Conectividade e cultura escolar são barreiras para uso de celular em sala de aula - PORVIR
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Inovações em Educação

Conectividade e cultura escolar são barreiras para uso de celular em sala de aula

Pesquisa TIC Educação mostra que só 7% dos alunos têm permissão para usar a internet em seus próprios dispositivos

por Marina Lopes / Vinícius de Oliveira ilustração relógio 22 de agosto de 2018

Apesar do uso de internet estar presente na vida crianças e adolescentes, a 8ª edição da pesquisa TIC Educação mostra que apenas 7% dos alunos têm permissão para se conectar pelo celular em sala de aula. Os resultados do levantamento foram divulgados nesta quarta-feira (22) pelo Cetic.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e trazem um panorama sobre o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação no ensino fundamental e médio.

Realizada entre agosto e dezembro de 2017, a pesquisa avaliou 957 escolas urbanas públicas (exceto federais) e privadas. Nesta edição, foram incluídos ainda dados de escolas rurais a partir de 1.481 entrevistas, com diretores ou responsáveis por instituições de ensino públicas (exceto federais) e privadas, de diferentes modalidades de ensino.

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Com o uso crescente de dispositivos móveis para conexão à internet e realização de atividades escolares, Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, avalia que as instituições, educadores e formuladores de políticas públicas passam a lidar com novas questões. “É um grande desafio sair de um uso isolado e não integrado da tecnologia nos laboratórios [de informática] para se mover para uma situação onde a tecnologia permeia as disciplinas e os ambientes da escola”, avalia.

Apesar de celular servir como um instrumento para a realização de diferentes atividades pedagógicas, como apontou a pesquisa, o gerente do Cetic.br afirma que as políticas públicas também devem adotar estratégias que favorecem o acesso a diferentes equipamentos. Hoje, enquanto 79% das escolas privadas urbanas usam o computador de mesa para se conectar, apenas 46% das instituições públicas têm esse acesso. Quando se tratam de dispositivos que permitem maior mobilidade, esse número ainda cai: 56% das escolas particulares usam tablets para acessar a internet, em contraste com apenas 33% das escolas públicas.

Para 18% dos alunos brasileiros, o celular é o único dispositivo utilizado para o acesso à internet. “Justamente nas classes menos favorecidas e nas escolas públicas este uso restrito ou exclusivo do celular tem implicações sobretudo na questão do desenvolvimento de habilidades digitais mais complexas, que não podem ser realizadas apenas com um celular”, pondera Alexandre.

Entre os professores, o acesso à internet pelo celular é quase universalizado. Mais da metade deles afirmam que usaram o dispositivo para realizar atividades escolares: 69% nas escolas particulares e 53% nas escolas públicas.

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Espaços de uso

Um outro movimento identificado pela TIC Educação é o recuo progressivo do acesso à internet em laboratórios de informática. De 76% em 2015, o índice caiu para 65% em 2017. Em bibliotecas, voltou a 43%, após alta em 2016 para 47%. Já na sala de aula, partiu de 43%, em 2015, para 55% no ano seguinte e recuou para 50% nesta pesquisa. Por mais que não tenha aumentado de forma expressiva em outros ambientes, esse declínio no acesso em laboratórios de informática pode sinalizar a defasagem deste formato, que serviu desde o início como porta de entrada para a inclusão digital nas escolas.

“Sim, é um prenúncio de fim de modelo (dos laboratórios de informática atuais). Já havia um dado na pesquisa anterior, sobre mudança no perfil de compra de equipamentos [de desktop] para notebooks e tablets, que demonstrava isso e indicava a mudança da cultura do uso de laboratórios para outra, que coloca a tecnologia nas mãos do professor ou do aluno. Só que isso ainda não aparece em sala de aula”, afirma André Luís Raabe, professor e pesquisador da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina), onde também coordena o programa de pós-graduação em computação e atua no mestrado e doutorado em educação. Ele também lembra que esse fenômeno pode estar ligado à falta de manutenção e à obsolescência dos equipamentos, que impedem qualquer tipo de uso mais complexo.

Para o estudante Kevin William de Souza, o computador em sala de aula "dá estímulo a estudar"Crédito: André Luiz Mello

Para o estudante Kevin William de Souza, o computador em sala de aula “dá estímulo a estudar”

Tipos de atividades

No recorte que analisa o tipo de atividade realizada pelo professor com o uso de computador e internet, apenas 40% solicitam resolução de exercícios com apoio da tecnologia, por mais que 95% promovam essa atividade em modo “offline”. Na outra ponta, entre as atividades menos frequentes com apoio da tecnologia estão produção de textos, desenhos ou maquetes (34%), trabalho com jogos educativos (26%) e elaboração de planilhas e gráficos com os alunos (19%).

Uma das novidades no questionário de 2017, o item que trata de atividades realizadas por professores sobre criação de projetos e interação com os alunos demonstra que as escolas ainda estão no estágio de troca de informações e de comunicação, com predomínio de momentos para tirar dúvidas (66%), envio de conteúdo para os alunos (61%), recebimento de trabalhos (53%). Em contraposição, atividades que demandam produção e autoria, como criação de blogs ou de jogos com os alunos, registram índices baixos, 5% e 4%, respectivamente.

De certa forma, além de evidentes dificuldades com infraestrutura, os números refletem as conclusões do estudo “Blended Beyond Borders”, desenvolvido pelo Clayton Christensen Institute (e apoio do Porvir para casos brasileiros), que menciona a formação do professor como obstáculo para a adoção de tecnologia em larga escala nas escolas brasileiras.

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Ajuda para lidar com conflitos

Pela primeira vez, a pesquisa TIC Educação também tratou do uso consciente de tecnologia dentro das escolas e as ações de orientação desenvolvidas pelos educadores.

Neste cenário,  40% dos professores que responderam que já ajudaram alunos a lidar com casos de bullying virtual, discriminação, assédio ou disseminação de imagens sem consentimento. Esse número é semelhante entre escolas públicas e privadas, com destaque para os alunos do 5º ano e do 9º ano. A disseminação de imagens sem consentimento e os casos de bullying acontecem justamente na escola, porque é onde estão os amigos e as pessoas do círculo mais próximo dos alunos”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, que destaca o papel importante de professores no apoio aos estudantes.

A maior parte dos professores também afirma ter discutido em sala de aula maneiras para usar debate de forma segura. Cerca 66% deles também declararam oferecer estímulos para seus alunos a conversarem sobre os problemas que eles enfrentam na internet.

Tecnologia nas escolas rurais

Em 2017, a pesquisa também traz dados de escolas localizadas em áreas rurais. Diferente do que acontece nas urbanas, apenas 39% delas têm acesso à internet, sendo que 3% contam com conectividade, mas não possuem computadores em funcionamento. “Entre os motivos apresentados pelos diretores para que não haja acesso à internet nas escolas, nós destacamos a falta de infraestrutura de acesso na região e o alto custo de conexão, dados que também são verificados em outras pesquisas realizadas pelo CGI, como a TIC Domicílios, que foi lançada há pouco tempo”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa.

Já nas instituições que estão conectadas, a velocidade ainda é um desafio: 61% das escolas rurais não ultrapassam 2 Mbps de velocidade. Para Fabio Senne, coordenador de projetos do Cetic.br, esses dados refletem uma grande desigualdade de acesso entre escolas urbanas e rurais. “É de fato uma diferença de conectividade que as políticas [públicas] precisam é atacar para que a gente possa efetivamente ter a mesma oportunidade para os estudantes que que vivem em áreas rurais.”

– Veja a opinião de estudantes do Conselho Jovem do Porvir sobre o uso do celular na escola:

Ana Beatriz Motta, 16, Salvador (BA)

“Meu professor de física usa um aplicativo para nos passar atividades e informações. Acho top, ajuda muito. Os alunos que passam por momentos difíceis e ficam ausentes da escola acabam não perdendo as atividades. Também não tem desculpa para falar que não fez porque não veio no dia.”

Anna Júlia Lustosa, 15, Belém (PA)

“Meus professores nunca utilizaram o celular em suas aula. Porém, eu realmente acredito que deveria ser usado. Além de nos abrir um leque de opções, de acordo com cada aula e momento, ainda se tornaria um experiência lúdica, fugindo do tradicional. Tornaria uma aula mais atraente.”

Caio Henrique Santos, 16, Recife (PE)

“Sou um pouco suspeito para falar porque a minha escola tem como base o trabalho com tecnologias digitais. Eu considero que o celular deve ser envolvido nas atividades em sala de aula e usado como ferramenta pedagógica pelos professores, porque é um instrumento que facilita muito tanto a vida deles quanto a nossa. Porém, há uma linha tênue entre a liberdade em usar e a possibilidade de roubar a atenção do estudante. Isso é um fato, mas é melhor a instrução por parte do educador para o uso correto.”

Mariana Lima, 15, Campo Grande (MS)

“Ultimamente meus professores estão usando os celulares em alguns casos. Inclusive, lançaram um aplicativo para marcar as presenças e deixar o aluno ciente sobre o seu desempenho escolar. Durante as aulas ainda é raro o uso de celular, mas ele deveria ser uma ferramenta, algo que ajudaria o docente na hora de explicar os conteúdos. Provas online são uma ótima alternativa para inovação!”

Rafael Paiva, 17, Salvador (BA)

“Na minha escola, o celular nunca foi utilizado em sala de aula, a não ser durante a ocupação. Convidamos uma professora para dar aulas de artes, e ela passou um trabalho sobre tons e cores. Tivemos que tirar fotos de algumas cores presentes no nosso dia a dia. Outro professor convidado também usou o celular como método de avaliação. Ele usou um site para a gente responder perguntas que eram feitas no telão. Infelizmente o celular ainda é tido como “vilão” nas salas de aula. É de extrema importância fazer um debate para a desconstrução desse tabu. O fato é que temos um computador no nosso bolso, que pode ser explorado de diversas formas para o aprendizado, tornando as aulas mais atrativas e participativas.”

Tamires Costa, 18, Porto Alegre (RS)

“NENHUM dos meus professores fez alguma atividade com o uso do celular, mas acredito que ele ajudaria bastante, principalmente com os novos aplicativos e sites que estão desenvolvendo. O uso do celular poderia servir como um bom método de aprendizagem para nós, algo com perguntas e respostas, maneiras fáceis de entender a matéria, resumos e várias analogias para que o aluno se sinta à vontade para aprender. Acredito que a junção entre TI e escola pode sim mudar muita coisa, mudar um ensino todo.”


Foto de 2018/2019 – Ana Beatriz Silva Mota
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2018/2019 – Ana Beatriz Silva Mota
Salvador-BA

Estudante da Colégio Estadual Bolívar Santana. Representante dos estudantes na Secretaria de Educação do Estado da Bahia, já foi integrante do grêmio escolar.

Foto de 2018 – Anna Julia da Silva Lustosa
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2018 – Anna Julia da Silva Lustosa
Belém-PA

Concluiu o Ensino Médio em 2018 na Escola Estadual Avertano Rocha. Participou do projeto de monitoramento da merenda escolar no estado do Pará por meio do aplicativo “Monitorando a Cidade”.

Foto de 2018 – Caio Henrique Silva
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2018 – Caio Henrique Silva
Recife-PE

Concluiu o Ensino Médio em 2018. Foi representante de turma e monitor no Nave Recife -  Escola Técnica Estadual Cícero Dias, além de ter participado de projetos de animação e robótica.

Foto de 2018/2019 – Mariana Gomes de Lima
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2018/2019 – Mariana Gomes de Lima
Campo Grande - MS

Estudante da Escola Estadual Teotônio Vilela. Finalista do Brazilian Leadership Bootcamp 2019. Já participou do grêmio estudantil e ajudou a organizar debates educacionais na escola.

Foto de 2018 – Rafael Paiva
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2018 – Rafael Paiva
Salvador-BA

Fundou o projeto Educação Fora da Caixa. Concluiu o Ensino Médio em 2018. Foi presidente do grêmio estudantil do Colégio Estadual Barros Barreto, presidente da Associação de Grêmios e...

Foto de 2018 – Tamires Santos da Costa
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2018 – Tamires Santos da Costa
Porto Alegre-RS

Concluiu o Ensino Médio em 2018. Fez parte do grupo de líderes da Escola Estadual de Ensino Médio Baltazar de Oliveira Garcia.

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aplicativos, dispositivos móveis, educação online, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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