Criatividade na matemática depende de experimentação - PORVIR
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Inovações em Educação

Criatividade na matemática depende de experimentação

"Diálogo Brasil-Alemanha" mostra como professores precisam viver a matemática da sala de aula para tirar a desconfiança dos alunos

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 3 de outubro de 2014

“O que torna a matemática muitas vezes chata é que dá a impressão que se trata da aplicação de fórmulas de maneira a ser memorizada”, disse Artur Ávila ao Porvir logo após a conquista da inédita Medalha Fields, prêmio popularmente conhecido como “Nobel da Matemática”. O pesquisador brasileiro vivia uma agenda lotada e, em breves palavras, comentou que o que afasta alunos da disciplina é o fato de que “não há espaço para a criatividade”.

Nesta quarta-feira, 1, o Centro Alemão de Ciência e Inovação reuniu especialistas para tratar desta questão no painel “Equações para uma matemática atraente”, parte da 3a edição do evento “Diálogo Brasil-Alemanha de ciência, pesquisa e inovação”, realizado na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo (SP).

Para Marcelo Viana, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática e idealizador do Mestrado Profissional em Matemática Nacional, é necessária uma transformação profunda, desde a infraestrutura das escolas, passando pela melhoria no Português que permita melhor entendimento dos enunciados, até a formação dos professores. “Hoje, o professor se sente inseguro para sair do roteiro estabelecido e estimular a criatividade. Também ouço muitas críticas ao sistema, que exige cumprimento de programa pré-estabelecido em que o tempo para aplica-lo é muito curto. Então, não há margem de manobra”, diz Viana.

E como seria o mundo ideal? Viana explica que a matemática é uma disciplina considerada “complicada” porque é sequencial, “o aluno não aprende a multiplicar sem primeiro saber como somar. É uma ordem e, se você perde uma etapa, vira um tédio, um jogo abstrato sem sentido”. Ele defende a criação de ritmos diferenciados, que de um lado atenda os que estão com maior dificuldade e, de outro, não prenda um aluno talentoso por causa de um “nivelamento por baixo”.

Um outro ponto defendido por ele é que professores participem do jogo para conduzir a classe de um conceito concreto para a abstração. “A maioria dos professores da educação básica não está habilitada na área em que dá aula. Além disso, [nas faculdades] há um excesso de conteúdo muito avançado, de pedagogia, e muitos professores saem sem saber o que vão ensinar na sala de aula. Eles usam muito mais o que aprenderam na época em que estavam na escola”, completa.

Outras abordagens

Ricardo Karan, engenheiro licenciado em Matemática e atualmente em estágio pós-doutoral na Universidade Hamburgo, defende o conhecimento histórico de conceitos e o uso de sua relação com a física para estimular a aprendizagem da matemática. “Dizer que um carro está a 90 km/h ou a 25 m/s não é a mesma ideia. A previsão de que em um segundo eu vou me descolar 25 metros é mais razoável do que falar o que vai acontecer daqui uma hora”, exemplifica. “Quanto menor é o intervalo de tempo, melhor é a aproximação que você tem”.

Dentre as experiências da Alemanha levantadas no evento está a aproximação entre o futebol e a matemática trazida pela professora Susanne Prediger, que também é diretora do Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa na Educação em Matemática localizado em Dortmund. Ela conta que a principal missão para educadores de seu país está em despertar o interesse, e não descobrir talentos. “A Alemanha precisa de profissionais em eletrotécnica e no setor de máquinas, por isso temos melhorar o interesse de jovens entre 14 e 16 anos pela matemática”, diz.

Em junho, antes da Copa do Mundo, Susanne colocou seus alunos de 8a série em contato com porcentagem e estatísticas que, dependendo do contexto, poderiam revelar os favoritos a vencer o mundial. “Quando formulam afirmações, muitas vezes absurdas, eles vivenciam competências diferentes. E isso só funciona se tiver relevância”, conta.

Para ela, uma experiência que ajudaria a atrair mais estudantes seria contar mais para alunos pequenos sobre o dia a dia de matemáticos e mostrar como a disciplina é essencial em atividades como previsões meteorológicas, por exemplo. Susanne também diz que um dos desafios para professores e educadores é estudar de onde vem as barreiras no aprendizado. “Os que não entendem conteúdo na 5a série podem ter passado por algo na 2a série. Precisamos discutir de onde veio isso”.


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