Cursos gratuitos desvendam de maneira prática e criativa a BNCC Computação
Com autoria de Ivan Siqueira, relator da BNCC Computação, formações gratuitas apoiam professores na aplicação das diretrizes em sala de aula
por Redação
11 de setembro de 2025
Se 2025 ficará marcado pela Lei 15.100, que estabelece regras para o uso de celulares nas escolas, 2026 será lembrado pela chegada definitiva da BNCC Computação (Base Nacional Comum Curricular para a Computação). Enquanto a lei busca organizar o uso dos dispositivos em sala de aula, a BNCC orienta o desenvolvimento de competências digitais e de pensamento computacional.
⬇️ Baixe o e-book: “Guia rápido de IA para a sua aula”
Homologada em 2022, a BNCC Computação traz diretrizes que vão além da alfabetização digital, ou seja, da capacidade criar ou utilizar conteúdos usando tecnologia digital. As redes de ensino devem, ainda este ano, realizar as adequações necessárias para implementar a BNCC Computação em 2026, e garantir que os professores estejam preparados para conduzir os estudantes nessa nova etapa.
Assim como há transformações constantes ligadas à tecnologia, a necessidade de se manter atualizado também precisa ser permanente. É por meio da formação continuada que educadores poderão se apropriar melhor desses temas e priorizar os objetivos de aprendizagem previstos para essas aulas. No caso da computação, não é necessário ser um especialista na área, mas entender de que maneira ela pode aparecer de forma transversal na sala de aula.
“Educar é uma tarefa complexa. O digital pode apoiar, mas também impõe desafios que precisam ser enfrentados coletivamente”, aponta Ivan Siqueira, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e relator da BNCC Computação.
🟠 Inscreva seu projeto escolar no Prêmio Professor Porvir
Embora a complexidade do tema seja global, no Brasil ela ganha contornos próprios pelas desigualdades. Segundo a TIC Educação 2023, há acesso à internet em 92% das escolas de ensino fundamental e médio no país, com uma elevação de 10 pontos percentuais em relação a 2020. Nas escolas localizadas em áreas rurais, por exemplo, essa proporção passou de 52% para 81% e, entre as escolas municipais, de 71% para 89%.
Ivan explica que garantir o desenvolvimento das habilidades digitais é um direito de todos os estudantes. “As estruturas não são as mesmas. Tem escola que não tem banheiro. Por vezes, a lista do não tem é muito maior do que a lista do que existe. Então, para todas as escolas, independentemente de ter ou de não ter, é um direito dos estudantes desenvolver essas habilidades”, reforça. Para ele, a missão não deve ser exclusiva do corpo docente, mas de toda a comunidade escolar, que deve se engajar criando condições para que as aulas sejam implementadas de maneira organizada.
A urgência da computação no mundo digital
Em um mundo marcado pelo avanço da inteligência artificial e pela presença digital cada vez mais intensa no dia a dia, a computação não pode ser deixada de lado na escola. “Se pensarmos a Constituição Federal, a LDB ou a própria BNCC (Base Nacional Comum Curricular), elas trazem elementos centrais dos objetivos da educação, que são: desenvolvimento pleno, cidadania e qualificação para o mundo do trabalho”, destaca Ivan.
Especialistas ressaltam ainda que pesquisas indicam que a inteligência artificial tem potencial para gerar mais empregos do que substituir a mão de obra humana, reforçando a importância de preparar os estudantes para esse cenário em transformação.

A BNCC Computação não pretende dar conta de todos os fenômenos sociais que surgem no dia a dia escolar. Ivan comenta que questões mais recentes, como a restrição do uso de celulares, o aumento dos casos de saúde mental entre estudantes e a adultização das crianças, por exemplo, não estão previstas no documento. Para ele, esses desafios atuais exigem respostas pedagógicas complementares, que devem ser construídas pelas próprias redes e escolas em diálogo com a comunidade.
O educador participou do webinário “BNCC Computação: como colocar em prática na sua sala de aula?”, promovido pela Fundação Telefônica Vivo.
O debate marcou o lançamento de quatro cursos sobre BNCC Computação. Todos estão disponíveis na Plataforma Escolas Conectadas. A plataforma, que existe desde 2015, é incentivada pelo ProFuturo, um programa de educação digital global da Fundação Telefônica Vivo e da Fundação “La Caixa”.
De autoria do professor Ivan Siqueira, a proposta dos cursos é convidar educadores, iniciantes ou mais experientes, a integrar a computação em suas práticas, de maneira rápida e criativa.
Assista ao webinário e confira todos os cursos disponíveis
Os pilares da BNCC Computação
A BNCC Computação está estruturada em três pilares:
- Pensamento computacional: busca desenvolver habilidades como resolução de problemas e reconhecimento de padrões;
- Cultura digital: promove o uso consciente e responsável das tecnologias digitais;
- Mundo digital: propõe que os estudantes observem como os dados são transmitidos, armazenados e utilizados.
Formação docente
Uma pesquisa realizada pelo Cieb (Centro de Inovação para a Educação Brasileira), em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), com apoio técnico do Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), mostrou que um em cada cinco municípios ainda não oferece ensino de tecnologia e computação nos anos iniciais do ensino fundamental.
Neste cenário, muitos professores ainda enfrentam dificuldades para integrar o tema da computação em suas aulas. Por isso, a formação continuada é uma das principais estratégias para apoiar os educadores.
“As formações ajudam os professores a compreenderem o campo da computação como uma linguagem de conhecimento, garantindo o direito dos estudantes de aprendê-la”, afirmou Audaci Maria de Lima, professora vencedora do Prêmio Educador Nota 10 em 2015 e convidada do webinário.

Audaci reforçou que o pensamento computacional é extremamente útil para a vida cotidiana dos estudantes, seja em abordagens plugadas ou desplugadas (ambas previstas na BNCC Computação).
“Nós, professores, que estamos nesse momento histórico de implementação da BNCC Computação, precisamos entender a interdisciplinaridade presente nessa área”, destacou. Para ela, é essencial que os docentes tenham clareza sobre os objetivos de aprendizagem antes mesmo de pensar nas atividades de sala de aula, sempre com foco na garantia dos direitos dos estudantes.
“Quando entendemos o contexto da computação, conseguimos superar uma visão tecnicista e propor atividades mais criativas e significativas para os estudantes”, pontuou.
Implementação com foco no território
Cada território possui suas especificidades. Portanto, implementar os conteúdos da computação depende do conhecimento sobre os contextos locais. Durante o webinário, os participantes mencionaram exemplos ligados à educação quilombola, indígena e do campo.
Ivan lembra que a BNCC Computação não é um currículo, mas um conjunto de diretrizes que orienta a criação dos currículos — e que é preciso levar em consideração as adaptações que devem ser feitas em relação às realidades brasileiras.
“A Base é um documento, uma direção que busca garantir os objetivos de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento pleno, a preparação para o mundo do trabalho e o exercício da cidadania de forma digna”, ressaltou.
Uma das estratégias de implementação, segundo Audaci, é enxergar a computação como um eixo transversal. De acordo com a própria BNCC, a implementação pode ocorrer “de forma transversal — presente em todas as áreas do conhecimento e evidenciada em diversas competências e habilidades com objetos de aprendizagem variados — ou de forma direcionada — com foco no desenvolvimento de competências específicas relacionadas ao uso de tecnologias, recursos e linguagens digitais”.
O papel das redes
A responsabilidade pela implementação da computação nas escolas não recai apenas sobre os professores. Ivan destacou que as redes de ensino devem garantir a estrutura necessária para a prática, especialmente considerando os desafios econômicos.
Ele considera o modelo transversal mais viável, devido à escassez de professores licenciados em computação. “Existem redes que optaram por criar uma disciplina específica. Isso exige a contratação de professores licenciados em computação, mas não há profissionais suficientes para atender às cerca de 170 mil escolas do país. A decisão deve levar em conta diversos fatores.”
5 perguntas essenciais sobre a BNCC Computação
1. A BNCC Computação ainda está atualizada diante das rápidas mudanças tecnológicas, como a IA generativa?
Sim. Embora tenha sido finalizada em 2022, a BNCC Computação continua relevante porque não trata apenas de ferramentas, mas de fundamentos, competências e objetivos de aprendizagem. O documento se organiza em três eixos — pensamento computacional, cultura digital e mundo digital — que dão base para lidar com novas tecnologias, mesmo as que surgiram depois, como a IA generativa.
2. Quais são os maiores desafios para a implementação nas redes de ensino?
Formação inicial: muitos professores não tiveram contato com computação durante sua graduação.
Formação continuada: é preciso garantir tempo e suporte para que os educadores estudem e se sintam seguros.
Estrutura: nem todas as escolas têm laboratórios, conectividade ou dispositivos suficientes.
Organização curricular: cabe às secretarias definir se a computação será componente específico ou transversal.
3. Como trabalhar a BNCC Computação em escolas com pouca infraestrutura ou no campo?
A BNCC prevê tanto atividades plugadas (com uso de tecnologia) quanto desplugadas (sem computador). Isso significa que é possível desenvolver pensamento computacional com jogos, blocos de montar, papel e lápis, tabuleiros criados pelos alunos ou projetos interdisciplinares com matemática e língua portuguesa. O essencial é considerar o território e a realidade local como ponto de partida.
4. Como deve acontecer a implementação?
A BNCC Computação será implementada em 2026. Cada rede pode escolher a melhor estratégia: componente curricular específico, abordagem transversal ou modelo híbrido. O importante é que os estudantes tenham acesso às competências digitais previstas.
5. Como a BNCC Computação pode apoiar a recomposição das aprendizagens?
A computação pode enriquecer o processo de recomposição ao propor atividades criativas que envolvem matemática, leitura e organização de dados. Por exemplo:
- usar jogos e desafios para estruturar raciocínio lógico e algoritmos;
- organizar pesquisas simples sobre o cotidiano da turma, transformando em tabelas ou gráficos;
- criar podcasts ou narrativas digitais que valorizem a comunidade dos estudantes.
Assim, os conteúdos digitais se integram às áreas tradicionais, fortalecendo aprendizagens de forma significativa e contextualizada.






