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Inovações em Educação

Programa desenvolve jovens talentos para trabalhar no governo

Vetor Brasil treina recém-formados para atuar na administração pública e transformar setores de gestão, políticas públicas e educação

por Marina Lopes ilustração relógio 28 de julho de 2016

De um lado, setores públicos precisam ampliar a sua capacidade de inovação, mas sentem dificuldade para atrair profissionais qualificados. Do outro, jovens vão às ruas e demonstram suas insatisfações aos governantes, enquanto compartilham um desejo mudança. Entre eles, no entanto, há uma barreira marcada pelos estereótipos de burocracia e corrupção que acompanham o imaginário das carreiras públicas. Na tentativa de superar esse ciclo vicioso, a ONG Vetor Brasil desenvolveu um programa que treina recém-formados para atuarem junto aos governos.

O programa teve início em 2015, com a seleção de 12 trainees para trabalharem na prefeitura de Salvador e nas secretarias dos governos estaduais de Goiás, Pará e São Paulo. Acostumada a oferecer consultoria para auxiliar o setor público na criação de planos de desenvolvimento locais, a ONG percebeu que muitos projetos não saiam do papel por falta de pessoas treinadas para a sua implementação. Mas ao pensar que faria sentido indicar recém-formados capacitados para atuar nessas funções, surgiu um novo desafio: os jovens diziam que não se sentiam encorajados a trabalhar no governo ou, mesmo que tivessem esse desejo, não sabiam nem como ingressar no setor público.

“Nós achávamos que poderíamos fazer essa ponte, de mostrar para as pessoas que existiam oportunidades”, lembra a co-fundadora da organização Joice Toyota. De lá para cá, apenas em 2016 já foram treinados mais de 50 jovens para atuarem em 13 governos das cinco regiões do país. “Crescemos depois que de fato conseguimos comprovar que isso era possível”, observa.

Vetor BrasilCrédito: Divulgação

Para participar do programa, os jovens devem passar por um processo seletivo online, que envolve testes de inglês e lógica, mapeamento de competências e entrevistas. Quando selecionados, eles são treinados para desenvolver competências técnicas, como gestão, direito administrativo e mapeamento de processos, e também habilidades pessoais, como liderança, postura profissional e ética.

“Durante o treinamento nós conseguimos nos conectar com a ideia de propósito. Buscamos, na nossa trajetória, os momentos e os porquês de estarmos aqui, todos juntos para melhorar o país em que vivemos”, avalia o trainee André Mendes, 24. Bacharel em ciências econômicas pela Universidade Federal do Paraná, ele conheceu o treinamento enquanto participava de um programa de liderança da Fundação Estudar. Atraído pela chance de resolver conflitos públicos com uma visão “fora da caixa”, ele decidiu se inscrever para o processo seletivo e entrou na turma do segundo semestre de 2016.

Ao lado de outro colega, ele foi alocado para trabalhar no Instituto Estadual do Ambiente, no Rio de Janeiro. Mendes aponta que o treinamento é uma boa oportunidade para conectar os jovens com o governo e impulsionar transformações. “Historicamente, a administração pública no Brasil é tida como um lugar de muita burocracia. Ela é atrativa no sentido de concurso público, mas os jovens não sabem como ingressar. Temos que criar um ambiente propositivo”.

“A estrutura do governo é uma estrutura muito rígida e tradicional. Você chega com uma idade muito menor do que a média das pessoas que estão lá”, conta Lara Barreto, 25. Integrante da primeira turma de trainees, hoje ela também faz parte da equipe Vetor Brasil. Após já ter trabalhado no governo, nos estados de São Paulo e Goiás, ela diz que a chegada ao setor público é sempre um desafio, mas o treinamento ajuda a preparar melhor os jovens.

Para fazer a ponte entre os trainees e o setor público, a co-fundadora da organização Vetor Brasil diz que uma equipe do programa entra em contato com o governo para entender melhor quais são as suas necessidades. “Passamos por esse processo de convencimento de que o governo tem essa necessidade e oferece um bom lugar para o desenvolvimento dos trainees”, explica Joice. “Embora existam outras possibilidades de contratação, a grande maioria é contratada em cargos comissionados, então isso significa que para um governo trabalhar com um trainee nosso, ele tem que abrir mão de uma indicação política para fazer uma contratação profissional”, diz.

Historicamente, a administração pública no Brasil é tida como um lugar de muita burocracia. Ela é atrativa no sentido de concurso público, mas os jovens não sabem como ingressar

A trainee Marina Rosa, 26, formada em ciência política pela Universidade de Brasília, já estava no governo quando decidiu passar pelo treinamento. Na Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão do Distrito Federal, ela enxergou uma possibilidade de trabalhar para gerar maior impacto no setor público. Motivada por buscar novos conhecimentos e formar uma rede de contatos, ela ingressou no programa neste semestre. Questionada sobre os estímulos dos jovens para entrarem na carreira pública, ela diz que, apesar dos estereótipos sobre a área, esse desafio está muito relacionado ao perfil da juventude. “Quer coisa mais legal do que ver algo que está aparentemente dando errado mudar?”

Do lado dos governos, a chegada dos jovens também traz mudanças para o ambiente de trabalho. “O ingresso por concurso público não permite avaliar as melhores pessoas. Ele te permite avaliar quem naquele momento estava melhor preparado para responder perguntas objetivas”, diz Márcio Silva de Lira, diretor presidente do PRODAM Amazonas, que recebeu na sua equipe um trainee Vetor Brasil no ano passado. Ele diz que os jovens chegam na equipe com uma vontade grande de querer mudar. “Isso vai permitir forjar os próximos líderes que os país precisa”, projeta.

“Tem várias coisas que o jovem trás [para o governo]. A mais clara, e que todos governos entendem com facilidade, é a oxigenação da equipe. Entra uma pessoa com muita energia e muita vontade de fazer diferente”, diz a co-fundadora da organização Vetor Brasil. “Ele traz um dinamismo para a equipe e senso de urgência. Também tem outro lado que é de apoiar a implementação de política públicas com novas ferramentas de trabalho.”

Henrique Vitta, 26, formado em ciências contábeis pela Universidade de São Paulo, também se encaixa nesse perfil de jovem impulsionado pelo sentimento de mudança. “Sempre me incomodei bastante com o funcionamento e, às vezes, o não funcionamento de algumas instituições. Sempre vi que dava para ser melhor e que de alguma forma eu poderia atuar para isso”, conta.

Há menos de um mês, ele começou a trabalhar na Secretaria Estadual de Educação do Ceará para apoiar na implementação de escolas em tempo integral no estado. “O jovem pensa de forma diferente. Ele não tem o viés daquilo que já existe e quer transformar. Ele pensa que está errado e tem que ser mudado. Não se conformar que as coisas são como são, mesmo se estiverem erradas, já é uma coisa que faz muita diferença”, aponta Vitta.

Com missão de conectar jovens e governos, neste ano a ONG Vetor Brasil foi vencedora do Desafio de Impacto Social Google 2016. Com o prêmio, ela irá construir um portal interativo com testes de interesse e mapeamento de carreira para apoiar recém-formados e ampliar o seu impacto.

Inscrições para nova turma
O programa está com inscrições abertas para a sua 4ª quarta turma de trainees. Até dia 19 de setembro, os jovens interessados em participar do processo seletivo para 2017 podem se inscrever pelo site Vetor Brasil.


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