismo
Expediente
Concepção:
Andressa Basilio, Marina Lopes, Regiany Silva e Tatiana Klix
Edição:
Marina Lopes e Tatiana Klix
Reportagem:
Andressa Basilio e Marina Lopes
Design e Desenvolvimento:
Sintrópika
Fotografia:
Gesival Nogueira Kebec (CED 310 – Brasília/DF)
Júlio César Almeida (EE Tenista Maria Esther Andion Bueno – Campinas/SP)
Marina Lopes (Atheneu Sergipense – Aracaju/SE)
Vídeo:
Marina Lopes (Atheneu Sergipense – Aracaju/SE)
Animações
Sintrópika
Colaboração:
Foram entrevistados e consultados para a produção dos capítulos do especial:
Adriana Silveira (mãe de estudante),
Alessandro Barreto (Laboratório de Operações Cibernéticas da Secretaria Nacional de Segurança Pública – MJSP)Alexandre Le Voci Sayad (ZeitGeist e UNESCO MIL Alliance), Arnaldo Silva (EE Tenista Maria Esther Andion Bueno), Beatriz Buarque (Heal the World), Camilo Caldas (GT do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), Catarina de Almeida Santos (UNB), Celiana Moroso (CEF 16 de Ceilândia), David Magalhães (Observatório da Extrema Direita), Erison Lima (EETI Eng. Prof. Sérgio Alfredo Pessoa Figueiredo), Ilma Aparecida Alvez (mãe de estudante), José Augusto Souza dos Santos (Escola Maria Dias Trindade), Juliana Cunha (Safernet Brasil), Lília Melo (Cine Clube TF), Luciene Regina Tognetta (GEPEM/Unicamp), Marcele Frossard (Campanha Nacional pelo Direito à Educação), Margareth de Brito Alves (CED 310), Mariana Ochs (EducaMídia), Michele Prado (USP), Miriam Abramovay (Flacso-Br), Odilon Caldeira Neto (Observatório da Extrema Direita), Ronney Marcos (Centro de Excelência Atheneu Sergipense), Telma Vinha (GEPEM/Unicamp) e Yuri Norberto (Centro de Excelência Atheneu Sergipense).
Mentoria:
Thiago Reis