Como boas práticas educacionais ganham escala em países em desenvolvimento
Publicação analisa experiências bem-sucedidas e traz recomendações para transformar as ‘ilhas de excelência’ em modelos replicáveis
por Marina Lopes 8 de junho de 2017
Mesmo diante de grandes desafios educacionais, algumas escolas públicas brasileiras são consideradas “ilhas de excelência”. A existência de modelos inovadores em meio a resultados frustrantes também se repete no cenário de outros países em desenvolvimento, que nos últimos anos ampliaram o acesso à educação, mas ainda enfrentam as duras consequências da falta de equidade. Mas como sair das práticas isoladas para alcançar uma transformação em larga escala? Para Jenny Perlman Robinson, especialista em educação do Instituto Brookings, a mudança passa pela construção de um ecossistema educacional inclusivo e flexível.
Em um debate organizado pelo Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (CEIPE) e o Movimento Todos Pela Educação, na última quarta-feira (7), em São Paulo, Jenny afirmou que para escalar boas práticas educacionais não basta contar com o envolvimento do Ministério da Educação. “Todos precisam participar da construção de um ecossistema inclusivo, que tem o objetivo de alcançar todas as crianças”, apontou. Ao mesmo tempo, ela defende que esse ecossistema seja flexível para se adaptar às diferentes realidades: “Ele deve ser capaz de evoluir e se renovar ao longo do percurso.”
Para alcançar esse cenário, a especialista compartilhou aprendizados do estudo Millions Learning, que analisou 14 experiências educacionais bem-sucedidas em países em desenvolvimento. A partir de estudos de caso em profundidade, a publicação apresenta cinco recomendações para escalar uma educação de qualidade: desenvolver uma cultura de pesquisa e desenvolvimento, compartilhar novas ideias através de uma rede, ativar talento e conhecimento fora da sala de aula, encontrar financiamento para a fase intermediária dos projetos e aprender o que funciona com base em dados.
“O Millions Learning levou a uma conclusão clara: nesse mundo que muda tão rápido, não sabemos o que nos espera no futuro, mas sabemos que será necessário fazer com que as pessoas aprendam o tempo todo, tenham agilidade para absorver uma série de informações e saibam aplicar essas informações em diferentes áreas”, avaliou Jenny.
Como primeira recomendação para superar um modelo educacional baseado em “ilhas de excelência”, a especialista diz que é necessário valorizar a pesquisa e testar novas abordagens. “É preciso mais pesquisa, mais desenvolvimento e mais experimentação na educação”, reforçou. Porém, as pesquisas não podem ficar restritas ao âmbito local. “As boas práticas e ideias devem ser compartilhadas”, sugere.
Ao reconhecer que não é possível falar de educação de qualidade sem o envolvimento dos professores, Jenny destacou a terceira recomendação do estudo, que propõe a construção de um ambiente de colaboração entre educadores e profissionais de diferentes áreas. Segundo a publicação, especialistas podem ser utilizados estrategicamente para auxiliar os professores a fortalecerem o seu papel e alcançarem as crianças.
Mesmo com bons resultados, uma experiência educacional também precisa superar o “vale da morte” antes de atingir a escala. Nesse sentido, ela menciona que a publicação coloca como fundamental a busca por um financiamento para todas as fases do projeto. “É preciso ter mais clareza sobre esse fluxo de financiamento, desde a inovação até a fase de escala”, alertou a especialista do Instituto Brookings.
Como quinta e última recomendação, ela destacou a mensuração e o aprendizado com base em dados sobre educação e ganho de escala. Governos e agências fomentadoras devem fortalecer sistemas de avaliação para entender quais são as práticas que geram resultados, segundo aponta a publicação.