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Inovações em Educação

Compartilhar aprendizado vira fundação no Paquistão

Humaira Bachal, que aos 13 anos começou a dar aulas para amigas, lidera instituição que luta por educação

por Redação na Rua ilustração relógio 11 de julho de 2014

Do Centro de Referências em Educação Integral

Desde muito cedo, Humaira Bachal entendeu a falta que a educação faz para o desenvolvimento das pessoas. Na comunidade de Muwach Goth, situada na periferia de Karachi, cidade portuária do Paquistão, a garota ouviu várias histórias que ilustravam essa deficiência, como a de mulheres que morriam ao tentar dar a luz em casa porque suas famílias não sabiam como encaminhá-las ao hospital. Uma delas, inclusive, aconteceu em sua própria casa: um primo faleceu porque a mãe não soube ler a data de validade de um medicamento.

Mudar essa questão era uma ideia latente para Humaira, até porque era grande o número de meninas e meninos que não frequentavam a escola, muitas vezes, por escolha da família, condição que só perpetuaria as dificuldades na sua comunidade. E foi aos 13 anos que ela teve a ideia de compartilhar com suas amigas os aprendizados que adquiria na escola, vivência possível pelo apoio da mãe, que escondia os estudos da garota de seu pai, que acreditava que a menina tinha mais era que casar.

Compartilhar aprendizado vira fundação no Paquistãocrédito Abdul Qaiyoom / Fotolia.com

Um processo feliz e sem volta

Humaira começou dando aulas improvisadas em sua casa, com apoio de sua irmã mais nova Tahira, para dez amigas. Ela também tornou-se uma porta voz da educação na sua comunidade, falando às famílias da importância das crianças frequentarem a escola, discurso nem sempre acolhido pelos moradores.

Mas ela persistiu e, em dois anos, o grupo inicial somou 150 alunos. Hoje, ela dirige a Fundação Dream que ensina cerca de 1200 meninos e meninas da comunidade e é símbolo da luta por um aprendizado decente.

Com apoio de doações nacionais e internacionais – a cantora Madonna é uma das que já reverteu verba para a manutenção da instituição -, Humaira finaliza a construção de uma nova casa para abrigar a escola, que já conta com uma equipe de 33 professores. Por lá, os alunos e profissionais têm acesso a programas de formação, de saúde e orientação, além do letramento, tão importante para solucionar questões básicas como as que viveu sua família.

Enquanto na sua unidade, os alunos têm acesso a uma gama diversificada de conhecimentos e a salas de aula equipadas com mobiliário adequado, as escolas públicas da região só reforçam a precariedade educacional do território: sem janelas, móveis ou portas.

E em vez da decoreba, tradicional na maioria das escolas paquistanesas e em muitas do globo, Humaira Bachal zela por um processo em que meninos e meninas interajam e desenvolvam competências e habilidades para uma vida plena de desenvolvimento. Resistências à parte, seu sonho é o de construir uma universidade.

Escola na comunidade

Como a comunidade segue bastante conservadora e ainda é muito difícil para meninas e mulheres acessarem o direito à educação, a Fundação Dream também investe no modelo de sua origem – a proposta de educação domiciliar. Com foco em adolescentes e jovens mulheres, um grupo de professores se desloca a algumas casas da comunidade, apoiadas por líderes locais, que aprovam a agenda educacional às mulheres e, portanto, sustentam o sistema, evitando possíveis retaliações violentas.

O programa oferece aulas de conhecimentos básicos de letramento e numeramento, e ainda, para as meninas interessadas, um currículo de apoio ao ingresso escolar na educação básica (equivalente ao ensino fundamental II). Para apoiar meninas que deixaram os estudos, a organização faz visitas frequentes às famílias, esperando convencê-las da importância da educação e ajudando as jovens a permanecerem na escola em diálogo com os sistemas assistenciais da cidade.

Desde maio de 2014, um total de dez garotas já conseguiu passar nos exames de matrícula, e dessas, cinco continuaram seu processo formativo e atingiram o certificado equivalente ao Ensino Médio. Como, em média, no Paquistão cada mulher tem quatro filhos, a organização acredita ter impactado, ao menos 20 crianças, que futuramente terão garantido seu acesso à educação.

*Fazem parte do Redação na Rua os sites Catraca LivreCentro de Referências em Educação Integral, Guia de EmpregosPortal AprendizPorvir e VilaMundo.


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