Escrever à mão ou digitar anotações divide pesquisadores
Anotar à mão pode melhorar a memorização, mas seu impacto no aprendizado ainda é debatido
por Jill Barshay 
24 de fevereiro de 2025
Imagine que você é um estudante do ensino médio ou da faculdade. A aula está prestes a começar, e você se depara com um dilema: escrever à mão em um caderno ou usar um laptop para fazer anotações?
A resposta não é tão simples. Há um ano, papel e caneta pareciam ser os vencedores quando a revista acadêmica “Frontiers in Psychology” publicou um estudo norueguês que revelou como diferentes áreas do cérebro se comunicavam com mais frequência quando os alunos escreviam à mão. Já ao digitar, a atividade cerebral era consideravelmente menor. Essa atividade extra no cérebro, segundo os neurocientistas, seria “benéfica para o aprendizado”.
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O estudo ganhou repercussão mundial. Cerca de 200 reportagens destacaram a ideia de que retemos melhor as informações ao escrevê-las à mão do que ao digitá-las. Isso reforçou o que muitos de nós já sentimos intuitivamente. É por isso que ainda faço anotações em um caderno, mesmo que, às vezes, mal consiga decifrar minha letra.
Entretanto, recentemente, o mesmo periódico trouxe uma crítica contundente ao estudo sobre escrita à mão. Dois cientistas, da Espanha e da França, argumentaram que nenhum dos universitários noruegueses foi realmente desafiado a aprender algo durante o experimento. “Tirar conclusões sobre processos de aprendizado em crianças em sala de aula a partir de um estudo de laboratório com universitários que não envolveu nenhum tipo de aprendizado parece, no mínimo, problemático”, escreveram os críticos.
O estudo norueguês reuniu 36 estudantes universitários com cerca de 20 anos e pediu que escrevessem palavras do jogo Pictionary usando um lápis digital em uma tela sensível ao toque ou digitando em um teclado. Durante a atividade, os participantes usaram toucas com eletrodos para monitorar a atividade cerebral, e os cientistas documentaram as diferenças entre os dois métodos de escrita.
No entanto, nenhuma das condições era próxima da realidade. Os alunos foram instruídos a escrever em letra cursiva, sem tirar o lápis da tela, e só puderam digitar usando o dedo indicador da mão direita.
Além disso, os críticos questionaram se uma maior atividade cerebral realmente indica melhor aprendizado. Eles sugeriram que o aumento poderia simplesmente refletir o fato de que escrever à mão é mais lento e exige mais esforço do que digitar. Em resumo, ainda não há uma resposta definitiva.
Conversei com Audrey van der Meer, uma das autoras do estudo norueguês e diretora de um laboratório de neurociência na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, em Trondheim. Ela apontou que seus críticos defendem o uso de teclados na educação, o que pode comprometer sua imparcialidade. No entanto, reconheceu que seu estudo não testou se os alunos realmente aprenderam algo.
Audrey está conduzindo uma nova pesquisa com 140 adolescentes, agora envolvendo aprendizado real. Os alunos assistiram a uma aula gravada e foram divididos em dois grupos: metade fez anotações à mão, usando uma caneta digital e uma tela sensível ao toque, enquanto a outra metade digitou suas notas. Após isso, todos realizaram o mesmo exame, avaliado por professores.
Até agora, ela observou diferenças significativas nos estilos de anotação. Quem digitava escrevia muito mais palavras, frequentemente transcrevendo a aula literalmente e sem fazer desenhos. Por outro lado, os que usaram a caneta digital priorizavam palavras-chave, frases curtas e, em média, produziam dois desenhos.
Segundo a pesquisadora, os estudantes que digitam anotam tudo o que o professor diz “porque conseguem”. Porém, afirmou em um e-mail, “a informação parece entrar pelos ouvidos e, sem ser processada, sair diretamente pelos dedos.” Já ao fazer anotações à mão, “é impossível escrever tudo, então os alunos precisam processar as informações, resumi-las e conectá-las ao que já sabem.” Esse processo, segundo ela, facilita a retenção do conteúdo.
Audrey ainda não divulgou os resultados do exame, pois está analisando os dados. Ela explicou que muitos fatores podem influenciar os resultados, dificultando determinar se as anotações manuscritas realmente levam a um melhor desempenho.
Mesmo os cientistas favoráveis ao uso de teclados reconhecem a importância da escrita à mão. Estudos anteriores indicam que escrever letras manualmente, em vez de digitá-las, ajuda crianças pequenas a aprenderem melhor o alfabeto. Uma pesquisa de 2015 mostrou que adultos conseguem se lembrar melhor de palavras em um jogo de memória quando as escrevem à mão antes de digitá-las. Além disso, um capítulo de livro de 2010 documentou uma forte relação entre escrever palavras e aprender a lê-las.
Embora haja evidências de que a escrita à mão ajuda crianças a aprenderem letras e palavras novas, as provas de que ela melhora a absorção de novas informações e ideias ainda são limitadas. Isso não significa que os neurocientistas noruegueses estejam errados, mas ainda precisamos de mais estudos para comprovar.
Por fim, é importante lembrar que nem todo aprendizado é igual. Aprender a escrever é muito diferente de memorizar vocabulário em outro idioma. Há momentos em que digitar pode ser mais eficaz e outros em que escrever à mão será melhor. Além disso, o método que usamos para fazer anotações pode ser menos relevante do que a forma como revisamos esse material posteriormente.
Agora, onde foi mesmo que coloquei meu caderno?
Este conteúdo foi produzido por The Hechinger Report, um veículo independente e sem fins lucrativos focado em desigualdade e inovação em educação. Reproduzido no Porvir mediante autorização.
This story was produced by The Hechinger Report, a nonprofit, independent news organization focused on inequality and innovation in education.
