Goiás se inspira em bons exemplos e reformula rede
Reforma de escolas se baseia em 5 pilares para melhorar ensino, dentre eles a adoção de políticas com impacto no aprendizado
por Patrícia Gomes 12 de julho de 2013
Nas escolas da rede estadual de Goiás, não é raro que o diretor receba um recado avisando que o secretário estadual vai aparecer no dia seguinte ou dois dias depois. Só para ver como estão as coisas e, claro, para checar se a reforma educacional está andando. Adotado a partir de 2011 no estado, o plano de reformulação das escolas foi buscar inspiração em experiências de fora, como as de Nova York e Washington, e de boas práticas de estados como São Paulo, Ceará e Pernambuco para trazer um projeto que interrompesse a trajetória de queda nos índices de qualidade educacional do governo. Desse mix de referências, nasceu uma reforma baseada em cinco pilares que, segundo o secretário, “comprovadamente dão certo”: adotar práticas pedagógicas que estimulem o aprendizado, valorizar e fortalecer os educadores, estruturar um sistema de reconhecimento e remuneração por mérito, reformar a gestão e a infraestrutura da rede e, por fim, reduzir as desigualdades educacionais.
Cada um desses pilares tem entre quatro e sete iniciativas, num total de 25, que são ações menores com o objetivo de, juntas, chegar à meta final. O pilar com mais microações, sete ao todo, é o que defende o uso de práticas pedagógicas capazes de tornar o aprendizado mais efetivo. “Eu visito cerca de 30 escolas por semana. No início, eu chegava e o diretor ia me mostrar a rachadura da parede. Ele ficava tão agoniado com aquilo, perdia tanto tempo e energia, que deixava de focar o principal: o pedagógico”, diz o secretário Thiago Peixoto, responsável por capitanear a reforma. Justamente para fortalecer “o principal”, a primeira microação adotada no pilar pedagógico foi a reformulação do currículo, que sofria críticas por ser vago. “Reunimos professores da própria rede, elaboramos um currículo detalhado aula a aula e um material específico. Como foram eles mesmos que fizeram, houve um sentimento de pertencimento, o que diminuiu resistências”, diz Peixoto.
Com um currículo novo, o estado passou a fazer uma adesão gradativa, nas escolas de 1o ao 9o ano, ao programa federal Mais Educação – que dobra o tempo que as crianças passam na escola e oferece aulas complementares e mais oportunidades de esporte, cultura e lazer às crianças. Hoje, o programa inclui quase todas as escolas estaduais goaianas de ensino fundamental. Também o ensino médio, inspirado no modelo do Ginásio Pernambucano, está começando a ver suas escolas passarem a ser de tempo integral. Além de aumentar o tempo de permanência dos jovens nas escolas, o programa prevê orientação vocacional e desenvolvimento de habilidades relacionadas a interesses particulares.
Outra ação dentro desse pilar que já começou a mostrar resultados foi a de tutoria pedagógica, em que um professor da rede passa por um treinamento e passa a ser responsável por apoiar quatro escolas nas questões mais específicas relacionadas ao aprendizado. “Estabelecemos uma linha direta entre o gabinete e a escola e agora somos capazes de dar respostas mais rápidas quando os problemas aparecem”, conta ele.
Já no pilar destinado a desenvolver os profissionais da educação, uma das principais ações voltou-se ao desenvolvimento dos diretores para o cargo. Antes, todos os professores poderiam concorrer ao cargo, que era decidido por meio de voto na comunidade escolar. Agora, os interessados em se candidatar precisam antes terem passado por um curso em que aprendem a como gerir uma escola. Eles devem passar por uma prova e apresentar um plano de gestão para serem considerados aptos a se candidatar. Já a capacitação de professores deixou de ser feita com “megaformações” e passou a ser feita com grupos menores a partir das necessidades de cada escola.
Intimamente ligado ao pilar de valorização do profissional está o pilar seguinte, o de estraturação de um sistema de reconhecimento do profissional de educação. Para que tal reconhecimento fosse possível, a secretaria criou o Idego, um índice anual que visa medir o aprendizado dos alunos do estado – o Ideb, que é o indicador do governo federal, é divulgado apenas de dois em dois anos. Com o resultado, o estado premia as escolas que mais avançam com dinheiro a ser investido em sua infraestrutura. Os alunos com melhor nota de cada escola também recebem uma poupança de R$ 1.100. Já entre os professores, o bônus salarial é dado segundo três critérios: estar sala de aula (antes, quase metade do efetivo estava alocado em funções administrativas), não faltar e planejar aula.
O quarto pilar é o que reduz as desigualdades educacionais. Nele, busca-se dar um maior apoio – financeiro, inclusive – às escolas que estão em situação social mais vulnerável, além de se tentar diminuir os índices de evasão, reprovação e a distorção idade-série. O quinto e último pilar é o que preza por uma reforma na gestão e na infraestrutura da secretaria. “Eu concordo com esse discurso de que a educação é um projeto de longo prazo no aspecto social e no econômico. Mas, no aprendizado, cada dia faz diferença. Hoje 600 mil alunos aprendem mais. Todos eles aprendem adequadamente? Ainda não”, afirma Peixoto sobre sua rede, que conta com 1.095 escolas.
Das 25 ações previstas no plano de reforma da educação goiana, 23 estão em curso. Uma das que ainda não está em andamento é a que prevê um programa de residência educacional para novos professores contratados. Essa, afirma Peixoto, depende da realização de um concurso. Quando for implementada, os novos professores da rede passarão dois anos dedicando parte do tempo à sua formação nas escolas que registram melhores práticas. A última ação que ainda falta implementar é o prêmio Educador do Ano, a ser conferido ao professor com melhores projetos em sala de aula. O problema, explica o secretário, está em definir os melhores critérios para a escolha o premiado.
Uso de verbas
Outro recurso que o estado de Goiás vem usando muito e que não está diretamente relacionado a nenhum dos pilares especificamente é o de captação de verbas. Ao começar a reforma, os valores captados com o MEC eram de R$ 30 milhões por ano. Agora chegam a R$ 260 milhões. “Tem que saber pedir. O MEC tem uma ‘prateleira de opções’. Se você pede o que não tem na prateleira, eles vão até aceitar o pedido, mas não vão entregar. Aprendemos a montar projetos ágeis”, diz o secretário, que foi procurar saber qual era o estado que mais conseguia captar recursos federais – o Ceará – e trouxe para sua equipe o técnico que mais bem entendia dos procedimentos.