Testes de soluções educacionais precisam trazer benefícios para educadores - PORVIR
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Inovações em Educação

Testes de soluções educacionais precisam trazer benefícios para educadores

Quinta edição do Conecte-C, promovido pelo CIEB, teve debate sobre modelos para a validação de produtos ou serviços na área de educação

por Marina Lopes ilustração relógio 28 de setembro de 2016

O caminho para validar um novo produto ou serviço passa pela realização de um piloto. Apesar da etapa de testes ser fundamental para identificar se uma solução precisa de ajustes ou já pode ser lançada no mercado, quando o assunto é educação, outros aspectos também devem ser considerados. Até que ponto a cultura da prototipagem e a experimentação cabem no ambiente educacional? Qual vantagem os empreendedores podem oferecer para as escolas que experimentam suas soluções?

Para debater essas questões e refletir sobre a aproximação entre empreenderes e escolas, a quinta edição do Conecte-C, promovido pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), na última terça-feira (27), em São Paulo (SP), reuniu diferentes atores do ecossistema de inovação na educação pública. O debate contou com a presença da assessora da Subsecretaria de Parcerias e Inovação na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, Isabel Opice, o integrante do Programa Escolas Plugadas, da Fundação Lemann, Carlos Uehara, e a gestora do programa Iniciativas Empreendedoras, do Instituto Inspirare, Ana Flávia Castro, responsável pela plataforma Apreender, que conecta empreendedores e educadores.

Embora pareça óbvio dizer que é fundamental conhecer o usuário final antes de empreender em qualquer área, Carlos Uehara diz que isso nem sempre ocorre no mundo das edtechs. Por estar envolvido no Programa Escolas Plugadas, que facilita a identificação, a implementação e o desenvolvimento de novas tecnologias educacionais na rede pública de ensino, ele conta que sempre recebe pessoas que estão desenvolvendo soluções educacionais. “Quando os empreendedores falam com a gente, uma das primeiras perguntas é ‘quanto você conhece do seu usuário final? Você já foi até o chão da escola perguntar, entrevistar e ver como é a rotina dele?’ Eu acho que esse é o principal insumo para ter um produto de qualidade”, aponta.

Conecte-C2Crédito: Divulgação/Conecte-C

Para Uehara, seja por não terem estudado em uma escola pública ou por não saberem como as coisas funcionam, muitos empreendedores acabam desenvolvendo soluções que não levam em conta a rotina e os desafios dos educadores. Para inverter essa lógica, é preciso conhecer as demandas de quem está na sala de aula e encontrar caminhos para validar uma solução. “O ideal seria que o empreendedor conseguisse acompanhar praticamente o dia inteiro perto do usuário final”, reflete, ao citar a necessidade de avaliar um produto ou serviço.

Na hora de realizar um piloto, entretanto, os empreendedores devem ter a clareza de que a sua solução está madura o suficiente para entrar na escola. Lucas Machado, coordenador de projetos da Fundação Lemann, diz que, pensando nisso, o Programa Escolas Plugadas tem procurado selecionar iniciativas que estão em um estágio intermediário de desenvolvimento. “Que não estejam tão maduras a ponto do feedback não fazer mais sentido, mas que não estejam em um estágio tão inicial que a gente não possa levar para a sala de aula”, pontua.

Por mais que seja difícil comprovar o impacto na aprendizagem antes de testar uma solução, ele diz que algumas pesquisas ou evidências educacionais podem ajudar a balizar esse processo. “Seria uma baita irresponsabilidade levar qualquer coisa que não tivesse o mínimo de embasamento para dentro da sala de aula”, afirma.

“O piloto deve ser algo mais refinado, porque o usuário final é o aluno que está no processo de aprendizagem”, defende Ana Flávia Castro, do Instituto Inspirare. Na etapa de testes, ela diz que a solução deve estar realmente pronta. Ainda que um empreendedor desenvolva uma solução para facilitar a vida do professor ou colaborar com a gestão de um diretor, ele não pode nunca perder o foco na aprendizagem. “Uma solução de educação tem que ter essa preocupação o tempo todo.”

Mesmo admitindo que empreender em educação não é um caminho fácil, ela destaca que é fundamental conhecer e entender quem são os vários usuários da escola. Além disso, ela também levanta o desafio de encontrar um modelo para viabilizar a fase de testes. “O piloto tem um custo que precisamos entender. Quem vai apoiar isso?”, questiona.

O piloto deve ser algo mais refinado, porque o usuário final é o aluno que está no processo de aprendizagem

Se para os empreendedores fica claro a vantagem dessa experiência, do lado das escolas, qual é o real ganho obtido para gastar tempo testando essas soluções? A partir da experiência da plataforma Apreender, Ana Flávia diz que os educadores enxergam valor na possibilidade de conhecer soluções que vão facilitar a sua rotina, mudar a dinâmica da sala de aula e engajar o seu aluno. Na plataforma, por exemplo, um marketplace possibilita os empreendedores cadastrarem suas soluções para terem acesso a uma comunidade escolar disposta a testar seus produtos ou serviços. “A nossa proposta inicial é fomentar essas colaborações”, afirma.

Além da contrapartida de oferecer alternativas para desafios enfrentados pelas escolas, alguns debates atuais também questionam a necessidade de remunerar os educadores que estão se oferecendo para testar soluções na sala de aula. Experiências internacionais como as do iHub, já estão apostando em um modelo de pagar pela avaliação dos produtos apresentados.

Durante o encontro, a assessora da Subsecretaria de Parcerias e Inovação na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, Isabel Opice, também compartilhou a experiência da iniciativa Pitch Gov SP, que tem o objetivo de encontrar soluções inovadoras para desafios de relevância pública.

Entre as startups selecionadas pelo Pitch Gov SP, a ClassApp foi escolhida para atender uma demanda do Centro Paula Souza, de implementar um sistema de comunicação móvel entre alunos, professores, pais e diretores. Inicialmente, ela conta que não foi pensada nenhuma estratégia específica de remuneração, mas a equipe responsável pelos convênios disse que seria preciso pagar o professor, já que ele teria que participar de treinamentos e gastar mais algumas horas de trabalho.

Por outro lado, Carlos Uehara pondera que é preciso tomar um pouco de cuidado com a questão do incentivo, já que os professores também devem estar aptos a testar uma tecnologia. “Os educadores veem como principal incentivo conseguir resolver um problema que eles têm. A partir do momento que a gente adota um modelo de remuneração, talvez esse incentivo seja trocado.”


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empreendedorismo, instituto inspirare, negócios de impacto social, tecnologia

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