As oportunidades de uso da Tecnologia Celular 5G em educação
Como a nova tecnologia de comunicação abre novas possibilidades para o ensino e aprendizagem e a realização de tarefas complexas em 3D
por Manuel Steidle 27 de agosto de 2019
A rápida evolução das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) viabilizou uma grande diversidade de recursos e soluções de aprimoramento e inovação na educação com o uso da internet, computadores, celulares, tablets, projetores e até óculos de realidade virtual. O acesso a bibliotecas online, filmes, multimídias 3D, robótica, ferramentas de simulação e demais vem enriquecendo as aulas e a forma de relacionamento entre professor e estudantes. Com a chegada da tecnologia de comunicação celular 5G, existe um potencial de melhoria significativa destas soluções e se abrem novas oportunidades, para as quais temos que estar preparados.
A quinta geração de comunicação móvel se diferencia das de terceira e quarta gerações com especial destaque à banda de comunicação, tempo de resposta e confiabilidade da rede. Com velocidades de transmissão de mais de 1 Gigabyte por segundo e tempo de resposta (latência) de 1 milissegundo, haverá um desempenho na comunicação móvel que antes estava reservado somente às redes fixas de fibra ótica.
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Além de fortalecer recursos já existentes, como filmes em alta definição e download de grandes quantidades de dados, como acervos de imagens e áudios, a baixa latência da rede e a mobilidade/onipresença dos equipamentos possibilitam novas aplicações e paradigmas de comunicação.
Em especial a interatividade à distância do 5G é de grande valor. O paradigma do diálogo e da interação “olho no olho”, que já começa a ser utilizado em videoconferências, será muito mais realista, aproximando pessoas e facilitando o fluir de pensamentos e discussões de duas ou mais pessoas interconectadas via rede. A eliminação das latências atuais, ainda perceptíveis, vai viabilizar uma conversação mais natural e fluida.
O ensino a distância de conteúdos e habilidades de grande dinâmica como música, dança, ginástica e demais aprendizados psicomotores serão facilitados por meio de uma comunicação rápida e tempos de resposta imperceptíveis. Desta forma, a comunicação poderá ir além da escrita e verbal, evoluindo para gestos, mímicas e dinâmicas coordenadas de aprendizado coletivo, de encontro às teorias de neurônios espelho, desenvolvimento da empatia e habilidades sociais.
Esta possibilidade de “telepresença” pode ser uma resposta às críticas que vêm sendo feitas à massificação e unilateralidade de conteúdos na internet, pois, com mentores e orientadores apresentando conteúdos e, ao mesmo tempo, respondendo a perguntas e dúvidas de seu público, há espaço para discussões e pensamento crítico.
Indo além das possibilidades de reprodução da sala de aula à distância por meio de comunicação remota, a banda larga e baixa latência irão viabilizar a interação de indivíduos e grupos com objetos complexos. Assim, o ensino baseado em projetos ganha poderosos recursos de estudo e cocriação. As aplicações de alta tecnologia, como arquitetos e engenheiros criando e interagindo online com objetos 3D à distância para a construção de um prédio, serão passíveis de serem reproduzidas em celulares e óculos 3D portáteis de baixo custo.
Com as ferramentas adequadas e a boa conectividade da rede 5G, será possível se estudar um atlas de anatomia, mapas em alto relevo, moléculas complexas, interagindo e cocriando com outras pessoas independentemente de elas estarem próximas.
O conceito que vem sendo utilizado por especialistas em telecomunicação, denominado de “internet tátil”, resume bem estes potenciais. Com a “internet tátil”, conteúdos e informações terão uma resposta tão rápida ao comando de nossos dedos e comandos, que sentimos um feedback como o tato de nossas mãos em um objeto físico.
Mesmo ainda havendo investimentos significativos a serem realizados para regulamentação e infraestrutura com garantia de cobertura para amplas regiões no Brasil, o 5G também abre oportunidades para o ambiente de educação, por não demandar investimentos adicionais no aparelhamento da escola nem da casa de estudantes e professores.
Com o acesso à internet sem fio, direto em aparelhos móveis, não se faz mais necessária a instalação de rede fixa nestes locais. Com a adequada densidade de antenas, até mesmo bairros com limitações de infraestrutura poderão rapidamente ser atendidos por serviços de comunicação e educação nas escolas e casas do local.
Este cenário de grandes potenciais de aplicação da tecnologia 5G na educação deve servir de estímulo para educadores e desenvolvedores de tecnologia, software e mídias se dedicarem a uma comunicação ubíqua, rápida e interativa. Apesar da importância de canais de comunicação 5G para o futuro, o verdadeiro potencial de educação e protagonismo de professores e estudantes continuará a ser baseado em metodologias consistentes e cuidados com aspectos pedagógicos e éticos do processo de aprendizado e formação dos indivíduos.
Manuel Steidle
Engenheiro Mecânico formado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), possui Mestrado em Administração e Marketing pela FHN Mönchengladbach, na Alemanha. É especialista em análise de viabilidade técnica e econômica de projetos, novas tecnologias e desenvolvimento de produtos, exerce o cargo de Head de Tecnologia da Fundação CERTI (Florianópolis-SC). Desde 1999, trabalha no desenvolvimento de tecnologias de informação em inclusão digital, automação bancária e comercial, produtos para educação, entretenimento, soluções para trabalhos colaborativos e treinamento, como interfaces homem-máquina e simuladores com realidade virtual e aumentada.