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A matemática que engaja, diverte e estimula

Metodologia desenvolvida em Harvard que prioriza o raciocínio lógico no aprendizado chega a 7.800 alunos brasileiros

por Fernanda Kalena ilustração relógio 12 de setembro de 2014

A matemática é uma das disciplinas vilãs durante os anos escolares. Grande parte dos alunos tem dificuldade em aprender seus conceitos e os professores acham difícil estimular e engajar suas turmas. Com o intuito de mudar este cenário, o projeto O Círculo da Matemática do Brasil propõe uma nova metodologia de ensino para a disciplina, que é lúdica, participativa e prioriza o raciocínio lógico.

O projeto é baseado no programa The Math Circle (Círculo da Matemática, em livre tradução), desenvolvido na Universidade Harvard pelos professores Bob e Ellen Kaplan, em 1994. A metodologia não envolve aulas expositivas e nenhuma informação é transmitida unilateralmente aos alunos. Em vez disso, os educadores os questionam e instigam a descobrir sozinhos as respostas.

O principal lema do projeto é: “Diga-me e eu esquecerei. Pergunte-me e eu descobrirei”. “A ideia é não dizer nada, mas sim fazer perguntas intrigantes, com mistérios acessíveis, que explorem a imaginação. Quando os estudantes descobrem sozinhos como as coisas funcionam, eles se sentem orgulhosos e mais confiantes”, conta Bob Kaplan.

Por exemplo, em uma aula de equações, o educador desafia a turma a responder o número que está dentro da caixa: 7 + [] = 10. Faz isso repetidas vezes, e em algum momento para de chamar a caixa por este nome, justificando que por praticidade chamará de x. Desse modo, os alunos são apresentados à ideia de incógnita de uma forma mais natural e compreendem o conceito por trás do conteúdo.

Como o objetivo é que os alunos busquem as respostas, o erro tem um papel importante no processo. Os educadores são aconselhados a não elogiar acertos individuais, mas sim os esforços coletivos para não incitar disputas no grupo. “A competição é devastadora para os jovens. No círculo, ela vai embora e dá lugar a conversas amigáveis, a trabalhos de equipe”, explica Bob.

O programa tem como característica estratégias inclusivas, de engajamento dos alunos e de reconhecimento de potencial. “Nesse contexto o erro é muito importante, é preciso aceitar que errar faz parte da construção do raciocínio matemático”, afirma o Flavio Comim, professor de economia da UFRGS e membro da equipe que coordena o projeto no Brasil.

“Nós pensamos em nossas aulas como uma conversa numa mesa de jantar”

E tudo isso é feito em um ambiente descontraído, em um tom de conversa, com linguagem informal, evitando o uso de nomenclaturas e termos que já assustam os estudantes pelo nome. “Nós pensamos em nossas aulas como uma conversa numa mesa de jantar”, ilustra Bob. Por esses motivos, a diretriz é que esses grupos sejam pequenos, não extrapolando 10 alunos e que as atividades sejam realizadas no contraturno.

O círculo no Brasil

O projeto chegou ao Brasil em 2013, por uma iniciativa do Instituto Tim e foi expandido no início deste ano. Hoje, cerca de 7800 alunos do 2o ao 4o ano do ensino fundamental de escolas da rede pública, de dez cidades diferentes (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Brasília, Salvador, Aracaju, Fortaleza, Belém e Porto Velho) fazem aulas semanais do Círculo da Matemática.

Quem leciona são educadores selecionados pela equipe brasileira do programa, que receberam capacitação dos próprios professores norte-americanos Bob e Ellen. O casal também auxiliou a equipe na adaptação de estratégias e conteúdos para a realidade brasileira.

“Desde o início, o que procuramos fazer foi uma leitura, uma adequação do projeto para a realidade brasileira. Não podíamos apenas transplantar aulas direcionadas a uma elite intelectual dos Estados Unidos e aplica-las aqui. Temos problemas que precisamos levar em conta, de dentro e de fora da escola”, conta Comim.


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aprendizagem colaborativa, ciências, ensino fundamental, formação continuada

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