Carlos Rodrigues Brandão e o sonho da educação popular - PORVIR
Crédito: Divulgação/PMSJC

Inovações em Educação

Carlos Rodrigues Brandão e o sonho da educação popular

Autor de mais de cem livros, boa parte sobre educação popular e método Paulo Freire, Brandão deixa um legado inestimável para a construção de uma escola mais justa e igualitária

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 11 de julho de 2023

“A educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo.” A famosa frase, comumente atribuída a Paulo Freire (1921-1997), na verdade é de Carlos Rodrigues Brandão, educador carioca que morreu nesta terça-feira (11), aos 83 anos. Ele deixa dois filhos, três netos e uma vasta obra dedicada à educação popular.

Amigo de Freire, a frase a ele referenciada na verdade foi retirada de um depoimento no qual Brandão fazia alusão ao patrono da educação brasileira. “Paulo sabia bem que por conta própria a educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo”, diz a mensagem original, publicada no livro “Paulo Freire, educar para transformar: fotobiografia”.

As carreiras de ambos se encontram em diferentes momentos. Brandão e Freire defendem a educação popular, pública e igualitária, voltada à humanização e à esperança. Brandão, que se definia como “poeta, antropólogo, educador e militante ativista da educação popular”, debruçou-se na obra freiriana e no método Paulo Freire em grande parte de sua obra composta por mais de cem títulos.

Psicólogo pela Universidade Católica do Rio de Janeiro, mestre em antropologia pela Universidade de Brasília, doutor em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, fez seus estudos de pós-doutorado junto na Universidade de Perugia (Itália) e na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Professor universitário, também escreveu poesia, literatura e abordou temas como cultura e educação ambiental.

“Quando saí dos colégios entrei na universidade e nunca mais saí dela. Ainda como estudante, tornei-me um militante ativista junto a movimentos sociais, atuando principalmente através da educação popular. Percorri passo a passo o que costumamos chamar de ‘carreira universitária’. Em 2017, completei 50 anos de vida de professor”, escreveu Brandão, em seu blog “A partilha da vida”.

➡️Em seu blog, é possível fazer o download de mais de 50 obras em PDF.

Brandão recebeu duas vezes o título de doutor honoris causa (pela Universidade Federal de Goiás e pela Universidad Nacional de Lujan, Argentina), além de ser professor emérito da Universidade Federal de Uberlândia e da Universidade Estadual de Campinas. 

São dele os livros “O que é Método Paulo Freire”, “O que é educação”, “O que é educação popular” e “O que é Folclore”, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense. Famosos nos anos 1970 e 1980, os livretos de bolso explicam, em linguagem simples e direta, diferentes áreas do conhecimento.

Crédito: Reprodução do blog "A partilha da vida"

Em um entrevista ao site Escolas Transformadoras, quando questionado sobre as mudanças na educação que reivindica, Brandão respondeu: 

“Um conjunto de professores, professoras e profissionais dos mais diversos setores passam a reclamar pelos direitos dos educandos. O aluno não deve ir à escola para ser robotizado e devolvido como um número a mais na sociedade. Era preciso entender que cada um tem seus gostos, seus pendores. Era, e continua sendo, uma luta contra a repressão, o castigo e a repetição. Paulo Freire, por exemplo, reivindica o direito de o educando ser o agente cidadão de transformação de si, dos outros e do mundo que vive. Conheci escolas, como a Nossa Senhora do Carmo (na Paraíba), que atuam muito nesse sentido de proporcionar a transformação e criar novos espaços de vida, estimulando a criatividade. São exemplos concretos de que é possível gerar experiências que poderiam ser a base de uma nova educação.”

Em depoimento ao Instituto Paulo Freire, no qual atuava como consultor, Brandão avaliou as nuances da educação popular ao longo do tempo. “A educação popular criada no começo dos anos 1960, ainda que não tivesse esse nome e viesse a ter depois, ao invés de morrer e minguar como tantas outras experiências pedagógicas, se expande pela América Latina e por todo o mundo, mas com novas questões: território, ambiental, de gênero. Ninguém pensava em educação ambiental ou indígena nos anos 1960 e isso emerge. O que a educação popular faz? Inteligentemente, ao invés de rechaçar, abraça jovens, negros, índios, mulheres que vão entrando na cena das lutas populares. Tudo isso tem dimensão como educação popular.”


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educação democrática, educação popular, eja

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