Acolhimento e saúde mental de professores são temas do Encontro com o Porvir - PORVIR

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Acolhimento e saúde mental de professores são temas do Encontro com o Porvir

Quem cuida do educador? Convidamos a psicóloga e educadora Lourdes Alves para o evento que acontecerá no dia 4, em São Paulo. Nesta entrevista, ela oferece uma prévia dos temas que serão debatidos ao vivo e dá recomendações para o autocuidado

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 1 de maio de 2024

Estamos na contagem regressiva para o “Encontro com o Porvir: um dia de aprendizagem, conexão e reconhecimento para educadores que transformam a educação”. O evento acontece em 4 de maio, na Camino School, em São Paulo (SP), das 9h às 18h.

E a educação socioemocional não poderia estar fora do debate. Uma das nossas conversas sobre a sala de aula, no bate-papo em formato de aquário, será justamente sobre como a escola pode acolher os professores.

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Contaremos com a presença da psicóloga e educadora Lourdes Alves, diretora-fundadora da Consultoria Bom Diálogo, especializada em criar eventos vivos, dialogados, interativos e transformadores. 

Conselheira e docente na Associação Palas Athena, Lourdes conversou com o Porvir sobre algumas das questões que debateremos ao vivo, além de listar recomendações importantes voltadas ao autocuidado do professor. As últimas vagas estão disponíveis neste link.

Porvir – Qual a importância das relações socioemocionais na escola?
Lourdes Alves – A pergunta já traz a resposta: é muito importante. A nossa convivência tem sido aquém do que poderia ser. As pessoas estão sofridas. Os professores se queixam e sofrem para lidar com as rotinas. Em vez de convivência e de perceber o que está acontecendo com os alunos, o professor está transpirando, correndo para tratar do conteúdo, de matemática de português… Para mim, que sou uma profissional da saúde, penso que o grande conteúdo necessário para ser desenvolvido nas escolas é o relacional. As crianças precisam ter espaço para conversar, os adultos precisam de espaço para conversar. As rodas de conversa são instrumentos importantes para trabalhar todos os aspectos socioemocionais. Mas é preciso garantir a alfabetização dos adultos nesse sentido, para que a convivência possa ser colaborativa, possa ser compassiva e tenha qualidade. Que um encontro entre as pessoas seja uma coisa importante na escola e não seja secundário. A escola é lugar de convivência e talvez a gente não tenha conseguido ainda criar essa dinâmica favorável de convivência, entre os professores e na sala dos professores. Como é essa sala, que nível de convivência as pessoas têm? Como é a sala de aula com as crianças e com os jovens, né? Todos estão sofrendo, precisando de ajuda. E a escola precisa contribuir nesse sentido.

Arquivo pessoal

Porvir – Como isso pode acontecer?
Lourdes Alves – A escola não tem mais o direito de apenas oferecer instrução. Ela precisa oferecer mais e, para fazer isso, nós educadores precisamos estar com as ferramentas próprias para desenvolver essa humanidade. A escola é um espaço de convivência, o espaço de fazer convivência, a escola é o espaço que deveria desabrochar a belezura de cada um. Digo deveria porque talvez a gente não esteja ainda fazendo com que ela seja o lugar onde a gente consegue escutar uns aos outros. A educação socioemocional é muito importante.

Porvir – Atualmente, apoiar a aprendizagem socioemocional dos estudantes é uma alta prioridade para as escolas. Mas a competência socioemocional dos professores é igualmente importante. Como a escola pode acolher esses professores?
Lourdes Alves – Entendo que se trata da alfabetização emocional. Há várias coisas que podem ser feitas nesse sentido. Um projeto da escola seria interessante, como um seminário com profissionais que trabalham com essa área. Conheço vários, inclusive eu poderia apoiar nesse sentido. Em um dia, seria possível fazer uma parada para refletir sobre isso, nos sentidos teórico e prático, para que pudesse alcançar o coração das pessoas.

É preciso cuidar das pessoas, e nem sempre a formação teórica é a que mais ajuda. Mas um projeto que pudesse ter processo: não é um dia de atividade, mas sim um semestre, um ano, até que todos possam se sentir bem com isso. Sou psicóloga, trabalho já há um tempo com este tema, com as emoções, e tenho sempre colocado para escolas, empresas e instituições a importância de sustentar um processo de trabalho com as pessoas, um processo de cuidado. Isso pode ser feito de uma forma leve, profunda e transformadora.

Eu tenho um projeto que se chama “A convivência, a hospitalidade e o cuidado: pensar, fazer e viver”, porque tudo acontece na convivência. É o encontro entre os humanos responsável pela grande magia que nos humaniza, que nos coloca em situações de conflito e em desafios. Eu recomendaria um trabalho processual com os adultos, para que eles possam sustentar então uma proposta com as crianças.

Porvir – Como o professor pode lidar com as próprias emoções e fortalecer as competências socioemocionais, para criar um clima favorável ao aprendizado dos alunos?
Lourdes Alves – Todos nós precisamos nos alfabetizar sobre as emoções. Existem diversos cursos, livros e outros materiais disponíveis. Parece que nos demos conta da importância das emoções e de que precisamos delas. Não existe emoção ruim; elas são inerentes ao ser humano e precisamos tratá-las e acolhê-las. Nós, educadores, precisamos reconhecer a importância disso, e este é o começo da conversa: perceber o valor das emoções.

Porvir – O que acontece se não percebemos essa importância?
Lourdes Alves – Quando não percebemos essa importância, acabamos nos acostumando ou não temos coragem de enfrentar as emoções. Vamos lidando, escondendo, tratando de um jeito que aprendemos a lidar, que é o não lidar. Por isso, precisamos nos alfabetizar, e existe material em abundância. Há uma coleção de livros de bolso chamada ‘Emoções – Mente e Cérebro’, que aborda todas as emoções, incluindo culpa, vergonha, medo e tristeza…

Existem as emoções básicas que precisamos estudar e suas variações. Para os professores, é importante trabalhar a questão da inteligência emocional, compreendendo como lidar com as próprias emoções e com as emoções dos outros. É necessário realizar um trabalho extensivo nesse sentido, pois meras dicas não são suficientes. A escola é um local crucial para esse tipo de trabalho. É essencial que os professores estejam em condições de trabalhar com as crianças, pois, caso contrário, como posso oferecer algo que eu mesmo não possuo?

Porvir – Qual recomendação você daria para um professor que queira desenvolver um projeto que leve em consideração aspectos socioemocionais da turma? Muitos identificam o problema, mas não sabem como atuar de maneira prática…
Lourdes Alves – Sugiro levar à sala de aula um projeto para trabalhar as emoções. É importante alfabetizar as crianças sobre emoções, ensinar a nomeá-las. Eu comprei para o meu sobrinho-neto um dicionário muito interessante, chamado “Emocionário – Diga o que você sente (Editora Sextante). Tenho uma amiga com crianças pequenas que também tem trabalhado essa questão com seus filhos. Eles conseguiram criar algo bonito: um painel na casa dela sobre as emoções. Imagine esse painel na escola! Como as crianças entendem cada uma das emoções? Elas podem refletir um pouco sobre a cor da alegria, da tristeza, da raiva e do medo. Vale também atribuir as sensações: como fica o meu corpo quando estou triste, para onde a tristeza me leva? Dramatizar isso no teatro pode ser muito produtivo, permitindo que as crianças sintam e percebam a emoção que toma conta do corpo. Quando estou com raiva, meu rosto fica quente, e meus músculos se enrijecem. As crianças percebem a emoção da maneira que ela surge e aprendem como lidar com ela.

Porvir – É muito importante acolher as emoções…
Lourdes Alves – Exato. E eu não hesito em perguntar ao meu sobrinho como ele se sente. Recentemente, sua mãe foi internada por ter contraído dengue. Ele estava muito agitado. Quando perguntei como se sentia, ele respondeu: “Acho que é tristeza o que estou sentindo. Não tenho muita vontade de falar, quero apenas ficar quieto e sentado, pensando…”. A tristeza nos leva a esse lugar. Continuamos a conversa, e ele perguntou: ‘Será que minha mãe vai morrer?’. Eu respondi: “Acho que você está sentindo medo”. E então, conversamos sobre o medo. É essencial que as crianças entendam isso, e que os adultos também acolham suas emoções e saibam tratá-las. Quando percebo que estou com raiva ou tristeza, o que faço? É crucial reconhecer como cuido dessas emoções. A raiva sempre nos desloca. Como posso canalizar esse impulso, essa energia? Refletir sobre isso pode ser muito interessante e produtivo.

Porvir – Quais seriam as suas recomendações para que o professor comece a praticar o autocuidado?Lourdes Alves – Penso aqui em algumas recomendações de autocuidado para os educadores, para as mães e para os adultos em geral. Talvez a gente esteja negligenciando esse autocuidado. 

  • Há um ano, eu tenho contato com a prática da yoga, que tem me ajudado a conhecer e cuidar de cada pedacinho do meu corpo alongando, reflexionando, criando movimento. Mais recentemente, adotei uma prática de yoga semelhante à fisioterapia, ideal para pessoas maduras, focada no cuidado com a coluna e o quadril, além de fortalecer o pescoço e as pernas.
  • Também gosto dos benefícios curativos de chás e banhos, que são pequenos gestos de cuidado pessoal.
  • Assim que levanto, separo 15 ou 20 minutos para movimentos de alongamento e consciência do corpo. Quando fazemos isso, respiramos com consciência, o que é uma forma de atenção e concentração.
  • A meditação não é necessariamente a gente subir no topo de uma montanha e ficar lá isolado, sozinho, mas colocar a atenção em si mesmo. A respiração ajuda muito nesse processo.
  • Digo para o professor: olhe para dentro de si, tente identificar o que você precisa, para ter maior consciência das coisas do cotidiano. Quando estiver comendo, abandone o celular: aproveite para apreciar a comida, degustá-la. Durante o banho, permita-se relaxar. Tudo o que fizer, faça com presença e consciência plena. Esse é o autocuidado interior.
  • Claro que há o autocuidado para fora: cuidar do cabelo, da pele, da aparência. Mas talvez isso já esteja mais pronto. A sociedade cobra que a gente esteja bem do lado de fora, mas a gente cuida pouco do lado de dentro. E isso precisa mudar. 
  • Por fim, desacelere. Dê tempo ao tempo, silencie aquela voz que fica martelando nossa cabeça. Diminua o volume dessa voz e permita-se.

O Encontro com o Porvir conta com:


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educação socioemocional

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