Empreendedor precisa se adaptar à era da educação aberta
A 4ª edição do Conecte-C, evento promovido pelo CIEB, trata do impacto dos recursos educacionais abertos para o empreendedorismo e as políticas públicas
por Vinícius de Oliveira 1 de setembro de 2016
De olho na redução de custos com material didático e a ampliação do acesso a materiais de qualidade, países como África do Sul, Austrália, Estados Unidos e Polônia já desenvolvem políticas públicas com a intenção de estimular o desenvolvimento e a compra de recursos educacionais abertos (REA). A discussão de medidas semelhantes começa a ganhar força no Brasil e demandará, num futuro próximo, a revisão da estratégia de negócio por parte de empreendedores. Até onde é interessante abrir ou fechar o aplicativo ou plataforma? Como casar um plano de negócios com um produto que poderá ser replicado e recombinado livremente?
Para discutir esses assuntos e o conceito de REA e educação aberta, a quarta edição do Conecte-C, evento promovido pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) na última terça-feira, em São Paulo (SP), reuniu a jornalista e cofundadora do Instituto Educadigital, Priscila Gonsales, o pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp, Tel Amiel, e a administradora e sócia da Mov Investimentos, Kim Machlup.
Amiel traçou um panorama da educação aberta dos anos 1960 aos dias atuais e considera esse processo como irreversível. “A história da educação é a história de massificar o acesso. O movimento de educação aberta é baseado no princípio de que a educação pode ser melhorada se os recursos estão acessíveis para beneficiar o conhecimento coletivo”.
Em sua apresentação, o pesquisador da Unicamp analisou o atual cenário por dois lados. “Na visão utópica, se você vai trabalhar com educação, tem que ter um componente ético muito endireitado e qualquer um que te financie vai dizer que se você só entrou para ganhar dinheiro, vai se dar mal. No outro lado, mais pragmático, as políticas públicas vão mudar e quem não conseguir vender para governos vai se dar mal. Eventualmente, a pressão será tão grande que as editoras não vão conseguir manter o mercado do jeito que ele está”.
Segundo Priscila, é importante pensar também nas responsabilidades e no significado de ser autor em um ambiente em que tudo está disponível na internet, seja REA ou não. “Muita gente desconhece a lei autoral, então pode-se colocar qualquer tipo de material online e as pessoas pegam do mesmo jeito”. Ela conta que nas formações que oferece a educadores é comum ouvir que a mera citação de fonte de informação é suficiente para respeitar o direito do autor, o que não é verdade diante da falta abertura para o uso educacional.
– Veja mais detalhes sobre a experiência dos EUA com REA (Link externo)
Para a representante do Instituto Educadigital, o novo ambiente não leva a um ambiente de descontrole. “Não vai acabar o copyright da face da Terra e tudo vai virar Creative Commons, mas tem uma questão importante que é a política pública e o investimento público. O modelo atual é pronto, o livro didático é pronto e agora, com o mundo digital, existe a possibilidade de oferecer um serviço”.
Questionados pela mediadora Kim Machlup, da Mov Investimentos, sobre qual seria a saída para os grandes grupos que ainda concentram seus produtos em conteúdo, os convidados defenderam a reinvenção. “A questão é que eles ainda estão pautados pela política pública, que é atrasada. A forma de venda vai na contramão do que a gente vê na economia compartilhada, de inovação aberta e de design de serviços, que pensa em tudo o que está envolto no produto”, explicou Priscila.
Na plateia, Júlia Pinheiro, da Atina Educação, instituição nascida a partir de uma editora, exemplificou como pode ser feita essa transição. “A gente produzia materiais para atender o contexto de cada rede. No começo, foram 10, em São Paulo e no Paraná e, depois, demos um salto de escala com todo o estado da Bahia. Percebemos que nosso ativo era a contextualização da aprendizagem e o nosso diferencial era ouvir as redes e ajudá-las a desenvolver materiais físicos e muito serviço de relacionamento para a tradução da prática em sala de aula”, diz.
Júlia afirma que atualmente a empresa se vê cada vez mais como uma prestadora de serviço de cocriação, de formação continuada e de estratégias para implementação de metodologias ativas. “O material físico ou digital é uma passagem. A gente começa a pensar que a gente pode entregar esses materiais para as redes a um certo custo, mas o que é físico e consumível por cinco anos deve ficar aberto para que outros estados usem”.
Ao final do encontro, Mairum Andrade, responsável pela área de tecnologia do CIEB, anunciou que a instituição vai começar a desenvolver um estudo com a Educadigital sobre inovação aberta na educação, que vai identificar modelos de negócios envolvendo REA, dentre outros objetivos.