Por que a tecnologia deve ter mais destaque na Base? - PORVIR
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Inovações em Educação

Por que a tecnologia deve ter mais destaque na Base?

12ª edição do Conecte-C traz uma análise da terceira versão do documento e apresenta propostas para inclusão da cultura digital e do pensamento computacional na BNCC

por Marina Lopes ilustração relógio 9 de outubro de 2017

Certamente, um estudante de ensino médio não teria dificuldade na hora de colocar em ordem crescente uma lista de quatro números. No entanto, como ele resolveria o mesmo problema se tivesse que organizar cem ou até mil itens? Como encontrar o algoritmo por trás dessa estratégia? Para Leila Ribeiro, coordenadora da Comissão de Educação Básica da SBC (Sociedade Brasileira de Computação), o caminho para solucionar esse desafio pode estar no pensamento computacional, um habilidade que, apesar de essencial para compreender o mundo atual, ainda precisa ser incorporada com maior ênfase na terceira versão da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

Durante a 12ª edição do Conecte-C, encontro promovido pelo CIEB (Centro para Inovação da Educação Brasileira), na última sexta-feira (6), diferentes atores do ecossistema de inovação na educação pública se reuniram para debater propostas de incorporação de tecnologias ao documento da Base, que define um conjunto de aprendizagens essenciais para todos os estudantes brasileiros.

“O que a gente traz para a BNCC é uma proposta baseada nos princípios da computação, e não nas tecnologias”, defendeu Leila Ribeiro, ao destacar a importância desse conhecimento para que os estudantes sejam capazes de solucionar desafios cotidianos. “Pensamento computacional é a habilidade de resolver problemas, e isso não depende de computadores. Quanto mais a pessoa aprende isso, mais ela se liberta e percebe que é possível fazer outras coisas.”

Assim como o fogo e as doenças eram um mistério para os povos do passado, a coordenadora de educação básica da SBC disse que a computação ajudou a construir um mundo que ainda parece mágica para muitas pessoas. Onde estão os dados da nuvem? Como uma mensagem de WhatsApp chega em vários celulares ao mesmo tempo? Qual a diferença entre wifi e internet? Essas são apenas algumas questões apresentadas por ela para exemplificar que crianças e jovens precisam ter subsídios para compreender a realidade que está a sua volta. “Não adianta dizer que essa é a geração digital que já sabe tudo”, contestou.

Na avaliação do conselheiro do CNE, Ivan Siqueira, o documento da Base ainda tem muitas fragilidades no que se refere à inclusão de tecnologia. “O mundo todo está discutindo a insuficiência educacional frente aos desafios que estão emergindo”, destacou, ao mencionar que até mesmo os países com maior desenvolvimento tecnológico estão preocupados com essa questão nas suas escolas.

Para estimular a inserção de princípios do pensamento computacional e do uso de tecnologia no documento, que segue em etapa final de análise, o CIEB e a SBC apresentaram ao CNE (Conselho Nacional de Educação) uma série de contribuições com base em currículos internacionais e centros de pesquisa referências em tecnologia educacional. Entre elas, a proposta de refletir questões relacionadas à cultura digital com maior ênfase nos conhecimentos específicos das áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.

De acordo com um levantamento realizado a partir da última versão do Base, o documento não consegue materializar as competências gerais nas áreas de conhecimento. As competências específicas de língua portuguesa, educação física, geografia e história, por exemplo, não trazem nenhuma menção à quinta competência geral, que prevê o uso de tecnologias digitais de comunicação e informação para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas.

“A gente constatou que a tecnologia está presente em pequenas partes [do documento] e de forma não suficiente”, afirmou Graziella Matarazzo, que participou do desenvolvimento do estudo como consultora do CIEB. Segundo ela, a inserção dessa competência na BNCC deveria ser mais forte e concreta para ajudar a trazer a aprendizagem para uma proposta mais ativa.

Em um estudo comparativo disponível no site do MEC (Ministério da Educação), uma análise dos níveis de aprendizagem, conforme a Taxonomia de Bloom, mostrou que apenas 5,6% das habilidades inseridas na terceira versão da Base estão relacionadas ao criar. Enquanto isso, a maior parte delas estão no nível do compreender –associadas a momentos de aprendizagem passiva.

Ainda participou do debate Alice Ribeiro, secretária executiva do Movimento pela Base, que destacou a importância da BNCC como um documento norteador para definir as aprendizagens essenciais a todos os estudantes do país. Ela também destacou que a Base Nacional deve ser discutida por toda sociedade e atualizada para contemplar questões atuais. “A Base é um documento vivo que precisa ser reflexo do seu tempo”, afirmou.


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base nacional comum curricular, tecnologia

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