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‘Ações afirmativas ajudam a escolher melhores candidatos’

Psicólogos de Stanford, da Universidade de Waterloo e de Harvard afirmam que provas tradicionais prejudicam cotistas

por Patrícia Gomes ilustração relógio 27 de abril de 2012

Não é só no Brasil que o debate sobre políticas de cotas está pulsante. Na semana em que o STF julgou constitucionais o programa de cotas em universidades brasileiras, nos Estados Unidos, pesquisa realizada por Greg Walton (Stanford), Steven Spencer (Universidade de Waterloo) e Sam Erman (Harvard), defende que, para escolher os melhores candidatos, instituições de ensino precisam levar em consideração questões de raça e gênero.

De acordo com o estudo, que será publicado na Social Issues and Policy Review, as formas tradicionais de avaliação deixam de considerar aspectos psicológicos que normalmente impedem os representantes de grupos minoritários de alcançar o melhor desempenho possível. “As pessoas têm se questionado se políticas afirmativas [que visam a inclusão de minorias na universidade] são ou não conflitantes com a meritocracia. Nosso argumento é que você precisa de ações afirmativas para tomar decisões baseadas em mérito, para escolher os melhores candidatos”, disse Walton ao Stanford News.

Segundo o especialista, as pessoas acreditam que medidas de mérito, como notas e provas, são imparciais e refletem exatamente quanto os estudantes sabem sobre determinado assunto. Essa crença, defende ele e seus colegas, está errada porque os exames tradicionais criam uma experiência psicológica diferente para alunos representantes de minorias: nos testes, eles têm medo de reafirmar um estereótipo negativo que seu grupo tem e, com isso, não tiram notas tão boas quanto poderiam. Em psicologia, esse medo é chamado de ameaça de estereótipo.

“Ao dar passos afirmativos as organizações promovem meritocracia e diversidade de uma vez só”, diz pesquisador

Assim, quando um aluno de um grupo minoritário alcança a mesma pontuação que um colega que não representa nenhuma minoria, ele deveria ser beneficiado. “As pessoas normalmente conhecem o estereótipo de seu grupo. Esses estereótipos funcionam como um ‘vento psicológico’, que as leva a ter um desempenho pior”, afirma o pesquisador.

Para Walton, os responsáveis por avaliações oficiais, como o SAT nos EUA (espécie de vestibular americano), deveriam pensar novas formas de avaliação em que essas ameaças psicológicas não influenciassem tanto o resultado final. “Ao dar passos afirmativos, as organizações promovem meritocracia e diversidade de uma vez só”, dizem os pesquisadores.

A intenção do trio é apresentar as conclusões da pesquisa à justiça norte-americana no segundo semestre, quando a Corte Suprema deve julgar um caso que pode enfraquecer as ações afirmativas nos EUA, país onde as cotas são proibidas (leia mais aqui). Em outubro, juízes debaterão a constitucionalidade das ações da Universidade do Texas e a expectativa é que o julgamento ponha fogo na discussão sobre cotas.

No Brasil, o STF decidiu na quinta-feira passada que o sistema de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras é constitucional (leia mais aqui). Os ministros foram unânimes em concordar que as ações afirmativas não ferem a meritocracia e promovem um ambiente saudável de troca e contato com a diversidade.

O tema sobre cotas é polêmico e está na pauta de várias universidades e governos. Será  que existe alguma outra forma de avaliar os estudantes sem que exista essa pressão psicológica adicional?

Com Stanford News


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