de 0 a 5: Um pouco de natureza - PORVIR
Ronaldo Abreu / Porvir

Inovações em Educação

de 0 a 5: Um pouco de natureza

Ouça agora o segundo episódio do podcast do Porvir sobre a primeira infância

por Redação ilustração relógio 26 de outubro de 2023

Tecnologia na primeira infância é um assunto recorrente e natureza também deveria ser. Neste novo episódio falamos sobre a importância de incluir espaços verdes para diminuir o excesso ao uso de telas. Muitas vezes, a escola é o único espaço em que muitas crianças acessam áreas verdes, você sabia?

Este episódio contou com a participação de Bárbara Cury, mãe de duas crianças que não acessam às telas; JP Amaral, do Instituto Alana e Fernanda Montano, jornalista e consultora.

Ouça o episódio

Créditos

Roteiro, produção, edição: Ruam Oliveira
Mentoria: Daniela Tófoli e Vinícius de Oliveira
Música: Gabriel Falcão
Artes e identidade visual: Ronaldo Abreu

 [início do episódio]

<< Ruam Oliveira >>

Oi, eu sou o Ruam e você está ouvindo o De 0 a 5, o podcast do Porvir sobre a primeira infância.

<< trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>

Hoje eu vou apresentar para vocês dois casos: Um deles é de uma mãe que procura não oferecer telas aos filhos. O filho mais velho dela frequenta uma escola que também não incentiva que as crianças tenham contato com dispositivos eletrônicos. Isso até os sete anos de idade… 

Do outro lado, a gente vai ouvir um pouco uma outra mãe que viu seu filho ficar viciado em tecnologia. Tanto que se especializou no assunto e hoje atua como consultora educacional no tema. 

Quando a gente pensa em dar ou não um aparelho eletrônico para uma criança, a gente deve levar em consideração também os arranjos familiares que essa criança faz parte.

Não entregar um celular ou tablet, ou mesmo deixar a criança ver TV, pode funcionar para algumas famílias, mas nem sempre é assim com todo mundo. 

<< Bárbara Cury >>

Tenho um filho de 4 anos e outro de um quase dois né?

<< Ruam Oliveira >>

Essa é a Bárbara Cury, mãe do Malik e do Zayan

<< Bárbara Cury >> 

<< trilha sonora >>

Então o de quatro eu percebo uma maior curiosidade em relação às tecnologias. Ele tem a vivência que eu trabalho no computador, o pai trabalha no computador. Às vezes a gente tá com um computador, um tablet ou celular, então são várias coisas que ele vai vendo e que gera uma curiosidade.  Ele não sabe mexer, não foi ensinado e nem a gente tenta motivar isso, né? Então o acesso que ele tem a tecnologia hoje em dia, o mais velho, seria a televisão, seria contato com algum desenho, algum filme. A gente já percebeu que ele gosta de filme. Para a idade dele, a gente percebe que ele até fixa a atenção por muito mais tempo, então se você coloca um filme, ele gosta que é pra idade dele, ele vai ficar naquele filme.

E o mais novo nem isso, né? Então ele não assiste nada. Nem assim, ele nem tem curiosidade … aqui a única coisa a tecnologia ela faz tanta parte da nossa vida que assim que eu pego o computador o mais novo, já olha para mim e fala assim mamãe trabalha, então ele já sabe que a relação que tem ali, né? E mas ele não vê até ela não o mais novo ainda não tem acesso a nenhum tipo de tecnologia hoje em dia.

<< trecho do Malik cantando >> 

<< Ruam Oliveira >>

O Malik, o filho mais velho, gosta de pintar e de cantar, como vocês ouviram. A Bárbara me mandou algumas das artes dele e eu incluí lá na página deste podcast no Porvir. Quando terminarem de ouvir, vão lá prestigiar as obras dele.

<< trilha sonora >> 

<< Ruam Oliveira >>

Vocês lembram no primeiro episódio quando o Rodrigo falou que a pandemia fez com que algumas famílias fizessem concessões sobre usar ou não telas com os filhos? No caso da Bárbara foi assim também.

<< Bárbara Cury >>

como teve a pandemia o meu mais velho quando ele tinha um ano e dois meses.

Eu tava longe dele, então foi necessário. Em algum momento porque ele tava sendo cuidado pelos avós e chegou o momento que a casa ficou pequena para ele e para tanto energia e ele foi apresentado às telas.

Ele é isso, eu percebo que foi, é uma crescente então quanto mais você oferece mais a criança quer e mais e isso vai virando um ciclo vicioso, porque querendo ou não a criança fica mais quieta naquele momento então se você precisa fazer um trabalho aqui, você coloca a criança para ver um filme, mas aí a hora que você quer brincar com ela, ela vai exigir de você que ela quer o filme. Ela quer um filme então já que você colocou naquela hora porque que não pode colocar agora e eu percebi que talvez mesmo sendo depois de um ano, eu achei muito precoce a introdução. 

Então eu eu e o pai dele a gente começou a fazer um desmame, né? Assim a gente foi retirando foi colocando as telas só em momentos específicos e acordar com ele, né? Então de dia de semana não tem tela no final de semana tem um filme tem um desenho aqui outro ali, mas tudo também muito flexível.

Como no segundo filho eu tive a oportunidade de estar mais presente nesse período de transição de ter uma estrutura que melhor eu consegui com que ele até agora que ele vai fazer dois anos não tenha tido contato com com telas. Então ele não assiste ele não pede ele não sabe né? Ele não sente falta não tem interesse nesse tipo de coisa e eu vejo que ele é muito mais curioso, ele brinca mais sozinho com atividades do quarto dele com brinquedos dele o outro quando ele entra no nosso assim um tédio ele já quer a TV…

<< trilha sonora >>

<< Ruam Oliveira >>

Conversando com especialistas para esse podcast, eu fui entendendo que querer ou não dar telas para as crianças é também uma questão de acesso à informação.

Nem todas as famílias sabem – ou conseguem – ter o privilégio de segurar uma criança por dois anos longe das telas. 

E é aqui que entra a escola. 

No caso da Bárbara, como ela já não queria que o filho dela tivesse acesso a telas e tinha condições de matricular ele em uma escola particular aqui de São Paulo que não usa nenhum tipo de tecnologia, foi isso que fez. 

<< Bárbara Cury >> 

Na escola não é permitido, né para idade dele então isso pelo menos é uma coisa que a gente fica tranquilo, porque eu sei que ninguém vai levar nada fora do habitual do que ele costuma fazer.

<< Ruam Oliveira >>

Mas mesmo que na escola não seja permitido, as outras crianças têm acesso a tecnologias em outros espaços. Como fica nesse caso?

<< Bárbara Cury >>

Acho que foi na semana passada que ele chegou falando que o amigo joga videogame à noite a hora que o pai tá dormindo.

<< trilha sonora >> 

Eu achei aquele esquisito primeiro porque eu falei gente mas tão novo. Será? e acho que foi o jeito que ele entendeu e armazenou aquela informação, mas já chegou para ele o tal do videogame que aqui em casa não é nem mencionado, porque a gente não tem, não joga, não faz parte de nenhuma conversa nossa. E aí ele começou a perguntar, por que que ele não tinha?

E a minha explicação foi porque nesse momento eu não achava que ele deveria jogar. Eu tento conversar com ele sempre sendo bem verdadeira, lógico que usando palavras que ele vai entender, mas dando real motivo, né? Não chegar e falar ‘porque eu não quero e pronto acabou’ eu falei: acho que você é muito pequeno, acho que em algum momento isso pode sim fazer parte aqui da nossa rotina, vai que você ganha de presente daqui a alguns anos, mas nesse momento a mamãe e o papai não acham que é adequado até porque na minha cabeça eu fiquei pensando ele não sabe nem mexer, né?

<< vírgula sonora  >> 

<< Ruam Oliveira >> 

Tanto escolas que são avessas à tecnologia, quanto especialistas ligados ao tema têm como principal argumento que as tecnologias digitais afastam as crianças de um brincar ao ar livre, ou mesmo do convívio com a natureza.

<< JP Amaral >>

A gente diz que hoje né a ONU estabelece que a gente vive uma tríplice crise planetária relacionada às questões ambientais que é: a crise climática, a crise da poluição e a crise da perda da biodiversidade, mas a gente entende no Alana que é uma crise que perpassa todas as todas elas né?! A crise de todas as crises que é essa desconexão total do ser humano com a natureza

<< Ruam Oliveira >>
Esse é o JP Amaral, gerente de meio ambiente e clima do Instituto Alana.

<< trilha sonora >>

Um distanciamento onde não nos identificamos mais como parte da natureza e isso reflete também numa desconexão com o nosso corpo, no entendimento do que faz bem para a gente, no entendimento da necessidade de contato com a natureza. E aí não é só a natureza remota, mas estar ao ar livre, o caminhar ou vivenciar, inclusive os ambientes urbanos também ao ar livre, né nos espaços públicos e isso gera efeitos muito nocivos, então isso está diretamente e proporcionalmente relacionado aí né com a quantidade de uso de tecnologias de telas, né na infância.

<< Ruam Oliveira >>

Apesar de estarmos em 2023, o assunto pandemia ainda deixa seus resquícios e é preciso remeter a ele de vez em quando, como é o caso agora do uso de telas pelas crianças. 

Uma pesquisa do Instituto Alana mostrou que 75% das famílias tinham interesse em aumentar o contato com a natureza no pós-pandemia. 

<< JP Amaral >> 

<< trilha sonora >>

A gente observou nessa mesma pesquisa que a principal barreira com esse acesso à natureza era de fato o acesso a esses espaços ao ar livre essas praças, né, esses parques que são geralmente muito centralizados na cidades, né? Muitos lugares eh muito em lugares privilegiados e que geralmente acontece o que se chama uma gentrificação verde ou seja. Quem mora ali é quem tem condições de morar perto daquele pai e de imóveis mais caros de toda uma infraestrutura mais cara e para as periferias vai acabando ficando cada vez mais exíguo, né, menores esses espaços e essa possibilidade do brincar  num espaço de uma área verde, né?

<< Ruam Oliveira >>

Em muitos casos, os espaços verdes onde as crianças podem circular estão majoritariamente nas escolas, que podem ter uma pequena horta ou jardim. Como os colégios podem aproveitar então para fortalecer essa relação e, com isso, diminuir a dependência de tecnologias digitais? 

<< JP Amaral >> 

Cada vez mais a gente tem visto essa realidade mudar, das escolas precisando ser também um espaço onde tenha essa presença de natureza. Então também tem uma responsabilidade conjunta ali dos pais de cobrarem das escolas para que isso seja útil, né? 

Hoje o que a gente vê é uma carga curricular gigantesca onde a criança – inclusive pensando na educação integral – passa ali boa parte do dia nesse ambiente escolar para que os pais possam ter os seus afazeres e quando você vê o tempo de Recreio acaba sendo o único espaço de presença ao ar livre, né? Que é meia hora, 40 minutos dentro dessa escala aí de mais de 10 horas.

Então acho que tem um diálogo ali dos pais também com a escola para qual é essa quantidade ou a qualidade do tempo e natureza que não seja só para o brincar. 

<< trilha sonora >>

Uma coisa que a gente também tem visto dos estudos é a importância da natureza na educação, na aprendizagem mesmo, né? Uma aprendizagem ao ar livre contribui demais tanto para o desenvolvimento no sentido de saúde da criança, mas também no cognitivo mesmo, ela aprende melhor, ela fica mais focada, ela fica mais centrada ali nesse processo de aprendizagem, então levar o parquinho a praça não levar isso só na brincadeira, né levar isso como uma coisa séria mesmo que é um processo de aprendizagem lá e os pais têm de alguma forma participando da comunidade escolar e das discussões de como a escola torna esse espaço de aprendizagem melhor também uma responsabilidade de solicitar isso das escolas, né das diretorias e tudo mais.

<< vírgula sonora >> 

<< último bloco >>

<< Ruam Oliveira >>

Enquanto os filhos da Bárbara tiveram acesso reduzido ou quase nulo aos aparelhos eletrônicos, o João, filho da Fernanda Montano, ficou praticamente viciado em celular. 

<< Fernanda Montano >>

Se a gente saía eu nessa época já trabalhava bastante pelo celular, né? E eu comecei a perceber que eu deixava às vezes de pegar o celular de tirar o celular da bolsa, porque se eu pegasse Eu sabia que ia ser um escândalo dele pedindo para usar ou sei lá, às vezes eu precisava usar o Waze no carro, então precisava estar com o celular e aí ele ia chorando o caminho inteiro, porque eu não dava o celular na mão dele sabe? Então ele começou a me dar sinais assim no comportamento dele mesmo, né?

<< Ruam Oliveira >>

Ela precisou também fazer um trabalho de, entre aspas, desintoxicação com o filho. Hoje ele está com oito anos e tinha por volta de três quando passou por essa fase mais aguda de querer estar com o celular o tempo inteiro. 

Essa experiência da Fernanda introduziu ela no tema e hoje ela trabalha com conscientização de famílias e escolas sobre o uso consciente de telas com as crianças. 

<< Fernanda Montano >> 

Em relação às escolas assim o quanto as escolas precisam dessa orientação também, porque eu acredito muito na parceria, escola família e escola para sempre até os adolescentes, mas acho que na primeira infância. Então isso é fundamental e também em relação ao uso de telas, porque o uso de telas Hoje ele tem que fazer parte do do combo Educação de filhos sabe assim como a gente cuida de alimentação de sono de rotina de tudo o uso de telas tem que fazer parte então eu acho que as escolas também estão se sentindo um pouco perdidas e Mas seria essencial assim que as escolas tivessem um olhar para isso e junto com as famílias, sabe então vamos vamos fazer junto, como que é aí na sua casa, né? Orientando os pais em relação a isso então eu hoje procuro até trabalhar junto às escolas. Porque mesmo que a escola não tenha, vamos dizer, que a escola já seja mais consciente em relação a isso e dentro da escola, ela faz um uso mais saudável e tal, mas se a criança tem um uso excessivo fora da escola, ela vai trazer isso no comportamento dela. Ela vai trazer, isso vai impactar no ambiente escolar também, né? 

<< trilha sonora >> 

Então se a escola tiver um olhar para isso também e atuar em parceria com as famílias, eu acho que é o mundo ideal, né? Assim como as escolas já fazem isso hoje em relação à alimentação, né, procurar ter uma alimentação mais balanceada, de conversar com as famílias sobre isso,  até no comportamento das crianças, né? Muitas escolas hoje sei lá fazem palestras pros pais sobre desenvolvimento infantil, sobre birra, sobre não sei o quê, então o uso de telas faz parte do educar um filho hoje, né? Então eu acho que essa parceria família escola em relação a esse assunto também é fundamental hoje. 

<< Ruam Oliveira >>

Não é que o contato nunca vá acontecer, porque ele vai. Os especialistas com quem conversei comentam a respeito do quando e em qual dose isso será feito. 

<< Fernanda Montano >> 

Na primeira infância dentro da escola, claro, existem recursos tecnológicos como ferramentas educacionais que a gente pode usar. Então você vai ter lá um.

Um quadro eh, como é que chama isso interativo, né? Ou uma coisa ali 3D, uma impressora 3D que as crianças vão fazer sei lá o quê? Então nesse sentido eu acho que a gente tem vários recursos que podem ampliar o aprendizado. 

<< trilha sonora >>

Tá mas eu não acho que na primeira infância seja necessário inserir ali. Eh uso de tablet é sabe dentro ali da sala de aula ou mesmo como ferramenta é como material pedagógico mesmo, né? Tem muitas escolas hoje que já pedem o tablet como material, né? Eu na primeira infância eu não vejo necessidade, eu acho que a primeira infância é um momento de ampliar habilidades das crianças que não vem através da tecnologia sabe que são habilidades motoras, que são habilidades cognitivas que vem muito mais da interação. Olho no olho com outras crianças, com os cuidadores, que vem da arte, que vem do movimento, que vem do contato com a natureza. O contato com a tecnologia pode vir depois dentro da escola assim com certeza na minha opinião.

<< Ruam Oliveira >> 

Eu perguntei para a Bárbara se ela não tinha nenhum receio de que o Malik ficasse muito alheio à tecnologia:

<< Bárbara Cury >> 

Então assim eles são uma esponja então eles eles vêm a gente fazendo né? Não é que nossa ele está alienado do mundo, eu acho que cada coisa tem seu tempo e ele vai aprendendo um momento que ele tiver porque assim hoje em dia eu vejo ele muito eu acho que é muito a fase de se descobrir corpo equilíbrio natureza eh entender como que as coisas funcionam e que a hora da tecnologia vai chegar e que tá tudo bem. Isso não é um problema aqui em casa, eu e meu marido a gente não tem essa preocupação.

<< trilha sonora >> 

<< Ruam Oliveira >> 

São muitas camadas! E os desafios que a educação enfrenta são muitos. 

Eu sou Ruam Oliveira e continuarei aqui para a gente refletir junto sobre a presença de telas na educação infantil.

Neste podcast eu sou o R2D2 e produzi, roteirizei e editei esse episódio. Contei, claro, com a generosa contribuição e palpites do Vinícius de Oliveira, editor aqui no Porvir e da Daniela Tófoli, que é minha mentora no fellowship sobre primeira infância promovido pelo Dart Center for journalism and Trauma, da universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Foi com o apoio deles que a gente conseguiu tirar essa temporada do papel.

As músicas bonitas dessa temporada são do Gabriel Falcão (valeu Gabriel!) e as artes das redes sociais são do Ronaldo Abreu, da nossa equipe aqui do Porvir!

Para mais conteúdos sobre educação e primeira infância é só acessar porvir.org.

Até mais!

 

Ouça também: Tecnologia e educação infantil combinam?


TAGS

educação infantil, podcast, tecnologia

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