Acordo internacional vai mapear a qualidade da internet nas escolas brasileiras
Parceria entre NIC.br e UNICEF vai realizar a medição da conectividade em tempo real com o objetivo de identificar lacunas e facilitar o desenho de planos de infraestrutura de conectividade
por Beatriz Cavallin 25 de novembro de 2020
Um acordo internacional entre o NIC.br (Núcleo de informação e Coordenação do Ponto BR), ligado ao CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) vai mapear a velocidade de internet nas escolas públicas brasileiras. A iniciativa busca identificar as lacunas de conectividade e apoiar a elaboração de planos de infraestrutura que deem conta do novo tipo de demanda por tecnologia nas escolas.
A parceria prevê o compartilhamento de dados do SIMET (Sistema de Medição de Tráfego Internet) sobre a conectividade das escolas públicas brasileiras com o Giga – uma iniciativa do Unicef e da União Internacional de Telecomunicações lançada em 2019 e presente em 13 países que tem como objetivo conectar todas as escolas a internet em um âmbito global. Ao mapear as instituições de ensino e identificar as regiões com maiores dificuldades, o programa busca encontrar soluções e parceiros para um problema que é anterior à pandemia do coronavírus: muitas escolas com baixa velocidade, computadores perto da obsolescência e conexão restrita ao laboratório de informática.
O Giga começa mapeando a conectividade da escola por meio do Project Connect, uma iniciativa que tem como objetivo mapear todas as escolas do mundo, fornecendo dados sobre a conectividade em tempo real. Dados disponíveis na ferramenta mostram que uma minoria das escolas possui manos de 3 Mbps de velocidade de conexão, o que impede o uso enriquecido da tecnologia para fins pedagógicos.
No Brasil, um dos principais destaques da parceira é a rapidez da coleta de dados. O SIMET já consegue mapear a conectividade em tempo real, ou seja, não é apenas um censo anual. Em cerca de quatro horas, o NIC.br consegue reportar a qualidade de conexão de determinada região e exportar esses dados para o Unicef. “Por permitir a avaliação desses dados em tempo real, o programa consegue ser muito mais incisivo e identificar os problemas em uma escala individual. Dessa maneira é mais fácil atuar diretamente em cima do problema”, diz Paulo Kuester Neto, analista de projetos do NIC.br.
Paulo ressalta ainda a importância de mapear esses dados “Como mostram os dados disponíveis no site do Giga, hoje metade da humanidade não tem acesso a internet e isso afeta diretamente os jovens, já que delimita o acesso à informação e oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Precisamos trabalhar para reduzir essa desigualdade”. Além do monitoramento, o NIC.br também irá trabalhar em conjunto com o Unicef em estudos e projetos de troca científica como por exemplo, no desenvolvimento de ferramentas, de modelos de Inteligência Artificial e poderá contribuir para a realização de medições em outros países usando ferramentas brasileiras.
Atualmente 3,6 bilhões de pessoas no mundo não tem acesso a internet, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas). No Brasil, segundo dados obtidos entre outubro de 2019 e março de 2020 pela pesquisa TIC Educação, apenas 14% das escolas públicas urbanas e 64% das particulares urbanas tinham acesso a ambientes virtuais de aprendizagem. Outro levantamento do Cetic.br, o TIC Kids Online Brasil, divulgado no último mês de junho, apontou que 4,8 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de idade vivem em domicílios sem acesso à internet.
Para Mara Navarro, representante do Unicef em Nova York (EUA), a falta de conectividade nas escolas é reflexo da desigualdade. “Desde permanecer conectado ao trabalho, ao aprendizado e aos entes queridos, o acesso à Internet tornou-se essencial para a informação, oportunidade e escolha”, diz.
De acordo com dados do Unicef, a pandemia de Coronavírus afetou quase 1,6 bilhão de estudantes em mais de 190 países. O fechamento de escolas e outros espaços de aprendizagem impactou 94% da população mundial estudantil, e essa taxa sobe para 99% em países de baixa e média renda. “A crise ressalta as disparidades educacionais já existentes, uma vez que reduziu ainda mais as oportunidades para as crianças, jovens e adultos em situações mais vulneráveis”, diz Mara.
Para contornar os desafios impostos pela pandemia, mais de 90% dos países implementaram alguma forma de política de aprendizagem remota, mas pelo menos 463 milhões de estudantes continuam sem acesso à educação. Sem que medidas sejam tomadas, o Banco Mundial estima uma perda de US$ 10 trilhões na renda desta geração, afastando países e comunidades das metas de desenvolvimento.
Em nível global, contornar esse cenário demanda esforços e coordenações em diferentes níveis para viabilizar investimentos. O Unicef estima que sejam necessários US$ 428 bilhões para conectar 3 bilhões de pessoas à banda larga até 2030. A conta para oferecer uma educação apoiada por tecnologia também é alta. A entidade também fala em US$ 46 bilhões para que crianças consigam aprender ter acesso à tecnologia educacional, com conteúdos e dispositivos apropriados.