Uso excessivo de telas segue preocupando educadores em todo o país
Pesquisa revela que estudantes enfrentam dificuldades para se desconectar das telas, afetando saúde mental e concentração. Professores defendem o uso crítico da tecnologia na escola
por Ruam Oliveira
23 de outubro de 2025
A tecnologia digital está cada vez mais presente na vida das pessoas. Para estudantes e educadores, ela influencia a maneira de ensinar, aprender e se posicionar no mundo.
A pesquisa “Percepções sobre Tecnologias Digitais”, desenvolvida pela Fundação Itaú em parceria com a Equidade.info, mostrou que, embora existam bons usos dessas ferramentas, os estudantes ainda enfrentam dificuldades para reduzir o tempo de conexão.
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O levantamento revelou que 76% dos professores e 81% dos gestores acreditam que os estudantes não conseguem se desconectar. Distração e impactos diretos na saúde mental estão entre os principais aspectos negativos apontados pelos educadores. Do lado dos estudantes, 56% afirmam ter dificuldade em diminuir o tempo que passam no celular ou no computador.
Apesar de a conexão constante gerar distrações, e ser proibida no horário escolar com a Lei 15.100, os próprios estudantes reconhecem que estar ativo nas redes sociais também fortalece vínculos com amigos e familiares, A vida digital, portanto, tem sua parcela de contribuição para a vida social e a construção da identidade.
É uma via de mão dupla, contudo. Muitos estudantes descreveram o acesso às redes sociais como um antídoto contra a solidão. No entanto, a saúde mental também sofre impactos: 44% disseram sentir ansiedade quando suas mensagens são visualizadas, mas não respondidas.
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“Diante dessa realidade, um primeiro passo é levar à sala de aula a discussão sobre as consequências do uso intensivo do celular, do computador ou das redes sociais, para que os alunos estejam conscientes dos problemas que podem decorrer desse uso excessivo”, afirma Carla Chiamareli, gerente do Observatório Fundação Itaú.
Ela também destaca que, a despeito dos obstáculos e do uso excessivo de telas, as tecnologias digitais podem apoiar o trabalho docente e a rotina dos estudantes. “O importante é pensar o uso de forma crítica e com intencionalidade pedagógica”, explica.
Alan Valadares, coordenador do Observatório Fundação Itaú, defende que encontrar o equilíbrio é essencial quando se trata da inserção das tecnologias digitais no ambiente escolar.
“Acredito que a tecnologia deve ser utilizada até o ponto em que traz benefícios. Neste momento em que vivemos, é preciso buscar esse equilíbrio: como tirar proveito do que a tecnologia oferece de bom, sem cair nas armadilhas do tempo excessivo que ela pode consumir”, ressalta.
A pesquisa ouviu estudantes, professores e gestores de 170 escolas de todas as regiões do Brasil, entre abril e maio deste ano.
Tanto docentes quanto gestores reconhecem a tecnologia como uma ferramenta de grande valor, embora apontem um custo para a atenção dos estudantes. Por outro lado, 70% dos professores e 68% dos gestores concordam que a tecnologia contribui para a melhora do desempenho escolar.
Contudo, a principal preocupação reflete números semelhrantes 68% dos professores e 65% dos gestores concordam que o uso excessivo pode prejudicar a concentração dos alunos.
| Tecnologias digitais e educação |
|---|
| – Pesquisa escolar: 90% utilizam para pesquisar informações para trabalhos. – Esclarecimento de dúvidas: 86% buscam esclarecer dúvidas sobre conteúdos. – Resolução de exercícios: 85% procuram soluções e explicações para exercícios. – Videoaulas: 74% assistem a videoaulas. – Podcasts: O uso de podcasts sobre temas estudados é o recurso com menor adesão, mencionado por apenas 31% dos estudantes. |
Em busca de comentários e validação
A escola tem papel fundamental na formação dos estudantes para que saibam verificar conteúdos na internet. Os dados da pesquisa mostram que, para avaliar a credibilidade de uma informação, 70% dos estudantes consultam os comentários de outros usuários. Esse comportamento também é comum entre os professores: 69% afirmam fazer o mesmo.
No entanto, os docentes tendem a ser mais rigorosos na verificação por meio de fontes oficiais (91%), embora esse índice também seja significativo entre os estudantes (70%).
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Quem tem mais é mais confiável?
Um dado curioso apresentado pela pesquisa revela que, para muitos participantes, os números importam. A quantidade de seguidores é um critério de credibilidade para 41% dos professores e 55% dos estudantes. Além disso, 43% consideram o número de compartilhamentos como um indicador de confiabilidade.
“Diante das transformações que as tecnologias vêm promovendo, não apenas com o avanço da inteligência artificial, mas também dos algoritmos, esse é um ponto de atenção que deve ser debatido em sala de aula. É importante desenvolver atividades que incentivem a busca por múltiplas fontes, para que os estudantes percebam que uma notícia nem sempre é verdadeira”, destaca Carla.
Para Alan, é urgente ensinar sobre as próprias tecnologias, e não apenas desenvolver competências para seu uso.
“Estamos cada vez mais digitais, em um cenário em que as profissões dependem fortemente de recursos tecnológicos. Por isso, é fundamental compreender o funcionamento dessas tecnologias, que já fazem parte do nosso cotidiano”, enfatizou.
Professores como criadores de conteúdo
A ideia de que os jovens são os maiores produtores de conteúdo nas redes sociais foi contestada pela pesquisa. Entre os participantes, os professores foram os que mais produzem conteúdos digitais: 55% dos docentes, contra 24% dos estudantes.
O padrão de uso entre os estudantes está mais focado no consumo e na socialização: 94% utilizam a tecnologia para se conectar com amigos, e 90% para entretenimento.
Já os professores usam amplamente os recursos digitais para planejar aulas e buscar metodologias inovadoras, prática mencionada por 97% dos docentes que participaram da pesquisa.
➡️ Confira a pesquisa na íntegra





