Estudo avalia situação das juventudes e traça possibilidades para acesso a profissões do futuro
Pesquisa identifica tendências e oportunidades do mundo do trabalho para a população que possui entre 15 e 29 anos. Confira os destaques
por Vinícius de Oliveira / Marina Lopes 16 de março de 2023
A sociedade precisa se articular para apoiar jovens a alcançar profissões qualificadas em um mundo cada vez mais digital e em meio a uma transição para uma economia verde. Só assim será possível superar o atual contexto de vulnerabilidades e incertezas em relação ao futuro, com desigualdades persistentes de raça, cor, gênero e renda.
O Itaú Educação e Trabalho, a Fundação Arymax, a Fundação Roberto Marinho, a Fundação Telefônica Vivo e GOYN SP, com execução do Instituto Cíclica, em parceria com o Instituto Veredas, promoveram uma pesquisa entre agosto e novembro de 2022. Intitulado “O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras”, o levantamento identificar tendências do mundo do trabalho e oportunidades para a inclusão produtiva dessa parcela da população que possui entre 15 e 29 anos, com foco na formação profissional e tecnológica.
“É importante salientar que inclusão produtiva significa basicamente construir e ampliar oportunidades para que jovens, principalmente os que se encontram em condição de maior vulnerabilidade, com marcadores sociais específicos de raça, gênero e classe, possam ter maiores condições de acesso tanto a formas de educação e qualificação quanto ao mercado de trabalho”, afirma Eduardo Georjão Fernandes, diretor do Instituto Cíclica, durante lançamento, transmitido ao vivo pelo Canal Futura.
Em relação às tendências do mundo do trabalho que impactam a juventude brasileira, o estudo destaca seis pontos:
- Mudanças no padrão de globalização: Após a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, o comércio internacional diminuiu. Houve falta de matérias-primas em diversos setores, menor oferta de mercadorias e elevação de preços. Como resultado, países internalizaram a produção e protegeram as indústrias nacionais em um processo classificado por especialistas como “desglobalização”.
- Mudanças demográficas: O envelhecimento da população e a reversão do “bônus demográfico” brasileiro afetam as oportunidades de emprego para jovens com aumento do desemprego e da informalidade.
- Digitalização da economia: Postos de trabalho estão sendo substituídos por máquinas. Por um lado, essa situação cria oportunidades no setor de TI; por outro, ressalta a desigualdade entre jovens com e sem acesso à internet.
- Flexibilização das relações de trabalho: Novas leis de trabalho levaram a um aumento da informalidade e de empreendedores individuais e a um contexto de menor proteção social.
- Mudanças climáticas: O clima do planeta também muda a dinâmica do trabalho e afeta o trabalho tradicional, que aos poucos dará lugar a “empregos verdes”. Para as juventudes, existe o risco de aumento das taxas de insegurança alimentar entre os mais pobres, bem como da migração de jovens rurais para o meio urbano em busca de oportunidades.
- Mudanças no padrão de consumo: Ampliação do comércio digital e maior preocupação com o caráter sustentável e ético dos produtos consumidos, algo valorizado pela juventude.
Cenário atual
E como a juventude brasileira está posicionada para enfrentar tais desafios? Representantes de uma fatia de 24% da população, eles são em sua maioria pretos e pardos, vivem em áreas urbanas e ganham até dois salários mínimos. “Esse contexto interfere demais na inserção digna dos jovens no mercado de trabalho e no aumento da produtividade das empresas no país”, ressalta João Alegria, secretário geral da Fundação Roberto Marinho.
Ao longo da última década, tiveram taxa de desocupação mais alta que outras faixas etárias – especialmente as mulheres, negros e menos escolarizados. O estudo também aponta que esferas como a família e acesso às políticas sociais produzem diversos impactos nas trajetórias de jovens, seja pela reprodução, seja pelo enfrentamento de vulnerabilidades.
Recomendações
Para atacar essa situação, o estudo recomenda que sejam ampliadas as oportunidades de formação para o desenvolvimento de habilidades. E a maior parte das ações depende de políticas públicas, a saber: serviços de emprego, banco de dados integrados, orientação profissional, políticas de apoio ao primeiro emprego – incluindo incentivos aos empregadores – e programas públicos de emprego.
“Nós precisamos formular no Brasil uma estratégia de desenvolvimento que inclua essas juventudes”, afirma Ronald Luiz dos Santos, secretário Nacional da Juventude. Ela destaca que não é possível falar de desenvolvimento do país sem um olhar para as juventudes. “Quem vai promover o desenvolvimento para o futuro é a juventude do agora.”
E para que o empreendedorismo supere a subsistência, o estudo defende o desenvolvimento de habilidades empreendedoras além do suporte por meio editais públicos e facilitação do acesso ao crédito e ao microcrédito.
Quanto às desigualdades persistentes de raça, gênero e renda é necessário que empresas, sociedade civil e governos adotem agendas inclusivas agindo ativamente para combater as desigualdades no mundo do trabalho.
Profissões do futuro
Também foi organizada uma lista de economias emergentes capazes de gerar oportunidades para absorver a mão de obra jovem:
- Economia verde, com empregos que contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente;
- Economia criativa, também denominada economia laranja, que engloba atividades artísticas e culturais;
- Economia do cuidado, que compreende as carreiras de atenção e atendimento à saúde, carreiras de bem-estar e carreiras de suporte doméstico familiar;
- Economia prateada, relacionada às atividades econômicas que têm como público consumidor as pessoas com 50 anos ou mais;
- Economia digital, que integra recursos digitais incorporados a diferentes cadeias de produção. Inclui áreas como educação (ensino híbrido e educação a distância), saúde (telemedicina), marketing (ciência de dados), entre outras.
Para que jovens encontrem abertas essas portas para profissões do futuro, a recomendação para atores estratégicos passa por questões como a expansão e a democratização da profissionalização para as juventudes. Isso significa ampliar as matrículas e os cursos em todas as modalidades de educação profissional e tecnológica.
Na visão de Anna Clara Souza Freitas, estudante do ensino médio e jovem aprendiz que participou do lançamento da pesquisa, a escola ainda não dá conta de preparar os jovens para o mundo do trabalho. “Eu acho que a escola poderia oferecer mais alguns cursos básicos para preparar os jovens para o mercado de trabalho, como gestão de tempo, inteligência emocional. Alguma coisa que faça eles se autoconhecerem para estarem mais preparados.”
Além disso, deve haver um consistente trabalho de orientação profissional e de acompanhamento de carreira das juventudes. Isso significa apoiar e orientar jovens em suas escolhas profissionais, conectando a escolha individual às demandas do desenvolvimento do país.
E claro, tais ações demandam amplo diálogo social para a pactuação e a coordenação entre os agentes do ecossistema de inclusão produtiva. A governança deve envolver governos e órgãos públicos gestores instituições de ensino empresas privadas e locais de trabalho organizações da sociedade civil universidades e instituições de pesquisa jovens e organizações juvenis.
Clique aqui para assistir ao lançamento da pesquisa.