Jovem não quer votar em partidos, mas em causas
Pesquisa Box1824 mostra que 67% não têm partido político de preferência, 53% não simpatizam com nenhum deles
por Vinícius de Oliveira
25 de setembro de 2014
“Fui ‘hackeado’ pela política no Capão Redondo, bairro onde moro e um dos maiores currais eleitorais de São Paulo. Discutir política é chamar a responsabilidade, porque desde pequeno via que o único problema que a associação de bairro resolvia era arrumar ônibus quando morria alguém. E só. Isso sempre me incomodou. Pô, se o cara é presidente de bairro – eu já fazia uma ligação com o presidente da República –, ele pode fazer alguma coisa. As últimas duas ruas do bairro foram asfaltadas no começo de 2013 durante a gestão da associação em que eu era vice-presidente. Foi uma coisa louca na minha vida que me disse que eu podia brigar por coisas maiores. Deixei a associação e conheci a mulher da minha vida, que me disse que eu precisava ganhar dinheiro também”.
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Esse é o relato de Bruno Santos, que agora está à frente do Ateliê Sustenta CaPão, uma padaria sustentável. Além disso, trabalha para promover a criação de uma rede de empreendedorismo no bairro do extremo sul da cidade de São Paulo. Também chamado de Bruno “Capão”, ele é um dos jovens que representa essa nova geração que não espera respostas, não se identifica com os partidos nem com os políticos e faz suas próprias mudanças, como mostra a pesquisa “Sonho Brasileiro da Política” (clique para fazer o download do estudo completo), realizada pela agência de tendências Box1824. O trabalho foi custeado por doações da sociedade civil e é continuidade do projeto “Sonho Brasileiro”, que em 2011 estudou jovens em todo o país e identificou seu perfil inquieto e seu interesse por questões do coletivo.
Mesmo após a onda de manifestações de julho de 2013, partidos e políticos parecem não dialogar com os jovens que não querem votar em pessoas, mas em ideias. Entre os entrevistados, 67% não têm partido político de preferência, 53% não simpatizam com nenhum deles. E eles dizem não querer votar em partidos, mas em causas. “Em tempos de campanhas eleitorais, está nítida a incapacidade dos partidos de acolherem o jovem contemporâneo, seus anseios e linguagem. Nenhuma das campanhas presidenciais soube usar a energia das ruas e levantar as bandeiras dos jovens. Os partidos seguem falando para si entre si”, diz Beatriz Pedreira cientista social e também uma das coordenadoras da pesquisa.
Para responder “Por que 2013 foi tão marcante na história do país?”, a pesquisa contou com a participação de 1400 jovens, entre 18 e 32 anos de idade. Este recorte atinge os nascidos entre 1982 e 1996, período que começa na redemocratização e vai até o surgimento da internet. Na etapa qualitativa, participaram 300 jovens que já atuavam politicamente. A partir destas conversas, foram criados os questionários para a fase quantitativa, onde participaram 1128 jovens das classes A, B e C.
O levantamento mostra que 91% dos entrevistados tomaram conhecimento das manifestações e 18% saíram às ruas, o que significa em números absolutos 6,5 milhões no chamado “encontro do jovem com a democracia”.
Dos pesquisados, 30% deles defendem uma ou mais causas, a maior parte ligadas às suas questões cotidianas. Enquanto 68% declaram que a questão de segurança é algo “muito problemático” onde vivem e 61% simpatizam com a cultura de paz como bandeira. Outros 60% se mobilizam pela inclusão/igualdade social, 58% se interessam pela questão ambiental, mesma porcentagem daqueles defendem a cultura da periferia. Por fim, 55% lutam por internet livre.
Quem acaba representando as causas dos jovens são os próprios jovens, especialmente dois perfis levantados pela pesquisa: os Agentes e os Mobilizadores, que representam 16% dos jovens pesquisados (mais de 6.5 milhões de jovens). Estes perfis têm alto poder de influência sobre outros jovens e familiares. 49% declaram que influenciam mobilizando pessoas em torno das causas/ideais e atitudes com as quais se identificam.
A pesquisa também aponta para um grande protagonismo jovem, um “mãos à obra” e uma vontade de resolver as questões que preocupam sem esperar que isso venha do poder público. “A sensação clara é de que ‘se o governo não faz, eu não vou esperar, vou começar a fazer’, explica Carla Mayumi, uma das coordenadoras do projeto.
Desde 2011, quando a pesquisa Sonho Brasileiro foi realizada, a percepção de que o jovem é um agente de mudanças aumentou consideravelmente. Há três anos, 20% dos entrevistados acreditavam que pessoas que se organizam em torno de uma causa comum estavam efetivamente promovendo mudanças na sociedade. Em 2014, este índice aumentou para 36% na faixa 18-24 anos. Da mesma forma, em 2011, 20% acreditavam que jovens da sua geração estavam provendo mudanças, índice que subiu para 35% em 2014. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a percepção de que os governantes estão ajudando a sociedade a mudar é de 22% dos jovens, enquanto 60% acreditam que eles são responsáveis por isso.
Veja histórias de outros jovens mobilizadores sociais:
Romário Régis, Agência Papa Goiaba – Coordena a agência de comunicação comunitária Papa Goiaba, em São Gonçalo (RJ) que produz conteúdo e vídeos. “Todo mundo que fala em mobilização social, sempre pensa numa pauta ou causa, mas o jovem popular ele nem sempre se organiza assim. Eu fui para a comunicação porque as meninas bonitas da minha escola faziam o jornal comunitário. Tem um processo que é intrínseco que você pensa na participação política. O jovem que faz vestibular em um território popular já está produzindo um ato político de resistência, mas ainda não entendeu a nomenclatura do que está fazendo e precisa de uma legitimação vinda de foram”.
Ana Paula Lisboa, Agência de Redes para Juventude – Moradora do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), trabalha com financiamento de projetos de jovens que moram em favelas: 60 já receberam R$ 10 mil. “Eu estava pensando nessa semana na minha bisavó, que dizia que política é coisa de rico, que não tem que ficar falando disso, que não é para a gente”, mas depois fui perceber que dentro de casa a gente falava muito sobre ditadura e discutia Bolsa Família – até porque 80% das mulheres da família recebem -, a mobilidade urbana, porque falávamos do trânsito e do ônibus que não parava, o passe livre. Pô, mas a gente está discutindo política, não é coisa de rico”.
Aline Cavalcante, O Gangorra – Após a morte de duas amigas, começou a atuar para que a cidade começasse a respeitar ciclistas em São Paulo. “Hoje a cidade vive um momento muito especial em relação a isso não por culpa minha, mas de um grupo. Isso é um ensinamento dessa nova política, onde não tem só um responsável”.
Mariana Ribeiro, Imagina na Copa – Viajou o país durante dois anos para ouvir e documentar histórias de jovens transformadores. “Entendia que meu trabalho precisava estar a serviço de algo maior, não só a mim por conta de um salário no fim do mês”.
Ricardo Martins, Bom Senso Futebol Clube – Começou a trabalhar com projeto empoderamento comunitário após as enchentes de 2008 em Santa Catarina. Atua em movimento pela reforma política e se envolveu com Bom Senso F.C., que busca mudar o futebol brasileiro. “Vi que o caminho que escolhi fazia sentido para mim foi quando consegui levar 20 jogadores para o Congresso Nacional para brigar para que uma lei absurda não passasse”.
Anna Lívia Arida, Minha Sampa – trabalha com mobilização da sociedade civil para tornar a cidade um lugar melhor para as pessoas, com canal direto entre o cidadão e quem toma decisões. “A ideia da injustiça sempre me incomodou muito e sempre tive vontade de trabalhar para tornar o mundo mais justo. Meu pai (Pérsio Arida) sempre falou sobre uso de contatos e recursos para fazer diferença na sociedade”.







Pelo título…: causas
De onde surgem causas?
Referem-se a problemas.
Ao propor soluçoes sejam quais forem voce expressa uma visao, ou seja, não é um todo.
Quando pessoas se juntam para demonstrar suas visoes, estão compondo uma parte da sociedade. Partidos são conjuntos de pessoas com visões sobre temas diversos que se dispõem a resolver problemas.
Se os “jovens” até hoje não entenderam isso, receio do que estarão pensando quando se tornarem “maduros”…Nao tomar parte, nao escolher partidos ou nao criar partido que tornem suas ideias, visoes algo que transforme ou mantenha determinadas condiçoes socais, econômicas e politicas é consagração da irresponsabilidade.
Eduardo
Recife PE
Pelo título…: causas
De onde surgem causas?
Referem-se a problemas.
Ao propor soluçoes sejam quais forem voce expressa uma visao, ou seja, não é um todo.
Quando pessoas se juntam para demonstrar suas visoes, estão compondo uma parte da sociedade. Partidos são conjuntos de pessoas com visões sobre temas diversos que se dispõem a resolver problemas.
Se os “jovens” até hoje não entenderam isso, receio do que estarão pensando quando se tornarem “maduros”…Nao tomar parte, nao escolher partidos ou nao criar partido que tornem suas ideias, visoes algo que transforme ou mantenha determinadas condiçoes socais, econômicas e politicas é consagração da irresponsabilidade.
Eduardo
Recife PE