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Inovações em Educação

Universidade precisa responder ao ‘vai lá e faz’

Pesquisa Anima/BOX1824 com jovens de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo aponta soluções para mudar a cara do ensino superior

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 23 de março de 2015

Enquanto o jovem amplia suas conexões a cada dia e pensa em criar uma startup que pode mudar a vida de milhares de pessoas, a universidade ainda aposta em um produto velho, que acredita ser o único dono do conteúdo. Lá se vão mais de duas décadas desde a massificação da internet e a abundância de informação para provar o contrário, mas o modelo permanece o mesmo.

Para entender melhor quem é o estudante que chega hoje ao ensino superior e quais são suas aspirações, o grupo Anima Educação e a BOX1824, agência especializada em comportamento jovem, ouviram 200 jovens de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo em uma pesquisa realizada durante os anos de 2013 e 2014. Foram estudados jovens de 16 a 24 anos, das classes A, B e C que demonstram ter projeto de vida, capacidade para inspirar seus pares, sonhar grande e, claro, vivem imersos na cultura digital.

Como ponto de destaque, o trabalho aponta para um comportamento “vai lá e faz” do jovem que ainda não encontra espaço para se manifestar nos pelo menos quatro anos em que ele passa sentado na sala de aula — muitas vezes somente à espera do diploma. “Hoje a universidade tem a arrogância de dizer o que você precisa, não importando onde você esteja ou o que queira fazer”, explica Daniel Castanho, presidente do grupo Anima Educação. Para ele, o ambiente de ensino ideal é similar ao das redes sociais, como o Facebook. “A universidade precisa ser o lugar da discussão, da experiência, da prototipagem, onde se pode arriscar e ousar”, exemplifica.

A universidade precisa ser o lugar da discussão, da experiência, da prototipagem, onde se pode arriscar e ousar

Em um trabalho mais detalhado, a pesquisa ouviu ainda 10 jovens com vivência fora do país para trazer uma experiência multicultural. Entre eles, segundo conta Castanho, está um jovem que abriu mão do certificado formal para ter aulas particulares com professores específicos de instituições como USP (Universidade de São Paulo), FGV (Fundação Getúlio Vargas), ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). “Esse tipo de provocação leva a repensar a estratégia”, segundo analisa o executivo do grupo que controla o Centro Universitário UNA e Centro Universitário de Belo Horizonte, ambos em Belo Horizonte (MG), a Universidade São Judas Tadeu e a HSM – Escola de Negócios, em São Paulo (SP), e a Unimonte, em Santos (SP).

Como soluções, a pesquisa aponta para ações em cinco territórios: engajamento do aluno, engajamento do professor, reapropriação do espaço físico, conexão entre universidade, mercado e sociedade e, por fim, uma nova lógica curricular. Segundo explica Rafael Ávila, diretor de inovação da instituição, tudo começa por uma nova relação entre os principais atores. “Educação é uma relação entre seres humanos e não adianta falar em inovação tecnológica sem aproximação entre professor e aluno”, explica. O programa de formação interno começa a ser reformulado e 3 mil professores já passam por oficinas de metodologias como design thinking que vão capacitá-los a desenvolver competências socioemocionais e a lidar com projetos do “aluno vai lá e faz”.

Educação é uma relação entre seres humanos e não adianta falar em inovação tecnológica sem aproximação entre professor e aluno

Adotar um currículo flexível, segundo Ávila, depende mais uma vez que o aluno seja ouvido. “Um estudante de engenharia que queira comandar a empresa do pai com clientes na Argentina precisa de uma formação de gestão e de espanhol e não pode ter um curso similar a um outro que pensa em trabalhar em uma construtora”, diz. Em um universo de mais de 90 mil alunos, isso depende do apoio de plataformas digitais e adaptativas.

Para repensar os espaços, a solução da Anima é inspirada em instituições como SEED, o espaço para startups na capital mineira, e as instituições Perestroika e Escola São Paulo, que oferecem cursos livres. Chamado de Anima Nest (ninho, em inglês), o projeto busca criar espaço de coworking e incubar novas empresas dentro da universidade. “A gente quer reconectar mercado, aluno, universidade e sociedade na linguagem do jovem, mas precisamos fazer isso na linguagem deles, sob nossas asas”.


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ensino superior, formação continuada, projeto de vida, tecnologia

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