Desenhos de crianças viram robôs de verdade
MyMachine estimula a criatividade dos pequenos e conta com alunos de ensino técnico e universitários para executar os projetos
por Vagner de Alencar 13 de agosto de 2012
Aos seis anos de idade, Matisse desenhou Spoker: um robô que afugenta os fantasmas que vivem debaixo de sua cama. A máquina – fabricada com um plástico resistente e com vários componentes eletrônicos – emite sons, luzes e até mesmo um relatório que mostra ao dono que seu quarto está “à prova de fantasma”. Assim como Matisse, crianças belgas, de 6 a 12 anos, de diferentes escolas de ensino fundamental I, estão criando suas “máquinas dos sonhos” e contam com a ajuda de estudantes de ensino técnico e superior para vê-las ganharem vida. A iniciativa é realizada pelo MyMachine (MinhaMáquina, em tradução livre), ONG sem fins lucrativos que, desde 2008, desenvolve o projeto educativo para estimular a criatividade, mantendo as crianças, desde pequenas, interessadas em desenvolver suas próprias ideias.
Primeiro, os estudantes universitários de design e engenharia vão às escolas para conhecer as crianças, ouvir e receber as ideias. Quatro meses depois, são os pequenos que vão à universidade para acompanhar os projetos. Já na última etapa, os alunos de ensino técnico, de 12 a 18 anos, dão vida às máquinas, fabricando os protótipos. “Criamos este projeto com o propósito de despertar nas crianças a noção de que, a partir de uma ideia básica, é possível mudar algo que às vezes era considerado impossível”, afirma Jan Despiegelaere, um dos cofundadores do MyMachine.
Durante o processo de criação, as crianças e os universitários têm a oportunidade de falar com pessoas de diferentes empresas para ter novas ideias que os ajudem a melhorar a sua criação. “Juntos, estudantes e profissionais desenvolvem desde uma máquina que passa manteiga no sanduíche até uma cama que vibra para te acordar pela manhã”, afirma Aagle Belrens, coidealizadora do projeto.
A iniciativa, afirmam os cofundadores, surgiu da necessidade de pensar em metodologias que ajudem no processo criativo das crianças na escola. “Creio que começamos o projeto por conta da frustração. Somos um bando de pais trintões que têm filhos em escolas primárias e notamos a ausência de cursos que estimulassem o lado criativo das crianças”, diz Despiegelaere.
Além das visitas presenciais à universidade, as crianças também acompanham o processo de fabricação dos protótipos através do blog da MyMachine, onde ficam disponíveis os desenhos em 3D. Após a criação dos robôs, a cada ano, a ONG organiza uma exposição com todos os desenhos, projetos e protótipos produzidos pelos estudantes.
Neste ano, o projeto passou a receber o apoio do governo para ampliar o programa. Atualmente, mais de 500 crianças, alunos de 18 escolas de Flanders, região norte da Bélgica, estão projetando 10 novas máquinas. A expansão é também reflexo dos prêmios internacionais de educação que o projeto vem conquistando. Em 2009, recebeu o prêmio World Summit Award como o melhor projeto do mundo com conteúdo e ferramentas virtuais para promover a criatividade na educação. Nesse ano, também levou o Design Management Europe Award pelo melhor projeto e mais inteligente em gestão inovadora, na categoria sem fins lucrativos.