Fundação oferece bolsas em gestão pública
Instituição espanhola oferece 40 vagas aos melhores universitários latino-americanos com vocação para o serviço público
por Vagner de Alencar 20 de fevereiro de 2013
O que é preciso para fortalecer a gestão pública na América Latina? A Fundação Botín, uma das principais instituições sem fins lucrativos da Espanha que desenvolve ações voltadas à educação e à ciência, aposta na formação de jovens latino-americanos não para assumir cargos executivos em grandes empresas, mas para atuar no setor público. Para isso, lançou hoje a quarta edição das Bolsas para o Fortalecimento da Gestão Pública na América Latina, um programa que pretende detectar e formar universitários com vocação ao funcionalismo público para que ampliem e desenvolvam ferramentas que melhorem a gestão pública de seu país. Com inscrições abertas até 30 de abril, o programa vai selecionar 40 universitários – e 15 ficarão no cadastro de reserva –, entre 19 e 23 anos, de qualquer área do conhecimento, de países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Porto Rico, Venezuela, El Salvador, Costa Rica e Uruguai.
Na formação, que tem previsão para iniciar em 30 de setembro, os universitários passarão por um curso intensivo de dois meses e meio. As aulas serão realizadas na Brown University, nos Estados Unidos, e contarão com atividades acadêmicas, oficinas, seminários, trabalhos em equipe, conferências e debates ligados à educação, marco jurídico, institucional, economia e sociedade civil. “A existência de um setor público sólido é condição sine qua non para que as sociedades usufruam de desenvolvimento social, econômico e cultural sustentado ao longo do tempo”, afirmou Iñigo Saenz de Miera, diretor-geral da Fundação Botín, hoje no lançamento do programa em São Paulo.
Ainda como parte da formação complementar, os estudantes realizarão visitas institucionais à Espanha e à Bruxelas. No roteiro, estão o Congresso dos Deputados, o Senado, o Conselho Geral do Poder Judiciário de ambos os países, além do Quartel General da Otan, o Banco da Espanha, a cidade financeira do Banco Santander, a Comunidade de Madri e o Parlamento Europeu. Durante as visitas, os jovens terão encontros com profissionais dessas instituições, assim como sessões de treinamento, atividades esportivas, encontros com tutores e um programa de coaching.
As inscrições serão feitas por meio de um formulário on-line. Porém, obrigatoriamente, o estudante deverá anexar à candidatura uma carta de recomendação do reitor da universidade, que poderá indicar, no máximo, três candidatos. Ainda como requisitos para participar, os alunos devem apresentar excelente desempenho acadêmico, domínio do idioma inglês e a prática de ações voltadas ao compromisso social. Por último, precisam também postar no Youtube um vídeo contando sua história e por que merecem a bolsa de estudos.
Em rede
Durante as quatro edições do programa, 30 estudantes brasileiros ganharam bolsas. Um deles foi Marcos Eduardo Maestri, 23, estudante de direito da Univale, em Santa Catarina, bolsista em 2012. “Meu irmão tem síndrome de down e há anos desenvolvo um trabalho em uma fundação que ajuda pessoas com essa deficiência. O curso me permitiu intensificar as experiências”, afirma o jovem que faz estágio em um departamento público da cidade.
É também o caso de Martina Müller, 22. A estudante de direito da USP (Universidade de São Paulo), é atualmente estagiário no Ministério Público Federal, embora também planeje desenvolver trabalho com ONGs. Para ela, um dos diferenciais da formação, além do fato de se capacitar para “fazer o bem público”, é o contato permanente com universitários de carreiras e culturas diferentes. “No grupo, havia estudantes com carreiras bastante distintas, como jornalismo, engenharia, relações internacionais e música, que buscavam e compartilham soluções a partir de suas aptidões. É o que o Brasil também precisa fazer. Muitas vezes nos excluímos da América Latina, quando, na verdade, poderíamos pensar em soluções conjuntas”, diz.
Na terceira edição do programa, em 2012, a fundação recebeu mais de 841 inscrições de estudantes de 318 de universidades latino-americanas; do Brasil foram mais de 200 inscrições de 106 instituições superiores. Nos próximos seis anos, a fundação quer formar 400 jovens. “É importante que mais dos melhores se dediquem ao serviço público”, enfatiza Miera.