Projeto usa aprendizagem criativa para valorizar o papel de mulheres ao longo da história - PORVIR
Crédito: Bohdan Skrypnyk/iStock

Inovações em Educação

Projeto usa aprendizagem criativa para valorizar o papel de mulheres ao longo da história

Parceria com Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC)

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 16 de fevereiro de 2023

Escolas têm um papel fundamental quando o assunto é oferecer a crianças e jovens uma educação que preze pelo respeito a todos, sem distinção. Esse trabalho se faz ainda mais necessário em um cenário de altos índices de violência e violações contra meninas e mulheres que caracteriza uma sociedade machista como a brasileira.

Valorizar o papel das mulheres, não precisa, necessariamente, abordar números de tragédias ou focar apenas no lado negativo da questão. É possível, por exemplo, estudar a contribuição feminina ao longo da história até os dias atuais, tudo isso usando a aprendizagem criativa

Esse é o mote do Encontro de Milhões, atividade desenvolvida por Franciele Gomes, coordenadora de projetos do Instituto Catalisador. A proposta envolve uma combinação de história e língua portuguesa, juntamente com elementos de artes visuais e performance, e pode ser aplicada com alunos do ensino fundamental ou médio. O objetivo é incentivar os estudantes a criar animações em stop motion (técnica de animação) utilizando diálogos entre mulheres que tiveram ou ainda têm papel importante na história.

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“Trazer a história de mulheres que contribuíram das mais diversas formas para mudar e transformar suas realidades e de tantas outras é uma obrigação minha e de qualquer outra pessoa que esteja na missão de ensino-aprendizagem”, explica Franciele. A educadora reforça que, se por tanto tempo as mulheres foram apagadas da história e tiveram sua contribuição e feitos ocultados intencionalmente, é hora de resgatá-los. “As crianças e jovens somente têm a ganhar, em todos os sentidos, ao entrar em contato com essa temática.”

Animações em stop motion a partir de diálogos entre mulheres
que fizeram ou fazem parte da nossa história. Crédito: RBAC/Reprodução

Em linhas gerais, os estudantes devem, em grupos, pesquisar sobre mulheres de diferentes épocas, estudando os aspectos sociais, políticos e culturais que fazem parte da sua existência. Escolhidas as personagens, os grupos criam um diálogo imaginário entre elas: é necessário pensar no ambiente em que estão, quais perguntas serão feitas, e também como cada personagem se comporta e se move, suas expressões faciais, entre outros aspectos. Por fim, vem a construção dos bonecos e filmagem do conteúdo para construção do produto stop motion. 

Passado e presente como inspiração 

Para Ellen Barbosa, professora da equipe pedagógica da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa), é importante trazer aos estudantes oportunidades para que trabalhem com temas que tenham interesse, e, para além disso, abrir novos horizontes. 

“Dentro do nosso papel como professores, está a responsabilidade de possibilitar diferentes formas de olhar para o mundo e nosso contexto. O tema ‘mulheres’ tem muito potencial, pois além de gerar identificação entre as alunas, abre a porta para reflexões com todos os estudantes, já que cada um tem em sua história ao menos uma mulher que admira”, explica. 

Segundo a educadora, ao criar os diálogos entre personagens de múltiplos contextos e ao valorizar o olhar sobre a representatividade e importância da mulher na sociedade, a atividade ajuda a compreender o passado, redesenhar o futuro e reduzir atos e atitudes indesejadas. 

“O processo colabora para o desenvolvimento de competências como argumentação e autoconhecimento, possibilita conexões com mulheres de diferentes épocas e culturas, potencializa os estudos do campo jornalístico e midiático, além de promover conexões e aprofundamento conceitual em língua portuguesa ao trazer as diferentes formas de linguagens que podem ser usadas”, aponta. 

Para Franciele, ao abordar as contribuições das mulheres ao longo da história, é possível chamar a atenção dos estudantes para a valorização das figuras femininas ao seu redor, contribuindo para formação de gerações que respeitem os direitos desse público. 

“Ainda percebemos que existem bastante falas e comportamentos machistas das crianças e adolescentes, que muitas vezes reproduzem o que veem, seja em casa, na rua, no bairro, na televisão e nas redes sociais. Mostrar para eles a importância histórica das mulheres pode mudar a forma como tratam e veem as mulheres ao seu redor. Para as meninas, há o efeito de representatividade, de ampliar sua visão de possibilidades e caminhos.” 

Contribuição da aprendizagem criativa 

No caso da atividade Encontro de Milhões, o uso da aprendizagem criativa como abordagem contribui para promover o engajamento dos estudantes. Franciele explica que é possível identificar com facilidade os quatro Ps da Aprendizagem Criativa. 

  • Projeto: Os estudantes associam diferentes conceitos e aplicam a diversas situações reais. 
  • Pares: Durante a atividade, estudantes trabalham o aspecto social da aprendizagem ao aprender com o outro, aprendem a lidar com diferentes ideias e a lidar com reflexões que não são as suas. 
  • Paixão: Segundo Franciele, a proposta possibilita que os estudantes descubram significados pessoais e coletivos, que se engajem com temas e assuntos com os quais se importam. 
  • Pensar brincando: Além de ser divertida, a proposta permite que estudantes experimentem, testem novos conhecimentos, tomem decisões e não tenham medo de errar, pois, errando, vão pensar em como fazer diferente.

Além desses elementos, o próprio objetivo central da proposta – a criação de stop motion a partir de diálogos imaginários entre mulheres que fizeram história – e, com isso, o uso de aplicativos e dispositivos digitais, além de conversar com o universo digital com o qual crianças e jovens já estão habituados, traz temas contemporâneos e possibilita que os estudantes expressem seus pensamentos e opiniões. 

“Projetos de stop motion têm um potencial incrível de engajar. Por terem um começo – com planejamento, construção de narrativa, personagens, cenários –, uma execução com muita mão na massa e um resultado visível e compartilhável, colocam os estudantes numa postura muito ativa, de tomada de decisão e resolução de problemas de forma coletiva. Eles trabalham em grupo, dividem tarefas, descobrem e se aprofundam em habilidades, criam outras e retomam a confiança no seu potencial”, aponta Franciele. 

Processo avaliativo 

Quando o assunto é avaliação, por se tratar de um tema que tem o potencial de mudar a percepção do estudante sobre o assunto, Franciele comenta sobre o potencial de avaliações formativas, que foquem no processo e não necessariamente apenas no produto final apresentado pelos estudantes. 

Dessa forma, ela indica o uso das chamadas rotinas de pensamento, que possibilitam que a aprendizagem seja visível tanto para os professores quanto para os próprios alunos. “Para o caso do Encontro de Milhões, podemos usar a Rotina “Antes eu pensava que… e agora eu penso”, que é muito interessante para propostas que causem uma mudança de perspectiva sobre determinado assunto, como é o caso aqui.” 

O exemplo de mulheres inspiradoras 

Assim como Franciele, outras educadoras também reconhecem e aproveitam o potencial que a educação tem de formar cidadãos que respeitam e defendem os direitos das mulheres e reconhecem suas trajetórias e lutas. 

É o caso da professora Gina Vieira Ponte, uma das educadoras homenageadas pela exposição Encontro com o Porvir. Ao criar uma página no Facebook para se aproximar de seus estudantes, entrou em contato com um vídeo de uma de suas alunas, de apenas 13 anos, dançando de forma erotizada ao som de música com forte apelo sexual. 

O choque a partir do vídeo inspirou a criação do projeto Mulheres Inspiradoras, com o objetivo de apresentar novos modelos e referências femininas a seus estudantes, além de incentivar o respeito pelas mulheres e desencorajar o machismo. 

A iniciativa, que começou com alunos do 9º ano do Centro de Ensino Fundamental de Ceilândia (DF), estudou, inicialmente, livros de Malala, Anne Frank e Carolina Maria de Jesus, além de Gina convidar e levar à sala de aula mulheres dispostas a conversar com os jovens, como a escritora Cristiane Sobral e a médica Patricia Melo Pereira. 

Depois que a experiência cresceu, surgiu a ideia de os estudantes estudarem e conhecerem mais a fundo a história de suas próprias famílias. 

De 2013 para cá, o projeto só ganhou ainda mais visibilidade: virou livro e ganhou 13 prêmios, inclusive internacionais. Hoje, o projeto, enquanto política pública educacional, está presente em 41 escolas do Distrito Federal. Confira, no webstories abaixo, mais detalhes sobre a carreira da educadora:

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Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (RBAC)

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem criativa, educação mão na massa, ensino fundamental

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