Cinturão de fibra ótica leva internet veloz a escolas do Ceará
Estado já tem 138 escolas que recebem uma velocidade de 60 Mbps de internet, superando de longe a conexão oferecida pelo Plano Banda Larga nas Escolas
por Vinícius de Oliveira 24 de agosto de 2015
O estado do Ceará vivia, até 2008, um problema comum a muitas administrações públicas brasileiras. Gastos com telecomunicação sufocavam o orçamento enquanto a infraestrutura caminhava a passos lentos e se mostrava insuficiente para acompanhar a digitalização de serviços públicos — entre eles a educação — e atrair empresas do setor privado.
O gargalo começou a ser resolvido no final de 2011, quando entrou em operação, após quatro anos de obras, o Cinturão Digital do Ceará, uma iniciativa de R$ 78 milhões que liga 49 cidades do estado a uma estrada de 2.500 km de internet de alta velocidade via fibra ótica. O projeto foi custeada por investimento do Tesouro do Estado do Ceará, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e de crédito oriundo do Banco Mundial.
O tronco que hoje passa por 345 escolas da rede estadual tira vantagem da posição da capital do estado, segundo conta Fernando Carvalho, ex-presidente da ETICE (Empresa de Tecnologia da Informação do Estado do Ceará). “A gente sempre soube que aqui fica o ponto de entrada e de saída dos cabos para a América Latina, o que faz de Fortaleza uma região estratégica por estar na mesma distância dos EUA, da Europa e da África”.
Segundo Carvalho, que também é professor do departamento de computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), a outra vantagem evidente era de ordem financeira. “O governo gastava R$ 32 milhões por ano em serviços de telecom e a gente viu que o retorno do investimento em infraestrutura viria em apenas dois anos”, analisa.
O embrião do cinturão começou com o projeto da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) chamado GigaFOR, em 2007, que consistia em uma rede de 54 km para conectar universidades e instituições de pesquisa na região metropolitana de Fortaleza. Em um acordo com o governo do estado, que se responsabilizou pela manutenção da infraestrutura em troca do uso para instituições públicas
Para dar conta da cobertura de 82% da população urbana do estado, na segunda fase teve início a expansão da rede para o interior. Isso só foi viável com a instalação de antenas da tecnologia Wimax (sistema de transmissão via rádio), que oferecem banda larga sem fio em 24 cidades. A partir da terceira fase, prefeituras do interior puderam oferecer planos de 1 Mbps (megabit por segundo) por R$ 29,90 (em 2006, o preço era de R$ 600). A quarta fase, em andamento, abre a possibilidade de que prestadoras de serviço de telefonia compartilhem o direito de uso das fibras óticas e também arquem com parte de sua manutenção.
No estudo “Infraestrutura de comunicação para a governança e o desenvolvimento: o cinturão digital do Ceará”, Carvalho compara a nova infraestrutura de internet a uma rodovia com pedágio, “onde todos que possuem um serviço a oferecer podem transitar”. Para usar a estrada, o usuário – pessoa física ou jurídica – terá que pagar cota de manutenção, que cobrirá os custos de manutenção e expansão da rede. Com isso, a manutenção e a expansão estarão livre da dependência por recursos públicos.”
Como a internet chega às escolas
Antes de receber o fôlego extra e uma banda larga de fato, as escolas tinham à disposição entre 1 e 2 Mbps fornecidos pela operadora Oi dentro do Plano Banda Larga nas Escolas. “Com o cinturão, hoje, além do serviço disponibilizado pelo Projeto Banda Larga, temos 138 escolas com cerca de 60 Mbps”, afirma Betânia Raquel Gomes, coordenadora de Aperfeiçoamento Pedagógico da Seduc (Secretaria da Educação do Ceará). A previsão do governo é que o sinal de Wi-Fi alcance todas as salas de aula.
No projeto, cada escola recebe quatro pontos de acesso, que são instalados por técnicos de Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação. As escolas que já estão preparadas aproveitam de forma mais plena recursos digitais que antes eram inalcançáveis dada a instabilidade e lentidão da rede. “A utilização de videoconferências e os cursos promovidos pelo Centro de Educação a Distância são exemplos do impacto do cinturão”, diz a representante da Seduc.
Para ajudar professores e estimular o uso de tecnologia em sala de aula, o estado criou uma rede de formadores distribuída nas 23 coordenadorias regionais e na superintendência das escolas estaduais. Com isso, alunos já têm experimentado o uso de videoaulas, cursos online e plataformas de aprendizado. “Antigamente, as escolas tinham uma conexão entre 5 Mbps e 15 Mbps, que eram muito lentas e caíam. Passávamos muito tempo sem internet pela necessidade de manutenção frequente”, descreve Eliseu Paiva, diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Cals, que tem 1.500 alunos divididos em 36 turmas.
“Nós temos três laboratórios de informática com 20 computadores e mais 40 notebooks que podem ser levados para a sala de aula quando o professor solicita”, diz Paiva, que defende que “sem internet, o computador é só um instrumento sem muita função”.
Na escola, acontecem as aulas interdisciplinares chamadas de Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, em que alunos preparam projetos ao longo do ensino médio (veja exemplos no Especial Competências Socioemocionais). “Nossas turmas têm de 35 a 40 alunos e os alunos sentam em dupla nos laboratórios. Os 60 Mbps ainda não são o ideal, mas comparando com o que a gente tinha, melhorou muito”, diz.
Em Fortaleza, o link dedicado com 60 Mbps de velocidade deve chegar a todas as escolas até dezembro. Para os próximos anos, o objetivo do projeto do Cinturão Digital do Ceará é aproveitar a malha já existente e ligar por fibra 100% das escolas da região metropolitana. No interior, a infraestrutura de rádio deve ser trocada por fibra, porque além da limitação de velocidade para 11 Mbps, existe um risco de oscilação no sinal de conexão. “À medida que existe uma demanda das prefeituras para contratar fibra para os órgãos públicos, o projeto fica mais barato para nós da Seduc também”, diz Giovani Campelo, gestor de tecnologia da informação da Seduc.